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COMO SE ENGANAVAM GALINHAS E APANHAVAM POMBAS

Quarta-feira, 12.06.13

Na Fajã Grande, antigamente, todas as casas tinham galinhas. Geralmente eram criadas num curral, junto à porta da cozinha e alimentadas com milho e com o farelo que sobrava do peneirar da farinha. Com ele, juntando-lhe água, fazia-se uma massa a que se adicionavam couves cortadas, cascas de batatas picadas ou outras sobras de comida, a fim de que o cardápio das ditas cujas ficasse mais suculento. Era também no curral que ficava o poleiro, ou seja, um casoto de madeira encravado na aba duma parede, ou uma espécie de furna debaixo de um pátio, com o respectivo linheiro, o que permitia recolher os ovos com muita facilidade. No entanto, quem tinha hortas, por entre as terras de mato, tapava-lhes bem as paredes, amarrava e cosia as asas às galinhas e soltava-as na horta, com a dupla vantagem de lhes retirar as ervas daninhas e de lhes ir lançando algum estrume.

Quando meu pai arrendou uma horta, na Cancelinha, foi decidido que para lá haviam de ir as nossas galinhas. Coube-me a mim, por ser o mais novo e ainda pouco afoito a trabalhos mais pesados, a tarefa de lá ir todos os dias, a fim de lhe reforçar o menu e recolher os ovos.

As atrevidas, porém, apanhando-se à solta decidiram que os haviam de pôr, aqui e além, onde bem entendessem, muito escondidinhos e mudando de sítio em cada dia, o que me obrigava a uma tarefa árdua, incómoda, demorada e por vezes improfícua para lhes descobrir os esconderijos. Era costume, para evitar tal estouvado procedimento, deixar-lhes um ovo no linheiro inicial e assim, as parvas, cuidando cada uma que ele era seu, iam, à vez, lá desovar os restantes. Não me podendo dar ao luxo de utilizar semelhante estratégia, pois todos os ovos eram poucos para alimentar tantas bocas famintas lá em casa, decidi arquitectar uma nova artimanha que substituísse aquele estratagema.

Assim, resolvi ir a uma lixeira que havia nas Furnas, por cima das Mexideiras e junto ao Caneiro, para onde se atirava tudo o que eram velharias inúteis: camas, portas, caldeirões, roupas, ferros velhos, etc. Revirei, procurei, rebusquei e lá encontrei a metade da mão de uma porta, em loiça, muito branca e redondinha, em forma de meia-lua. Não podia ter sido mais eficiente a minha pesquisa! Lavei-a, limpei-a, meti-a no bolso e, no dia seguinte, levei-a para a Cancelinha, na esperança de que seria a última vez que procuraria ovos pelos mais esconsos recantos da horta. Dos vários linheiros que descobri, seleccionei o melhor, recolhi os ovos, ajeitei-o muito bem e coloquei-lhe a metade da mão da porta de tal maneira direitinha e com a parte bojuda virada para cima, de forma a simular, perfeitamente, um ovo.

E não é que a partir desse dia nunca mais tive que procurar ovos por outros sítios ou em novos linheiros.

Que parvas eram aquelas galinhas!...

Também, nas Flores, muitas casas, sobretudo as que tinham crianças, criavam pombas. Quem não as tinha caçava os pombos-bravos, de bela plumagem, totalmente cinzenta azulada, com o dorso e asas da mesma cor, sendo o pescoço, no entanto, de um tom quase esverdeado. Apesar de serem, habitualmente, frequentadores das buracas e concavidades dos outeiros e das rochas, quase ao lado das cagarras e dos coelhos, onde pernoitavam e nidificavam, pombos e pombas bravos desciam, de vez em quando, ao povoado, ou na procura de pitéu que por aqui ou por ali fosse deixado esquecido, ou para surripiar o milho que se punha a secar nos pátios traseiros das casas ou até para ir esgravatar na terra após a sementeira e retirar da terra um ou outro grão que ainda não começara a germinar. Era nessa altura que a ganapada, na qual eu me incluía, se dedicava, com perícia e engenho, à sua caça.

