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KETCHUP

Quinta-feira, 27.06.13

O ketchup é um condimento elaborado à base de tomate, utilizado, comumente, para temperar diversos alimentos, nomeadamente "fast-foods", tais como sanduíches e batatas fritas, um tipo de alimentação, muito usado actualmente.

Acredita-se que este condimento tem sua origem na cultura chinesa, onde é chamado de “ketsiap” que significa molho, mas utilizado pelos chineses, apenas para temperar peixe. Na Malásia, uma outra versão deste mesmo molho tem o nome de “kechap”, que significa gosto. Chegou à Europa, pelo médio oriente, instalando-se, inicialmente, com “ketchiren”. Levado para os Estados Unidos pelos britânicos, este molho sofreu algumas alterações, passando a ter como ingrediente principal o tomate e foi baptizado com o nome de “ketchup”. A partir de então passou a dominar também os supermercados europeus, por vezes, abarrotando as caixas. Actualmente o seu caudal  parece ser menor, apesar de se ter melhorado a qualidade do produto, concedendo-lhe outro sabor e até outro perfume. Isto porque, hoje sabe-se, que o ketchup é rico em licopeno, um pigmento que dá cor vermelha aos tomates e que, comprovadamente, protege o nosso organismo contra o cancro do seio, da próstata, do intestino e do pâncreas. Além disso, o ketchup, vermelhinho e bem temperado, também previne a aterosclerose. Pesquisadores finlandeses estudaram homens e mulheres de meia-idade e constataram maior comprometimento das carótidas nas pessoas com baixa concentração de licopeno. Como o ketchup é um simples condimento, para ter índices adequados de licopeno deve acrescentar-se à dieta outros alimentos ricos nessa substância, como a papaia ou, até, o próprio tomate, cru.

Mas o ketchup, principalmente o dos restaurantes, também traz alguns malefícios à saúde, sobretudo se ingerido exageradamente. Mas são os doentes que sofrem de insuficiência renal que, assim como do tomate, quem mais deve abdicar daquele saboroso, apetecível e delicioso condimento.

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publicado por picodavigia2 às 21:27

O CALHAU DAS FEITICEIRAS

Quinta-feira, 27.06.13

Na Fajã Grande, ao cimo da ladeira do Covão, no caminho que dá para o Outeiro Grande e antes do cruzamento da Pedra d’Água, existia, e provavelmente ainda hoje existe, um estranho calhau, que o povo chamava “Calhau das Feiticeiras”.

Tratava-se de um enorme e negro tufo de forma oval, encravado na rocha que ostentava desde a base até ao cume mais de uma dúzia de pequenas pegadas, cuja elegância, delicadeza e graciosidade eram denunciadoras de que pés femininos por ali teriam passado vezes sem conta.

Como este, tantos outros calhaus, montes, morros, ribeiras, lugares e até ilhéus, não apenas na Fajã Grande mas também por toda a ilha das Flores, estão repletos de lendas e “estórias”, umas vulgarizadas outras desconhecidas e que, normalmente, os seus nomes encerram.

No caso do “Calhau das Feiticeiras”, contavam os antigos que as pegadas nele assinaladas tinham sido provocadas pelos pés das feiticeiras que ali viviam escondidas e tantas e tantas vezes o haviam subido e descido que ali deixaram, para sempre, as marcas indeléveis dos seus delicados pezinhos. Pelos vistos, as estouvadas, todos os dias, ao anoitecer, pegavam no corpo de alguém que tivesse tido procedimentos menos correctos, praticado actos indecorosos ou feito algumas diabruras e atiravam-no por ali abaixo para castigo do mal que havia praticado. Depois vinham buscá-lo e voltavam a atirá-lo, procedendo assim tantas vezes quantas as maldades cometidas ou as diabruras praticadas pelo prevaricador.

E eu que passava por ali quase todos os dias, quando ia levar as vacas ao Outeiro Grande!... É verdade que quando subia na companhia das rezes, ou porque me abstraísse com o tilintar as suas campainhas ou porque ainda fosse dia claro, não me assustava rigorosamente nada. Mas no regresso… Quando vinha sozinho, já quase noite!?... Oh pernas!... Cheio de medo, passava junto ao calhau numa correria louca. Às vezes, sobretudo quando partia da relva do Outeiro Grande já lusco-fusco, evitava aquele caminho e esgueirava-me pela Cabaceira. É que embora a distância fosse bastante maior, livrava-me de passar junto ao famigerado esconderijo daquelas malditas, impedindo assim que me agarrassem e me atirassem pelo calhau abaixo… Razões para ser abalroado por elas, tinha eu de sobra…

Verdade, verdadinha, é que nunca me agarraram e lá passei muitas vezes. Mas verdade também que por toda a freguesia era voz corrente de que o pai de tia Aniquinha, há muitos anos falecido, todos os dias, à noitinha, era atirado pelo calhau a baixo.

