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SONHO MEDIEVAL

Segunda-feira, 13.01.14

Quando terminei a leitura do “S. Banaboião, Anacoreta e Mártir” de Aquilino estava exausto. Recostei-me, no sofá e, de seguida, adormeci.

Pouco depois, deambulava, a custo e timidamente, por um caminho ermo e solitário, ladeado por árvores gigantescas e sombrias. Aqui e além, alguns transeuntes, mudos, de olhar esbugalhado e ansioso, embrulhados em farrapos acinzentados, amparando-se a grossos bordões, caminhavam vagarosamente. O caminho aos poucos ia-se tornando mais apertado e esconso, até que terminava. À minha frente uma enorme muralha. Trepei-a a custo. Lá dentro um povoado vetusto e escuro sob um céu pardacento e acinzentado. A toda a sua volta a alta e grossa muralha que eu acabava de transpor, como que protegendo e defendendo os pequenos e esconsos casebres. No centro e à volta da minúscula igreja também escura, umas casas maiores e esbranquiçadas. As ruas eram estreitas, enviesadas e estavam quase desertas.

Nesse preciso momento, do lado contrário ao que me encontrava, pela porta de armas, entrou uma mesnada de besteiros. Reconheci de imediato D. Paio de Farroncóbias, que regressava de Ourique, onde tinha combatido, ao lado de D. Afonso Henriques, ainda jovem e, embora contrariado, súbdito de Afonso VII de Leão. Desde há algum tempo que D. Paio de Farroncóbias lutava ao lado do príncipe, quer contra os infiéis sarracenos que teimavam em não o deixar alargar as fronteiras do seu condado para sul, quer contra o rei de Leão, na tentativa de obter definitivamente independência do Condado.

As hostes afonsinas regressavam apressadamente para norte. Vinham desfalcadas e a arfar de cansaço mas felizes. O príncipe, os fronteiros, os ricos-homens e senhores de pendão e caldeira, chefes de mesnadas, cavaleiros, peões e peonagem caminhavam exaustos mas plenos de regozijo e satisfação. Esmar, rei de Santarém, juntamente com outros quatro reis havia sido derrotado, no dia 25 de Julho, dia do glorioso mártir São Tiago, sem apelo nem agravo, em Ourique, numa memorável batalha, em que o inimigo incluía no seu ciclópico exército forças conjuntas das praças mouras de Sevilha, Badajoz, Évora e Beja, para além das de Santarém.

A viagem, de regresso, havia sido longa e o destino dos guerreiros, ao chegar a Coimbra, fora diferente. O príncipe D. Afonso Henriques encaminhava-se apressadamente para o Minho. Alguns tempos atrás havia como que sido obrigado a suspender a peleja contra Afonso VII e a curvar-se perante aquele monarca, assinando, com ele, um tratado de Paz, em Tui, desistindo, assim, das pretensões de se tornar rei independente, prestando vassalagem ao suserano de Leão. Fizera-o, no entanto, apenas por razões de ordem político-militar. Os mouros atacavam forte a sul. Daí a suspensão das hostilidades a norte e o empreendimento de Ourique do qual, agora, regressava vitorioso.

Como, no entanto, alguns barões da Galiza leonesa se tivessem sublevado contra o rei de Leão e demandassem o condado, o príncipe ordenou a D. Paio de Farroncóbias, por ser o seu homem de confiança, que se separasse da comitiva, a partir de Coimbra. O príncipe seguia pelo litoral, pelo Porto e Guimarães, com a maioria das tropas, enquanto ele, D. Paio de Farroncóbias, seguiria por Viseu, até Trancoso.

Encaminhava-se, pois, D. Paio de Farroncóbias, com a sua mesnada, para Trancoso. Aquela era uma das várias noites em que durou a longa viagem. Cansada da viagem e sobretudo da guerra, a comitiva bélica de D. Paio havia sido forçada a pernoitar em Lubisonda

 

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publicado por picodavigia2 às 07:57





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