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O SEGREDO DA PRINCESA

Domingo, 27.10.13

Era uma vez um rei que tinha uma filha, muito bonita e elegante mas cuja vida estava envolta num grande mistério. Passava os seus dias no palácio, na companhia de damas e pajens, mas à noite, a regressar ao palácio, recolhia-se, apressadamente, solitária, aos seus aposentos. Mais estranho e enigmático ainda, era o facto de que, todas as manhãs, os seus sapatos e roupas apareciam usados, como se tivesse estado a dançar a noite inteira. Ninguém conseguia perceber o que se passava.

Preocupado, o pai fez saber por todo o reino que se alguém descobrisse o mistério casaria com a princesa e herdar-lhe-ia o trono, após a sua morte. Mas aqueles que tentassem e, ao fim de três dias, não o conseguissem, seriam decapitados.

Apareceram príncipes de reinos vizinhos, apareceram jovens, filhos dos mais nobres dignitários da corte, apareceram ilustres varões do reino, jovens valorosos e destemidos, mas nenhum conseguiu descobrir o enigma, apesar de pernoitarem num quarto próximo daquele onde a princesa dormia, deixando a porta aberta, por isso, todos tiveram a mesma sorte, perdendo a vida da mesma forma.

Um rapazito que vivia no reino, perto do palácio, também resolveu tentar a sua sorte. No entanto, quando seguia, a caminho do palácio real, encontrou uma velhota, que lhe perguntou onde ia, ao que ele respondeu:

- Não sei onde vou, ou o que devo fazer, mas o que gostava de saber era onde a filha do rei vai durante a noite e, assim, talvez pudesse chegar um dia a desposá-la e a ser rei.

- Bem, - disse a velha - isso é uma tarefa muito difícil. Simplesmente, tens que ter cuidado e não beber do vinho que a princesa te dará, antes de te deitares. Depois finge que adormeces, mas mantém-te bem acordado.

De seguida deu-lhe uma capa e disse-lhe:

- Mal vistas esta capa, tornar-te-ás invisível, e poderás, então, seguir a princesa para onde ela quer que for.

Quando o rapaz ouviu estes conselhos, ficou ainda mais determinado a tentar a sua sorte e, por isso, foi ter com o rei, dizendo-lhe que estava disposto a desempenhar a tarefa de descobrir o segredo da princesa.

O rei aceitou e, ao anoitecer, o rapaz foi levado ao quarto da princesa. Quando se estava a deitar-se, ela entrou e, amavelmente, ofereceu-lhe um copo de vinho, mas o rapaz, habilmente, deitou-o fora sem que disso ela se apercebesse. Depois, deitou-se na cama e passado um pouco, começou, simuladamente, a ressonar alto, como se estivesse a dormir em sono profundo.

Quando a princesa percebeu que ele estava a dormir, riu-se, cuidando que o desgraçado havia de ter o destino de todos os outros. Assim, levantou-se, de imediato, abriu gavetas e caixas, tirou as suas melhores roupas, vestiu-se ao espelho e começou a saltitar como se estivesse ansiosa por começar a dançar.

Depois de pronta e arranjada, a princesa olhou para o rapaz que continuava a ressonar como se estivesse a dormir. De seguida bateu palmas e logo se abriu um buraco no chão, no qual a cama se afundou. O rapaz viu-a descer pelo buraco e pensando que não tinha tempo a perder, saltou da cama, vestiu a capa que a velhota lhe tinha dado, e saltou para o buraco, seguindo-a.

A meio das escadas, porém, descuidou-se e, com a preocupação de não perder a princesa de vista, pisou-lhe o vestido como pé. Como se voltasse e não visse ninguém, a princesa continuou a descer, até que chegou a uma encantadora clareira de árvores, cujas folhas eram de prata e brilhavam belissimamente. O rapaz partiu uma folha e guardou-a no bolso. Pouco depois, chegaram a outra clareira, onde todas as folhas das árvores eram de ouro e ainda a uma terceira, onde as folhas eram de diamantes. Em ambas o rapaz quebrou uma folha que guardou no bolso. Continuaram a andar até que chegaram a um grande lago, junto ao qual estava um pequeno barco com um príncipe, que parecia estar à espera da princesa. Esta entrou no barco e o rapaz voltou a segui-la entrando, também, para o bordo.

O príncipe começou a remar, mas o barco, praticamente, não andava:

- Não sei porquê, mas apesar de estar a remar com todas as minhas forças, parece que o barco, hoje, não anda tão rápido como habitualmente. O barco parece muito pesado – queixava-se o príncipe

- Deve ser do calor que está, - disse a princesa. - Eu também me sinto muito quente.

Embora lentamente, acabaram por chegar à margem oposta do lago, onde se erguia um belo castelo muito iluminado, de onde vinha música alegre e maviosa. Ao chegar a terra dirigiram-se para o castelo, dando-se início a um baile, em que a princesa e o príncipe foram os protagonistas.

Dançaram até de madrugada, deixando, a princesa, os sapatos tão gastos tão gastos que foi obrigada a abandonar o baile e ir-se embora. O príncipe conduziu a princesa e o rapaz, sempre invisível, até à outra margem do lago e regressaram ao palácio real. Quando subiam as escadas, o rapaz correu à frente e deitou-se sem que a princesa disso se apercebesse. Esta, ao entrar no quarto e, certificando-se de que o rapaz continuava a dormir, deitou-se e adormeceu tranquilamente.

De manhã, o rapaz não disse nada sobre o que tinha acontecido, decidindo proceder de forma idêntica mais duas noites. Tudo aconteceu da mesma forma: a princesa dançava sempre até não poder mais e depois voltava a casa. Na terceira noite o rapaz, cuidando que não voltaria ali, trouxe consigo um dos copos de ouro onde era servido o vinho, durante o baile.

No dia seguinte, decidiu contar o segredo da princesa, ao rei. Foi conduzido à presença do monarca e da princesa, levando as três folhas e o copo de ouro.

O rei perguntou-lhe:

- Onde é que dança a minha filha, durante toda a noite, até romper os sapatos?

O rapaz, sem demoras respondeu:

- Com um príncipe, num castelo subterrâneo, onde todas as noites se realizam grandes festas. – E, de seguida contou ao rei tudo o que tinha acontecido naquelas noites e, como prova, mostrou-lhe as três folhas e o copo de ouro que tinha trazido consigo.

A princesa, ao ver-se descoberta, percebeu que não mais poderia ocultar o seu segredo e, por isso, confessou ao pai toda a verdade.

Nem foi preciso que o pai lhe ordenasse. A princesa prostrou-se diante do rapaz e, admirada com a sua perspicácia, pediu perdão a ele e ao pai. O rapaz ergueu-a e, beijando-a, prometeu amá-la e fazê-la mais feliz mais do que nenhum príncipe, alguma vez, a faria. Passado algum tempo casaram, mas esta história não esclarece, como as outras, se, afinal, foram ou não foram felizes para sempre.

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publicado por picodavigia2 às 16:47





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