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O REGRESSO DE MARIANA II

Terça-feira, 24.09.13

Era uma vez uma casa pobre, humilde, modesta e muito antiga. As paredes eram de um castanho amarelado, de tal maneira despidas de cal que deixavam ver os pedacinhos de xisto com que haviam sido construídas e que, semelhantes a tabuinhas, se sobrepunham e entrelaçavam uns nos outros, em camadas simétricas e rendilhadas que iam do chão ao telhado e se prolongavam ao longo dos muros e paredes circundantes. Tinha um aspecto muito tosco e rústico, com portadas de madeira carcomida pelo tempo, sem grandes vidraças e com dois andares. No rés-do-chão ficavam as lojas de arrumos, uma adega muito pequenina, a cozinha e a retrete. O primeiro piso, a que se tinha acesso apenas por uns degraus exteriores também de xisto e ladeados por um corrimão de ferro enferrujado, era constituído por uma sala e dois quartos.

Nessa casa morava Mariana, com os pais e um irmão mais novo, o Zezito.

A casa ficava perto de um rio que se chamava Sousa. Era um rio de águas límpidas, cristalinas e azuladas, repletas de uma imensidade de barbos, carpas, bogas e outros pequenos peixes que se movimentavam em loucas correrias, em constantes rodopios e em simulados ziguezagues. O rio deslizava calma e suavemente, atravessando uma planície onde, de um lado e outro das suas margens, povoadas de moinhos, se acomodavam terrenos divididos por beiradas de amieiros, choupos e videiras, mas muito férteis e produtivos. No Inverno, enquanto aguardavam as sementeiras, tinham um aspecto avermelhado e escurecido, mas na Primavera revestiam-se com o verde dos milheirais, dos legumes e das vides e no Verão começavam a amarelecer até alourarem por completo no Outono.

Num desses campos, um pouco mais distante do rio, ficava a casa da Mariana. Era nele que os pais trabalhavam de sol a sol porque era dele que tiravam tudo o que era necessário para o seu sustento – milho, legumes, batatas e vinho. Em Fevereiro e Março, quando os dias começavam a tornar-se maiores e mais quentes, os pais, jungindo o Lavrado à charrua, abriam e resvalavam a terra ainda húmida das chuvas invernais e deixavam ficar as leivas e os torrões a secarem e como que a aquecerem-se ao Sol, durante alguns dias. Depois desfaziam-nos e transformavam-nos em terra fina que alisavam umas vezes com enxadas outras com uma grade puxada pelo Lavrado, transformando o campo num enorme e fofo tapete acastanhado. De seguida o pai voltava a atrelar o boi ao arado e traçava regos paralelos e simétricos de uma extremidade à outra do campo. A mãe ia atrás e, retirando punhados de milho de uma cesta que levava enfiada no braço, atirava os grãos com tanta agilidade e perícia que eles caiam direitinhos no rego, muito bem alinhados uns à frente dos outros, como se fossem soldadinhos numa parada militar. Cada rego fechava-se com o abrir do seguinte, tapando assim os grãozinhos que ali ficavam a germinar durante alguns dias. Por fim a terra era de novo gradeada e alisada para que os grãos ficassem todos muito bem escondidinhos e assim germinassem mais facilmente, com a ajuda do Sol e da chuva dos dias seguintes. Não tardava muito e era um regalo ver o milho a crescer, a crescer, muito verdinho e espevitado. Nas extremidades do campo e nos lugares mais abrigados pelos bardos das beiradas ficavam pequenos canteiros de batatas, feijão, ervilhas e melões, misturados com as couves, as alfaces e o cebolo. Em Abril e Maio, quando o milho ainda estava miudinho, os pais sachavam e mondavam o campo de lés a lés, retirando as ervas daninhas e os pés de milho mais bastos para que os outros crescessem à vontade. Nos dias seguintes o campo transformava-se num enorme tapete de folhas verdes, caneladas e pontiagudas, ladeadas pelos canteiros onde floresciam couves repolhudas e as ervilhas e os feijoeiros começavam a trepar pelas estacas de cana que eram espetadas aqui e além. Os milheiros cresciam de dia para dia, as suas folhas entrelaçavam-se umas nas outras e balouçavam como ondas ao sabor das brisas matinais e os caules, canelados e esguios, tornavam-se altíssimos, enfeitando-se lá no alto com umas flores estranhas que cobriam o campo com um manto esbranquiçado e fofo. Algum tempo depois nos caules enrijecidos começavam a formar-se espiguinhas cabeludas que iam crescendo e alourando ao Sol do estio. Em Setembro as espigas amadureciam por completo e procedia-se à apanha. A mãe arrepelava dos caules já muito amarelados e envelhecidos as espigas maduras e recolhia-as em enormes cestos, enquanto o pai os ia acarretando para a loja de arrumos, ao mesmo tempo que cortava as folhas e as guardava para alimento do Lavrado. Algum tempo depois marcava-se o dia da desfolhada. Mariana esperava ansiosamente essa noite de sonho e de magia.

