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O CORSÃO DE BOIS

Quinta-feira, 11.07.13

O corsão de bois constituiu talvez o mais antigo e o mais tradicional veículo de transporte de produtos agrícolas utilizado na Fajã Grande. Foi também incontestavelmente o mais utilizado e o mais importante, pelo menos até à abertura e construção da nova estrada, uma vez que nessa altura foi interdita, por razões lógicas, a sua circulação naquela via, sendo então quase definitivamente substituído pelo carro de bois, pelo carro de mão e pelos triciclos.

Na Fajã existiam dois tipos de corsões: os de “junta” e os de “canguinha”. Os primeiros eram maiores e puxados por duas reses, enquanto aos segundos, um pouco mais pequenos, atrelava-se apenas um animal, embora por vezes, o mesmo corsão fosse utilizado e puxado, em tempos diferentes, por uma junta de bovinos ou por um só. Neste caso alterava-se apenas o respectivo cabeçalho. Havia ainda uns corsões mais pequenitos que eram puxados por bezerros. Uns e outros quando se deslocavam sem carga eram a alegria da garotada que de pé ou sentados e bem agarrados aos fueiros viajavam sobre eles em alegres passeatas.

O corsão era quase todo construído em madeira e puxado por bois ou vacas que o faziam deslizar ou arrastar sobre as pedras da calçada, por vezes extremamente irregular, ao longo dos vários caminhos da Fajã que, eventualmente tinham a largura suficiente para passar um junta de bois. A sua estrutura assentava fundamentalmente em dois grossos paus de incenso, devidamente cortados, endireitados e aplainados, com a parte da frente em forma de proa de navio, que se uniam por meio de cinco ou seis travessas de cedro, um pouco arcadas na parte superior e que eram neles encravadas de modo a formar uma espécie de grade rectangular. A seguir à primeira travessa da frente os paus eram furados e nos furos era enfiada uma cavilha de ferro a que se prendiam os cabeçalhos. Os corções de “junta” tinham apenas um cabeçalho que se prendia na cavilha com uma armação em forma de triângulo, denominada “cangalha” e que se destinava a fixar o cabeçalho precisamente a meio do corsão, para que a junta das reses o puxasse da forma mais equilibrada possível. Quando os paus laterais que rastejavam sobre as pedras da calçada se iam gastando em demasia, pregavam-se por baixo uns outros mais espalmados, chamados “alabaças”, que impediam que os originais se corroessem totalmente e o corção se desfizesse por completo. A fim de se arrumarem da melhor forma e segurarem bem os produtos que se pretendiam transportar, como lenha, incensos, milheiros, rama seca, fetos, cana roca, etc, os paus laterais tinham quatro ou cinco furos cada um, onde se espetavam os fueiros feitos de incenso ou oraçã e que eram maiores ou menores consoante se pretendia trazer menos ou mais carga. Para transporte de carregamentos mais leves e volumosos, como fetos e rama seca, os fueiros, para além de muito altos, eram tornados pontiagudos, a fim de que os produtos neles fossem espetados e se segurassem melhor tão volumosa carrada. Quando a carga ia a meio passava-se pelos fueiros a “travadura”, ou seja, uma corda delgada com uma arça na ponta e que se prendia num dos fueiros da frente e que depois se ia cruzando, fueiro a fueiro, até se amarrar a extremidade no último de trás a fim de segurar bem o fardo. Por fim toda a carga era amarrada com um cabo ou corda maior e mais grossa do que a “travadura”, também com arça na ponta e que era amarrado num dos lados, na travessa do meio, e vinha prender na mesma travessa do outro lado. Com os arrochos, formados por dois paus, um direito, espetado na carga e outro torto para torcer o cabo em volta do primeiro pau, apertava-se muito bem a carga de modo a que esta não desfizesse ou caísse. Se a carga era milho, batatas, inhames ou esterco era colocada sob o corsão e presa nos fueiros uma sebe feita de vimes, sendo as travessas cobertas com tábuas e a sebe fechada a trás com uma porta.

Por sua vez o cabeçalho ou cabeçalhos, uma vez enfiados na cavilha, eram presos â canga com um tamoeiro feito de couro que dobrava sobre a canga e se prendia ao cabeçalho com uma chavelha. No corsões de “canguinha”, a canga tinha a forma de um v invertido e cada lado tinha o seu pequeno tamoeiro também preso com uma chavelha ao respectivo cabeçalho. A canga de junta tinha a forma de um M com o tamoeiro preso a meio e assentava no pescoço dos animais com dois “canzilhes”, presos por baixo do pescoço do animal com uma brocha feita de couro, sendo a cabeça dos bovinos amarradas uma à outra ou simplesmente presos pelas ponteiras dos chifres, caso as tivessem.

