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O PINHEIRO VAIDOSO

Terça-feira, 04.06.13

(UM CONTO DE GUERRA JUNQUEIRO

 

Era uma vez um pinheiro que não estava satisfeito com a sua sorte.”Oh! dizia ele, como são horrendas estas linhas uniformes de agulhas verdes, que se estendem ao longo dos meus braços! Sou um  pouco mais orgulhoso do que os meus vizinhos, e sinto que fui feito para andar vestido de outro modo. Ah! Se as minhas folhas fossem de oiro.”

O Génio da montanha ouviu-o, e no dia seguinte pela manhã acordou o pinheiro com folhas de oiro. Ficou radiante de alegria, e admirou-se, pavoneou-se todo, olhando com altivez para os outros pinheiros, que, mais sensatos do que ele, não invejavam tão rápida fortuna. À noite passou por ali um judeu, arrancou-lhe todas as folhas, meteu-as num saco e foi-se embora, deixando-o inteiramente nu dos pés à cabeça.

“Oh! disse ele, que doido eu fui! Não me tinha lembrado da cobiça dos homens. Despiram-me todo. Não há agora em toda a floresta uma planta tão pobre como eu. Fiz mal em pedir folhas de oiro: o oiro atrai as ambições.”

Ah! Se eu conseguisse um vestuário de cristal! Era deslumbrante e o judeu avarento não me teria despido.”

No dia seguinte acordou o pinheiro com folhas de cristal, que reluziam ao sol como pequeninos espelhos. O pinheiro ficou outra vez todo contente e orgulhoso, fitando desdenhosamente os seus vizinhos. Mas de repente o céu cobriu-se de nuvens e o vento rugindo fortemente  quebrou todas as folhas de cristal.

“Enganei-me outra vez, disse o jovem pinheiro, vendo por terra, feito em bocados, o seu manto cristalino. O ouro e o cristal não servem para vestir bosques. Se eu tivesse a folhagem acetinada e tenrinha das aveleiras, seria menos brilhante mas viveria descansado.”

Cumpriu-se a sua última vontade e, apesar de ter renunciado às vaidades primitivas, julgava-se ainda mais bem vestido do que todos os outros pinheiros seus irmãos. Mas passou por ali um rebanho de cabras, e vendo as folhas tenrinhas e frescas, comeram-lhas todas sem lhe deixar uma única.

O pobre pinheiro envergonhado e arrependido, já queria voltar à sua forma natural. Consegui ainda este favor do Génio da montanha e nunca mais se queixou da sua sorte.

 

Guerra Junqueiro, Contos Para a Infância

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publicado por picodavigia2 às 15:25

FICOU CAPADO

Terça-feira, 04.06.13

(POEMA DE NATÁLIA CORREIA)

 

Já que o coito - diz o Morgado

Tem como fim cristalino

Preciso e imaculado

Fazer menina e menino,

E cada vez que o varão

Sexual petisco manduca

Temos na procriação

Prova que houve truca-truca.

 

Sendo pai de um só rebento

Lógica é a conclusão

De que o viril instrumento

Só usou - parca ração! –

Uma vez. E se a função

Faz o órgão - diz o ditado –

Consumada essa operação

Ficou capado o Morgado.

 

(Poema de Natália Correia distribuído no hemiciclo de São Bento, dedicado ao seu colega parlamentar João Morgado, que, em 1982, numa intervenção sobre a questão do aborto, afirmara que o acto sexual só é justificável tendo por objectivo a procriação.)

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publicado por picodavigia2 às 14:06

CARNE DE PORCO GORDA

Terça-feira, 04.06.13

A carne de porco, actualmente, é considerada mais saudável do que outrora o era, ao que parece, devido às melhorias verificadas no processo de criação dos suínos. Na realidade, estas alterações, verificadas a partir dos finais do século passado, tiveram como consequência a perda de uma boa parte da gordura que a carne de porco, realmente continha. Além disso, cuida-se também que a carne suína possui, actualmente, mais gorduras "desejáveis", as chamadas de insaturadas, do que gorduras "indesejáveis", conhecidas como saturadas. Por outro lado a carne de porco é rica em ácido linoleico, que neutraliza, de forma eficaz, os efeitos negativos do ácido palmítico, que é uma gordura saturada. Outra vantagem ainda é de que, nesta carne, a gordura está concentrada ao seu redor, podendo assim ser retirada e evitada, antes de ser ingerida.