O Zezito ainda era muito novo e Mariana desde pequenina, sempre que a mãe a dispensava de tomar conta do irmão, habituara-se a brincar sozinha. Por isso aguardava com grande ansiedade e expectativa os dias da desfolhada, da vindima, da matança e alguns outros que ela considerava diferentes sobretudo porque tinha sempre alguém com quem brincar. Para ajudar os pais na desfolhada vinham muitos vizinhos e amigos, os tios e os primos, uns parentes já mais afastados. Normalmente o pai escolhia uma noite de Lua Cheia. Os adultos sentavam-se em círculo, na pequena eira, à volta do amontoado de espigas e, enquanto lhes iam arrancando o folhelho, contavam histórias e anedotas ou cantavam ao som de um acordeão De vez em quando a mãe levantava-se e ia buscar uma malga cheia de vinho muito vermelho e perfumado, a borbulhar e a escorrer pelas bordas brancas, que todos iam saboreando à vez. Depois de vazia a mãe voltava a enchê-la outras tantas vezes, quantas eram necessárias para que todos bebessem e alguns voltassem a beber. Simultaneamente Mariana e a prima iam oferecendo, em pequenas cestinhas forradas com panos de linho rendado, pedacinhos de broa e presunto espetados em palitos e figos secos. Depois todos voltavam ao trabalho. De repente e com enorme alarido alguém gritava “Milho-Rei! Milho-Rei!”. A tarefa era suspensa de imediato e fazia-se uma grande festa de regozijo. Mariana e as outras crianças vinham logo sentar-se ao redor do amontoado do milho. É que o feliz contemplado com a espiga de grãos vermelhos teria que abraçar todos os presentes. A isso ela nunca faltava. No fim servia-se a merenda: broa, presunto, salpicão, chouriças, azeitonas e vinho, enquanto um acordeão continuava a emitir sons alegres e harmoniosos. Então os homens, as mulheres e as crianças formavam pares e dançavam pela noite dentro.

A vindima era feita no mês de Outubro. É verdade que não era uma folia tão animada e divertida como a desfolhada. As uvas não eram muitas mas o trabalho era árduo e pesado. O pai passara meses e meses a podar os bacelos e a enxertar e a amarrar as videiras a estacas de pedra granítica e aos amieiros e carvalhos das beiradas que circundavam o campo onde o milho crescia a olhos vistos. Quando as vides já cobriam os bardos de um verde muito escuro e os cachos começavam a desabrochar, suspendendo-se graciosamente das latadas ou pendurando-se desordenadamente nas beiradas, o pai passava horas e horas de máquina a tiracolo a sulfatá-las uma a uma. Depois, já amadurecidas e muito apetitosas, as uvas eram colhidas e levadas em cestos para o lagar, onde eram esmagadas. Durante dias e dias exalava do mosto um cheiro perfumado, acre e doce que se propagava por toda a casa.

