PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A LENDA DO PÃO QUE NÃO LEVEDAVA
Conta-se que havia, outrora, na Ponta, um homem que tinha muita fé no Divino Espírito Santo. Como a sua mulher estava para ter um filho mas sentia-se bastante doente, com o desejo de que o nascimento da criança se desenrolasse da melhor forma e a sua mulher não morresse, o homem prometeu matar o seu boi e dar um jantar em louvor do Divino Espírito Santo a todas as casas de Ponta, se tudo realmente corresse bem e a criança nascesse saudável e a mãe sobrevivesse ao parto.
Passaram-se alguns meses, o parto correu muito bem, a criança nasceu saudável e, poucos dias depois a sua mulher levantou-se e começou a fazer a sua vida normal. Algum tempo depois, quando chegou o dia de matar o animal para a festa, o homem arrependeu-se do que havia prometido porque o boi fazia-lhe muita falta para lavrar os campos e carrear os produtos agrícolas. Assim inventou uma desculpa e veio falar com a mulher que estava a amassar pão. Convenceu-a de que afinal já não iam dar o jantar e, por isso, não foi buscar o boi à relva para o matar.
A mulher não ficou muito satisfeita, mas lá continuou a amassar o pão, pensando que se não dava a carne ao menos havia de dar o pão em louvor do Senhor Espírito Santo. Botou-lhe o fermento, deu-lhe mais umas “mexidelas” e benzeu-o, como sempre costumava fazer. Pôs um abafo por cima do alguidar e, para a massa não arrefecer muito, pôs o alguidar sobre o lar ao pé do calor do forno.
O tempo foi passando mas o pão não havia maneira de levedar. A mulher olhava para ele a ver se via uma “arregoazinha”, tocava-lhe com a ponta do dedo indicador, mas nada: o pão estava empresado.
- Deve ser do fermento que não era bom! Vou buscar fermento a casa da vizinha, que ela tem fermento fresco! - Disse a mulher, enquanto punha o xaile pelos ombros.
Saiu, trouxe o fermento e misturou-o no pão, esperançada que daí a pouco tempo já estaria a modo de ir para o forno. Foi esperando, esperando, mas nada. A massa continuava como a tinha deixado.
Entretanto o boi que se tinha saltado da relva e viera ter a casa, berrava fora da porta. A mulher já estava muito preocupada com o que se estava a passar e tinha o pressentimento de que tudo aquilo era por causa da promessa que o marido não tinha pago. Chamou por ele e disse-lhe que o que era prometido era devido e que não se devia brincar com o Senhor Espírito Santo. O marido, vendo-a assim preocupada, acedeu e disse-lhe:
- O jantar vai dar-se. O boi vai ser morto e oferecido em louvor do Espírito Santo!
Para espanto dos dois, logo que o marido tomou esta decisão, o pão começou a crescer e transbordou pela borda do alguidar, ficando pronto para, de imediato, ir para o forno.
O homem pagou a promessa que tinha feito, o filho nasceu bem e cada vez mais aumentou a fé do povo no Divino Espírito Santo.