PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
O "ANTÃO"
Em terra pequena, como era a Fajã Grande nos anos 50 os seus habitantes encontram-se e reencontravam-se necessariamente todos os dias, ou até mesmo muitas vezes ao dia. É que para além da pequenez da freguesia, todas as terras, relvas, hortas e outras pequenas propriedades eram muito próximas umas das outras, ficavam mesmo juntinhas. Além disso os caminhos eram os mesmos para todos, os locais de descanso comuns e as tarefas de cada um e de todos eram semelhantes. Tudo isso provocava encontros muito frequentes e contínuos, por vezes excessivos e excedentes os quais por vezes se tornavam de tal maneira fastidiosos, importunos e enfadonhos que as pessoas geralmente já nem sabiam como se saudar ou o que dizer umas às outras, não tendo palavras ou expressões diversificadas para se cortejarem. Para além do “Bom dia”, “Boa tarde”, “Toca abaixo”, “Toca arriba”, “Toca a trabalhar” ou “Isso é que é trabalhar”, pouco mais existia ou era usado com tal finalidade. As mulheres saudavam-se elogiando-se reciprocamente: “Isso é que é uma mulher escoimada!”, ao que a outra respondia: “Mulher escoimada eu bem a vejo!”
Mas a palavra mais utilizada como saudação do outro ou outra e geralmente reveladora de grande desinteresse ou indiferença por uma conversa e sintomático de um não saber o que dizer era o “Então?”, palavra morfologicamente classificada com advérbio ou interjeição e que era transformada pelos fajagrandenses em pronome interrogativo, sendo, além disso, deturpada na sua pronunciação, passando a pronunciar-se “Antão”. O mais curioso é que se o outro locutor não quisesse ou não estivesse interessado em conversa, respondia com a seguinte quadra:
“Antão mora nas Furnas,
Então à beira do caminho.
Antão tinha uma venda,
Então tinha bom vinho.”