PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
UM ANO DEPOIS
Faz, hoje, seis de Julho de 2013, precisamente um ano que se reencontraram, em Angra, com rumo traçado ao velhinho Seminário Diocesano, cerca de meia centena de antigos alunos e dois professores, também eles outrora alunos, que, nos anos 50 e 60 do século passado, se entrincheiraram naquela que designaram por Santa Casa, e onde viveram, cresceram numa inequívoca e recíproca cumplicidade, construindo uma grande família, de tal modo firme e sólida que nem a imparável corrida do tempo ou contumaz lonjura do espaço haviam de destruir ou fazer desmoronar. Ali também fizeram, se não toda, pelo menos uma boa parte da sua formação académica e humana, pois foi naquela nobre Instituição de Ensino que receberam, para além do carinho e amizade de um punhado de sacerdotes exemplares e dedicados, uma aprendizagem profunda e abrangente da parte de uma equipa de professores sábios e competentes.
Com um programa diversificado e apelativo, sob uma impecável e acariciadora organização, capitaneada por um notável triunvirato - João Carlos Carreiro, Gualter Dâmaso e Carlos Sousa – e com uma plêiade de colaboradores entusiastas, espalhados por todas as ilhas, houve um verdadeiro reencontro, onde soaram trocas de abraços e afectos, onde se rebuscaram memórias e vivências, onde o tempo se converteu em diálogo e reflexão e onde até ressurgiram jogos, brincadeiras e sobretudo, comunicação, na qual a música foi rainha,
Uns já lá estavam, outros vieram de perto e alguns de longe, de muito longe, mas todos chegaram galvanizados por uma amizade inequívoca e por um estranho sentimento, por uma seminariedade, uma espécie de filha predilecta daquela açorianidade que Nemésio desencantou e que tanto propalou e que o professor Vamberto Freitas, em artigo publicado no último número da revista da SATA, muito bem explicou, afirmando que esta nossa açorianidade não tem a ver com passaportes e fronteiras mas com os que connosco partilham o destino de uma vida em perpétua busca do pão e da realização, o sonho em viagem sem fim.
Foi esta açorianidade, tão exclusivamente nossa, que arrastou, empolgou, uniu, congregou e, consequentemente, apesar de já passado um ano, deixou ecos bem sonoros e imagens bem visíveis, que ainda hoje, por certo, perduram no coração e na memória de todos aqueles que durante três dias trocaram abraços, se encharcaram de emoções, se envolveram em recordações e recriaram a inequívoca proximidade das suas vivências de outrora. Do programa elaborado pela equipa coordenadora, ressaltaram momentos importantes e inesquecíveis, como a recepção e o acolhimento no Hotel Angra, a visita ao Seminário, situado na rua do Palácio, a apresentação de fotos, textos e testemunhos e o convívio durante as refeições, com destaque para o jantar do primeiro dia, precisamente no refeitório do Seminário, nas mesas, nos bancos, onde se sentaram durante doze anos.
Mas cada dia era melhor do que o anterior e assim aconteceu com o segundo, dedicado à recriação, à reflexão, com um passeio pelas ruas de Angra, por onde outrora nas tardes de quintas e domingos, transitavam, com destino ao Monte Brasil, ao Relvão, Pátio da Alfandega e Jardim da Cidade. Mas foi à noite, que teve lugar o epicentro do encontro - a realização duma espécie de réplica dos Saraus Musico-Literários, de outrora que, por altura da festa de São Tomas de Aquino enchiam o Salão Nobre do Seminário e se repercutiam, através do RCA pelas nove ilhas açorianas.
Passado um ano, todas estas vivências nos regressam à memória, congregando-nos, cada vez mais numa enorme família que, apesar das distâncias do tempo e do espaço, cada vez parece mais unida e envolvente. E o Facebook, inequivocamente, tem aqui uma boa parte de responsabilidade.