O estratagema era simples. Um cesto de vimes, sobre o qual se colocava uma pequena pedra, um “focho”, com aproximadamente um palmo de altura, um grande cordel, feito geralmente de fios de espadana atados uns aos outros nas extremidades e um bom punhado de milho. Colocava-se o cesto com o fundo voltado para cima, num pátio ou noutro lugar liso ou com uma superfície plana e, levantando-lhe a borda de um dos lados, colocava-se o pau a estacá-lo, de forma que ficasse meio levantado e com a altura suficiente para entrada de uma pomba. Depois espalhavam-se os grãos de milho em fila, desde fora até à área interior do cesto, estendíamos o mais disfarçadamente o cordel, porque as pombas eram umas grandes desconfiadas e escondíamo-nos bem longe dali, a segurar a outra extremidade do cordel, mas em lugar que nos fosse permitido ver o cesto e o milho. Não tardava muito e, tentada pelo milho, lá estava uma pomba, por vezes duas ou três. Iam comendo um grão após o outro até uma ficar totalmente debaixo do cesto. Nessa altura, num de repente, puxava-se o cordel, o “focho” caía assim como o cesto de vimes, ficando a pomba presa lá debaixo. Depois era só preciso arte e engenho para levantar levemente a beira do cesto e apanhá-la. Mas a tarefa não era fácil. É que as malditas e espertalhonas, muitas vezes fugiam, quer quando sentiam puxar o cordel quer quando tentávamos apanhá-las debaixo do cesto. Mas mesmo assim ficavam presas algumas. Uns utilizavam-nas como pitéu e diziam que depois de temperadas e fritas eram melhores do que coelho, outros como eu, faziam uma gaiola de madeira e ali as colocavam, dando-lhe milho e alguns mimos de maneira a que, aos poucos, se fossem domesticando, tornando mansinhas, podendo assim criá-las em cativeiro, a fim de não só recolher os seus ovos, mas também apreciar a sua nidificação e a criação dos filhotes.

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publicado por picodavigia2 às 21:59

ÉH SARGAÇO, ÉH SARGAÇO

Quarta-feira, 12.06.13

Eram apenas duas ou três vezes por ano. Alta madrugada, pelas ruas ainda escuras e junto às casas de portas fechadas e janelas com as cortinas corridas, ouvia-se em alto e bom som: “Éh, sargaço! Éh, sargaço!”

Todos acordávamos espavoridos. Vestíamo-nos à pressa, passávamos pela cara um resto de água salobra que ficara da véspera na bacia do lava mãos da cozinha e “ala botes” para o Rolo, em louca correria, carregando cestos e garfos. Meu pai e muitos outros homens, os que com ele iam, diariamente, à erva para as “lagoas” das Covas e da Ribeira das Casas, já lá estavam a escarafunchar por entre as pedras e a demarcar terreno O espectáculo era impressionante e belo: o mar toldado como um manto acastanhado e muito escuro. Ondas gigantes e altivas, soltando rugidos roufenhos ao estatelarem-se nos laredos, despejavam para o enorme Rolo, desde o Calhau do Constantino à Ribeira das Casas, grande quantidade de algas marinhas que ali se iam amontoando, transformando a rusticidade cilíndrica do Rolo, num fofa e aveludada alfombra. No ar exalava um cheiro perfumado de salmoura, de iodo e de espuma. Cada homem, à medida que se aproximava do mar, guiado por leis consuetudinárias e pela consciência de que havia sempre que sobrar um espaço igual ao seu para os que ainda não tinham chegado, ia delimitando com estacas de cana, a área que passaria, por direito próprio, a pertencer-lhe e donde extrairia o estrume julgado necessário para os seus campos. Depois iniciava-se uma enorme lufa-lufa de baldeação do sargaço para o cimo do Rolo. Eram precisos braços fortes a fim garfá-lo para longe dali, não viesse, na próxima maré-alta, à socapa, alguma vaga mais atrevida, que o levasse por completo. Por volta do meio-dia chegavam as mulheres com o bule do café na mão e cestos à cabeça a abarrotar de torresmos, de linguiça, de peixe frito, de tortas, de batatas cozidas, de inhames e fatias de pão de milho ou quartos de bolo. De tarde iniciava-se a trasfega para os “lagos”. Estes ficavam já bem fora do alcance das ondas e resguardados da braveza do mar e dos rigores do Inverno. Os “lagos” eram espaços geométricos, quadrados ou rectangulares, divididos e separados uns dos outros por paredes muito baixas, formadas com pedras do Rolo, encravadas na terra e onde, aos poucos, se ia amontoando e calcando o sargaço extraído do mar e acartado em cestos bem acaculados. Assim como a forma, a sua disposição também era geometricamente perfeita e muito ordenada, formando, à entrada, uma espécie de avenida principal, entrecortada por ruas paralelas, por onde todos pudessem passar, quer agora, quando extraíam o precioso adubo marinho, quer mais tarde, no fim do Inverno, quando o sargaço já tivesse apodrecido e fermentado por completo e fosse levado em carros de bois, para os campos plantados de couves junto mar e que não beneficiavam das forrageiras.

