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O NAUFRÁGIO DO SLAVÓNIA

Segunda-feira, 10.06.13

Faz hoje, 10 de Junho, cento e quatro anos que o paquete “Slavónia”, popularmente designado, na ilha das Flores por "Salavónia" naufragou junto à Costa do Lajedo, naquela ilha açoriana, acontecimento marcante durante décadas e décadas, na vida e costumes da ilha e, eternamente, presente na memória de toda a sua população.

O naufrágio deste grande e luxuoso paquete inglês aconteceu, segundo alguns relatos da época, por voltada das três horas da madrugada, do dia 10 de Junho de 1909, ou seja, três anos antes de um outro grande naufrágio, o do Titanic. O acidente ocorreu num baixio das Flores, a cerca de 25 metros de terra, em frente ao lugar da Costa, na freguesia do Lajedo, na altura em que se procedia à construção do novo e actual farol das Lajes e provocou um enorme alvoroço em toda ilha, muito especialmente nas povoações e freguesias da costa oeste, sobretudo, por se tratar de um navio que transportava centenas de passageiros. O naufrágio do Slavónia foi, incontestavelmente, o maior e o mais propalado, de dezenas e dezenas de quantos aconteceram naquela ilha, desde os primórdios do seu povoamento, não pelo número de mortes, felizmente que as não houve, mas sim pelo número de pessoas envolvidas e pela excelência e sumptuosidade do navio. Na altura do acidente, viajavam a bordo do Slavónia cerca de 750 pessoas, dos quais 500 eram passageiros e as restantes membros da tripulação. Todas estas pessoas se salvaram, sendo recolhidas e transportadas para terra com ajuda de cabos vaivém e pelos barcos “Botávia” e “Princesa Irene” ancorados na ilha, na altura. Para além dos passageiros, o luxuoso paquete transportava farinha, açúcar, café, algodão, máquinas de escrever e barras de cobre.

O “Slavónia", era um faustoso transatlântico pertencente à Cunard Steamship Company, Lda, construído em 1903. Partira de Nova Iorque no dia 3 de Junho com destino a Trieste, cidade do nordeste da Itália, no Mar Adriático. Tinha 10 606 toneladas brutas, tinha 155,44 m de comprimento, 2 máquinas a vapor alimentadas por 6 caldeiras com 18 fornalhas e era propulsionado por dois hélices que lhe conferiam uma velocidade média de 13 nós.

Segundo rezam as crónicas da altura, alguns dos passageiros ao saberem que o paquete passava perto das Flores, fizeram chegar ao comandante, um pedido escrito para que este alterasse a rota de maneira a que se aproximasse da ilha e pudessem observar, em pormenor, a sua beleza. O comandante acedeu ao pedido e planeou rodear as Flores, pelo Sul, numa rota afastada apenas a 6 milhas de terra, para depois prosseguir no seu curso original. Mas um forte nevoeiro que se abateu na noite de 9 de Junho e uma forte corrente marítima que ali se fazia sentir, terão desviado o paquete da rota prevista, levando-o a encalhar nuns pequenos escolhos e baixas rochosas existentes, entre a Costa e o Lajedo. Sucederam-se sucessivos e angustiantes pedidos de socorro que foram recebidos pelo paquete alemão "Prinzess Irene" e pelo navio "Batavia", que imediatamente se dirigiram para o local, socorrendo o navio naufragado

Entretanto o Slavónia fora abalado em toda a estrutura pelo encalhe violento e a agitação do mar causara-lhe o colapso do compartimento estanque da ré, levando a popa a mergulhar progressivamente no mar, enchendo as caldeiras de água e apagando o fogo das fornalhas. Consta que o comandante, abalado pela perda iminente do navio que comandava, tentou, por várias vezes, suicidar-se, no que foi impedido por elementos da tripulação.

Consta também que todas as operações de salvamento dos passageiros e da tripulação se processaram ordenadamente, quer através dos escaleres dos transatlânticos envolvidos, quer através de um cabo vaivém passado entre a costa e o barco. Todos passageiros e a maior parte da tripulação embarcaram, pouco depois, em outros navios, com destino a Lisboa, ficando apenas alguns quadros superiores da tripulação na ilha. Pelo contrário, apenas um pequena parte da bagagem foi salva e quase nenhuma carga se recuperou e todos os esforços do rebocador "Condor" para retirar o navio, quase totalmente submerso, foram debalde, pelo que, uma semana depois, a seguradora declarou a perda total do navio, que, assim, ali permaneceu afundado para sempre.

Nos dias seguintes, muitas pessoas, não apenas da Costa e do Lajedo mas de outras freguesias da ilha terão demandado aquelas redondezas, apesar de a zona estar sob vigilância da Guarda Fiscal, na tentativa de procurar, recolher do mar objectos valiosos e carga do navio. Era voz corrente de que, para além de parte da carga, estaria perdida, por ali, uma mala do correio com valores declarados. Não consta que tenha sido encontrada, mas muitos populares recolheram louças, talheres, travessas, candeeiros, pratas, mobílias, camas e até portas que usaram, mais tarde, nas suas próprias casas. Lembro-me de em criança ver pratos, travessas e candeeiros, retirados do Slavónia.
Recentemente surgiu a ideia de se recolherem todas as peças que pertenceram ao Slavónia e guardá-las em museu, o que, aparentemente já será um pouco tarde.

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publicado por picodavigia2 às 10:43





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