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A LADEIRA DO COVÃO

Domingo, 06.10.13

A ladeira do Covão era, incontestavelmente, a mais desnivelada, a mais íngreme e a mais abrupta ladeira de todas as que possuíam os desnivelados e tortuosos caminhos da Fajã Grande. Situava-se logo a seguir ao Cimo da Assomada, no Vale da Vaca e ligava o antigo caminho da Cuada, das hortas e dos Lavadouros com a Canada do Covão, ou seja com a penhascosa e escarpada vereda de acesso à Pedra d’Água e ao Outeiro Grande, a meio da qual se engastava o mítico e tenebroso Calhau das Feiticeiras.

Situava-se pois, a referida Ladeira, numa elevada e altiva encosta, o que lhe concedia o estatuto de “estar totalmente impedida à circulação de carro de bois ou corsão”, pese embora a sua largura e o seu piso tal permitissem. A espessura era rigorosamente igual à dos restantes caminhos e por isso, por lá poderia passar, muito à vontade, uma junta de bois. O piso, por sua vez, era bastante bom e liso, propício ao rolar de um carro ou facilitador do deslizar de um corsão, dado que usufruía de um calcetamento muito superior em qualidade ao dos restantes caminhos da freguesia, geralmente calcetados com a tradicional “calçada romana”, mas cheios de altos e baixos e de pedregulhos soltos. O piso da Ladeira do Covão era feito de pequeninas pedras, iguais em tamanho e espessura, muito bem ordenadas e arrumadas, que davam à Ladeira do Covão um ar gracioso e uma locomoção fácil e acessível, estorvada sim, e de que maneira, pelo seu acentuadíssimo declive e pela sua desnivelada estrutura. O seu aspecto dava a entender que teria sido um dos caminhos mais recentemente construído e, naturalmente que os seus “arquitectos”, tentaram compensar a dificuldade da subida com a facilidade do piso. Estiveram muito bem os nossos antepassados.

Mas o que ainda mais caracterizava a Ladeira do Covão e que lhe dava um ar de singularidade, é que a mesma se alongava, de um dos lados, como que paralela ao Vale da Vaca, enquanto o outro se confundia com a encosta subjacente, povoado de silvas, de vinháticos, de cubres, de funchos e de canaviais, donde emanavam cores e perfumes diversificados e atraentes e onde a passarada esvoaçava em acasalamentos ou na procura estonteante de sítios mais adequados para os ninhos. Ao subi-la e, muito especialmente quando se chegava ao seu cimo desfrutava-se de um cenário deslumbrante, duma vista maravilhosa. Ao perto o enorme vale onde predominavam as terras e cerrados de milho, muito verde e robusto, mais ao longe a Assomada, com as suas casinhas a agregarem-se e a protegerem-se entre as encostas do Pico e do Outeiro, mais ao longe, a Rua da Direita com o seu casario altaneiro e a igreja com o campanário a sobressair sobre os telhados e, ainda mais ao longe, o mar, o Monchique e os navios. A protegê-la as encostas sombrias do Pico da Vigia.

É verdade que subir a Ladeira do Covão representava um enorme cansaço que, no entanto, se suavizava, com o encanto da paisagem, com o estonteante colorido da vegetação, com o perfume das flores, com os sabores dos frutos e, sobretudo, com a sublimidade do canto dos pássaros.

 

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publicado por picodavigia2 às 09:09





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