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SOPAS FRITAS

Domingo, 30.06.13

As chamadas “Sopas Fritas” que outrora se cozinhavam na Fajã Grande não eram nem mais nem menos do que uma espécie destas “Rabanadas”, nalguns sítios também chamadas “Fatias Douradas”, que proliferam nesta altura do Natal, por todo o norte do país, desde o Douro Litoral a Trás-os-Monrtes, passando pelo Minho, Alto Douro e que enchem as casas de perfume a canela, a limão e a Natal. Aqui em Paredes e arredores são feitas com o tradicional “cacete” partido em fatias relativamente finas e fritas em óleo ou banha, depois de serem muito bem encharcadas numa calda feita ao lume com água, açúcar, pau de canela, casca de limão e vinho do Porto ou simplesmente em vinho com açúcar, o que acontece geralmente entre as pessoas mais antigas ou nas casas pobres das zonas rurais. Depois são escorridas, passados por ovo, fritas e polvilhadas com açúcar e canela em pó por ambos os lados. Nalguns sítios são cobertas com uma calda semelhante à primeira e a que é adicionada um colher de sopa de mel. Constituem, juntamente com os “formigos” e os bolinhos feitos de abóbora cozida e farinha, chamados “bolinhos de jerimu”, o conjunto dos doces mais típicos e tradicionais que se servem como sobremesa na noite da Consoada, aqui pelo Norte. Não há casa onde, por esta altura, elas não abundem e, actualmente, até já se podem comprar em padarias ou pastelarias

Na Fajã Grande, porém, nos anos 50 eram chamadas “Sopas Fritas” e embora cozinhadas, nalguns aspectos, de forma um pouco semelhante às Rabanadas do Norte, não eram um doce ou sobremesa típica do Natal, pois cozinhavam apenas quando em casa havia pão de milho velho e de tal maneira enrijecido que já se não podia comer. A sua elaboração também era um pouco diferente, dado que, geralmente eram embebidas em leite com açúcar e não em calda ou vinho. Nas casas mais pobres, porém, ao leite não se misturava açúcar, que não havia dinheiro para o comprar. Depois eram passadas por ovos batidos, se os houvesse, ficando, neste caso, apenas encharcadas no leite, sendo depois fritas em banha de porco. Eram também geralmente cobertas com canela e açúcar, acrescentando-se, por vezes, um pouquinho de raspa de limão que ayé podia substituir o açúcar e lhes dava um cheiro agradável e um sabor muito bom.

Receita semelhante se fazia com fatias de pão de milho, de bolo ou até de escaldadas. Nenhumas destas, porém, eram passadas embebidas em leite e raramente embrulhadasem ovo. Eramapenas fritas em banha de porco, preferencialmente da que cobria a linguiça e que lhes conferia um sabor mais apetitoso, agradável e atraente.

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publicado por picodavigia2 às 23:51

RECÍPROCO

Domingo, 30.06.13

MENU 6 – “RECÍPROCO”

 

ENTRADA

 

Taglierini com pimentos, cebola e mortadela de peru,

salteada em azeite e creme de queijo fresco,

guarnecida com fios de cenoura temperados co vinagre balsâmico

 

PRATO

 

Mousse de peixe e brócolos, acamada sobre alface.

Rodelas de pepino grelhadas e barradas com creme de queijo fresco.

Salada de feijão-verde com pimentos e cebola

 

SOBREMESA

 

Cerejas com meloa ao natural

Geleia de morango.

 

****

 

Preparação da Entrada – Cozer a massa em água com um fio de azeite. Saltear, num pouco de azeite, a cebola, os pimentos e juntar a massa. Retirar do lume e misturar uma colher de creme de queijo fresco. Juntar os fios de cenoura e salpica-los com o vinagre.

Preparação do Prato – Cozer os brócolos com uma batata, cebola, alho e sementes de funcho. Juntar uma colher de creme de queijo fresco, umas gotas de azeite e reduzir a puré. Juntar uma meia folha de gelatina, liquefeita. Grelhar as rodelas de pepino e barrá-las com um pouco de creme de queijo fresco. Em azeite, saltear pedacinhos de cebola, pimentos e juntar feijão verde em grão. Dispor no prato e servir

Sobremesas – Preparação tradicional.   

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publicado por picodavigia2 às 18:39

CORSÕES DE MILHEIROS E BOIS DE SABUGO

Domingo, 30.06.13

Na Fajã, no início dos anos cinquenta, não se compravam brinquedos, por duas razões muito simples: primeiro porque não havia dinheiro e, em segundo lugar, nem sequer havia brinquedos para comprar.