Por todas estas razões, mas, apenas, quando e só quando lhe é retirada a gordura, esta carne, tão saborosa e apetecível, é permitida aos doentes que sofrem de insuficiência renal. Assim estão interditos, a estes doentes, os rojões, a carne de porco à alentejana, o entrecosto mesmo se grelhado e sobretudo o presunto, de modo muito especial o de Amarante. Apenas uma febra grelhada, depois de lhe retirar a gordura, é aceitável e comestível.

- Adeus Amarante! Adeus, tasquinha do Dom Rodrigo!

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publicado por picodavigia2 às 14:01

MASSA SOVADA

Terça-feira, 04.06.13

A Massa Sovada é uma espécie de bolo ou pão doce, típico dos Açores, em que os ingredientes principais são farinha, açúcar, manteiga e ovos, com os quais se forma a massa a que se junta o fermento, devidamente preparado, raspa de limão, noz-moscada e, nalgumas ilhas, um pouco de aguardente. O nome advém-lhe do facto de que, para ficar mais fofa, dever ser amassada com alguma violência, devendo mesmo chegar ao extremo de ser sovada, isto é, amassada a soco.

O seu fabrico caseiro está intimamente ligado às festas do Espírito Santo, sendo mesmo, nalgumas ilhas açorianas, oferecida a todos os que participam naquelas festividades, inteira ou às fatias, nalguns casos até acompanhada com copos de vinho ou de leite, tradições que em muitos casos remontam aos primórdios do povoamento das ilhas e são, segundo se crê, resultado de promessas feitas ao “Senhor Espírito Santo”, para apaziguamento de abalos de terra, crises sísmicas, temporais, ciclones e outras intempéries.

A Massa Sovada tem uma consistência extremamente fofa e aveludada, ao que juntando-lhe o seu sabor adocicado e o seu perfume a sabores naturais, a torna muito desejada, apetecida, apreciada, pretendia e, naturalmente, comida. No entanto, o excesso de ovos, sobretudo de gemas e a grande quantidade de farinha e açúcar tornam-na interdita aos doentes que sofrem de insuficiência renal, que, assim, apenas se podem limitar vê-la, apreciá-la, talvez até cheirá-la mas nunca comê-la, nem que seja uma simples e pequena fatia. 

A massa sovada da ilha Terceira foi considerada, em tempos remotos e durante algum tempo, foi considerada a melhor que se fabricava, não apenas nos Açores.

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publicado por picodavigia2 às 10:01

BOLO DOCE

Terça-feira, 04.06.13

Em qualquer alimentação equilibrada, os doces devem ter um lugar muito reservado e diminuto, uma vez que fornecem demasiadas calorias, face a outros nutrientes essenciais para a saúde. Contudo, os doces, tão agradáveis e apetitosos, tão saborosos e apetecíveis, são uma fonte importante de conforto emocional e de prazer.

A razão do nosso interesse pelo que é doce está, muito provavelmente, mais relacionada com o prazer que nos causa a sua degustação e, assim, o interesse por estes alimentos pode transformar-se num desejo muito intenso e contínuo, mas a que urge por cobro. Na realidade a, por vezes indomável, vontade de comer uma fatia de bolo doce nasce da necessidade que temos de fruir um momento de prazer e não propriamente por termos fome ou falta das calorias que neles abundam.

 Nas pessoas saudáveis, no entanto, o consumo de bolo doce só constitui um problema quando se torna um hábito ou se leva ao exagero. Mas com os doentes, mais concretamente com os que são vítimas de insuficiência renal, o bolo doce de qualquer tipo, assim como todos os bolos de pastelaria estão interditos.

