PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A POPULAÇÃO DO ALAGOEIRO
O lugar do Alagoeiro ficava para além da Fontinha, bastante longe do povoado e já quase debaixo da Rocha. Era, no entanto, uma espécie de lugar mítico, pois era lá que os homens, quando regressavam dos campos se sentavam, ao redor de um enorme largo que ali havia, a descansar, a fumar, a falquejar, a conversar, a discutir, a negociar trocas, a partilhar sonhos e a esperar uns pelos outros em amena cavaqueira. Vinham em bandos do Pocestinho, do Pico Agudo, da Lagoinha, dos Paus Brancos, das Águas, da Silveirinha e até do Mato, enchendo as paredes e marouços circundantes ao Largo, com molhos de erva santa, de fetos, de incensos, de lenha ou com cestos a abarrotar de batatas ou de inhames. Era também o sítio onde o gado, no seu cirandar quotidiano palheiro/relvas/palheiro, parava para saciar a sua sede, pois havia ali um enorme poço com uma bica, por onde jorrava dia e noite água muito fresquinha. O Alagoeiro era pois um lugar de encontros, de cruzamento de caminhos, de conciliar de destinos, de debates e de discussões, uma espécie de “Mileto” da Fajã.
No Alagoeiro, mesmo no Largo, havia apenas uma casa e pertencia ao Luís Fraga que a herdara do pai, Ti’Antonho do Alagoeiro, homem que, no dizer duma sua neta “…trabalhava as terras, fazia as grades, as aivecas e os arados, caiava a casa e acendia o lume à forja, batia o ferro em brasa e à noite, conduzia as orações familiares…”. O Luís Fraga vivia ali com a esposa, oriunda de Santa Maria e cinco filhos. Embora ouvisse mal, era segundo se dizia um homem bastante inteligente e irmão de dois notáveis poetas e etnógrafos fajãgrandenses, o padre José Luís de Fraga e o professor António Fraga, que à altura já não residiam na Fajã, embora, por vezes a visitassem. O Luís Fraga e os filhos deixaram cedo a ilha com destino à América e ao Brasil.