PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DE DUAS UMA
Chovem as contínuas e múltiplas informações de que milhões de blogs e páginas da web, que utilizam a Iol como plataforma, estão totalmente bloqueados e, consequentemente, uns e outras impedidos de serem acessíveis não apenas aos seus visitantes mas também aos próprios proprietários. Esta situação de bloqueio brutal e absurdo iniciou-se em meados do mês de maio e mantém-se inalterável. Sabe-se que o problema tem a sua origem na própria plataforma da iol, uma vez que, o acesso à mesma, também está vedado ao comum cibernauta. Não se consegue ter acesso ao “blogs.io..pt”. A resposta é sempre a mesma: “404 Not Found”. Cuida-se que terá sido um ataque de piratas informáticos.
Sendo assim, de duas uma: ou os piratas informáticos, tecnicamente, possuem uma tremenda e gigantesca capacidade, sendo muito mais competentes do que os técnicos da própria Iol ou a pirataria, afinal, está dentro da própria Iol, sob a forma de corrupção e sabotagem.
Mal estariam os nossos avoengos se não tivessem conseguido libertar-se e vencer os piratas que, segundo rezam inúmeras “estórias”, em tempos idos, atacavam as ilhas açorianas…
Autoria e outros dados (tags, etc)
ALHEIRA
A alheira é um tipo de enchido tradicional, fumado, cujos principais ingredientes são a carne e a gordura de porco, o pão de trigo, o azeite e a banha, condimentados com sal, colorau doce e alho, sendo este que lhe dá o nome. Também podem ser usados na confecção da alheira outros ingredientes, como a carne de animais de caça, a carne de peru, o salpicão, o presunto, legumes ou, até, bacalhau.
A alheira, assim como a tradicional morcela açoriana, tem um formato de ferradura, cilíndrico, sendo o seu interior constituído por uma pasta fina elaborada com os ingredientes acima referidos, sendo o invólucro uma tripa natural, de vaca ou de porco, devidamente lavada, preparada e seca.
A alheira tem a sua força de origem em Mirandela, onde se produz em grande quantidade e com excelente qualidade, embora já tenha circulado como fabricada por muitos outros sítios, incluindo Cristelo e a própria França. Depois de assada no forno, a alheira tem um aspecto rechonchudo, brilhante, fofo, muito apetecível e agradável. Acompanhada com batatinha cozida e grelos é simplesmente deliciosa e imperdível mas, lamentavelmente, assim como todos os outros enchidos, interdita a doentes com insuficiência renal.
Consta que a alheira foi inventada pelos judeus como artimanha para escaparem às malhas da Inquisição. Como a sua religião os impedia de comer carne de porco, eram facilmente identificáveis pelos seus perseguidores pelo facto de não fazerem nem fumarem os habituais enchidos de porco. Assim, substituíam a carne de porco por uma imensa variedade de carnes envolvidas por uma massa de pão, escondendo-a dentro da tripa. A receita acabaria por se tornar famosa, popularizando-se, mais tarde, entre os cristãos.
Outrora caseira, actualmente a produção da alheira, em Mirandela, é um negócio industrial. Quem quiser provar uma alheira mais próxima do seu estado "original" e da sua essência, terá de o fazer em alguma das aldeias da raia norte ou raia mirandesa. Porém, as alheiras extrapolam actualmente o território transmontano e abundam em muitas outras regiões do país.
Mas verdadeiramente saborosa, apetecível e muito agradável ao paladar e até à vista é a verdadeira alheira de Mirandela, caseira e produzida com produtos domésticos. Hoje, porém, e com a crescente produção industrial, a verdadeira e atraente alheira é quase um mito, perdido no tempo.
Autoria e outros dados (tags, etc)
LARANJA
A laranja é um fruto híbrido, por quanto terá sido criada, na antiguidade, a partir do cruzamento da cimboa ou pomelo com a tangerina. O seu sabor, varia do doce ao levemente ácido, embora existam laranjas azedas, neste caso não comíveis. Frequentemente, esta fruta é descascada e comida ao natural, ou então espremida para se obter sumo. Antigamente, nos meus tempos de criança, fazia-se um orifício no pé da laranja, retirando-lhe a parte branca e, espremendo-a, chupava-se e bebia-se como se fosse um copo de sumo. A casca exterior pode ser usada também em diversos pratos culinários, como ornamento, ou mesmo, sobretudo se ralada ou raspada, para dar algum sabor a um ou outro prato que dele necessite.
