PICO DA VIGIA 2
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ALMOÇO DE NATAL NO “SOLAR DOS PEQUENINOS” EM PAREDES
Há dias tive a honra e o privilégio de ser convidado para um almoço de Natal organizado por um Jardim-de-infância de Paredes. Trata-se do “Solar dos Pequeninos”, uma instituição de infância a funcionar desde 2000, no lugar de Abadim, na cidade Paredes, nas traseiras da Escola Secundária e que, nas suas instalações, alberga cerca de meia centena de petizes de palmo e meio, para além de dar apoio pedagógico a cerca de duas dezenas de alunos que frequentam a Escola Primária da Sede, também ali ao lado.
O “Solar dos Pequeninos” embora localizado praticamente no centro da cidade de Paredes, junto à zona escolar e à piscina municipal, está, no entanto, implantado, numa espécie de zona rural, nas antigas instalações de uma propriedade agrícola, que incluía casa de lavrador, com os devidos anexos e quinta, mas que foram devidamente restauradas e adaptadas, funcionando assim num ambiente de grande calma e tranquilidade, estando afastado do rebuliço frenético urbano. Além disso possui fácil acesso e está dotado de um enquadramento paisagístico harmonioso, com instalações modernas e funcionais. Sob o ponto de vista educativo, tem elaborado um plano pedagógico, activo e dinâmico, com um projecto educativo de qualidade onde os objectivos são claros e concretos e cuja concretização se evidencia na competência das suas educadoras e auxiliares de educação e na dinâmica das actividades que disponibiliza aos seus educandos.
Costumo lá ir mensalmente contar uma história aos petizes. Ouvem-me com atenção, envolvem-se nos meandros do emaranhado, exercitam-se na diegese da narração, enfim, rodeiam-me, solicitam-me e até me agarram como se fosse um deles.
Pois chegou o Natal, altura em que lá voltei a fim de lhes contar mais uma história. Os garotelhos não estiveram com meias medidas. Estavam a organizar um almoço de Natal e eu, forçosamente, tinha que lá ir almoçar com eles. Tivesse eu juizinho que não havia forma de recusar o convite.
E fui… com muito gosto e com muito alegria até porque também me prendo ao “Solar dos Pequeninos” por outras razões, uma vez que lá tenho uma “pequenina princesa”, encantada e feliz por eu ir almoçar na sua companhia.
Chegou o dia e a hora! O almoço à boa maneira do Natal na região, incluía bacalhau com todos, rabanadas, leite-creme e aletria, conforme constava da ementa afixada na entrada, em letras garrafais e que, na realidade, se assemelhava em tudo às grandes e tradicionais ceias de Natal. A sala de jantar estava enfeitada com motivos natalícios diversos, uns nas paredes, outros suspensos do tecto, muitos sobre as mesas e até um Pai Natal a envolver o guardanapo de cada um dos comensais. Uma maravilha! Todos os enfeites foram feitos manualmente pelos petizes, com a ajuda e com a criatividade das educadoras. Os alimentos estavam muitíssimo bem cozinhados e no ar sentia-se o verdadeiro perfume do Natal. Os convivas, autênticos duendes ornamentados com o gorro do Pai Natal, eram de palmo e meio, mas estavam tão bem, não apenas ao tomarem a sua refeição, mas também convivendo em sã alegria, confraternizando em doce camaradagem, entrelaçando-se em sincera convivência, nas suas minúsculas mesas e cadeiras, à espera do Pai Natal, que chegaria, no fim do repasto, carregadinho de prendas para todos.
Foi então que eu, sentado numa cadeirinha tão igual à deles, numa mesinha tão minúscula as suas, no meio daqueles pequenitos, senti uma enorme “raiva” de não poder voltar a ser como eles e ficar ali à espera do Pai Natal.
Texto publicado no Pico da Vigia em 21/12/10