O dia que Mariana mais adorava era o da matança. Nesse dia nem ia à escola. A mãe preparava tudo com muita antecedência. A enorme salgadeira, os alguidares, os caldeirões e as panelas, tudo era muito bem limpo e lavado. Na véspera Mariana ajudava a descascar uma enorme quantidade de alhos, a arranjar os temperos e a preparar as toalhas branquinhas enquanto o pai aprontava o colmo para a chamusca.

Nesse dia, a casa não se enchia de gente como na desfolhada, mas a azáfama era muito diferente e mais divertida do que a da vindima. Não era costume vir nem os vizinhos nem os amigos, porque todos tinham que preparar as suas matanças nesses dias. Apenas vinham os tios e os primos e, por vezes, os avós das Caldas com a madrinha Clotilde. De manhã cedo, quando o dia ainda não clareara de todo, chegava o Senhor Joaquim, o matador que o pai contratava todos os anos e que trazia umas facas enormes. Juntamente com o pai e o tio agarravam o cevado, amarravam-lhe as pernas e punham-no em cima duma pequena mesa que se guardava de ano para ano. Mariana de longe, apreensiva e cheia de medo, tapava os ouvidos com ambas as mãos para não ouvir os gritos de aflição que o porco emitia ao ser apanhado. A mãe, de avental novo ao peito, aproximava um alguidar do pescoço do porco e enchia-o com o sangue que se esvaía a jorros do buraco que lhe havia feito a faca certeira do senhor Joaquim. De seguida dividia o sangue em duas partes: uma para coagular e fazer o sarrabulho para a ceia, enquanto juntava à outra metade umas gotas de vinagre e deitava-a num alguidar, para mais tarde a misturar aos bocadinhos da carne da barriga com que se haviam de encher as chouriças. Com a palha do colmo retirada do centeio e transformada em espécies de vassouras, a que ateavam fogo, os homens chamuscavam o porco de uma ponta à outra. De seguida com baldes de água e sabão azul o suíno era lavado e esfregado com pedras e ramos de carqueja até ficar totalmente branquinho e limpo que era um regalo. Depois pegavam-lhe e levavam-no em ombros para a loja de arrumos, onde era amarrado de pernas para o ar, aos tirantes que seguravam o soalho do piso superior. A mãe limpava-o todo com um pano de linho, preparado exclusivamente para este fim e que depois de lavado era novamente guardado para o ano seguinte. O matador, com um enorme facalhão, abria-o de cima para baixo e retirava-lhe o fígado, os bofes, o coração, as tripas e a bexiga. As tripas eram embrulhadas em panos, de maneira a não secarem, a fim de que mais tarde fossem muito bem lavadas no rio. O porco ficava aberto e com umas canas a esticar-lhe a barriga, a fim de que a carne arejasse. Por cima das patas o pai colocava-lhe o redanho como que a simular um manto. E assim ficava até ao dia seguinte, escorrendo em fio um líquido avermelhado e sujo, recolhido numa bacia que lhe era colocada debaixo da cabeça. A mãe já havia preparado e guisado os miúdos com pedacinhos de batata e, com o fígado, fizera umas deliciosas iscas de cebolada. É que o dia começara cedo e a fome apertava. De tarde Mariana acompanhava as tias que iam ao rio lavar as tripas muito bem lavadinhas enquanto a mãe ficava em casa a preparar o unto para fazer o pingue. À noite, todos voltavam a sentar-se à mesa onde as papas de sarrabulho ferviam no velho caldeirão de ferro e exalavam um cheirinho a noz moscada e a cominhos que enchia a casa e, juntamente com o fumo, saía pelos telhados e se propagava pela vizinhança. No dia seguinte voltava o senhor Joaquim com as suas facas para desmanchar o porco. Tirava o redanho para que a mãe o derretesse. Depois extraía a carne da barriga destinada aos rojões, da qual separava as aparas para as chouriças. De seguida, cortava-lhe a cabeça, preparava as orelheiras e dividia o corpo em duas partes, das quais tirava os coelhos. Era com estes que a mãe fazia os melhores salpicões. Depois cortava as pás, tirava as costelas e as tiras da barriga que seriam guardadas na enorme salgadeira. Finalmente cortava os presuntos, que eram colocados juntamente com os salpicões num molho feito de alho, sal, vinho e louro e onde permaneciam durante alguns dias, antes de irem para o fumeiro. De modo semelhante eram temperados os ingredientes com que mais tarde seriam feitas as chouriças. Seguiam-se dias e dias de fumeiro, com a queima de rama verde, para o tornar mais lento e demorado. Depois os presuntos eram passados por vinha d’alhos e postos em sal. Mariana ajudava a mãe em todas estas tarefas e com ela partilhava uma enorme tristeza quando algum presunto, ou porque o tempo estivesse mais quente ou porque não tivesse curado bem, se estragava.

