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A RIBEIRA DO FERREIRO

Quarta-feira, 30.10.13

A Fajã Grande, integrada numa das maiores fajãs açorianas, era ladeada a Norte, a Leste e a Sul por uma rocha elevadíssima, com uma altura média superior aos 400 metros, atingindo, nos píncaros mais elevados, como o da Rocha da Figueira, quase os seiscentos metros de altitude. Desta alta rocha emanavam numerosas grotas e diversas ribeiras, onde, em muitos casos se soltavam belas e interessantíssimas cascadas. Estas, ora rápida ora lentamente, iam galgando penhascos, saltando andurriais e descendo encostas até caírem por completo no chão. Aí como que se perdiam em pequenos poços ou se dissipavam em lagos, escoando-se, de seguida, por entre pedregulhos e rochedos, ladeando relvados e veredas, serpeando outeiros e planícies, ora formando e alimentando pequenos regatos que penetravam nas relvas e as transformam em lagoas ou correndo caprichosamente por entre penedos e maroiços, alimentando moinhos, dando de beber aos animais e formando aqui ou além pequenos lagos que, ladeados por pedras a servir de lavadouros eram locais privilegiados, onde as mulheres se reuniam para lavar a roupa, para amaciar os cestos de vime ou para branquear as tripas dos porcos.

Uma destas ribeiras, talvez a mais enigmática e misteriosa de todas as da Fajã Grande, era a Ribeira do Ferreiro. Nascendo lá bem no alto, para os lados do Rochão Grande, atravessando o Rochão do Junco e o Rochão Tamujo, a Ribeira do Ferreiro descia a rocha, rápida e flamejante, formando uma das mais belas e graciosas cascatas que proliferavam, na zona do Curralinho e Lavadouros, bem próximo do Poço da Alagoinha. Depois corria ora suave ora altiva e revoltosa, por entre penhascos e ravinas, circundando penedos e desenhando lagos, como uma espécie de fronteira natural entre os Lavadouros e o Curralinho, sem, no entanto deixar de parar, a fim de a enriquecer a beleza e graciosidade do Poço da Alagoinha, o qual também ajudava a alimentar com as suas águas frescas e cristalinas. Continuando a manter-se grandiosa e imponente, a Ribeira do Ferreiro seguia o seu percurso por entre relvas, terras de mato e uma ou outra horta, como que se escondendo por entre um denso e verde matagal, até se juntar, ali para os lados da Fajã das Faias, à Ribeira Grande, da qual constituía o seu maior e mais caudaloso afluente.

Quase esquecida por que encoberta por densa vegetação, a Ribeira do Ferreiro tornou-se mais visível quando da abertura da estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande. Posto a descoberto, nessa altura, uma boa parte do seu leito, foi necessário construir uma ponte, no lugar do Vale Fundo, a fim de ligar a Fajã à Fajãzinha. A abertura da estrada, neste local, no entanto, ficaria assinalada e ensombrada para sempre por um trágico acidente em que perdeu a vida o Corvelo e em que ficaram feridos o Francisco Facha e o Roberto de José Padre.

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publicado por picodavigia2 às 09:31





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