A operação prolongava-se pela noite dentro e, então, o Rolo povoava-se de lanternas e lanternas suspensas em paus enfiados nos montes de sargaço já despejado nos "lagos" e que, apesar de bem acalcados, continuavam a crescer a olhos vistos, tornando-se semelhantes às habitações de um escuro e tenebroso aldeamento.

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publicado por picodavigia2 às 21:11

CANTAR NO OUTEIRO

Quarta-feira, 12.06.13

Sobranceiro à Fajã Grande, quase paralelo ao Pico da Vigia, fica um outro pequeno monte, sobranceiro à Assomada, como que debruçado sobre ela e que, ao prolongar-se para oeste, embora muito lentamente, se vai estendendo pela Fontinha até se perder por completo e confundir com o alto da Bandeja, mas ao expandir-se a sul, se mantém hirto e rochoso, até ao Delgado e Cabaceira. Chama-se “Outeiro” e do seu alto, voltado a este, pode-se desfrutar de uma vista fantástica sobre a freguesia. Ao perto, os telhados e frontispícios do casario, mais ao longe os campos verdes e amarelados de couves e milho e, mais além, separado pela mancha negra do baixio, o oceano azulado e infinito, contrastando com a tímida pequenez da ilha. Na parte mais alta, no meio de imensa e diversa vegetação, está colocada uma enorme cruz, branca, ingente, altiva e teúrgica, como que a abençoar a freguesia.

Antigamente era junto a esta cruz que, nas noites das terças e sextas-feiras da Quaresma, um grupo de homens, quer chovesse, quer ventasse, depois de subir por um trilho estreito e íngreme, ajoelhava e entoava cânticos religiosos e impropérios diversos e prolongados. As suas vozes, ecoando nas encostas dos montes, ressoavam e repercutiam-se sobre os telhados das casas da freguesia. Então todos os lares as pessoas paravam o trabalho ou suspendiam a ceia e ajoelhavam e rezavam Padres-Nossos e Ave Marias, de acordo com a orientação dos cantores e, unindo-se às preces deles, suplicavam auxílio para os necessitados, prosperidade para os pobres, perdão para os delituosos e beneficência para os infelizes e sofredores.

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publicado por picodavigia2 às 21:06

O CASCÃO DAS PAPAS

Quarta-feira, 12.06.13

Na Fajã Grande, até às décadas de cinquenta e sessenta, casa pobre que se prezasse não havia de comer pão bolorento. Por isso às quintas-feiras, véspera da nova fornada, geralmente, era dia de papas. O pão de milho que, juntamente com o leite era a base da alimentação à altura, era cozido à sexta, no meio de grande alvoroço e enorme azáfama. A maior parte das vezes, porém, sobretudo no Verão, na quarta-feira seguinte já estava rijo que nem um corno e na quinta sabia a bolor que tresandava e já não se podia comer. A ceia, nesse dia, era constituída por leite e papas de milho.

