PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
VOTO DE PESAR PELA MORTE DE PEDRO DA SILVEIRA
(APRESENTADO PELOS DEPUTADOS DO PS NA ALRA - 13 DE MAIO DE 2003)
Pedro da Silveira deixou-nos.
Natural da freguesia da Fajã Grande, ilha das Flores, onde nasceu em 5 de Setembro de 1922, Pedro Laureano de Mendonça da Silveira faleceu aos 80 anos, em Lisboa, no passado dia 13 de Abril.
Concluída a instrução primária na escola da terra que lhe serviu de berço, frequentou durante um ano o Seminário de Angra do Heroísmo. Completou os estudos liceais naquela cidade e em Ponta Delgada, onde iniciou a sua participação na vida literária. Fixou-se definitivamente em Lisboa no ano de 1951.
Pedro da Silveira foi agricultor, escriturário, delegado de informação médica, historiador, tradutor e bibliotecário. Foi também jornalista, tendo numerosa colaboração dispersa por jornais e revistas como “O Comércio do Porto”, “O Primeiro de Janeiro”, “Vértice”, “O Diabo”, “Seara Nova”, “Colóquio-Letras” e ainda no “Diário dos Açores”, no Jornal O Monchique” e na “Revista Municipal das Lajes das Flores”, bem como alguns estudos sobre a história e o folclore dos Açores, em publicações da especialidade.
Mas Pedro da Silveira distinguiu-se sobretudo como poeta, dando à estampa uma vasta obra de poesia e de investigação, nomeadamente sobre Cesário Verde e Roberto Mesquita. Em 1952 publicou em Lisboa “A Ilha e o Mundo”, a sua primeira colectânea de poesia, a que se seguiu “Sinais do Oeste”, editado em Coimbra em 1961. “José Leite de Vasconcelos nas Ilhas de Baixo”, “Corografias” e “Antologia da Poesia Açoriana do Século XVIII a 1975”, são outras das mais importantes publicações de Pedro da Silveira.
Apesar do seu cosmopolitismo e abertura aos mundos e às correntes, na lírica de Pedro da Silveira, realista, concisa e anti-retórica, está bem presente a marca da sua condição de ilhéu, da sua mudividência insular e açórica, traduzida de modo exemplar no poema que dá precisamente pelo nome de “Ilha:
”Só isto:..O céu fechado,uma ganhoa
pairando. Mar. E um barco na distância:
olhos de fome a adivinhar-lhe à proa
Califórnias perdidas de abundância.”
Testemunha de um século, vivido entre os presos políticos das Flores (onde conheceu João Soares), os anarquistas da Terceira (onde foi companheiro de Nemésio no núcleo local da Juventude Anarco-Sindicalista) e os escritores de Lisboa, exímio contador de histórias, Pedro da Silveira tinha várias obras em preparação e havia já começado a reunir em livro as suas memórias. E, subitamente, partiu.
A sua partida deixou mais pobres as letras e a cultura de Portugal e dos Açores. A excelência da sua obra constitui garantia da perenidade da sua memória.
Assim, nos termos estatutários e regimentais aplicáveis, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores, reunida na cidade da Horta, emite um Voto de Pesar pelo falecimento do poeta e cidadão Pedro da Silveira.