 

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publicado por picodavigia2 às 19:59

O ATLÉTICO CLUB. DA FAJÃ GRANDE

Quinta-feira, 27.06.13

Recentemente chegou-me às mãos um livrinho muito interessante, da autoria de José Arlindo Armas Trigueiro, intitulado “Futebol na Ilha das Flores”.

O livro divide-se em duas partes. Na primeira, onde se aborda uma espécie de pré-história do futebol na ilha, ou seja, o futebol nos seus primórdios, numa altura em que ainda não existia qualquer organização federativa, o livro apresenta um resenha da evolução desta modalidade desportiva nas várias freguesias, em seis capítulos, um dos quais, o terceiro, é inteiramente dedicado ao futebol na Fajã Grande.

Na realidade ainda hoje há quem se lembre de nos anos trinta se dar início à prática do Futebol, na Fajã Grande, num campo situado no Estaleiro, entre o Porto e o Calhau Miúdo, num serrado que ali existia e que posteriormente foi dividido por “malhões” dado que pertencia a três donos: ao Laureano Cardoso, ao António Barbeiro e ao Chileno. A prática do futebol na Fajã Grande desenvolveu-se, sobretudo, graças ao empenho e esforço do Dr Mendonça, que normalmente assumia a função de árbitro, do Luís Fraga que foi o primeiro treinador e do guarda Borges, este também integrando o elenco dos jogadores primitivos.

O referido autor ainda refere que o primeiro jogo oficial se efectuou contra uma equipa das Lajes, o “Nacional Sport Club”, tendo-se realizado no dia 24 de Julho de 1939, data em que o campo também foi oficialmente inaugurado e que o clube se chamava “Fajã Grande Sport Clube”, equipando com camisola azul e calção branco. Na realidade, embora o autor do livro não o refira, nessa altura existiam dois clubes na Fajã Grande: o Sport, onde jogavam os melhores jogadores e o Salgueiros onde jogavam os reservas. Mais tarde, no início dos anos 50, depois dos anos de interregno que o futebol sofreu em todo o Mundo, devido à Segunda Guerra Mundial, os dois clubes fundiram-se originando o “Atlético Clube da Fajã Grande” que passou a utilizar o mesmo equipamento e cujo nome ainda hoje se mantém, conforme consta na lista de clubes da actual Associação de Desportos da Ilha das Flores. A equipa da Fajã perdeu o jogo por 2-1, alinhando com os seguintes jogadores: José Luís (de Abrão) (guarda-redes), Francisco Freitas, António Teodósio, Luís Pereira, José Pereira, Laurindo, João Gonçalves, Cristiano, Cardosinho, José Cardoso, Urbano e Nestor. O treinador era o Luís Fraga e os suplentes: José Gonçalves (avançado Grilo), Francisco Inácio, António Cardoso, José Furtado, António Dawling, Arnaldo e João Lourenço, José Rodrigues, este contratado apenas por ser carpinteiro e para consertar as balizas que se desfaziam facilmente com os portentosos remates.

Dizia, quem ainda o viu jogar, que o Nestor foi talvez o melhor jogador de sempre da Fajã Grande, tendo, no entanto, falecido bastante novo e a sua morte deveu-se ao próprio futebol. Anos mais tarde, durante um jogo já no campo das Furnas, a bola terá ido parar ao mar. Como só havia uma, o jogo parou e coube ao Nestor ir buscá-la, para o que teve que se atirar à água. Era Inverno e esta estava muito fria e o Nestor muito suado. O contacto com a água gelada ter-lhe-á provocado uma constipação, seguida de uma pneumonia e depois uma tuberculose que lhe foi fatal.

No dia 8 de Setembro de 1940, festa da Senhora da Saúde, foi inaugurado o campo das Furnas. Alguns jogadores já haviam abandonado a modalidade, entrando outros, entre os quais: Teodósio, Albano, José Fagundes, David Fagundes,(Semilhas), Roberto do Cristóvão, José Santos (da Ponta) e o Abrão que foi o melhor guarda redes de sempre da Fajã. Era voz corrente que em todos os jogos que realizou não sofreu um único golo. Nessa altura o Luís Fraga manteve-se como treinador.