As papas eram cozidas com água e farinha, a que se misturavam umas pedrinhas de sal, em vetustos e tisnados caldeirões de ferro, postos em cima de uma grelha, debaixo do qual ardia um lume feito de garranchos de incenso e achas de faia. Logo que a água iniciava a fervura, o que demorava o seu tempo dada a dificuldade em fazer pegar o lume, era certo e sabido: uma mão na colher de pau, outra com punhados de farinha de milho que, lentamente, se iam deixando cair sobre a água em ebulição, logo mexida com a colher, não fosse criar “grumos” ou pegar-se ao fundo. Depois de baldeada toda a farinha, que antes havia sido muito bem peneirada, iniciava-se uma cozedura, lenta mas, por vezes açulada, por algumas irrefreáveis labaredas de lume, provocando incontroláveis oscilações térmicas, que faziam com que as papas se apegassem ao fundo do caldeirão, onde se ia formando, lenta e demoradamente, um enorme e parcialmente queimado cascão. Retiradas  depois de prontas, as papas eram colocadas em pratos à espera de arrefecerem (elas eram boas frias e regadas com o leite a ferver), mas ficava ali, no fundo do caldeirão vazio, um enorme cascão resultante do apegar-se contínuo e permanente da farinha ao longo de todo aquele lento e demorado processo de cozedura. Retirado com cuidado, com uma colher de pau, de forma a sair inteirinho, o cascão parecia uma enorme bolacha, excepto em doçura, constituindo o aperitivo preferido dos fedelhos da casa, que lutavam por um nica dele como se bolo doce se tratasse. E não é que os adultos, se pudessem ou apanhassem uma vaga, também se atiravam desalmadamente ao cascão das papas!

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publicado por picodavigia2 às 19:42

A MOIRATA

Quarta-feira, 12.06.13

A Moirata era a vaca mais estimada, mais lisonjeada e mais bem tratada da freguesia. Era uma vaca lavrada de preto e branco, com um pelo muito luzidio e limpo, com um caminhar elegante e um ar terno e manso. Boa de leite e de canga, sempre pronta a encher uma lata de catorze litros, mesmo nos dias em que cansada de puxar o arado ou o corção. Campainha de sino ao pescoço, ponteiras de metal brilhante nas pontas dos chifres, encaracolados e bojudos, a Moirata assemelhava-se a uma princesa. Um maravilhoso prodígio da natureza!

A Moirata nascera e fora criada no palheiro do Ti’António Balaio. Mal viera ao mundo, o velho logo se apercebeu de que da bezerra, se havia fazer uma bonita gueixa e da gueixa, uma boa vaca leiteira, de que muito se havia de ufanar. Não se enganou, o velhote. Ainda muito nova, a Moirata pariu a primeira cria - um lindo bezerro - e o leite a transbordar duma lata de dez litros. Na segunda catorze, na terceira dezasseis. Um luxo!

