PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
PIERLUIGI BRAGAGLIA
Da autoria de Pierluigi Bragaglia, foi recentemente editado e publicado um livro intitulado “Ilha das Flores – Açores Roteiro Histórico e Pedestre”. Trata-se duma obra de grande qualidade, rigor e interesse que retrata de forma clara e inequívoca aspectos históricos, informativos, paisagísticos e naturais interessantíssimos sobre a mais ocidental ilha açoriana.
O livro divide-se em quatro partes às quais se segue um anexo com fotos de excelente qualidade sobre os lugares e paisagens mais emblemáticos da ilha. Na primeira parte, o autor faz uma resenha histórica das Flores, desde os primórdios do seu povoamento até aos nossos dias, desenvolvendo, com recurso a outros historiadores e obras sobre a ilha, vários temas importantes com destaque para o povoamento, a pirataria, a baleação e a emigração. Nas partes seguintes Pierluigi Bragaglia faz uma espécie de viagem, em três etapas, ao redor da ilha: uma de Santa Cruz às Lajes, dando a conhecer as duas vilas e toda a costa sudoeste, abrangendo as freguesias da Caveira, Lomba e Fazenda (II Parte); outra descrevendo o sudoeste, as lagoas e o estremo ocidental europeu, onde surgem as freguesias do Lajedo, Mosteiro, Fajãzinha e Fajã Grande e ainda as localidades da Costa, Caldeira, Cuada e Ponta (III Parte); finalmente o autor viaja pelo norte na descoberta de Ponta Delgada e Cedros, com destaque ainda para a localidade da Ponta Ruiva (IV Parte). Cada uma destas partes, por sua vez, divide-se em capítulos sobre as localidades abrangidas por cada zona, sendo que e relativamente a cada uma, o autor, para além de identificar, informar e pormenorizar todos os trilhos existentes, faz um resumo histórico de cada vila freguesia ou localidade, terminando cada capítulo com um conjunto de informações actualizadas sobre cada uma das freguesias da ilha.
No que concerne à Fajã Grande, Pierluigi Bragaglia apresenta dados históricos de grande interesse e rigor sobre a mesma, menciona os seus filhos mais ilustres, descreve os naufrágios que por ali proliferavam outrora, a importância da freguesia na origem da baleação açoriana e a emigração clandestina no sec XIX, referindo ainda dados históricos respeitantes aos lugares da Ponta e da Cuada. Relativamente aos trilhos fajãgrandenses enumera e descreve os seguintes: “Vigia da Baleia (subida ao Pico da Vigia)”, “Assomada – Cuada - Paus Brancos - Escada Mar – Fontinha”, “Rocha da Fajã e Lagoas Negra – Comprida, Seca, da Água Branca” e “Poço do Bacalhau”. Finalmente realça o antigo itinerário entre a Fajã e Ponta Delgada, considerando que este antigo caminho pedestre constitui ainda hoje a única via de comunicação terrestre entre estas duas freguesias.
Por tudo isto o livro não é apenas “mais um livro” sobre as Flores mas sim uma espécie de enciclopédia de consulta sobre o passado e o presente da ilha, com destaque obviamente para os seus itinerários ou roteiros, o qual pode ser consultado a cada momento, sobretudo para quem visita a ilha ou dela se afastou há muitos anos. Na realidade este Roteiro Histórico e Pedestre das Flores assume-se, como afirma o próprio autor “como um manual de instruções ambivalente, uma ferramenta para quem esteja interessado, por um lado, em pesquisar as diversas temáticas históricas que a ilha inspira, por vezes aqui reinterpretada com outro olhar.”
O livro está à venda e pode ser adquirido pela Internet, através do seguinte contacto: infoarrobaargonauta-flores.com ou pelo telefone 292552219.
Pierluigi Bragaglia é natural de Medicina, Bolonha, Itália e reside desde há quase duas décadas na Fajã Grande das Flores, terra a que dedica uma atenção inexaurível e um carinho desmesurado. Possui um currículo académico e literário notável. Em 1992, licenciou-seem Ciências Políticaspela Universidade de Bolonha, com uma tese de História Moderna sobre os Açores e a Madeira, orientada pelo Dr. Joel Serrão. Depois de ter estudado Português na Faculdade de Letras, licenciou-se em História na Universidade Nova de Lisboa, em 1995. Entre 1995 e 1996 passou a ser Sócio-Gerente da editora Jornal de Cultura de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, participando na abertura da filial daquela empresa no Funchal, Ilha da Madeira.
Na Fajã Grande das Flores, desde 1991 é proprietário e gerente do Argonauta, situada na esquina da Rua Direita com as Courelas, naquela que foi a casa da Sra Alvina. Para além de alojamento de qualidade, Pierluigi ainda disponibiliza aos visitantes da ilha serviços de transporte e prestações de guia turístico e cozinha para os hóspedes. Paralelamente continua a trabalhar na pesquisa histórica e a escrever de modo independente, colaborando por vezes com as autarquias locais, tendo escrito, para além de outros livros, uma importante obra sobre os lacticínios, na Ilha Flores.
NB – Este texto foi publicado no blogue “Pico da Vigia”, em 31/01/10
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NOITINHA
(UM POEMA DE ALFRED LEWIS)
O sol cerrou a porta!
De pouco a pouco o silêncio cobre
Aldeia e campos. Deus, como sempre
Acende os astros, grandes e pequenos,
E padeja carvão para acender a lua.
Com seu bordão de cedro Ti Corvelo sai
Com passos certos sobre as pedras lisas,
Que o vão levar ao templo
Para tocar o sino e chamar o povo
Em oração nocturna
Ao pastor santo que nos vê e guia.
Um vapor branco
Com bandeiras de mastro a mastro
Desliza-se no mar, perto da praia,
De rumo contra as nuvens espalhadas
Em baixo, lá, sobre a linha do pego.
Sobre uma parede
Balanceando as pernas, um rapaz toca
Uma gaita americana.
Um grilo, curioso, começa e pára
A toada do costume
Com que saúda a chegada da noite.
E o cheiro da comida!...
Bonito assado ou bolos no forno
E um caldo de agrião,
Soletram ceia para a gente
Nos sentarmos à mesa da cozinha.
Mais tarde, sob uma colcha tecida na terra
E um lençol crespo de linho
Iremos escutar passos lá fora
Da gente de outro mundo
Perdido, a chorar, na solidão das horas,
Até que o sono bata à porta e entre.
Los Banos, Cal. 8-III-73
Alfred Lewis, (natural da Fajazinha, ilha das Flores, viveu e faleceu nos USA)
Aguarelas Florentinas e outras poesias,
Angra do Heroísmo, Serviços de Emigração, 1986.