Nos anos 50 o futebol renasceu e o novo clube, o Atlético passou a ter como principais jogadores: Abílio (Guarda-redes), João do Gil, Lucindo e Elviro, Edmundo Pereira, Teodósio, Albino, Álvaro de João Carlos, David do Raulino, Roberto do Cristóvão, Ângelo João Augusto, Mário do Raulino, Luís Cardoso, Manuel Cardoso (Matateu), Álvaro do Raulino, José Borges, António Nascimento, José Augusto e António Greves, entre outros.

 

Este texto foi publicado no Pico da Vigia, em 30/12/09

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publicado por picodavigia2 às 19:55

A GARAGEM DOS TERREIROS

Quinta-feira, 27.06.13

Situada bem lá no cimo da Rocha da Fajãzinha, mais para os lados da Caldeira, a Garagem dos Terreiros foi durante muitos e muitos anos um ponto de referência não apenas para a população da Fajã Grande mas também para a da Fajãzinha e do Mosteiro, porquanto representava o fim da única estrada que ligava Santa Cruz e eventualmente as Lajes, mas com um longínquo percurso pela Fazenda, Lomba e Caveira, à zona mais ocidental da ilha.

No início da década de cinquenta havia apenas duas estradas na Ilha das Flores: uma a ligar as Lajes a Santa Cruz e a outra que partindo de Santa Cruz atravessava os Matos, terminando nos Terreiros, precisamente em frente à dita Garagem. Daí a importância, utilidade e interesse que esta assumiu pois, nestas condições e naquela altura, era lá que as pessoas, assim como as mercadorias ou esperavam transporte a Santa Cruz ou, no caso inverso, aguardavam carregamento ou companhia para a freguesia a que se destinavam. As pessoas, muitas vezes, ali descansavam, comiam os seus farnéis e abrigavam-se da chuva ou protegiam-se dos temporais para, sobretudo no caso da Fajã que ficava bem mais longínqua, palmilharem a pé a Rocha da Figueira ou a dos Bredos, atravessar a Fajãzinha, de lés-a-lés, transpor a Ribeira Grande, subir a ladeira do Biscoito até à Eira-da-Cuada e percorrer o Caminho da Missa até entrar na Fajã pelo cimo da Assomada. Também era para lá, onde era guardada à espera de transporte, que era conduzida em mulas toda a manteiga e até a nata destinada à fábrica de Santa Cruz e que a Fajã produzia.

A Garagem era um edifício em pedra, caiada de branco, coberta de telha alaranjada, ficava no lado esquerdo de quem subia o caminho vindo da Fajãzinha e constituiu durante a década de cinquenta não apenas o terminal da Carreira e dos poucos automóveis e carros de praça existentesem Santa Cruzmas também o local de carga e descarga das camionetas dos principais comerciantes da ilha: do Flores, dos Serpa de Santa Cruz e do Germano e da Firma das Lajes. A garagem era portanto, ponto de partida e de chegada obrigatório para as populações do Mosteiro, Caldeira, Fajãzinha, Fajã Grande, Ponta e de grande parte das Flores

Por todas estas razões a Garagem dos Terreiros tornou-se como que um lugar mítico, um ponto de encontro de pessoas que por ali transitavam quase todos os dias em maior ou menor quantidade e que depois seguiam para as vilas ou para outras freguesias, a pé ou de carro. A primeira vez que a vi foi quando fui a pé da Fajã às Lajes acompanhar uma cunhada de meu tio que necessitava de tratar dos papéis para o casamento e me levou por companhia para que não atravessasse os matos da ilha sozinha. Depois por lá passei a pé inúmeras vezes, mesmo depois de construída a estrada que ligava os Terreiros ao Porto da Fajã, dado que a escassez de automóveis a tal nos obrigava. Nessa altura o percurso pelos Bredos e Eira-da-Cuada caiu em desuso, uma vez que a caminhada a pé pela nova estrada era bem mais fácil e acessível e com a vantagem ainda de se encurtar caminho subindo, na volta da Alagoinha, pela Rocha da Figueira, cujo a maior parte do percurso, apesar de tudo, consistia numa autêntica escada de pedra e por isso era bastante íngreme, árduo e cansativo.

 

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publicado por picodavigia2 às 09:14

O MEU PAR

Quinta-feira, 27.06.13

O Antonino era o meu maior amigo, nos meus tempos de criança. A amizade que tínhamos um pelo outro definia-se e concretizava-se não apenas nas brincadeiras e folguedos mas também, na escola, na catequese e até na partilha da realização em comum de muitas tarefas e trabalhos. Esta amizade, que quase nos transformava em verdadeiros irmãos, originara-se no facto de sermos da mesma idade e, ainda por cima, termos nascido no mesmo dia. Por isso crescemos juntos e tínhamos muito em comum. Dediferente tínhamos apenas duas coisas: o Antonino, por imperativos genéticos, era um gigante e eu um “lingrinhas” e os pais dele eram ricos e os meus pobres. Mas verdade é que essas diferenças nunca puseram em causa a nossa amizade.