Mas a Moirata também cedo se habituou à canga e ao trabalho. Nunca virara a cara às sementeiras, ao lavrar dos campos ou ao acarretar da lenha, dos fetos, incensos, cana roca ou estrume para os campos. Ainda Abril não ia a meio e já ela calcorreava o cerrado do Areal, de ponta a ponta, puxando o arado ou a grade, uma duas, três vezes. A primeira lavra era a mais árdua e desgastante. Exigia o arado de fero e, muitas vezes, a Moirata o puxou de canguinha. A terra coberta duma camada de estrume que ela havia carreado dias-a-fio, tornava-se muito rija e dura com os rigores climatéricos do Inverno, por isso tinha que ser lavrada com o arado de ferro, muito mais pesado e com umas aivecas gigantes, que perfuravam a terra em grandes sulcos, virando grandes leivas e torrões. Ela porém lá ia, pacientemente, sozinha, umas vezes sob as vergastas do dono, outras com as palavras de incentivo, lutando contra a força opositora da terra rija, rasgando-a em regos sulcados pelo arado. Eram horas e horas de trabalho, de cansaço e de sofrimento. No fim ficava exausta. Da boca escumava-lhe uma baba esbranquiçada que lhe caí em fios sobre a terra fresca, o corpo cobria-se-lhe de suores, sentia vertigens, quase desfalecia. Ti António Balaio, apercebendo-se do estado de fadiga da pobrezinha, para a aliviar e reconfortar, passava-lhe a mão pelo lombo, anafava-lhe os pelos, fazia-lhe festas e carinhos e dava-lhe umas maçarocas de milho, o que servia de lenitivo para o enorme desgaste. Depois do merecido descanso, seguia-se o puxar da grade, tarefa não menos árdua do que a anterior, embora bastante mais rápida. É que a terra não podia ficar assim cheia de leivas e torrões. Ti António Balaio encangava-a à grade, cravejada de enormes bicos de ferro de um dos lados. Do outro lado colocava enormes pedregulhos a fim de que os dentes de ferro penetrassem na terra e a alisassem. Passados dois ou três dias a Moirata, coitada, ela e sempre ela, voltava ao cerrado. Agora era encangada ao arado de madeira muito mais leve do que o de ferro e que ia abrindo pequenos regos destinados à sementeira do milho. O dono voltava a atrelá-la ao arado e ela traçava regos paralelos e simétricos de uma extremidade à outra do cerrado. A Clotilde, a mulher do Ti Antóno Balaio, ia atrás e, retirando punhados de milho de uma cesta que levava enfiada no braço, atirava os grãos com tanta agilidade e perícia que eles caiam direitinhos no rego, muito bem alinhados uns à frente dos outros, como se fossem soldadinhos numa parada militar. Cada rego fechava-se com o abrir do seguinte, tapando assim os grãozinhos que ali ficavam a germinar durante alguns dias. Por fim voltavam os mimos e as maçarocas de milho, pois esperava-a de novo a grade, porque a terra devia ser alisada para que os grãos ficassem todos muito bem escondidinhos e assim germinassem mais facilmente.

Passadas umas semanas, porém, a Moirata consolava-se com as sobras do desbaste do milho já crescidote e, mais tarde, com as espigas e no Inverno com a rama seca, misturada com a erva fresquinha que lhe Ti António Balaio lhe ia buscar, todos os dias, de madrugada à lagoa das Covas, ou com os incensos que acarretava da Cabaceira ou com couves e rama de batata-doce que lhe trazia das Furnas.

Um dia a Moirata envelheceu… Abalroado por uma enorme tristeza, Ti António Balaio foi obrigado a tomar uma das mais dolorosas decisões da sua vida – vender a sua Moirata, a fim de ser embarcada para Lisboa! Afeiçoara-se muito a ela, e custou-lhe muito, tomar aquela decisão. Só Deus soube a dor que sentiu, quando em cima do cais de Santa Cruz, se despediu dela. Agarrou-a pelo pescoço e chorou que nem uma criança.

Foi a Formosa, filha da própria Moirata, já feita gueixa que a substituiu, no palheiro de Ti António Balaio. É verdade que também era boa de leite, forte de canga, é verdade que também era dedicada e mansa, bela e elegante, mas a verdade é que o Ti António Balaio nunca se esqueceu da sua Moirata.

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publicado por picodavigia2 às 18:17

GELADO

Quarta-feira, 12.06.13

Gelado é uma sobremesa muito fresca, elaborada à base de lacticínios, como leite ou a nata, a que é adicionada fruta, chocolate ou outros ingredientes e sabores. A maior parte dos gelados contém uma quantidade exagerada de açúcar, embora alguns, actualmente, já sejam feitos com adoçantes. Além disso, nalguns casos, são acrescentados corantes ou aromatizantes, aos gelados, como complemento ou substituição dos ingredientes naturais. A emulsão, ou seja a mistura dos líquidos imiscíveis que vão formar o gelado, é batida lentamente durante o arrefecimento, de forma a incorporar ar e prevenir a formação de cristais de gelo de grandes dimensões. O produto final é uma espuma meio sólida, mas suave e consistente, facilmente maleável e que pode, simplesmente, ser retirada com uma colher.

