PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
EQUADOR
Está a passar, semanalmente, num dos canais abertos da televisão portuguesa a série “Equador”, baseada na obra homónima de Miguel Sousa Tavares e que retrata a vidaem S. Tomée Príncipe, no início do século passado. A crítica, em geral, tem-na considerado como uma das melhores séries do género de sempre, creditando-a de grande rigor histórico. Acontece porém que, sob o ponto de vista litúrgico/histórico, a referida série apresenta algumas incorrecções.
O Concílio Vaticano II, com a Constituição “Sacrosanctum Concílilium”, sobre a Sagrada Liturgia, assinada e promulgada pelo papa Paulo VI em 4 de Dezembro de 1963, definiu as várias normas referentes à reforma litúrgica, alterando entre muitos outros aspectos os seguintes: o uso da cor roxa nos funerais e nos ofícios de defuntos, sem no entanto proibir a continuação do preto até então obrigatório e a celebração da Eucaristia em altar “versus populo” (voltado para o povo).
Na referida série, no entanto, Monsenhor Atalaia, máxima autoridade religiosa no arquipélago onde, na altura, ainda não havia bispo residente, personagem superiormente interpretada pelo veterano actor Ruy de Carvalho, no episódio 10º, preside ao funeral do filho do Coronel Maltez, em 1906, com paramentos roxos e, noutro episódio, celebra a missa num altar voltado para o povo. É verdade que o faz em latim, iniciando a celebração como era obrigatório ou seja com a recitação de um versículo do salmo 43, “Introibo ad altare Dei”: Mas, segundo as normas litúrgicas então vigentes e só alteradas depois da publicação da referida Constituição sobre a Liturgia, o celebrante devia proferir aquela invocação de costas para o povo, ligeiramente inclinado e de mãos postas. Monsenhor Atalaia, no entanto, fá-lo de braços abertos e voltado para o povo. Além disso e estranhamente, ao referido monsenhor, sempre que paramentado, é-lhe colocada a estola sobre a casula, contrariamente ao habitual nos ritos litúrgicos da igreja romana, ou seja, a estola, sempre que usada com a casula, é colocada por baixo desta e nunca ao contrário.
NB – Texto publicado no Pico da Vigia, em 14/03/09, altura em que asérie referida passava, semanalmente, na TVI