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A LENDA DA MADRESSILVA

Segunda-feira, 16.09.13

Conta a lenda que, nos primórdios do povoamento do Pico, na parte sul da ilha, havia, num povoado que ainda nem freguesia era, vivia uma linda jovem, muito bela e atraente, chamada Mara e de apelido Silva. Mara tinha como diversão predilecta envolver-se em paixões com os seus jovens admiradores, com a única e denodada intenção de se divertir, fazendo-os sofrer.

Ora entre os jovens que Mara tentou seduzir, um houve que, sendo muito rico, lhe ofereceu o mais belo colar que jamais se vira na ilha e que se dizia, havia sido trazido das longínquas paragens do Oriente, por uma das caravelas que de regresso ao reino de Portugal, acostavam à ilha para se abastecerem de água e víveres. O colar era de ouro maciço e dele se suspendia um enorme medalhão cravejado das mais belas pedras preciosas. Mas o rapaz, apesar de rico e generoso, era muito feio e desajeitado de feitio e maneiras, pelo que Mara, depois de lhe tomar o presente e de se adornar com o belo e valioso colar, riu-se dele, escarneceu-o e apoucou-o, humilhando-o e atirando-lhe à cara a sua fealdade e falta de jeito. O rapaz, triste e desesperado com tal ingratidão por parte da sua amada, acabou com a própria vida, atirando-se ao mar, morrendo afogado nas profundezas do oceano. Depois dele muitos outros jovens acabaram por suicidar-se perante os seus amores frustrados e o acentuado gozo da rapariga.

Ao fim de algum tempo, o deus dos oceanos, revoltado com tamanha barbaridade, decidiu por termo a tão grande crueldade, castigando, severamente, a maldade da louca e incauta jovem. O castigo escolhido foi o de fazer com que Mara se apaixonasse perdidamente por um outro jovem, mais belo do que todos os anteriores, mais rico do que os mais ricos, mas que não gostava dela. Assim, Mara desesperava, entristecia-se e desgastava-se, dia após dia, com a indiferença daquele por quem, agora, se apaixonara de verdade. Mais ainda sofreu, chorou e se desgastou quando percebeu e viu que afinal o seu amado estava apaixonado por uma outra donzela e que esta também o amava.

Perturbada, furiosa, quase doida de raiva, Mara subiu a enorme e imponente montanha que existia na ilha e foi procurar o deus que morava lá nas alturas. Ao chegar junto ao trono do altíssimo, prostrou-se e implorou:

- Curai-me, meu deus, porque sofro horrorosamente. Amo um homem e ele não só me despreza como até ama outra mulher.

- É justo esse castigo - respondeu o altíssimo – porque, durante toda a tua vida, tens feito o mesmo aos teus apaixonados. Agora, vai-te daqui. Nada conseguirás, por mais que me implores.

A jovem afastou-se triste e sorumbática. Mas na descida da montanha, passou junto a uma gruta e viu, no seu interior, uma velha que ali vivia só, triste e abandonada, alimentando-se de frutos e raízes silvestres. Ao aproximar-se da gruta, Mara, impressionado com a miséria em que a velha vivia, retirando do pescoço o valioso colar que o seu apaixonado lhe oferecera, entregou-o à velha, a fim de que o vendesse e com o dinheiro passasse a ter uma vida mais digna e confortável. Comovida com a bondade da jovem, a velha disse-lhe:

- Formosa donzela, vou compensar-te deste teu gesto generoso, desta tua caridosa atitude. Sei que és muito desgraçada e infeliz. Vou ajudar-te a vingares o homem que tu amas e que te despreza. Toma este ramo e quando chegares junto do povoado, planta-o no local mais belo que encontrares.

Mara partiu e fez como a velha lhe dissera, plantando o ramo à porta da sua casa, de onde se avistava o mar infinito e azul e a montanha altiva e destemida.