Assim, exceptuando um ou outro automóvel de baquelite ou alguma boneca de loiça que vinham da América, muito bem embrulhados nas roupas que traziam as encomendas, éramos nós próprios, crianças de então, que construíamos, por vezes de maneira tosca e rudimentar, todos, mas mesmo todos, os nosso brinquedos, a maioria dos quais se baseava ou imitava objectos e utensílios utilizados pelos adultos na sua principal faina quotidiana – a agricultura.

Ora um dos objectos mais imitado na elaboração dos nossos brinquedos era o corsão com que brincávamos em cada dia, em cada hora e em cada minuto. Fazíamos corções minúsculos com uma rapidez, uma competência e uma agilidade fantástica. Por vezes fazíamo-los de madeira mas, como esta era rara e mais difícil de trabalhar, utilizávamos habitualmente e como alternativa, as canas do milho. Pegávamos num milheiro ou em dois e cortávamo-los em dois pedacinhos do mesmo tamanho. Depois aguçávamos em forma de proa de navio uma das extremidades de cada um dos pequenos e delgados troncos do milho e arranjávamos cinco ou seis “fochos” a fazer de travessas que cravejávamos nos milheiros, formando assim um verdadeiro corsãoem miniatura. Faltavam apenas os fueiros, tarefa também muito fácil de concretizar pois bastava apenas fixar mais uns pauzinhos na parte de cima dos milheiros e lá estava o corsão completo. Depois era só carregá-lo com lenha, incensos, ervas, casca de milho, produtos que eram sempre bem presos e amarrados com cabos de espadana e apertados com arrochos, como se de um corção de verdade se tratasse.

E o cabeçalho? Bem o cabeçalho era feito com um fio de espadana bem grosso que se prendia a uma canga, também de espadana com duas laças nas pontas onde se enfiavam dois sabugos a fazer de bois que assim ficavam verdadeiramente “encangados”. E então se conseguíssemos um sabugo vermelho!...

E assim nos entretínhamos horas e horas a brincar, tão felizes e alegres, com estes brinquedos tão simples, apesar da pouca durabilidade de que eram dotados, pois o corção desfazia por completo assim que os milheiros secavam.

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publicado por picodavigia2 às 14:54

MAIS UMA DE BOLO

Domingo, 30.06.13

Rezam as crónicas que minha avó paterna, na sua senectude, terá manifestado algumas atitudes e procedimentos menos vulgares ou pouco normais assim como certas excentricidades ou manias, que terão levado, os que a rodeavam e tratavam, a julgar que tinha ensandecido.

Entre as suas extravagantes exigências, resultantes de um quotidiano amorfo e monótono, próprio de quem entra numa senilidade demente, havia uma muito simples mas estranha e cuja concretização onerava, significativamente, o parco e reduzido orçamento familiar: exigia ela comer sopas de café com pão de trigo, todos os dias. Mas isso era quase um luxo, pelo menos, coisa rara na altura, não tanto pelo café, que este era de favas e chicória, mas pelo pão de trigo, dado que os campos na Fajã nunca produziram quantidades significativas deste cereal e comprar farinha de trigo era, na altura, uma espécie de magnificência, que só os ricos e endinheirados, que diga-se de passagem eram poucos, o conseguiam.

No entanto, com algum sacrifício e significativas alterações nos hábitos de vida caseira, lá iam, os meus familiares a quem estava confiada a sua guarda, arranjando, de vez em quando, alguma farinha e, no meio do bolo e do pão de milho, iam cozendo, um ou outro pão de trigo, satisfazendo assim os sonhos que quem, agora demente, tivera uma vida dolente e sofrida. Mas coziam pouco, muito pouco. Por isso, impunha-se poupá-lo. É que acendia-se o forno, apenas, uma vez por semana e padarias, apenas, existia uma, em Santa Cruz. Daí que ensaiassem uma velha estratégia, baseada no ditado popular “com papas e bolos se enganam os tolos”, de, junto com os pedaços do pão de trigo esmigalhados no café, juntar alguns pedaços de bolo. Tinham como objectivo apenas e tão-somente aumentar o cardápio à mãe do meu progenitor, garantindo-lhe a quantidade de alimento necessário a uma vida eficaz e salutar. Bem-intencionados, sem dúvida, estavam os meus parentes, pois pensavam que misturando o bolo ao pão de trigo, minha avó alimentar-se-ia muito bem e, devido ao seu aparente estado de demência, não daria por nada, nem se aperceberia da “batota” engendrada. Enganaram-se radicalmente!

Então não é que a minha avó, sempre que lhe enfiavam, por meio das sopas de pão de trigo, uma colherada de bolo pelas goelas abaixo, gritava ironicamente, em alto e bom som:

 "- Lá vai, mais uma de bolo!”