O grande problema dos corsões era o de que sendo o piso dos caminhos muito irregular, estes, vezes sem conta, sobretudo quando excessivamente carregados, empeçavam nas pedras e calhaus mais salientes do caminho. Para os desempeçar era o cabo dos trabalhos, sendo necessários dois ou três homens ou, por vezes, retirar-lhe uma boa parte da carga.

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publicado por picodavigia2 às 13:05

AS DUAS IRMÃS

Quinta-feira, 11.07.13

(CONTO TRADICIONAL)

 

Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. A mais velha parecia-se tanto com ela, que a confundiam com a própria mãe. Mas a mãe e a filha eram tão desagradáveis e orgulhosas que ninguém as suportava. Por sua vez, a filha mais nova, para além de boa e educada, era muito bonita.

A mãe adorava a filha mais velha, mas tinha uma tremenda antipatia pela mais nova, que comia na cozinha e trabalhava sem como se fosse uma criada, pois tinha, a pobrezinha, entre outras coisas, de ir, duas vezes por dia, buscar água a uma fonte que ficava longe de casa, com uma enorme e pesado balde, que trazia sempre bem cheio.

Um dia, enquanto ela estava junto à fonte a encher o balde, apareceu uma pobre velhinha, pedindo-lhe de beber:

- Pois não, boa senhora - disse a linda moça e, pegando no balde, tirou água, dando-lhe de beber com as suas próprias mãos, para auxiliá-la.

A boa velhinha bebeu e disse:

- Tu és tão bonita, minha filha, e tão boa e tão educada, que não posso deixar de te dar um dom. – É que aquela velhinha era uma fada, que tinha tomado a forma de uma pobre camponesa para ver até onde ia a educação daquela menina.

- Quando falares, a cada palavra que proferires - continuou a fada disfarçada de velhinha - da tua boca sairá ou uma flor ou uma pedra preciosa.

Quando a filha chegou a casa, a mãe recriminou-a pela demora.

- Peço-lhe perdão, minha mãe - disse a pobrezinha -, por ter demorado tanto. - E, dizendo estas palavras, saíram-lhe da boca duas rosas, duas pérolas e dois enormes diamantes.

- O que é isso? - Disse a mãe espantada - Acho que estou a ver pérolas e diamantes saindo da tua boca. Como é que conseguiste isso, filha? - Era a primeira vez que lhe chamava de filha.

A pobre menina contou-lhe, então, o que tinha acontecido junto da fonte, saindo-lhe da boca flores e pérolas.

- Meu deus! - Disse a mãe. - Tenho de mandar a minha filha mais velha à fonte.

De seguida chamando a filha mais velha, disse-lhe;

- Filha, vem cá. Vê o que sai da boca da tua irmã, quando ela fala. Quero que tenhas o mesmo dom. Vai à fonte e, quando uma pobre mulher te pedir água, dá-lhe de beber.

- Só me faltava essa! - Respondeu a filha. - Ter de ir até à fonte!

- Estou a mandar-te, filha, - retorquiu a mãe -, e vai já, antes que a mulher desapareça.

Embora contrariada, a rapariga lá foi, levando o mais bonito jarro de prata que havia em casa.

Mal chegou à fonte, viu sair do bosque uma princesa, ricamente vestida, que lhe pedia água. Era a mesma fada que tinha aparecido à irmã, mas que agora se disfara de princesa, para ver até onde ia a educação daquela moça.

- Será que foi para te dar de beber que eu vim aqui? – Respondeu a rapariga – Tens aqui um jarro de prata cheio! Tome e bebe do jarro, se quiseres, pois eu não sou tua criada.

- És muito mal-educada - disse a fada. - Pois muito bem! Já que és tão pouco cortês, a cada palavra que proferires, sair-te-á, da boca, uma cobra ou um sapo.

Quando a mãe a viu chegar, perguntou-lhe:

- E então, filha? Encontraste a mulher e deste-lhe de beber.

- Sim, mãe! Encontrei-a e dei-lhe água do meu jarro. - Respondeu a mal-educada, soltando-lhe, de imediato, pela boca duas cobras e dois sapos.

- Meu Deus! - Gritou a mãe, horrorizada. - O que é isso? A culpa é da tua irmã. Ela me paga. E imediatamente foi procurar a filha mais nova. Depois de a espancar, expulsou-a de casa. Sem ter para onde ir, a menina, lavada em lágrimas, foi-se esconder na floresta.

O filho do rei, que voltava da caça, encontrou-a e, vendo como era linda, perguntou-lhe o que fazia ali sozinha e por que estava a chorar.

- Ai de mim, senhor, foi minha mãe que me expulsou de casa.

O filho do rei, vendo sair de sua boca cinco flores e outros tantos diamantes, pediu-lhe que lhe dissesse de onde vinha aquilo.

Ela contou-lhe toda a sua aventura. O filho do rei apaixonou-se por ela e, considerando que tal dom valia mais do que qualquer dote, levou-a para o palácio real. Algum tempo depois casaram e viveram felizes para sempre.

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publicado por picodavigia2 às 12:55





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