A laranja doce foi trazida da China para a Europa, no século XVI, pelos portugueses. É por isso que as laranjas doces são denominadas "portuguesas" em vários países, especialmente nos Balcãs.
A origem dos citrinos confunde-se, no tempo, com a história da humanidade. Sabe-se apenas que a maior parte dos frutos cítricos é originária de regiões entre a Índia e o sudeste do Himalaia, onde se encontram, ainda em estado silvestre, diversas variedades de limeiras, cidreiras, limoeiros, toranjeiras, laranjeiras amargas ou azedas, laranjeiras doces e de outros frutos ácidos. Assim a história da laranja inicia-se na Índia, de onde se espalhou por toda a Ásia, chegando, mais tarde, até à Europa.
Um dos primeiros locais da Europa onde se iniciou o cultivo da laranja foi a França. Na Ásia e Médio Oriente, onde era conhecida, a laranjeira, pela sua beleza, graciosidade e perfume, assumia-se como árvore ornamental e dotada de características extraordinárias e, por isso, era muito comum nos pátios das casas árabes, geralmente associada a uma fonte ou a um lago.
A laranja é muito conhecida, desejada e apreciada por ser fonte de vitamina C. Duas laranjas por dia forneceriam a quantidade de vitamina C de que o organismo precisa.
Embora desejada e muito apetecida a laranja mantém-se, hoje como ontem, interdita aos doentes com insuficiência renal, que dela se devem abster. Apenas sob a forma de um belo e excelente doce ou compota.
Autoria e outros dados (tags, etc)
MELÃO
O melão é uma planta dicotiledónea e gamopétala, muito semelhante à abóbora, à chila e à melancia. O seu fruto, também chamado melão, é um fruto bem português. Para além de apetecível, doce, saboroso e consequentemente muito desejado é cultivado, com grande estima e pertinência, em grande quantidade, pela região do Vale do Sousa e Matosinhos. Trata-se de planta vitalizadora e forte, rastejante e trepadeira, mas desafecta a envolvimentos parasitas. Cultiva-se em sistema de monocultura e é um fruto muito apetitoso. As suas ramificações prolongam-se pelo terreno onde é cultivado e deixam marcas inalienáveis e inesquecíveis.
O melão possui propriedades que o tornam, além de saboroso, um excelente auxiliar do funcionamento do corpo humano, pois é uma fonte abundante de fibras e possui grandes quantidades de vitamina A, C e do complexo B. Além disso, é rico em cálcio, fósforo, ferro, potássio, cobre e enxofre e não tem consequências negativas, já que por cada cem gramas de melão ingerimos aproximadamente trinta calorias. O seu alto valor em potássio torna o melão indicado para doentes cardíacos e para pessoas com afecções do fígado. É igualmente recomendado na prevenção e no tratamento da gota, reumatismo e prisão de ventre. Mas, atenção, se ingerido em excesso pode causar cólicas e diarreia.
Uma fatia de melão, uma vez por semana, seria o suficiente para justificar uma reconfortante e desejada sobriedade.
Aos doentes que sofrem de insuficiência renal o melão está proibido. Resta apenas, em cada momento do dia, com maior incidência ao romper da bela aurora, apreciar, agora de longe e como em eco, o doce sabor do seu suco, o enigmático tom das suas cores e o estranho, mas atraente perfume da sua essência.
Autoria e outros dados (tags, etc)
FEIJÃO
Feijão é um nome comum da semente de uma planta, com fortes tradições no cultivo nacional – o feijoeiro. Tomado como alimento, sobretudo quando guisado com carne de porco e linguiça e assado no forno, proporciona ao organismo um excesso exagerado de calorias e proteínas, mas também ferro, cálcio, vitaminas, carbono hidratos e fibras, muitas fibras, pelo que embora desejado e apetecido, deve ser global e radicalmente evitado. A abstenção do feijão é uma exigência imperiosa e fatídica, pese embora o feijão assado seja a base de um dos principais pratos da culinária típica açoriana.