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publicado por picodavigia2 às 14:22

A PRINCESA CARLOTA

Domingo, 30.06.13

(CONTO TRADICIONAL)

 

Era uma vez um rei, jovem e solteiro. Os conselheiros insistiam com ele, que se casasse, para deixar sucessores ao trono. O rei era amigo de caçar, e sempre que saía passava defronte de uma cabana, onde morava um velho pastor e sua formosa filha, chamada Carlota. Um dia disse-lhe o rei:

- Os meus vassalos querem que eu case, e tu és a única mulher de quem eu gosto; queres casar comigo?

- Isso não pode ser, senhor; porque eu apenas sou uma pobre pastora.

- É o mesmo, caso contigo, mas com a condição de nunca me contrariares nos meus desejos, por menos razoáveis que sejam.

- Estou por tudo que Vossa Majestade me ordenar. – Concluiu a pastora

 Tudo acertado, realizou-se o casamento. O rei mandou para a cabana do pobre velho fatos de rainha, que ela vestiu, largando os seus trapinhos. Mas o pai disse-lhe:

- Guarda esses trapinhos, pode ser que ainda precises deles.

A filha guardou os trapos em uma caixa, que deixou em poder do pai, e partiu para o palácio, onde passou a viver, como rainha.

Ao fim de nove meses deu à luz uma menina, tão formosa como sua mãe. Passados três dias entrou o rei no quarto da esposa e disse-lhe:

- Trago-te uma triste notícia: os meus vassalos querem que eu mande matar a nossa filha, porque não se conformam serem um dia governados pela filha de uma pastora.

- Vossa Majestade manda, e cumpre-me obedecer, - respondeu a rainha, quase a saltarem-lhe as lágrimas dos olhos.

O rei recebeu a menina e entregou-a a um conselheiro. Tempos depois teve a rainha um filho, que o rei mandou igualmente matar sob o mesmo pretexto.

Alguns anos depois entrou o rei muito apoquentado no quarto da esposa e disse-lhe:

- Vou dar-te uma notícia, de todas a mais triste, os meus vassalos estão indignados comigo; não querem que estejas em lugar de rainha, e dizem-me que te expulse do palácio. Por isso, querida Carlota, prepara-te, que tens de voltar para a cabana de teu pai.

- Não se apoquente, Real Senhor; estou pronta a obedecer; parto já.

- Tens que despir os fatos de rainha.

- É o que já vou fazer, Real Senhor.

  E a rainha despiu todo a roupa ficando em camisa.

  - Não dispo a camisa, porque encobre o ventre onde estiveram guardados os nossos filhos. – Disse a rainha, lavada em lágrimas.

 O rei nada teve que objectar e Carlota partiu com destino à cabana do pai. Estava o velho pastor à porta, quando viu aproximar-se a filha. Recolheu-lhe logo para dentro, tirou da caixa os antigos trapinhos e levou-os à filha para que os vestisse. Ela vestiu-os sem proferir um queixume e recomeçou a sua antiga vida de pastora. Para ela a sua vida de rainha fora apenas um sonho; lembrava-se muito dos seus filhos de quem tinha cada vez mais saudades. Passados anos voltou o rei a casa de Carlota, e disse-lhe que os vassalos instavam com ele, que casasse; e por isso tinha resolvido casar com uma formosa princesa de quinze anos.

- Efectivamente, respondeu a pastora, um rei bom como Vossa Majestade merece ter uma verdadeira princesa por esposa, que lhe dê uma descendência digna e nobre que lhe perpetue o nome.

- Venho pedir-te o favor de voltares ao palácio para dirigires as criadas de cozinha. Bem sabes que a princesa há-de ser acompanhada por fidalgos, e vem igualmente com seu irmão mais novo. Quero servi-los numa lauta mesa.

- Estou pronta, logo que Vossa Majestade ordenar, – disse Carlota

- Chegam amanhã. Deves regressar hoje ao palácio.

 Assim fez Carlota, dirigindo-se para o palácio, vestindo um pobre vestido de chita. No dia seguinte chegou a noiva e o irmão, com outros fidalgos, e houve à sua chegada grandes festejos. Carlota estava na cozinha onde o rei a encontrou.

- Não vens ver a minha noiva? – Perguntou-lhe o rei.

Carlota saiu da cozinha e foi cumprimentar a noiva.

- É muito linda! - Disse Carlota, beijando-lhe a mão. - Deus a conserve por muitos anos e lhe dê muita felicidade. É digna do rei que vai receber por seu marido.

 A menina ficou estupefacta. Então o rei ajoelhou-se em frente de Carlota, e disse:

 - Olha que são os nossos filhos. Quis experimentar o teu coração: és uma pastora que vale mil rainhas.

 Houve então mil abraços e beijos de parte a parte. O rei mandara os filhos para casa de uma tia, que os educava como príncipes, em vez de os mandar matar como tinha afirmado à rainha.

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publicado por picodavigia2 às 11:45





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