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AVANCEMOS

Segunda-feira, 15.07.13

(UM POEMA DE FERNANDO PESSOA)

 

“De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre a começar;

A certeza de que é preciso continuar;

A certeza que seremos interrompidos antes de terminar.

Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo,

Da queda um passo de dança,

Do medo uma escada,

Do sonho uma ponte,

Da procura um encontro.”

 

Fernando Pessoa

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publicado por picodavigia2 às 16:53

O SEMINÁRIO DE ANGRA

Segunda-feira, 15.07.13

No final do segundo em que frequentei o Seminário Menor, em Ponta Delgada, ano não beneficiei das mordomias que me haviam caído como dádivas celestes, no final do primeiro. Os exames do segundo ano terminavam um ciclo e, por isso mesmo, eram de maior responsabilidade. Sendo assim impunha-se que os fizesse em conjunto com os outros alunos. Além disso, conceder-me novamente benesses idênticas às do final do primeiro ano seria muito injusto para os meus colegas. Assim fiz os exames juntamente com eles e aguardei a chegada do Cedros.

 Realizados os exames, com resultados muito bons, despedi-me da magnífica cidade de Ponta Delgada que me acolhera durante dois anos e rumei até Angra, juntamente com os meus colegas das ilhas do grupo central. Trazia uma carta de recomendação para entregar ao Vice-Reitor do Seminário, o Senhor Cónego Jeremias (estranhamente, à altura, no Seminário de Angra não havia Reitor) que me acolheu de maneira muito simpática e me instalou, principescamente, num quarto dos teólogos, onde já vagavam vários, em virtude dos alunos ordenados já terem partido de férias. Aboletei-me no quarto número um, o primeiro à esquerda e o maior de quantos havia na “Avenida da Liberdade”. Esperei que os seminaristas acabassem os exames e partissem para férias, ficando apenas, no Seminário, os alunos das Flores, aguardando a chegada do Carvalho. Assim foi-me permitido, durante uns dias, conhecer e conviver com eles, na companhia de quem, dias depois, viajei para as Flores: o Fernando Gomes, o Caetano Serpa, o Aurélio Nóia e o Nuno Vieira.

Pese embora inicialmente estivesse pouco à vontade e bastante envergonhado, sobretudo na hora das refeições, pois não conhecia ninguém, aos poucos fui desabrochando, até porque muitos dos teólogos começavam a conversar e a meter-se comigo, admirados com a minha presença ali, o Agostinho Quental, o Raimundo, o Benjamim, o Manuel António, o Quaresma, o Fernando Gomes e muitos outros. Ajudava às missas de manhã, na capela de cima, em catadupa, para aliviar os que estudavam para os exames, descansava, comia, dormia e ia a São Rafael visitar meu pai. Foi o Caetano Serpa, natural da Ponta e que já me conhecia antes de eu vir para o Seminário e que também conhecia meu pai, que gentilmente me acompanhou, várias vezes, nas visitas, ao aperceber-se que eu revelara alguma apreensão e receio em realizá-las sozinho.

Depois dos exames terminarem, ficaram apenas os alunos das Flores. Durante esses dias tínhamos o privilégio de tomar as refeições no refeitório dos Superiores e junto com eles. Para além dos quatro professores das Flores, ainda ali estavam alguns das outras ilhas, os quais tive a oportunidade de conhecer, sendo que alguns deles seriam meus professores no ano lectivo seguinte.

Mas o que mais me fascinou, durante os dias que ali permaneci, foi aquele enorme edifício, situado nas antigas instalações do barão do Ramalho, na esquina da Rua do Palácio com a Rua do Rego, paredes meias com o palácio da Marquesa e em frente ao palácio dos Capitães e à Pide. Era um prédio monumental com três áreas transversais ligadas com uma frente altiva onde se destacava ao centro um enorme frontispício e com a parte traseira a ligar-se aos campos de futebol e recreios anexos. Comparado com o antigo colégio dos Jesuítas, de Ponta Delgada, era um edifício menos sombrio, menos assombroso e menos enigmático, desfruindo de uma imponência monumental, de uma grandiosidade graciosa e de uma claridade cativante. Os professores eram muitos e os alunos distribuídos por dez anos e agrupados em três prefeituras: Miúdos, Médios e Teólogos.

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publicado por picodavigia2 às 09:05

O TERÇO DO ESPÍRITO SANTO NA TERRA DO PÃO

Segunda-feira, 15.07.13

A Irmandade União e Caridade da Terra do Pão, ilha do Pico, realizou, no passado fim-de-semana, a sua festa anual, em honra do Divino Espírito Santo. A principal razão porque esta celebração se realiza no início do verão, prende-se, fundamentalmente, com o regresso à localidade de inúmeros emigrantes, dispersos pela América e pelo Canadá, e que estão de visita, à terra que os viu nascer.

