PICO DA VIGIA 2
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OS HIPOGEUS DESCOBERTOS NO CORVO E A COVA DA JUNÇA
Novamente, voltaram a circular em vários órgãos de comunicação social, notícias já divulgadas nalguns sites e blogues, de que foram descobertas no Corvo (e também ao que parece na Terceira e em outras ilhas açorianas) vários hipogeus, ou seja, estruturas escavadas na rocha, usadas antigamente no Mediterrâneo como sepulturas, que seriam sinal da ocupação humana nas ilhas dos Açores, em tempos muito remotos, dado que supostamente os monumentos descobertos poderiam ter cerca de dois mil anos.
Em Março de 2011 foi o presidente da Associação Portuguesa de Investigação Arqueológica (APIA), Nuno Ribeiro, a afirmar que existem dezenas de hipogeus no Corvo, estando todos à vista. Aparentemente, trata-se de monumentos muito antigos, situados em zonas onde não houve agricultura, acrescentando que há também indicações de que possam existir hipogeus na ilha das Flores. Os monumentos em causa foram encontrados no Corvo durante um passeio que o arqueólogo Nuno Ribeiro efectuou em Agosto de 2010. O presidente da APIA admite que estas estruturas possam ter mais de dois mil anos, mas salientou que a datação desses monumentos "terá de ser fundamentada e averiguada". O arqueólogo acrescentou a importância destes monumentos, observando que, a comprovar-se a antiguidade dos hipogeus, "é possível que a ocupação das ilhas tenha sido anterior à presença portuguesa".
Agora, segundo o Expresso, de 9 de Junho pp, foi Félix Rodrigues, professor catedrático da Universidade dos Açores, que descobriu e estudou em profundidade alguns destes achados, afirmando àquele jornal que esta: "Seria a maior descoberta arqueológica da Europa dos últimos 100 anos". Segundo o mesmo jornal, estas descobertas consubstanciam dezenas de estruturas em pedra ou escavadas na rocha encontradas em várias ilhas dos Açores e estão a gerar polémica, porque parecem apontar para a presença humana no arquipélago, muito antes da chegada dos portugueses. Além disso, a multiplicação destas descobertas arqueológicas está a provocar polémica, porque parece indicar a presença de navegadores muitos séculos antes da chegada oficial ao arquipélago dos portugueses e de Diogo de Silves, em 1427. Assim, celtas, fenícios, cartagineses, romanos podem ter passado pelo arquipélago, porque o regresso ao Mediterrâneo ou ao norte da Europa de qualquer barco que viajasse ao longo da costa africana teria de ser feito pela chamada volta do Atlântico, por causa da direcção dominante dos ventos de nordeste.
No entanto, o mesmo jornal reconhece que faltam sondagens, escavações e datações por radiocarbono para se tirarem conclusões definitivas, mas se fosse provada a origem pré-portuguesa dos achados arqueológicos, a História teria de ser rescrita, tanto no que diz respeito à descoberta das ilhas como ao paradigma da navegação no Atlântico.
Ora no que ao Corvo, a ilha mais referenciada nas notícias sobre estas descobertas, diz respeito, existe, na realidade, naquela ilha, conhecido de toda a gente, um local chamado “A Cova da Junça”, sobre o qual a Wikipédia diz o seguinte: “A Cova da Junça é um silo português do Século XVII localizado dentro da cerca da Delegação Marítima de Vila do Corvo, no Largo do Porto da Casa, ilha do Corvo, arquipélago dos Açores. Trata-se de uma edificação protegida pela Resolução n.º 69/97, de 10 de Abril, do Governo Regional dos Açores cuja data de construção recua ao século XVII e século XVIII e faz parte do Inventário do Património Histórico e Religioso da ilha do Corvo. Esta construção apresenta-se como um silo subterrâneo, escavado no subsolo com forma de ânfora ou de talhão. Não apresenta uma grande dimensão. É bastante raro, no entanto silos deste tipo no arquipélago dos Açores. Era usado em tempos idos com o objectivo de guardar e esconder os cereais. Não só como forma de os conservar, mas também porque ao esconde-los debaixo da terra ficavam fora da vista dos piratas e corsários que assolavam a costa das ilhas com frequência e também dos dobradores dos impostos do rei. O caminho de acesso a este silo é feito por uma estreita abertura na parte superior, hoje integrada no pavimento do logradouro da Delegação Marítima. Esta Cova da Junça foi parcialmente destruída aquando da abertura de uma estrada, apresentando um corte longitudinal que veio permitir visualizar o seu aspecto interior.”
Não haverá, pois, alguma confusão entre a Cova da Junça e os hipogeus agora descobertos?