PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
MONTJUIC, O PICO DA VIGIA DE BARCELONA
Afinal, vistas de um certo prisma, as localidades são como as pessoas: em tudo diferentes mas em tudo iguais. De facto se repararmos bem qualquer, localidade, por mais pequena que seja, tem tudo o que as outras têm, mesmo se tratando de grandes vilas ou enormíssimas cidades: casas, ruas, praças, passeios, árvores, pessoas, lojas, mar ou rio, tudo é comum a umas e a outras.
Quando, há anos, visitei pela primeira vez a mágica cidade de Barcelona e passeei por algumas das suas ruas, dei comigo a pensar que naquela enormíssima cidade, capital da Catalunha, há afinal muita coisa igual ou semelhante aquilo que havia na minha minúscula Fajã Grande, a pequena freguesia onde nasci e cresci criança, quando por lá deambulava de pé descalço, no início dos anos cinquenta. Poderá parecer estranho mas é verdade. Senão vejamos.
Comece-se pelo Montjuic! Não é verdade que é sobranceiro à cidade e ao mar, que do seu alto se desfruta de uma aprazível, deslumbrante e encantadora vista sobre a cidade, talvez uma das mais belas de toda a Catalunha, o que o torna realmente numa espécie de Pico da Vigia de Barcelona? É verdade que não tem a cabine onde o vigia das baleias passava horas a tentar descobri-las, mas tem um castelo com binóculos e canhões por tudo o que é sítio. Mas ainda há mais: bem vistas as coisas não está a Rambla cheia de galos, pássaros, morganhos, salsa, cebolinho, hortelã, macela, japoneiras, hortênsias a fazer lembrar a Rua Direita, ambas com uma praça ao cimo? E o Porto Velho e o Porto Novo? Tal e qual como os da Fajã. A casa de Batló ou a de Mila não fazem lembrar a Casa do Chileno? A própria Fonte Canaletas reporta-nos para a nossa Fonte Vermelha, que embora não estando localizada perto da Praça, não lhe é inferior na qualidade e frescura da sua água.
É verdade que não tínhamos uma torre Agbar, mas tínhamos o Monchique que não lhe fica atrás em firmeza, rigidez e endurance e que tem a vantagem de lá bem no seu cimo, ao que se diz, os nossos avós terem dançado “A Chamarrita”, não constando que os catalães algum vez tenham dançado ou tenham a esperança de um dia vir a dançar “ La Sardana ” em cima da dita Torre. Vão-se contentando em dançá-la, apenas aos domingos, mas na Praça da Catedral.
E se Barcelona têm um Arco do Triunfo não o devia ter porque ele é de Paris, o Palácio Real é de Madrid, o Tibidabo do Monte Sinai e a Sagrada Família, segundo rezam as escrituras, era de Nazaré.