Entrámos juntos para a escola, sentámo-nos na mesma carteira, fizemos passagens de classe e exames ao mesmo tempo, tomámos as vacinas no mesmo dia e até tivemos o sarampo e a papeira pela mesma altura. Na catequese e na missa aos domingos também nos sentávamos lado a lado e raro era o dia em que, depois da escola ou da catequese, não nos juntássemos para a brincadeira ou para fazer em conjunto as contas e as cópias que a senhora professora mandava fazer em casa.

Assim fomos crescendo e o tempo passando.

Quando se aproximou a Comunhão Solene, marcada para o dia da festa de S. José, por razões mais do que óbvias, decidimos, sem consultar quem quer que fosse, que seríamos o par um do outro.

Nos dias que antecederam a festa, reunimo-nos, na igreja, para ultimar os preparativos, sob a orientação do pároco. Uma das primeiras medidas que ele tomou foi formar os pares. Coloquei-me logo ao lado do Dionísio, sabendo que o senhor padre aceitaria, de bom grado, qualquer formação que nós propuséssemos. E os ensaios começaram com afinco e determinação... Todos os dias, depois da saída da escola, corríamos para a igreja, onde esperávamos que o pároco chegasse. Formávamos no guarda-vento, deambulávamos pelo corredor central e pelo cruzeiro, voltávamos ao baptistério lado a lado e de mãos postas, cantando e rezando como se já fosse o dia da comunhão. Depois o padre sentava-nos em lugar de destaque na capela mor e, colocando-se no meio do altar fazia-nos subir dois a dois, de acordo com os pares formados, até junto dele, ensinando-nos as vénias e genuflexões que devíamos fazer e o que devíamos dizer, depois dele erguer a hóstia muito pequenina e proclamar, traçando uma cruz sobre a píxide: “Corpus Domini Nostri Iésus Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam”. Cada um respondia simplesmente: “Amen”. O Dionísio e eu ensaiávamos com o maior empenho, lado a lado, felizes por sermos o par um do outro.

Nas vésperas da festa, porém, uma grande “tragédia” aconteceu. A Dona Maria veio ensaiar os cânticos e, julgando do pouco empenho do irmão nos ensaios anteriores, resolveu dar-lhes os últimos retoques. Começou por analisar os pares um a um, com excessiva meticulosidade e depressa entendeu que alguns estavam muito mal formados. Olhei para o Antonino e trememos. Segundo a eminente irmã do senhor padre, os pares deviam formar-se não em função de “amizadezinhas”, mas sim pelo tamanho e altura dos meninos. Não ficava bem nem era bonito um menino grande ser par de um pequeno. De imediato desfez todos os pares que entendeu, incluindo o nosso.

Reclamámos, barafustámos, rezingámos, alegando como único argumento em nossa defesa que era o senhor padre que assim tinha feito e que assim é que devia ser... Mas nada!

Entrámos numa choradeira desenfreada, a tal ponto de já nem querermos fazer a comunhão. Era o que havia de faltar! Que quem mandava ali era ela, que não queria choramingas, que meninos que iam fazer a Comunhão Solene tinham que ser dóceis e humildes, que o Nosso Senhor assim é que queria, que tinha que ser assim e que por nada deste mundo seria doutra maneira... Nada pudemos fazer… e foi a sua vontade que prevaleceu…

E lá tivemos que fazer a comunhão desgostosos com os pares arranjados à última hora,  pela Dona Maria, envoltos em lágrimas e revolta… Mas, quando a missa terminou, dirigimo-nos, como estava ensaiado e programado, para o altar da Senhora do Rosário, que ficava ao lado da capela-mor. Foi então que o Antonino e eu, sem que ninguém se apercebesse ou desse por isso, nos esquivámos e ficámos ao lado um do outro, enquanto oferecíamos as flores a Nossa Senhora, Lhe rezávamos a consagração e cantávamos o cântico final:

 

“Aceitai estas florinhas,

Óh Virgem pura, cecém.

Aceitai-as como ofertas/

Do nosso amor, doce Mãe.

 

E na hora da nossa morte

Vinde-nos óh Mãe valer.

Lembrai então as florinhas

Que hoje aqui vimos trazer.”

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publicado por picodavigia2 às 07:52





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