É verdade que é muito difícil resistir a uma bela fatia de bolo de coco, branquinha, perfumada, apetitosa e atraente, sobretudo quando se trata do bolo de coco húmido, regado com leite e mais ainda se comprado, em tempos idos, na tradicional cake.. Mas é preciso resistir, pois o único bolo autorizado, aos doentes portadores de insuficiência renal, é o pastel mil folhas

 

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publicado por picodavigia2 às 09:50

AZÓRICAS

Terça-feira, 04.06.13

(TEXTO DE MARIA ANTÓNIA FRAGA)

 

Quando os navegadores avistaram ao longe as ilhas atlânticas, terão sentido a vontade compreensível de as visitar, não só pela curiosidade natural do descobridor como também para obter água e mantimentos frescos, e já agora para delas se apossar, em nome de El-Rei e para glória de todos. Abrigados os pequenos barcos nas poucas angras viáveis, ei-los que desembarcam num território que até então só pertencia às aves e à vegetação – e pouco mais.

Nas zonas mais baixas, encontraram as plantas de costa, tão densas em alguns locais que até o nome deram à ilha em questão; é o caso das Flores, que terá sido deste modo chamada por se encontrar literalmente coberta de cubres amarelos, na orla costeira, e decerto não de hortênsias azuis, como sucede hoje, mas que parecem ter achado nessa ilha, como um pouco por todo o arquipélago dos Açores, o seu verdadeiro lugar ao sol. Sol suavizado, é certo, pela humidade constante, chuvas abundantes e vento fresco, pois poderia ter sido Flores muito bem chamada a ilha das brumas eternas, ou aquela que dá de beber ao mar, segundo um poeta...

Nas zonas mais altas, geralmente acima dos 500 metros nos grupos central e oriental - no ocidental, a menos do que isso - observaram, aflitos (como é que se vai arrotear isto?) a floresta a que hoje nos referimos quase postumanente como laurissilva, ou floresta de louro e cedro, pois dela agora pouco resta, a não ser nos locais menos acessíveis das ilhas (*) como por exemplo a daqui bem próxima serra da Tronqueira. Árvores centenárias, algumas de preciosa madeira, arbustos e vegetação rasteira, (quase) tudo acabou por ser minuciosamente derrubado, desbravado e desmontado, numa actividade a princípio lenta e penosa, tornando-se mais rápida e descuidada com o melhoramento dos utensílios e o advento da perniciosa mania de que o que vem de fora é que é bom, e que levaria à introdução de muitas espécies alienígenas e agressivas para a flora local. Desta, onde estão agora os cedros do mato - em alguns locais conhecidos por zimbreiros ou zimbros – os loureiros, vinháticos, paus-brancos (ou paus-branqueiros), sanguinhos, azevinhos, tamujos e folhados, e quem os conhece hoje? A queiró (ou urze, nalgumas ilhas) lá se foi aguentando e é das poucas relíquias da laurissilva que pertence ao nosso quotidiano; a faia da terra também, até certo ponto, e devido talvez à sua utilização como abrigo para plantas fruteiras.

Muitas destas espécies são endémicas, ou seja nossas e só nossas; a algumas foi-lhes dado até o nome que entre todas as plantas deste mundo as distinguirá: “Laurus Azorica”, o loureiro açoriano; “Erica Azorica”, a nossa urze ou queiró; “Picconia Azorica”, o pau-branqueiro de nobre madeira; “Frangula Azorica”, o sanguinho de flor vermelha, etc.

O olhar do passante recai na mesma, nos dias de hoje, sobre o verde profundo das árvores, mas praticamente só distinguirá as exóticas “Cryptomeria Japonica” de crescimento rápido, sob as quais pouco ou nada consegue sobreviver, alguns “Eucalyptus Globulus” e abundantes incensos, “Pittosporum Undulatum”, também ao que parece introduzidos inicialmente para abrigo de pomares. Verá também outras colonizadoras eficientes, como as canas, “Arundo Donax”, a ornamental e competitiva “Hydrangea Macrophylla”, mais conhecida decerto por hortênsia ou novelão, e as atraentes conteiras (em algumas ilhas, roca-da-velha ou cana-roca), “Hedychium Gardneranum”, que lá por serem bonitas não deixam de ser também uma boa peste de erva, e a pior das ameaças para a pobre e açoriana laurissilva.