A legislação local, nem sempre observada, regulamenta tanto as designações comerciais dos gelados, bem como a quantidade relativa de ingredientes para cada uma deles. Os produtos alimentares gelados que tenham por base uma emulsão de gorduras lácteas são normalmente designados por "sorvetes" ou "gelados”, termos também usados para designar uma variedade imensa de produtos frios, mesmo que sejam feitos à base de água e não de leite. Normalmente, “sorvete” designa um tipo específico de gelado alimentar confeccionado a partir de puré de frutas e xarope de açúcar, ao qual não são acrescentadas quaisquer gorduras lácteas.

O valor nutricional e calórico de um gelado comestível, à base de água, é diferente do daquele que é produzido com leite. E, como este género de doce é também um alimento, em ambos os casos, o gelado comestível possui composição nutricional e calórica significativa no contexto alimentar humano diário, pelo que deve haver um exigente e meticuloso cuidado quanto ao seu consumo.

As mais antigas referências sobre as origens do sorvete incluem uma história sobre o imperador romano Nero (37-68), que teria mandado trazer neve e gelo das montanhas, formando uma mistura a que acrescentou frutas, e ainda, uma outra, do imperador chinês King Tang (618-697), que teria inventado um interessante um método de combinar leite com água do rio.

Os gelados, sobretudo, no Verão, são muito desejados e apreciados, especialmente, naqueles pequenos portos, isolados, pequeninos mas muito bem equipados e organizados. Junto ao mar, sobre uma pequena falésia, num idílico e inesperado momento. O gelado estava fresquinho, apetitoso, deslumbrante, maravilhoso e muito apetecível. Simplesmente divinal. E eu, apenas, a vê-lo, a apreciá-lo e a desejá-lo somente porque pelos produtos e ingredientes que contêm, estão-me proibidos, porque este tipo de alimento também está interdito a doentes que sofrem de insuficiência renal.

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publicado por picodavigia2 às 14:17

O CILINDRO

Quarta-feira, 12.06.13

Quando os empreiteiros que construíram o troço de estrada entre o Porto e a Ribeira Grande chegaram à Fajã, trouxeram apenas o material de apoio que a ilha não dispunha. O restante foi construído e fabricado por eles próprios, já depois de ali se terem fixado e iniciado as obras.

Foi o caso dos cilindros. Rasgado e alisado o trajecto por onde a estrada passaria era necessário colocar entre este e a camada de bagacina, uma outra de cascalho, obtido através de pedras partidas em pequenos pedaços. O cascalho, porém necessitava de ser bem prensado e comprimido a fim de que ficasse de tal maneira consolidado que a futura estrada não se desfizesse. Para tal eram necessários cilindros grandes, fortes e pesados.

O primeiro cilindro, de pedra e cimento. a ser construído, ali junto ao Matadouro, entre a Via d’Água e o Porto, era enorme e pesadíssimo. Só que o seu tamanho exagerado e o seu peso desmesurado, em vez de atingirem o desiderato para que havia sido construído, criaram um gravíssimo problema: é que o cilindro de tão pesado que era, nunca permitiu às limitadas forças motoras exentes na freguesia – uma camioneta e meia dúzia de juntas de bois atreladas umas atrás das outras – conseguissem movê-lo, um centímetro que fosse, do próprio lugar onde tinha sido construído. Perante tal e inultrapassável imbróglio, foi arquitectado um novo cilindro, mais pequeno e mais leve, enquanto aquele mamarracho ficou anos e anos ali parado, com a interessantíssima vantagem de apenas ter dado nome àquele local, que passou a chamar-se “o Cilindro”.

Há alguns dias telefonei a um amigo de infância e perguntei-lhe pelo cilindro, se ainda lá estava? Que não, que lhe tinham espetado umas velas de dinamite, desfazendo-o por completo e atirando os seus cacos para o mar, mesmo ali perto, na Baía d’Água! Estarreci de espanto e perguntei a mim mesmo: - “ Então não era de se guardar e conservar aquela relíquia e, talvez um dia quando se construísse ali uma rotunda, dado o local ficar num cruzamento de três caminhos (Porto, Furnas e Centro da Freguesia), se colocasse o dito cujo no meio da mesma a dar-lhe, para a posteridade, o nome de “Rotunda do Cilindro”?