Algum tempo depois, passou por ali seu amado. Mara correu para ele e, quando se aproximou para o abraçar, precisamente no local onde plantara o ramo, o jovem como que desapareceu, transformando-se, de imediato, numa bela e frondosa árvore. Mara compreendeu a promessa da velha: o seu amado, embora nunca a amasse, jamais amaria ou seria amado por outra mulher. Por isso, triste e desconsolada, deitou-se à sombra daquela bela árvore que, de dia para dia, crescia junto à sua casa. Não comia, não bebia, não falava com ninguém, acabando por morrer ao fim de alguns dias. No momento da sua morte, passou por ali a velha da gruta, parou junto da árvore, durante algum tempo, até que se afastou, de imediato, como se fosse um fumo que se evaporasse, ao mesmo tempo que o cadáver da jovem também ia desaparecendo, lentamente, transformando-se numa planta ornada de delicadas folhas e belas flores. Os seus braços enrolaram-se na árvore e a ela ficou agarrada para sempre, como se fosse uma trepadeira, crescendo e produzindo as mais belas, as mais coloridas e as mais perfumadas flores de quantas existiam na ilha.

E foi assim que nasceu a primeira marassilva na ilha do Pico cujo nome, com o rolar dos tempos, evoluiria para maressilva e, mais tarde, para madressilva.

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publicado por picodavigia2 às 17:12

A LENDA DA CRUZ DA CALDEIRA

Segunda-feira, 16.09.13

Muitas eram as “estórias” misteriosas, enigmáticas e assustadoras, supostamente verídicas e acontecidas aqui ou além, em tempos idos, por toda a ilha das Flores que se contavam aos serões em que as pessoas se juntavam nas casas umas das outras para conversar e jogar às cartas mas também e sobretudo para se ajudarem reciprocamente nas tarefas agrícolas e domésticas, como era o caso do “encambulhar” e descascar o milho, ou cardar e fiar a lã. Uma das mais repetidas e frequente era da “Cruz da Caldeira”

Rezava mais ou menos assim a dita cuja: Certa noite na Caldeira um grupo de pessoas, uns da Caldeira outros Fajazinha, faziam serão numa casa da Caldeira, descascando milho. Conversa daqui, conversa dacolá e o assunto à balha foi o do medo de andar pelos caminhos à meia-noite e sobretudo o de assobiar a essa hora, coisa que ninguém era capaz de fazer. Era crença comum entre o povo de que a meia-noite era a hora do diabo e quem assobiasse àquela hora corria sérios riscos de ser levado pelo “Cão Preto” para as profundezas do abismo.

Foi então que um homem, com ar de valentão e muito “anamudo” apostou com os outros que, à meia-noite em ponto, ia à Quebrada da Muda, junto à Ribeira de António Luís, dar três assobiadelas, precisamente quando batesse a meia-noite. Os outros que ele não ia, ele que ia. Aposta combinada e lá foi. Ficaram todos calados, cheios de medo e à espera dos assobios. À meia-noite em ponto ouviram o primeiro muito forte. Logo a seguir, ouviram o segundo muito fraco e já nem ouviram o terceiro. Ficaram todos apavorados. Alguns ainda pensaram em ir à ribeira mas não tiveram coragem. Ninguém dormiu naquela casa, durante o resto da noite, à espera do homem que nunca regressou. De madrugada foram à ribeira procurá-lo mas viram apenas restos de sangue, percebendo então que teria sido arrastado pelo Diabo para um enorme buraco que havia na ribeira. Procuraram-no por todo o lado, mas o homem nunca mais apareceu. Esse terá sido o motivo pelo qual foi construída uma cruz, a Cruz da Caldeira, que ainda hoje existe, precisamente no sítio onde foi encontrado o primeiro sangue, e que se situa no antigo caminho entre a Caldeira e a Fajãzinha, antes da descida da Rocha dos Bredos, sobre o vale da Fajãzinha.

 

Um outro conto do mesmo livro e que desperta a atenção é o último com o título de “Nota Única”, onde narra a “estória da Asiladinha da Assomada” e que dedica ao seu “amigo e irmão (no sacerdócio) Francisco Vieira Bizarra”, nessa altura pároco na Fajã Grande. Atendendo que Nunes da Rosa dedica cada um dos seus contos a uma personagem, como ao Visconde Borges da Silva, a Marcelino de Lima, a Cónego Amaral, etc, apenas ao Padre Bizarra o faz nestes termos, o que significa que terão convivido bastante e que Nunes da Rosa terá visitado a Fajã Grande com muita frequência.

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publicado por picodavigia2 às 17:10





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