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OS BOIS DO CORVO

Domingo, 03.11.13

Contavam as pessoas mais antigas da Fajã Grande que, noutros tempos, quando não havia gado suficiente nas Flores para matar pelas festas do Senhor Espírito Santo, as pessoas, por vezes, tinham que ir ao Corvo comprá-lo para assim o poder matar, a fim de que todos, ricos e pobres, no dia de Pentecostes, tivessem pão e carne, à sua mesa, em honra do Divino Espírito Santo. A dada altura do ano, os cabeças da festa iam à ilha vizinha, escolhiam as rezes que achavam mais gordas e bonitas e apalavravam-nas. Mas os animais continuavam lá, a crescer e a engordar até às vésperas da festa, altura em que eram trazidos, de barco, para as Flores.

Num certo ano, em que se apalavrou uma junta de bois no Corvo, chegou-se à quinta-feira antes do domingo de Pentecostes e o mar embraveceu. O barco em que iam buscar os animais era pequeno e fraco e não aguentava com a braveza do mar e a altivez das ondas. Ficaram todos consumidos sem saber o que haviam de fazer e pensaram que só se fossem à volta da ilha, ver se encontravam alguém que tivesse uma junta de bois e a pudesse e quisesse vender. Ainda tentaram, mas não o conseguiram e o tempo já era muito pouco, pois no dia seguinte, como era costume, teriam que matar o gado. Estavam os cabeças, juntamente com outras pessoas a discutir o que haviam ou não haviam de fazer, quando, de repente, viram chegar junto deles dois bois gordos e grandes mas todos alagados e a tremer de frio. Muito espantados, perguntaram uns aos outros:

 - De quem serão estes lindos bois? Quem os terá trazido para aqui? De onde terão vindo para estarem assim todos alagados e enregelados?

Mas ninguém sabia dar respostas a estas perguntas. Um dos homens, porém, chegou-se para junto dos animais e passou-lhes a mão pelo lombo e depois de levar um dedo molhado à boca percebeu que os bois estavam molhados com água do mar.

Muito admirados os homens compreenderam, então, que aqueles eram exactamente os bois que tinham sido apalavrados no Corvo, algumas semanas antes, os quais, face à impossibilidade de serem transportados de barco, se tinham atirado à água e tinham feito a nado a viagem, de várias milhas, entre o Corvo e as Flores, para que assim se cumprisse a promessa que os cabeças tinham feito de dar pão e carne a toda a gente, em louvor do Divino Espírito Santo. 

Todos louvaram e agradeceram aquele milagre do Senhor Espírito Santo e a festa, naquele ano, foi de arromba e feita ainda com mais fé e com muita alegria do que era costume.

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publicado por picodavigia2 às 15:03





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