A festa, em si, é muito semelhante às festas do Espírito Santo, realizadas por altura do Pentecostes, nas restantes freguesias e localidades do Pico: arraial, cortejo, missa e distribuição de rosquilhas. Além disso, como as festas de Maio, a glorificação do Paráclito incluiu, na semana que precedeu a festa, o “canto do Terço do Espírito Santo” que, no entanto, aqui tem uma especificidade muito própria, diferenciando-se quer na música, quer no texto, do mesmo Terço, cantado no lugar da Prainha, freguesia de São Caetano a que aquela localidade também pertence. 

 O “Terço do Espírito Santo”, cantado na Terra do Pão é, incontestavelmente, uma celebração de caris profundamente religioso e que, a julgar pelo próprio texto, transmitido por tradição oral, remonta, muito provavelmente, aos primórdios do povoamento da ilha e aos tempos em que a mesma era abalroada por crises sísmicas frequentes e por outras calamidades, como se pode depreender de alguns dos textos cantados. O terço é constituído por cinco partes, nas quais se repete uma invocação dez vezes seguidas, sendo que a orientadora canta a primeira parte e o povo a segunda, situação que se alterna nas dez invocações seguintes. É este o texto, cantado cinquenta vezes, repartido por cinco blocos de dez invocações cada, que se diferencia do cantado noutros lugares, dali bem próximos. A primeira invocação é feita no presente do indicativo Adoramos com afectos de alma, o Espírito Santo Divino, enquanto na Prainha, é feita no mesmo tempo verbal, mas no conjuntivo. E as diferenças (aqui referidas entre aspas) continuam: “E” dos Céus “descenceu” sobre nós, “com” incêndios de amor divino. Os grupos de dez blocos são separados apenas com uma invocação, dividida, do mesmo modo que a invocação anterior, pelo condutor da assembleia e fiéis: Glória ao Pai que nos criou, glória ao Filho que nos remiu,/Glória ao Espírito “San“, “com a sua graça” nos “concebiu”(obviamente, em vez de concebeu e para rimar com remiu”. A segunda invocação: Fazei ó Santo Espírito a Deus Pai, Filho amar/A um só Deus em três pessoas, no Céu p’ra sempre adorar, cantada na Prainha, aqui não existe. No fim do terço, segue-se a Salve Rainha, também cantada e que termina com duas invocações, repetidas três vezes, com profunda intensidade, quer da música quer do texto: Senhor Deus de Misericórdia/Virgem Mãe de Deus, rogai por nós. Depois rezam-se alguns Pai-Nossos pelos irmãos falecidos e pelas intenções do mordomo, terminando a novena com o “Oferecimento ao Divino Espírito Santo”, durante o qual se cantam os seguintes versos, também parcialmente diferentes: Ó Senhor Espírito Santo/Nós roguemos com clamor/Mandai oprimir à terra,/Que não haja mais tremores. Sois pai de misericórdia/Livrai-nos de todo o mal/Não castigueis com tremores/Esta ilha de ofendal. Não desprezeis a fé grande/Com que nós recomendamos/Fazei como Pai Divino/Naja que nós o merecemos. Barca onde embarcou Cristo/Na galera tão realFeita em tão bela hora/Para aquele general. À popa leva sentado/Santo António com seu véu/Que rica viagem de anjos/Leva Jesus para o Céu. Senhor que lá estais em cima/Nesses Céus de alegria/Vos peço que nos chamais/Para a Vossa companhia. Andavas tão vigiado/Sem saberes da partida/Morte de uma ocasião/Vida nova nova vida. Chega-te à confissão,/Se te queres confessar/ Morte da ocasião/ É o laço do pecado. Mil vezes cada dia/ Tua alma com deligência/ Toma paz e alegria/Que é da boa consciência. Quando Deus formou a terra/Bons e maus Deus os criou/Quando nos Céus se encerram/Só os bons Deus os guardou. Ó Senhor eu vos ofereço/Esta nossa devoção/Seja honra e glória Vossa/Para nossa devoção.

Curiosamente, no final, na Terra do Pão não é habitual cantar-se o hino “Alva Pomba” por estar reservado, exclusivamente, para o dia da festa, sendo cantado uma outra invocação: Senhor Espírito Santo/ Espírito Divino/ Levai-nos à Glória/ Ensinai-nos o caminho. Senhor Espírito Santo/ Espírito Ardente/ Levai-nos à Glória, Para eternamente. Senhor Espírito Santo/ Real Esplandecido/ Livrai-nos dos pêsames/ De vos ter ofendido. Senhor Espírito Santo/ Nós pedimos e roguemos/ Fazei, com o Pa de Misericórdia/ Naja que nós o merecemos. Senhor Espírito Santo/ Meu Senhor e Meu Bem/ Levai-nos à Glória/ Para sempre. Amem.

Acrescente-se que o Terço é cantado por todos (homens, mulheres, jovens e crianças) com um respeito profundo e uma devoção intensa, consubstanciando um acto religioso comunitário, muito digno, embora presidido por um leigo e a que, aparentemente, a “Igreja Docente” é alheia.

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publicado por picodavigia2 às 00:22





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