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O VELHO E O NAÚFRAGO

Sábado, 12.09.15

Era uma vez um pescador pobre e humilde que vivia num casebre, junto do mar com a mulher e uma filhinha de tenra idade. Certo dia, enquanto o pescador se ocupava na sua faina diária, a mulher decidiu ir banho à filha numa pequena enseada que ficava mesmo em frente à sua casa. O mar estava muito calmo e Sol brilhava com grande intensidade. Era um dia de muito calor

De repente e sem que a mãe previsse, surgiu uma onda enorme e bravia que, embrulhando-se contra os rochedos, atirou a mãe ao chão, levando-lhe a inocente filhinha. A pobre mulher muito a custo levantou-se e atirou-se ao mar, gritando, berrando na tentativa de recuperar a filha perdida no meio das ondas revoltas. Momentos depois, a menina emergiu das ondas. A mãe desesperada agarrou-a e apertou-a nos braços, chorando, agora de alegria, por tornar a ver e abraçar a sua menina. Mas, para espanto seu, a menina estava muito diferente: o olhar era mais triste, o sorriso menos cativante, os cabelos outrora castanhos e ondulados estavam hirtos e desalinhados, o seu corpo irradiava reflexos estranhos e melancólicos e toda ela como que exultava uma enorme alienação, uma indiferença desusada. Muito triste e preocupada a mãe regressou a casa mas nunca mais levou a menina a tomar banho no mar, por mais manso e calmo que ele estivesse

Passaram-se anos. A menina cresceu e tornou-se numa bela e graciosa jovem, mas sempre aureolada com o diadema de um estranho mistério, manifestado nos seus comportamentos estranhos, nas suas atitudes inauditas. Os pais, apercebendo-se parcialmente do que se passava viviam em sobressalto, temendo que algo de estranho ou de sobrenatural acontecesse. As vizinhas, coscuvilheiras e maldosas preconizavam que um dia a moça se transformaria numa sereia, por ter recebido os poderes do encanto quando surgira do mar, estranhamente feliz.

Certo dia, um náufrago que viera dar à costa num pequeno batel deslumbrado pelo fascínio irradiante da rapariga. Apaixonou-se loucamente por ela e ela por ele. Mas o facínora não a amava de verdade, apenas seduzindo-a e abusando dela. Pouco depois zarpou, fugindo numa estranha embarcação que, durante a noite demandou a ilha. A rapariga, humilhada e cheia de vergonha, chorou amargamente, aureolando-se ainda de comportamentos mais estranhos. A sua beleza foi-se perdendo, a velhice atingiu-a e, passado algum tempo, morreu. Todos a choraram.

Passaram-se alguns anos. Um novo batel demandou a ilha trazendo um náufrago. O homem cheio de frio e de fome dirigiu-se para o povoado. Muitos dos habitantes da localidade, reconhecendo-o, correram-no à pedrada e espancaram-no com varapaus. Foi o velho pai da jovem que ele atraiçoara que o protegeu e salvou. Levou-o para sua casa, tratou-lhe das feridas, vestiu com roupas quentes e repartiu com ele a sua ceia. O gesto do ancião comoveu a todos. Nunca se vira alguém com um coração tão bom e generoso. Protegera e salvara o algoz da própria filha. Na noite seguinte, enquanto o náufrago dormia, o velho e amargurado pai vigilava à porta da sua casa, quando começou a ouvir ao longe uma voz harmoniosa entoando os versos de uma canção nostálgica. A música, aos poucos, foi-se aproximando, até chegar junto dele. Com mil cuidados, não fosse surpreender e assustar a dona de voz tão bela, espreitou por cima do portão. Para espanto seu, viu sentada, ali perto, uma mulher, extraordinariamente formosa. Acercou-se, cheio de receio e curiosidade. Pareceu-lhe a própria filha. A mulher, porém, ao pressenti-lo, desapareceu misteriosamente. Na noite seguinte, o velho voltou de novo a mesma voz, a entoar a canção triste da véspera que, da mesma forma, se foi aproximando da sua casa. Era a mesma mulher, esbelta e bela. Reconheceu a própria filha.

Mas na manhã seguinte, o corpo do velho foi encontrado inerte junto ao portão da sua casa. Tinha morrido!

 

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publicado por picodavigia2 às 00:05





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