Para além destes dias verdadeiramente diferentes para Mariana, os restantes eram de uma verdadeira monotonia. Levantava-se cedo e seguia para a escola, onde fazia ditados, resolvia problemas, estudava os rios e as serras, os reis e as batalhas, os vertebrados e invertebrados. Na hora de leitura a senhora professora juntava todas as meninas à volta da secretária, por trás da qual ficavam, ladeando um crucifixo pendurado na parede, as fotografias de Craveiro Lopes e Salazar, para lerem à vez e contarem histórias. Terminadas as aulas regressava a casa, ajudava os pais, tomava conta do Zezito e fazia as cópias e as contas que a Dona Ermelinda mandava. Apenas os domingos e os dias de festa em que os pais não trabalhavam no campo eram diferentes.

A festa que Mariana mais adorava era o Natal. Todos os anos faziam, na sala, um enorme presépio com as figurinhas de barro que a mãe trouxera das Caldas: o Menino Jesus, Maria, José, os três Reis Magos, os anjos, os pastorinhos e muitos aldeões que circulavam à volta da gruta, por caminhos cobertos com serrim de madeira e ladeados por casinhas também de barro e por leivas de musgo a imitar os campos onde pastavam as ovelhitas. Mas o que Mariana mais ansiava era a noite de Natal. Nessa noite a ceia era na sala e a mãe enchia a mesa de iguarias deliciosas que aprendera a fazer com a avó da Trofa: rabanadas, formigos, aletria e sopas secas que enchiam a casa de um agradável cheirinho a canela. Terminada a ceia partiam, às vezes com o Zezito já a dormir, para a missa do galo. O pai ficava cá fora com os homens, enquanto ela e a mãe entravam na igreja cheia de vultos negros misturados com um bichanar de orações e um cheiro a velas a arder. Sentavam-se e esperavam em silêncio ou rezavam baixinho, até que o sacristão, envergando uma opa vermelha, vinha tocar uma enorme campainha. Os homens que aguardavam lá fora entravam para o coro e para os lugares do fundo, enchendo a igreja por completo. Toda a gente se levantava e fazia-se um enorme silêncio. O pároco saia da sacristia todo vestido de branco e, segurando na mão o cálice devidamente coberto com um véu esbranquiçado, dirigia-se para o altar-mor. Tirava o barrete negro de três bicos, fazia uma enorme genuflexão e bichanava as primeiras orações em latim, às quais apenas o sacristão respondia. O povo, de joelhos batia com a mão direita no peito e inclinava a cabeça. Pouco depois, o padre aproximava-se do centro do altar, voltava-se para o sacrário e erguendo os braços, entoava em voz muito alta:

- “Glo-ó-ó-ó-óó-ria in excelsis-sis De-e-e-o”.

O sacristão de imediato badalava prolongadamente a campainha enquanto os sinos repicavam e a igreja se enchia de luz, de cor e de alegria. A missa continuava, entre preces, louvores e orações. O povo levantava-se, sentava-se, ajoelhava e tornava a sentar-se, consoante as indicações da campainha.