Em Portugal, o feijão-comum é a base de várias sopas e da célebre feijoada, misturado com arroz ou como elemento de acompanhamento obrigatório das tripas à moda do Porto e, ainda, em alguma doçaria, como por exemplo, o pastel de feijão. Os pericárpios do feijão, sobretudo quando verdes, repletos de grãos suculentos, são fofos e aveludas e poderiam muito bem ser comidas sem mais nada ou acompanhar um qualquer outro prato de carne, preferencialmente regados com sumo epílogo. No entanto, este precioso alimento, este verdadeiro e saboroso pitéu está, por motivos de doença, mais concretamente de insuficiência renal, totalmente interdito.
A espécie mais comum de feijão é o “Vigna Unhipanhata Javist”, vulgarmente chamado de feijão de “Álcad – i2”, existente, em grandes quantidades, nas zonas de noroeste e nos locais mais altos e distantes do mar.
Apesar da enorme importância da cultura do feijão, o rendimento médio nacional é baixo e está decrescendo. Recentemente, foi lançada um programa nescimento do feijoeiro, mas nem mesmo assim a plantação do feijão, conseguiu actualmente os êxitos produtivos de outrora.
O consumo do feijão, em quantidades de média a alta, está associado à diminuição do desenvolvimento de doenças como o diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e até mesmo neoplasias. Acredita-se que esse efeito benéfico do consumo do feijão é devido à presença de metabólitos secundários nessa leguminosa, os fitoquímicos, sendo os que presentes em maiores concentrações os compostos fenólicos e os flavonóides. Lamentavelmente e no que à insuficiência renal diz respeito, o feijão é prejudicial.
Autoria e outros dados (tags, etc)
MAIO
“Em Maio até a unha do gado faz estrume.”
Na Fajã Grande e em toda a ilha das Flores, nos anos cinquenta, o mês de Maio era aquele em que se lançava à terra a maioria das sementes. Para além de ser um mês em que imperava o bom tempo, a calmaria e a mansidão, Maio impunha-se como a época do ano ideal para todo o tipo de sementeiras e plantações, as quais haviam de desabrochar e florir nos meses seguintes, a fim de que no Outono se colhessem os seus frutos e proventos.
Essa a razão por que se utilizava este interessantíssimo e douto adágio. Recorde-se que nas Flores, como em todas as ilhas açorianos, naqueles tempos recuados, os terrenos eram lavrados com os bovinos, mas antes eram estrumados com o esterco dos palheiros, com o sargaço ou com o “trilhar” do gado amarrado à estaca, alimentando-se das várias forrageiras: trevo, erva-da-casta, alcacel e favas. O ideal, para que os campos produzissem, abundantemente, era que, antes de lavrados e semeados, fossem adubados duma ou de outra destas formas. Mas em Maio, era tão imperioso semear os campos ou plantar as terras, mesmo que não houvesse estrume. Com este adágio o povo, na sua douta sabedoria popular e agrícola, pretendia dizer que mesmo que não houvesse estrume, dever-se-iam semear os campos, dado ser Maio um mês de grande fertilidade. Tão grande que apenas a “unha do gado”, isto é, o seu simples caminhar sobre a terra, enquanto a lavrava, servia de estrume,
Autoria e outros dados (tags, etc)
A LENDA DA ERMIDA DE SANTA CATARINA DAS LAJES DO PICO
Antes de ser freguesia, grande parte do território pertencente, actualmente, a São Caetano do Pico pertencia à freguesia de São Mateus e nele se situava o lugar da Prainha do Galeão, assim como o do Caminho. Por sua vez, o lugar da Terra do Pão, nesses tempos recuados, pertencia à freguesia de São João.
Nesses tempos, o lugar da Prainha, alojada no regaço de uma enorme baía, onde assentava um pequeno e rústico porto, era um lugar pobre, onde viviam algumas dezenas de famílias, alimentando-se do que a terra lhes dava, do leite e da carne das ovelhas e cabras que criavam e, sobretudo, do peixe que apanhavam e que era abundante naquelas redondezas. Os primeiros colonos que ali se fixaram, fundaram, junto ao mar, uma pequena povoação, hoje, denominada por Prainha do Galeão, por ter sido ali que um dos seus habitantes fez construir um galeão, como forma de pagamento de dívidas ao rei. Junto ao mar edificaram, também, uma pequena ermida, escolhendo São Caetano, como seu padroeiro.
