PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
ARRAIAL NAS ILHAS
Luzes trémulas
semeiam,
sobre a noite vacilante,
uma claridade frouxa,
mas comunicativa.
e serena.
No ar,
um perfume desusado
e, do coreto carcomido,
descem acordes
que agregam olhares
e amortizam emoções.
Gritos cruciantes
avolumam arrematações:
- bolos, massa sovada, suspiros, frutos da terra… e um galo. -
Promessas de primícias!
Lá ao fundo,
encastoada entre os recantos da igreja,
sobre tábua besuntada:
- copos, favas, bifanas… e guloseimas -
a tasca
onde se estuporam dissabores:
- desejos (efémeros) saciados,
- consolações (falsas) conseguidas!
A igreja é um deserto.
Os sinos,
uma montanha de silêncio.
E até os foguetes
que, de tarde,
anunciavam eflúvios e orações,
afrouxaram o seu estralejar!
Grupos de pessoas
trocam alvoroços!
Os velhos
jazem em recordações,
os novos
navegam em assombros.
E há um homem a cambalear,
sozinho,
por entre chacotas sufocados.
Em breve,
chegará a noite,
densa e vigorosa
- a noite de todos os silêncios -
sem luzes,
sem música,
sem arrematações
sem alvoroços
sem emoções,
sem petiscos,
sem guloseimas
sem nada.
Apenas o homem
continuará a cambalear,
sozinho…
simplesmente, sozinho.