PICO DA VIGIA 2
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UM CABIDO DESCABIDO
O cabido é um órgão diocesano, composto por sacerdotes incardinados numa mesma diocese, nomeados pelo bispo titular, para o exercício de ofícios religiosos específicos, em virtude dos seus méritos e das suas capacidades.
O Cabido, no entanto, não foi instituído por Jesus Cristo, não é dogma de fé, nem sequer imprime carácter aos seus membros. Segundo rezam os livros, o cabido, apenas faz parte da tradição da Igreja e consta que há países em que já algumas dioceses dele abdicaram. Não é o caso de Portugal em que, actualmente, cada diocese, de acordo o Anuário Católico Português, mantém vivo o seu cabido.
Acredita-se que esta instituição eclesiástica remonte ao século V, altura em que os bispos começaram a reunir ao redor da sua cátedra, um grupo de sacerdotes que viviam comunitariamente, auxiliando-o e aconselhando-o. A partir do século XII, começaram a distinguir-se os cónegos regulares dos seculares, sendo que os primeiros continuavam a viver em comunidade, mas em conventos, fazendo os três votos: de castidade, pobreza e obediência, como, por exemplo, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, os Premonstratenses etc. Por outro lado, os cónegos seculares, continuaram a viver ao lado do seu bispo, servindo-o, na igreja catedral, quer acolitando-o nos ofícios e celebrações litúrgicas quer formando uma espécie de colégio de conselheiros, em que cada qual tinha funções específicas, algumas das quais ainda hoje permanecem, embora como meramente titulares: deão, chantre, arcediago, arcipreste, mestre-escola, tesoureiro-mor e penitenciário. Actualmente, na maioria das dioceses portuguesas, no que ao aconselhamento do bispo diz respeito, as funções do cabido são da competência do conselho presbiteral.
Acrescente-se que em Portugal, existem duas dioceses – o Patriarcado de Lisboa e a Arquidiocese de Braga – que têm cabidos “sui géneris”. Braga possui o chamado “Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense”, criado pelo arcebispo D. Pedro em 1071, enquanto os membros do cabido lisbonense, como aliás a própria diocese, gozavam de alguns privilégios, entre os quais, o uso de mitra (cónegos mitrados) e a posse de oratório particular e altar portátil, com que podiam celebrar, livremente, por todo o país. Ainda hoje a diocese de Lisboa goza do privilégio de o seu bispo, receber a púrpura cardinalícia logo no primeiro Consistório a seguir à sua nomeação.
Segundo o Anuário Católico, actualmente, embora possuindo o seu conselho presbiteral, todas as dioceses portuguesas mantém os seus cabidos activos, quase todas elas com um bom punhado de cónegos capitulares e, nalguns casos, com os “míticos cargos” atribuídos, nominalmente.
O cabido de Lisboa, para além dos jubilados ou eméritos, tem 22 cónegos no activo, Braga tem 14, Évora 14, Lamego, 14 Guarda 12, Coimbra 11, Porto 11, Viseu 11, Bragança-Miranda 10, Funchal 9, Leiria-Fátima 5, Beja 4 e Algarve 4. Por sua vez, Angra, estranhamente, tem apenas 1, cónego no activo, ou seja Monsenhor Gregório Joaquim Couto Rocha. Todos os restantes cónegos que constam da lista do cabido angrense são eméritos e, por conseguinte, cessaram funções. São eles: Dr. Artur Pacheco Custódio, José Gonçalves Gomes, Mons. Dr. Francisco Caetano Tomás, Mons. Gil Vicente Mendonça, Mons. Dr. António da Luz Silva e Mons, Dr. Augusto Manuel Arruda Cabral. Afinal o saudoso Monsenhor Lourenço, também ele, na altura, membro do cabido angrense, tinha razão quando afirmava que “Apenas um cónego faz um cabido”. De qualquer modo e com tanto clero secular na diocese, a maioria detentor de um currículo brilhante, é estranho que o cabido angrense, a manter-se, esteja a definhar. Aparentemente, é um cabido descabido ou, no mínimo, um cabido descaído.