Responda quem souber. Mas em minha opinião, o cilindro não merecia tão vil, abominável e energúmeno destino.

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publicado por picodavigia2 às 10:47

PAPÃO FEIO

Quarta-feira, 12.06.13

Em criança, todos nós, de forma mais ou menos inconsciente, fizemos as nossas “asneirasitas”, manifestámos algumas birras, chorámos quando devíamos estar caladinhos, enchíamo-nos dos pés à cabeça de sarampo e bexigas loucas, apanhávamos defluxo, mexíamos no que não devíamos, surripiávamos, às escondidas, uma colherzita de açúcar, atirávamos o gato para o curral das galinhas, dizíamos nomes feios e “entregávamos”, enfim e numa palavra, metíamos o nariz onde não éramos chamados.

Os nossos pais, para nos castigar e corrigir daquelas pequeninas malícias, as quais, mais do que os prejudicar, lhe dificultavam e obstruíam as inúmeras e árduas tarefas do seu quotidiano agrícola e, sobretudo, doméstico, lá foram criando alguns monstros supostamente idealizados para nos amedrontar. Entre eles o Papão Feio, o Coiso-Mau, o Boiceiro e tantos outros.

E não é que as ameaças, muito naturalmente, ultrapassavam os efeitos desejados e o medo apoderava-se de nós, inocentes e frágeis criancinhas, a ponto de nos aterrorizarem e até, por vezes, nos tirarem o sono?

Talvez porque exagerassem nos arquétipos concebidos, talvez porque se arrependessem de os ter criado, os nossos antepassados tentaram afastá-los. Já era tarde, mas em boa hora o fizeram, porque assim nasceram algumas belas canções que as nossas mães cantavam sobre o nosso berço, enquanto esperavam que o leite colocado em cima do tisnadíssimo fogão de vidro do candeeiro a petróleo amornasse para depois o meter numa garrafa, já vazia, de xarope de benzo-diacol, colocando-lhe uma mamadeira no lugar da rolha, simulando, assim, os modernos biberões. Uma dessas canções que ouvi tantas vezes cantar sobre o berço de meus irmãos mais novos era precisamente “O Papão Feio”, felizmente já registado em CD, através duma excelente interpretação de Maria Antónia Esteves, baseada numa cuidadosa recolha feita na Fajã Grande, por seu tio, o P.e José Luís de Fraga e cuja letra, a seguir reproduzo:

 

“Vai-te embora papão feio,

De cima do meu telhado.

Deixa dormir o menino,

Um soninho descansado.

 

Vai-te embora papão feio,

De cima desse loureiro,

Deixa dormir o menino,

Que está no sono primeiro. “

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publicado por picodavigia2 às 09:55

MONTJUIC, O PICO DA VIGIA DE BARCELONA

Quarta-feira, 12.06.13

Afinal, vistas de um certo prisma, as localidades são como as pessoas: em tudo diferentes mas em tudo iguais. De facto se repararmos bem qualquer, localidade, por mais pequena que seja, tem tudo o que as outras têm, mesmo se tratando de grandes vilas ou enormíssimas cidades: casas, ruas, praças, passeios, árvores, pessoas, lojas, mar ou rio, tudo é comum a umas e a outras.

Quando, há tempos, visitei pela primeira vez a mágica cidade de Barcelona e passeei por algumas das suas ruas, dei comigo a pensar que naquela enormíssima cidade, capital da Catalunha, há afinal muita coisa igual ou semelhante aquilo que havia na minha minúscula Fajã Grande, a pequena freguesia onde nasci e cresci criança, quando por lá deambulava de pé descalço, no início dos anos cinquenta. Poderá parecer estranho mas é verdade. Senão vejamos.

