Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



CORTEJO ETNOGRÁFICO NAS LAJES DO PICO

Domingo, 24.11.13

Embora escrito no final de Agosto do ano transacto e publicado mo meu blogue “Pico da Vigia, em 1 de Setembro, não resisto a divulgar aqui o seguinte texto:

Integrando o vasto, ambicioso e variado programa da Semana dos Baleeiros e da Festa da Senhora de Lurdes, realizou-se, no passado dia 27 de Agosto de 1011, nas Lajes do Pico, um aliciante e primoroso cortejo etnográfico.

Ao longo de quase duas horas, desfilaram pelas principais artérias daquela “Vila Baleeira” picoense, cerca de uma dezena de carros alegóricos, representando as seis freguesias do concelho e alguns lugares que integram as mesmas, cujos motivos ornamentais recordavam a vida, os costumes, os trabalhos e até alguns momentos de lazer das gentes do Pico, em tempos idos e que, apesar de não muito longínquos, começam a perder-se na memória das gerações actuais.

Os trabalhos agrícolas, nomeadamente o do cultivo do milho, da sua recolha e guarda nas “burras”, o debulhar das maçarocas, o levar a moenda ao moinho, a farinha moída e o bolo cozido no forno, foram temas de alguns dos carros, embora abordados de formas diferentes e sobre aspectos díspares. Outros carros preferiram tratar o trabalho de antanho relacionado com a criação de gado, o seu tratamento, a ordenha e o fabrico do queijo. Alguns carros, porém, ficaram-se pelas festas, como por exemplo a do casamento, enquanto outros recordaram os jogos de antanho, nos quais se incluíam os serões, durante os quais se jogava à sueca, se bailava a chamarrita, mas também durante os quis se trabalhava, quer na descasca do milho, quer no cardar e fiar da lã, ou até no fabrico de capachos com a própria folha do milho. Todos os carros, porém, estavam interessantemente ornamentados com produtos da ilha, nomeadamente com as belas flores de roca, revelando muita dedicação, apurada sensibilidade e acentuado bom gosto.

Um dos carros, precisamente o que abria o cortejo, no entanto, chamava mais a atenção, quer dos habitantes da vila, debruçados às varandas e janelas de suas casas, quer de muitos forasteiros perfilados pelos passeios e ruas da vila. Citando o blogue “Alto dos Cedros” do Emílio Porto “Com efeito, e logo no início, apareceu um dos quadros mais belos de quantos tem vindo às Lajes por estas festas, e este ano, verdade se diga, que foram todos bons”, tratava-se de um carro preparado e apresentado pela freguesia da Ribeirinha, que representava um quadro da vida daquele que foi um dos maiores vultos da cultura picoense e um dos mais altos dignitários da igreja açoriana – D. José Vieira Alvernaz, Arcebispo Metropolitano de Goa, Patriarca das Índias e Primaz do Oriente, recordando, assim, o 25º aniversário da sua morte. Natural da freguesia da Ribeirinha da ilha do Pico, formado na Escola Primária da Piedade, no Seminário de Angra e na Universidade Gregoriana de Roma, José Vieira Alvernaz, foi um dos grandes vultos da cultura açoriana, tornou-se num alto dignitário da igreja católica, recebendo a admiração das gentes da freguesia que o viu nascer, de quem se orgulham e que agora lhe prestou esta singela mas expressiva e digna homenagem.

Um facto a realçar neste cortejo e digno de nota foi a atitude do senhor presidente da Câmara das Lajes do Pico. É que normalmente, em ocasiões semelhantes, os presidentes de câmara e demais autoridades sentam-se num baldaquino simplesmente para “ver passar” o cortejo. Pois o edil lajense, dando um excelente exemplo de trabalho, dedicação e, até, de humildade, decidiu tirar a gravata, arregaçar as mangas e meter-se ao trabalho, andando por entre os carros, orientando, ajudando, apoiando a fim de que tudo corresse da melhor forma, como de facto aconteceu.

Outro aspecto muito interessante e algo inovador foi o do estabelecimento de comunicação entre os que desfilavam e público, criando-se ondas de empatia e comunicabilidade bem expressas na distribuição de pedacinhos de bolo e queijo e de outras vitualhas aos espectadores espalhados ao longo das ruas.

Pena que as freguesias dos outros dois concelhos da ilha não se tivessem associado a tão bela manifestação dos valores culturais, das tradições e costumes do Pico, o que, por certo, teria tornado este cortejo mais rico, mais belo e, quiçá, mais completo e abrangente.

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 15:06





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Novembro 2013

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930