PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A RAPOSA E O LOBO
A Raposa e o Lobo era um dos vários interessantes contos populares que vinham transcritos nos nossos livros escolares da terceira e quarta classes, na década de cinquenta, assim como Dom Caio, João Ratão e a Carochinha, a Águia e a Coruja, etc. Como os livros rareavam ou, no meu caso, até nem existiam, eram estes e muitos outros contos que se liam ou se ouviam contar e que, dia a dia, povoavam o nosso imaginário. O conto A Raposa e o Lobo rezava mais ou menos assim:
Certo dia uma raposa e um lobo mataram dois carneiros e fugiram. Depois que se acharam seguros, começaram a comer, mas apenas paparam um, deixando o outro inteiro, para o dia seguinte. Então a raposa propôs ao lobo:
- Compadre, o melhor que fazíamos era enterrarmos este carneiro, e virmos cá amanhã comê-lo juntos.
O lobo aceitou boa a ideia, no entanto, perguntou à raposa:
- Mas nem eu nem tu temos faro, como é que o havemos tornar a achar?
- Ao enterrá-lo, deixamos-lhe o rabo de fora. Assim, amanhã, ser-nos-á fácil encontrá-lo.
Assim fizeram. No dia seguinte apresenta-se o lobo junto da raposa e diz-lhe:
- Comadre, vamos comer o carneiro?
- Hoje não posso, - retorquiu a raposa - tenho de ir ser madrinha de um cachorrinho.
O lobo acreditou e esperou pelo dia seguinte. No entanto, a raposa foi ao lugar onde estava enterrado o carneiro, desenterrou-o e comeu um grande pedaço, voltando a enterrar o que sobrou. No outro dia voltou o lobo a perguntar-lhe:
- Que nome puseste ao teu afilhado?
- Comecei-te.
Responde o lobo:
- Que nome tão estranho! Vamos, hoje, comer ambos o carneiro?
- Ai compadre - diz-lhe a raposa, - hoje também não pode ser. Estou, novamente, convidada para ser madrinha.
O lobo conformou-se. A raposa voltou ao local onde estava o carneiro e comeu-lhe mais um bom pedaço. No dia, seguinte, muito esfomeado, voltou o lobo:
- Que nome deste ao teu novo afilhado?
- Meei-te. – Respondeu a raposa.
- Que nome tão esquisito! - Replicou o lobo - Vamos comer o carneiro?
A raposa tornou a escusar-se com outro batizado, e foi acabar de comer o carneiro. No dia seguinte, o lobo chegou junto dela e perguntou-lhe:
- Como se chama o teu afilhado?
- Acabei-te.
Muito esfomeado o lobo propôs:
- Vamos comer o carneiro?
A raposa, finalmente, concordou e foram os dois. Quando chegaram ao sítio, a raposa que deixara apenas o rabo do carneiro de fora, disse ao lobo:
- Puxe, com força, compadre.
O lobo puxou com tanta força que caiu de pernas para o ar, enquanto a raposa fugia dali às gargalhadas.
E nós, apesar de não conhecermos raposas porque não as havia na ilha das flores, ficávamos encantados com a esperteza da matreira.