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DESESPERADAMENTE À PROCURA DA LAVRADA

Domingo, 28.07.13

O Manuel Branco morava numa casa bastante isolada, lá para os fundos da Tronqueira, quase no cimo da ladeira do Calhau Miúdo. Era um homem pobre, honrado e trabalhador mas muito ingénuo e simplista. Esta última qualidade permitia que a garotada da freguesia, com mais frequência do que a tolerada pela paciência humana, lhe pregasse algumas partiditas, umas inocentes e jocosas outras malévolas e arreliadoras. O Manuel, porém, paciente e com uma muito limitada capacidade de revolta e indignação, lá ia vendo, ouvindo, calando e suportando tudo.

Certa noite de que se haviam de lembrar os ganapelhos? O Manuel, mesmo ali em frente da casa onde morava, tinha o “ai Jesus” da sua árdua labuta quotidiana: um cerrado de milho do melhor que havia, bem crescido e verdinho, já espigadote, à espera do estio para que amadurecesse, fosse apanhado, “encambulhado” e pendurado no estaleiro, a fim de lhe garantir o sustento da família ao longo de todo ano. Ao lado da casa e ao fundo do pátio ficava o pequeno palheiro onde guardava a Lavrada, a única vaca que possuía, na qual havia pendurado ao pescoço uma campainha de som inconfundível aos ouvidos do dono, como era uso e costume na Fajã.

Alta noite, enquanto o Manuel e todos lá em casa dormiam regaladamente, vão os “monços” ao palheiro, tiram a campainha do pescoço da Lavrada e escondem-se entre o milho, fazendo propositadamente algum barulho e simulando um badalar da campainha, a imitar, na perfeição, as lentas passadas do animal.

Foi a mulher quem primeiro acordou assarapantada: 

- “Credo! Sante Nome de Jasus! Virge Santísema! Home, acorda! Nan oives? A nossa Lavrada assoltou-se e está a dar cabo do nosse milhinhe tode”!

O Manuel deu um pulo e, mesmo em “ciroillhas”, com a Jesuína atrás, em “naitigão”, a insuflar-lhe coragem, assomou à porta e, ouvindo a campainha da vaca, cuidou que de facto ela se soltara do palheiro e andava por entre o milho. Muito aflito e atrapalhado, atravessou o pátio que separava a casa da terra, saltou o muro e começou a chamar pelo animal, na tentativa de o apanhar:

- “Lavrada! Lavrada!  Ou vaca, ou”!

Contendo as gargalhadas, continuaram os atrevidotes a simular, com o toque da campainha, que era o animal que por ali andava, fazendo estalar de vez em quando e propositadamente um ou outro pé de milho. O Manuel entrou desesperadamente na terra, correndo como um louco à procura da vaca, chamando por ela e incentivando-a a parar. Mas quanto mais corria e chamava, mais o som da campainha se afastava e fugia.

- “Ora essa”! – Resmungava a mulher – “Uma vaca assim tan mansa! Parece que tem o diabe no corpe”!

Procuraram toda à noite mas a vaca nunca apareceu. Só de madrugada quando regressavam a casa, quer porque já não ouvissem o som da campainha quer porque começassem a desconfiar de que ali havia marosca, foram ao palheiro. Encontraram a porta bem fechada com a taramela e a Lavrada amarrada e deitada no seu canto, muito calma e tranquila, a ruminar a sua ceia, como se nada tivesse acontecido, mas… sem a campainha ao pescoço. Só então deram conta do embuste.

E a campainha? Bem, essa só apareceu na altura da apanha do milho.

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publicado por picodavigia2 às 10:51

FF

Domingo, 28.07.13

As Farturas são uma especialidade portuguesa, adaptada dos finos churros espanhóis, mas mais grossas e substanciosas. Feitas com uma massa especial, à base de farinha, açúcar e ovos, as farturas, depois de fritas em óleo bem quente, são polvilhadas com açúcar em pó e canela, também, em pó, tornando-se um pitéu muito apreciado e saboroso. A massa, para o seu fabrico, é colocada numa espécie de seringa gigante que as vai despejando circularmente sobre o óleo a ferver, dando-lhe a forma de uma banana ou de um uma linguiça e que depois é cortada em grandes pedaços. Por sua vez, as filoses, tipicamente açorianas, são feitas com uma massa muito semelhante à massa sovada, mas menos doce e, depois de esticadas com a mão, são colocadas a fritar, adquirindo uma forma redonda ou oval. São também muito apreciadas e comidas sobretudo por altura do Carnaval ou de outras festas.

Não há nada como comer uma fartura ou uma filó, ainda quentinha, com o cheiro da massa e, sobretudo, o da canela, misturados com o barulho das tesouras e dos clics dos corta-unhas, de uma pédicure cuidadosa e meiga. São luzes coloridas que suavizam e aliviam a dor e o sofrimento.

No entanto, é necessário ter em conta que o consumo regular de alimentos fritos como as farturas ou as filoses está associado a um risco aumentado de desenvolvimento de doenças diversas. Mas são sobretudo os doentes que sofrem de insuficiência renal que se devem abster quer das farturas quer das filoses, não apenas por serem fritas mas também por conterem grande quantidade de gema de ovo, muito rica em proteínas. Essa a razão por que eu próprio devo, também, abdicar totalmente da saborosa, apetecível e muito apreciada FF.

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publicado por picodavigia2 às 10:47





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