PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
A RUA DA VIA D'ÁGUA
A Rua da Via d’Água, também designada simplesmente por Via d’Água como se de um lugar se tratasse, tinha o seu início à boca da Tronqueira e, aparentemente, constituía uma espécie de prolongamento ou continuação da Rua Direita, situando-se entre esta e o Porto. O seu trajecto, logo a seguir à casa de J oão Lourenço, iniciava.se com uma íngreme e bem inclinada ladeira, a única existente nas ruas da freguesia, com excepção dos dois aclives que constituíam a parte mais alta da Fontinha e de um pequeno e raso enladeirado que era o Cimo da Assomada. Esta ladeira, em frente à casa do António Maria, era bastante utilizada pela criançada da freguesia para o lançamento dos toscos triciclos, das desengonçadas e bicicletas e outros desajeitados veículos, construídos de madeira geralmente pelo próprio utilizador, muitos dos quais se desfaziam parcialmente durante as corridas deslizantes ou por defeito e deficiência de fabrico ou por aselhice dos condutores embatendo forte e desalmadamente nos muros dos pátios circundantes, provocando muitos “mamulos” na testa e inúmeros arranhões pelo corpo, chegando mesmo a abrir uma ou outra cabeça. Depois da ladeira a rua seguia até uma enorme curva frente à casa do José Furtado, provocada pela casa do Senhor Arnaldo, que emergia exageradamente de todas as outras e que foi demolida, mais tarde, aquando da construção da estrada entre o Porto da Fajã e a Ribeira Grande. A seguir a esta curva iniciava-se uma nova recta, a maior e a mais plana da Via d’Água. Era nela que, entre outras, se situava, à esquerda de quem descia, a casa do Chileno, o maior, o mais alto e a mais emblemático edifício da Fajã, depois da igreja, uma espécie de ex-libris da freguesia. Nova curva se seguia em frente à casa da Mariana Felizarda, cujo pátio, assim como muitos outros, foi destruído, aquando da construção da estrada, a fim de que a rua se tornasse mais larga e acessível a automóveis e camionetas. Depois a Via d’Água terminava com uma nova recta que se estendia até ao Matadouro onde se situavam apenas duas casas: do lado direito a de Ti Malvina e, do esquerdo, uma outra que pertencera a Ti Narciso, mas à altura, desabitada.
Como as restantes ruas da freguesia, a Via d’Água também possuía alguns becos ou vielas transversais. Do lado direito de quem descia, logo a seguir à casa de José Padre, ficava uma estreita mas longa canada que dava para casa da senhora Xavier e que mais tarde, por doação daquela senhora, pertenceu ao senhor Arnaldo, o faroleiro da freguesia. Lá no fundo, a seguir à casa da Mariana Felizarda uma outra canada, mais larga e curta do que a anterior e que dava para as casas do Cardosinho, do Cristóvão e para alguns palheiros e casas velhas. Do lado esquerdo, apenas uma transversal também pequena, onde se situavam a casa da Genoveva e um ou outro palheiro de gado. Para além de vinte casas de habitação a Via d’Água ainda possuía algumas casas velhas, um ou outro palheiro e dois chafarizes: um muito antigo e com estrutura semelhante ao da Fonte Velha, na Fontinha e um outro bem mais moderno. O primeiro situava-se na curva, em frente à casa do Arnaldo e o segundo, bastante mais abaixo, junto à casa do Serpa da Ponta, junto ao qual também havia um enorme poço para o gado beber,
A rua da Via d’Água, uma das maiores da freguesia, era muito movimentada, pois dava acesso às terras do Porto e do Estaleiro e constituía como que circuito obrigatório e mais curto para quem se quisesse deslocar para junto do mar, ou seja para o Cais e para o Porto Velho, para pescar, para nadar, para embarcar para as Lajes, para a Vila ou para Ponta Delgada ou simplesmente para dar um belo passeio até ao farol.