PICO DA VIGIA 2
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O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE VILA BOA DO BISPO
Vila Boa do Bispo é uma freguesia pertencente ao concelho do Marco de Canavezes, no distrito do Porto, situada nas vertentes ocidentais dos montes de Rosem e ladeada pelas freguesias de Sande, S. Lourenço do Douro, Ariz, S. Paio de Favões, Rosem e Avessadas. É atravessada pelo ribeiro do Lourido e a sua parte mais baixa é banhada pelo rio Tâmega.
A sua história remonta a tempos anteriores à fundação da nacionalidade e muito provavelmente por ali terão existido não só povoações romanas mas também castros celtas, iberos e celtiberos. Sabe-se que o nome de “Vila” lhe foi dado por D. Afonso Henriques, quando a visitou, em 1141, tendo-lhe, nessa altura, concedido couto (1). Por outro lado o nome de “Boa” advém-lhe do facto de o seu solo ser realmente muito fértil e produtivo. Finalmente o nome de “Bispo”, tem a ver com a fundação, na freguesia, de um mosteiro a cuja história está ligado o Bispo do Porto, D. Sisnando (1049-1070). Altura em que a sede da diocese do Porto era Meinedo.
Em Vila Boado Bispo existiu um Convento dedicado à Virgem Maria, o qual durante muitos anos foi mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e de que ainda existem vestígios na actual igreja paroquial. Este mosteiro foi fundado por D. Moninho Viegas no ano de 990, em cumprimento de um voto feito durante a batalha de Valboa ali realizada, na qual conquistou aos mouros o castelo de Monte de Arados. D. Moninho Viegas teve papel importante na reconquista cristã e distinguiu-se como importante conquistador de terras aos mouros na região de Ribadouro. No final da sua vida recolheu-se a este mosteiro, professou e tornou-se monge, sabendo-se que teve uma vida exemplar, sendo sepultado no mesmo mosteiro. O bispo do Porto, na altura com sede em Meinedo, de que a igreja primitiva ainda ali existente seria a Sé, D. Sisnando, era irmão de D. Moninho e depois de ter governado a diocese com grande sabedoria e dedicação e também de ter combatido os mouros durante longos anos, como era apanágio dos bispos naquela altura, resignou à mitra portuense e recolheu-se neste mosteiro, tornando-se monge.
Reza a lenda que D. Sisnando ia todos os dias celebrar missa a uma capela que por ali perto existia, sendo, a certa altura e enquanto celebrava missa, martirizado pelos mouros, recebendo assim a palma do martírio em prol da fé cristã. O seu corpo foi sepultado nessa mesma capela, debaixo do altar-mor, mas anos mais tarde foi transladado para o mosteiro e o seu túmulo assim como o do fundador ainda se podem encontrar ao entrar na actual igreja do mosteiro, do lado esquerdo da porta principal. D. Sisnando teve fama de santo pois a ele se atribuíram muitos milagres e o seu corpo foi encontrado intacto a quando da sua transladação.
Na actual igreja paroquial de Vila Boa do Bispo encontram-se muitos vestígios da história e da evolução da arquitectura do convento. São visíveis traços românicos nalgumas portadas e janelas, não fosse o românico predominante à altura da sua construção. Há vestígios góticos em portas que não foram totalmente tapadas mas o estilo predominante e ainda existente é o barroco, bem visível na talha dourada da capela-mor, no púlpito bem como um coro lateral, possivelmente destinado aos proprietários de um solar vizinho. O tecto da capela-mor é forrado de frescos, representando os apóstolos, os evangelistas e doutores da igreja. A maioria deles está destruída e é irrecuperável. Salvaram-se os de Santo Agostinho, São Teotónio, São Mateus, São Tiago e poucos mais. Um pormenor interessante é o da imagem da padroeira, estar encastoada no arco do transepto, também ele em talha dourada, que separa a capela-mor do corpo da igreja e dali nunca poder ser retirada. O convento foi reformado em 1605 e revela muitas outras alterações ao seu estilo inicial.
O mosteiro de Santa Maria da Vila Boa do Bispo, embora pouco conhecido, é, incontestavelmente um marco importante na história e na cultura da freguesia, da região e até do país, por quanto revela de grandioso e de sublime não apenas nas suas formas arquitectónicas mas também na sua história e nalgumas lendas que a ele estão ligadas. Foi lá que, há três anos, se baptizou a Zizinha. Hoje, foi a vez da Ritinha ser baptizada neste mesmo templo, baluarte insigne de factos históricos memoráveis.
(1) - Na Idade Média, coutos eram concessões régias de terras doadas à Igreja e ao clero. Mas a palavra “couto”, também significa o complexo dos privilégios e das imunidades do território que o clero possuía. Imunidade define-se como a proibição de entrada de funcionários régios, a inexistência de impostos da Coroa e o exercício, pelo senhor, da autoridade pública, com autonomia administrativa, judicial e financeira. Acrescente-se que as terras doadas aos nobres se chamavam “honras”, enquanto as doadas ao povo se chamavam “reguengo