Conta-se que em tempos muito recuados, certo dia, um grupo de homens daquela localidade decidiu ir pescar, ao largo da baía. Servindo-se de um pequeno e tosco batel lançaram a rede por fora da ponta dos Coxos. Passado algum tempo puxaram-na e, como a sentissem muito pesada, alegraram-se, por quanto cuidaram que tinham apanhado grande quantidade de peixe. Qual não foi o seu espanto, quando ao despejar, por completo, a rede dentro do batel, se aperceberam de que, afinal, em vez de peixe, haviam encontrado uma linda imagem que lhes pareceu ser uma Santa, cujo nome nenhum foi capaz de identificar e que, muito provavelmente, havia sido trazida, milagrosamente, pelo mar.
Quando chegaram a terra com o precioso achado, os familiares e outras pessoas que os aguardavam no porto, manifestaram-se em grande alarido, mas ninguém foi capaz de identificar o nome da santa. Foi então que um dos pescadores sugeriu que a trouxessem para as Lajes, para a igreja mais imponente da ilha, a igreja do Convento dos Franciscanos. Decerto que algum dos frades daquele convento havia de identifica-la.
Foi fácil para os frades franciscanos residentes no convento identificar a imagem como sendo de Santa Catarina. Além disso, empolgados com a sua beleza e porque naqueles tempos rareavam nas igrejas imagens de santos, os frades logo decidiram que a imagem havia de ser colocada num dos altares da igreja que pertencia ao seu convento e que acabara de ser construída, havia pouco tempo.
Mas no dia seguinte, quando os frades se aproximaram do altar para, mais atentamente, contemplarem a santa e prestar-lhe veneração, já não a viram ali. Cuidando que os pescadores da Prainha do Galeão, durante a noite, a tivessem vindo buscar, mandaram emissários àquele pequeno povoado. Ficaram, então, a saber que a imagem de Santa Catarina, sem que ninguém lhe tivesse tocado, tinha ido outra vez parar à Ponta dos Coxos, em frente à Prainha do Galeão. Os pescadores voltaram a levar Santa Catarina de volta para as Lajes, para junto dos frades, que de novo a colocaram sobre o altar da sua igreja.
Mas, no dia seguinte, sem que ninguém lhe tocasse, a Santa voltou, novamente, para a Prainha, repetindo-se este vaivém durante vários dias. As pessoas impressionadas com o facto, cuidaram que fosse um milagre e começaram a dizer que Santa Catarina queria ficar perto de S. Caetano, padroeiro da pequenina ermida, construída na Prainha do Galeão. Mas os frades e o povo das Lajes não querendo separar-se da imagem de Santa Catarina, decidiram construir uma pequena ermida, num sítio bem alto, donde se avistasse a Prainha do Galeão e onde a santa pudesse, ao menos, ver aquela pequenina localidade da ilha do Pico onde tinha sido encontrada.
Assim se fez. Num terreno mais alto, sobranceiro ao centro da vila das Lajes, mesmo por cima da lindíssima costa com o nome de Lajedo, os frades e o povo ergueram uma pequena ermida que dedicaram a Santa Catarina. Do adro desta ermida, pode-se desfrutar uma bela paisagem: as Lajes, a montanha do Pico, alguns promontórios e várias freguesias da parte sul da ilha, inclusive a freguesia de S. Caetano ou Prainha do Sul, onde Santa Catarina desejava estar.
Mas o altar ficava no interior, sem qualquer vista para a rua e, reza ainda a lenda, que a santa não estava satisfeita e, por isso, continuou a fugir para a Prainha do Galeão.
Os frades e o povo das Lajes não sabiam mais o que fazer para que Santa Catarina aceitasse a morada que lhe tinham construído. Foi então que um dos frades, o mais velho e experiente, lembrou que se abrissem uma janelinha voltada para os lados da Prainha Galeão, através da qual Santa Catarina visse a sua localidade predilecta, talvez se aquietasse e ali permanecesse descansada.
Puseram logo a ideia em prática e abriram uma pequena janela. Consta que assim Santa Catarina ficou, finalmente, satisfeita, permanecendo no seu altar, olhando através da pequena janela, com saudade, para a Prainha do Galeão, onde viviam os pescadores que a haviam encontrado e em cuja pequenina e tosca capela estava o seu amigo S. Caetano.
Fonte de Inspiração – Texto de Ângela Furtado-Brum, com o mesmo título.