PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
VIAJADO
“Antes viajado que letrado.”
Interessante adágio muito comum na Fajã Grande. Para além de ser a constatação da certeza de que a “experiência é mestra da vida” ou de que mais se aprende vendo, observando, conhecendo e, consequentemente, viajando do que lendo, o uso deste provérbio também poderá significar um grito de revolta contra o isolamento que se vivia não apenas na Fajã Grande mas também em toda a ilha das Flores.
Os que nunca saíam da ilha teriam uma visão muito mais limitada do mundo e das coisas. Pelo contrário os que viajavam até às outras ilhas, ao Continente – entenda-se Lisboa – ou, sobretudo, até à América eram uns privilegiados, pois sabiam e conheciam tudo. Ao regressarem os outros ouviam-nos pasmados. Eram considerados quase heróis, recebidos em festa, ouvidos com respeito e nos primeiros dias, após a chegada, quase nem trabalhavam.
Acrescente-se, no entanto, que o conceito de “letrado”, na Fajã Grande, na década de cinquenta, não era rigorosamente o de quem lia muito, mas do que sabia ler, do que conhecia as letras, embora isso para pouco lhe servisse, uma vez que os livros rareavam, na altura. Daí a supremacia e a maior valorização do viajado, relativamente ao letrado.