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A CANADA DA LADEIRA DO CALHAU MIÚDO

Sábado, 30.11.13

A meio da ladeira do Calhau Miúdo, do lado direito de quem vinha da Ponta e subia na direcção da Tronqueira, existia uma canada que ligava aquela ladeira e o caminho que a integrava a alguns serrados do Porto e a outros da Cambada. Esta canada, que propriamente mais se poderia designar por vereda, apesar de este nome ser pouco usado na linguagem fajãgrandense nos anos cinquenta, no entanto, não era a única nem sequer a principal via de acesso quer às terras do Porto, quer às da Cambada. Um e outro destes lugares. onde se localizavam algumas das maiores e das melhores terras de cultivo da Fajã, tinham outras canadas e ambos possuíam o seu caminho ou acesso principal e acessível a carro de bois ou “corsão”, dado que muito era o que produziam e bastante estrume para lá era necessário acarretar. O caminho de acesso à Cambada iniciava-se frente à antiga casa do João do Porto, na altura barracão de arrumos e armazém da “Firma” das Lajes, precisamente ao lado da Eira, enquanto o principal acesso às terras do Porto se fazia por um outro caminho, um pouco mais a norte e que se situava no local onde actualmente se inicia o ramal da Ponta. Assim, pode concluir-se que a canada da ladeira do Calhau Miúdo era apenas uma via cujo objectivo era facilitar um acesso mais rápido àquelas terras, interdito a animais e destinado apenas a pessoas, nomeadamente, aos habitantes da Tronqueira que viam a distância entre aqueles locais encurtada, uma vez que para irem à Cambada ou ao Porto, não tinham necessariamente que fazer um longínquo, distante e cansativo giro pela Via d’Água.

Esta canada, no entanto, era muito especial porque na realidade, contrariando a maioria das canadas da Fajã, o seu piso não era ladeado por duas paredes, mas apenas por uma. Na realidade, ela havia sido construída como se de uma espécie de bancada, sendo como que encastoada nas paredes a sul, das terras por onde passava. No entanto, como as paredes a norte dos terrenos do outro lado, ou seja de algumas terras da Tronqueira e da Cambada, eram muito altas, a respectiva vereda parecia ter sido pregada ou colada nessas próprias paredes, como se fosse uma prancha. No entanto, a sua altura e o excessivo tamanho das pedras que formavam a borda exterior do seu piso e que seguravam os pedregulhos soltos no interior do mesmo, transformavam-na numa interessante e curiosa obra de engenharia arquitectónica. Daí poder-se-ia concluir da sua importância, em tempos idos, como via de acesso, talvez única, aos férteis campos do Porto e da Cambada.

A entrada da ladeira para a canada era feita através de uns degraus de pedra muito bem lapidados e encastoados. Depois seguia rectilínea sobre o primeiro serrado ainda pertencente ao lugar do Calhau Miúdo. A seguir atravessava uma outra terra já situada no Porto e finalmente ombreava com um outro serrado do Tomé, bifurcando-se aí, junto a um “maroiço” que pertencia ao meu pai e que encimava o serrado que ele possuía no Porto. Na direcção norte seguia, curta e desabrida, com destino a outras terras do Porto e para o sul, embora mais estreita e sinuosa, a dar acesso a alguns serrados da Cambada.

A canada da ladeira do Calhau Miúdo, como tantas outras e muitos caminhos antigos da Fajã, hoje atrofiados, desfeitos e bloqueados por pedregulhos, arvoredos e silvados, permanece como um mito emblemático de um saudosismo, aparentemente supérfluo, mas coerente e perene para os que por ali passaram tantas e tantas vezes, durante muitos anos, carregando cestos de milho ou de batatas, molhos de couves ou de milheiros ou simplesmente transportando uma cestinha de figos e uva apanhados num insignificante “maroiço” do Porto.

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publicado por picodavigia2 às 17:19





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