Comece-se pelo Montjuic! Não é verdade que é sobranceiro à cidade e ao mar, que do seu alto se desfruta de uma aprazível, deslumbrante e encantadora vista sobre a cidade, talvez uma das mais belas de toda a Catalunha, o que o torna realmente numa espécie de Pico da Vigia de Barcelona? É verdade que não tem a cabine onde o vigia das baleias passava horas a tentar descobri-las, mas tem um castelo com binóculos e canhões por tudo o que é sítio. Mas ainda há mais: bem vistas as coisas não está a Rambla cheia de galos, pássaros, morganhos, salsa, cebolinho, hortelã, macela, japoneiras, hortênsias a fazer lembrar a Rua Direita, ambas com uma praça ao cimo? E o Porto Velho e o Porto Novo? Tal e qual como os da Fajã. A casa de Batló  ou a de Mila não fazem lembrar a Casa do Chileno? A própria Fonte Canaletas reporta-nos para a nossa Fonte Vermelha, que embora não estando localizada perto da Praça, não lhe é inferior na qualidade e frescura da sua água.

É verdade que não tínhamos uma torre Agbar, mas tínhamos o Monchique que não lhe fica atrás em firmeza, rigidez e endurance e que tem a vantagem de lá bem no seu cimo, ao que se diz, os nossos avós terem dançado  “A Chamarrita”, não constando que os catalães algum vez tenham dançado ou tenham a esperança de um dia vir a dançar “ La Sardana em cima da dita Torre. Vão-se contentando em dançá-la, apenas aos domingos, mas na Praça da Catedral.

E se Barcelona têm um Arco do Triunfo não o devia ter porque ele é de Paris, o Palácio Real é de Madrid, o Tibidabo do Monte Sinai e a Sagrada Família, segundo rezam as escrituras, era de Nazaré.

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publicado por picodavigia2 às 09:13

NATA

Quarta-feira, 12.06.13

A nata ou creme do leite é a camada de gordura que o mesmo contém na sua essência e que se forma à superfície, ou se separa depois de o centrifugar e que é muito utilizada em culinária e em doçaria e, ainda, como ingrediente principal e elementar da manteiga e muito consumida no sul da Ucrânia, onde substitui a própria manteiga

No leite fresco em repouso, a porção gorda, mais leve que a água, forma uma camada de nata à superfície, que, com cuidado, pode ser removida, para uso posterior. Este é um processo caseiro de separação da nata, mas, a nível industrial, a nata é extraída do leite por centrifugação e depois tratada termicamente para se conservar mais tempo.

Uma das formas mais conhecidas de utilizar a nata é batendo-a com açúcar muito fino, para formar o delicioso creme chantili. Outra forma usual de aproveitamento da nata é adicioná-la a um molho de cozinhar carne, peixe ou outro alimento. Existem, assim, dois tipos de nata: a do leite não-industrializado e a do industrializado. Mas, para entender como ambas se formam, é importante conhecer melhor esse alimento que estamos tão acostumados a consumir.

O leite é uma mistura aquosa na qual estão dissolvidos proteínas, açúcares, sais minerais, certos tipos de vitaminas e outros compostos. Se o leite é deixado em repouso por algumas horas, os glóbulos de gordura começam a se deslocar para a parte superior do leite, formando uma camada na superfície, a nata, que é formada principalmente por gordura. É a partir desta nata que se faz, por exemplo, a manteiga. No fabrico industrial da nata, o leite é pasteurizado – isto é, aquecido por alguns segundos para matar bactérias e outros organismos que possam causar danos ao produto ou à saúde do consumidor – e, de seguida, homogeneizado.

Antigamente fervia-se o leite e formava-se um outro tipo de nata, com pouca gordura, formada, principalmente, por uma película composta por proteínas e cálcio. Em criança, antes de beber o leite fervido, retirava-se essa gordura que se comia antecipadamente.

O consumo de natas, na doçaria ou em pratos de culinária generalizou-se muito entres nós, costume, talvez vindo da Ucrânia, onde existe nata apetitosa e de excelente qualidade. Mas aos doentes que sofrem de insuficiência renal está vedado todo e qualquer consumo de nata, quer em bolos, quer em pratos de culinária quer a própria manteiga. Apenas é permitido reter a suave reminiscência do seu paladar.

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publicado por picodavigia2 às 01:27





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