Fui buscar boa parte destes nomes, científicos e sonoros, já se vê, a um pequeno e muito útil livrinho, pois a única coisa aqui que é da minha especialidade é a verificação diária da (quase) geral indiferença pública e privada pelo desaparecimento das “azoricas”, quer sejam vegetais quer não. Entretanto, dois aspectos me chamaram a atenção logo à partida no dito livro. Em primeiro lugar, o facto do seu autor ser um estrangeiro - o sueco Eric Sjogren; e em segundo, uma das frases com que inicia o seu precioso trabalho: este livro foi "elaborado para turistas" que se encontrem no arquipélago dos Açores ou planeiem visitá-lo… as aspas são minhas.

Para turistas. E ainda há quem negue que quem está de fora vê melhor, e rapidamente se apercebe daquilo que a casa gasta. Depressa terá constatado Eric Sjogren de que os açorianos não se ralam excessivamente com as azoricas.

 

(*) nas Flores, junto das casas, praticamente ao nível do mar. Há mesmo, nessa ilha, quem tenha o seu zimbreiro no pátio… estas linhas foram escritas na ilha de S. Miguel, onde infelizmente os restos da laurissilva só se conseguem encontrar em altitudes elevadas.

 

 (Do blog Janela de Guilhotina http://janeladeguilhotina.blogspot e publicado no Correio do Norte)

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publicado por picodavigia2 às 00:47

BANANA

Terça-feira, 04.06.13

A banana é o nome comum para um fruto comestível produzido por uma gigantesca herbácea – a bananeira. O fruto, de aspecto variável em tamanho, cor e firmeza, é, geralmente, alongado e curvo, com a parte interior macia, rica em amido e coberta com uma casca amarela, quando madura e que se desenvolve em cachos pendurados a partir do topo da planta.

A bananeira é a maior herbácea que produz flor e fruto. É precisamente o seu tamanho e o seu aspecto gigantescos que fazem com que, muitas vezes, seja confundida com uma árvore. Quando uma bananeira atinge a maturidade, deixa de produzir folhas e o caule não cresce mais, começando a formar-se, na parte superior do mesmo, uma espécie de flor ou inflorescência, popularmente chamada o "coração da banana". É daqui que, algum tempo depois, se originará o fruto ou o “cacho”. Cada bananeira dá, em vida, apenas um cacho, havendo algumas, consideradas os “machos” que, no entanto, não dão “cacho”. Cada pé de bananeira reproduz-se através dos rebentos que nascem junto da sua raiz, mas estes devem ser retirados, excepto um, o de aspecto melhor, mais forte e mais saudável, o qual, obviamente, dará origem a uma nova bananeira.

A banana possui um teor de potássio bastante elevado, assim como grande quantidade de calorias, bem como carbono-hidratos, proteínas e até gordura, o que a torna, apesar do seu aspecto apetitoso, atraente e muito gostoso, proibida aos doentes de insuficiência real.

Apesar disso, as bananas estão entre os alimentos mais consumidas no mundo. Pois, para as pessoas saudáveis, comer, pelo menos uma banana diariamente, faz muito bem para saúde, sobretudo se for de aspecto carnudo e muito branco. É que, para quem tem saúde, a banana tem uma função muito boa pois, para além de ser rica em potássio, é um bom auxiliar no tratamento da pressão arterial, no controle da diarreia e ainda serve para melhorar o humor e, até, anular as insónias. Segundo estudos recentes, a banana também ajuda no desenvolvimento da musculatura, engrossamento e é muito boa para o coração e para diminuir o colesterol no sangue.

Quão apetitosa é uma banana! Que doce o seu paladar, atraente o seu perfume e até, deslumbrante, o seu aspecto. E o travo amargo da insuficiência renal a transformá-la num mito desfeito, num arquétipo aniquilado, sobre as varandas, em forma a, mas nem sempre abertas

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publicado por picodavigia2 às 00:43





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