No fim, enquanto se entoavam cânticos de Natal, o pároco dirigia-se para o presépio que ficava do lado direito da capela-mor. Recebendo o turíbulo fumegante, balouçava-o diante das enormes figuras de Maria, José e do Menino, enchendo o templo de fumo e de cheiro a incenso. De seguida tomava o Menino nas mãos e colocando-se junto à grade que separava a capela-mor do cruzeiro, dava-o a beijar aos fiéis. Mariana, juntamente com as outras crianças, incorporava-se nos primeiros lugares da longa fila que se formava à espera de vez para beijar o Menino Jesus e para depositar, na cestinha que o sacristão mantinha na mão, os vinte centavos que a mãe lhe dera na véspera.

Durante o ano havia várias festas na aldeia e na vila. A maior era a festa em Honra do Divino Salvador. È que para além das celebrações religiosas havia muitas outras actividades que Mariana adorava. Na feira eram inúmeros os carrosséis alguns destinados apenas às crianças, os artesão expondo uma grande variedade de produtos artesanais ao longo das ruas  e as barracas de farturas e de comes e bebes que proliferavam por toda a parte. A vila engalanava-se toda com bandeiras, luzes, arcos e balões. No domingo eram as celebrações litúrgicas que tinham lugar de realce. De manha missa cantada com sermão, com a Matriz a abarrotar de gente e de calor. À tarde era a procissão. Mariana adorava-a. A avó Leocádia, prevendo alguns problemas a quando do seu nascimento, prometera que, logo que a menina andasse pelos seus pezinhos, havia de ir todos os anos, na procissão, vestida de anjinho. A mãe esmerava-se na preparação das roupitas. Faltasse tudo lá em casa, mas promessa era promessa e, por isso, a roupa que a menina vestiria para a procissão do Divino Salvador nunca havia de faltar.

Aos domingos eram dias diferentes, apenas da parte da manhã. As tardes eram ainda de mais labuta. Os pais reservavam para essas tardes os trabalhos mais leves mas considerados necessários. O pai dava feno e erva ao Lavrado, ordenhava a cabra e apanhava os legumes enquanto a mãe tratava do porco e dava uma barrela à casa.

Este trabalho contínuo, persistente e sem futuro começava, por vezes, a indignar o pai da Mariana. Aquilo era uma vida miserável. Trabalhava-se, trabalhava-se para ter apenas o sustento de cada dia. Por várias vezes ensaiara algumas tentativas de arranjar emprego nalgumas fábricas de móveis, que começavam a surgir por ali. Mas não tivera sorte, nunca fora admitido por falta de qualificação. É verdade que já lhe tinham oferecido emprego em Valongo e até no Porto, mas recusara-os. Os transportes eram muito caros e demorados, obrigando-o a sair alta madrugada e regressar a casa pela noite dentro. Assim ficava totalmente impossibilitado de continuar a trabalhar o campo e a Teresa sozinha e com as crianças muito pequeninas não podia atender a tudo. Além disso os ordenados propostos eram muito baixos, quase nem chegavam para os transportes.

Mas a ideia de abandonar a agricultura e mudar de vida nunca saiu por completo do pensamento do pai da Mariana. Muitas vezes, à noite juntamente com a mulher, quando as crianças já dormiam, lamentava aquela vida árdua e cansativa, sobretudo para ela. Não fora para aquilo que a tirara de casa dos pais, da Tornada, lá nas Caldas da Rainha. E os filhos? Que futuro lhes preparava? Continuarem ali, agarrados à rabiça do arado ou ao cabo da enxada para ter apenas um caldo de couves e um bocado de broa ao fim do dia? Não, não podia ser assim. Tinham que pensar em mudar de vida, em construir um futuro melhor sobretudo para os filhos. Para isso tinham que se aventurar.

A mulher bem o tentava demover lembrando que não estava nada incomodada com aquela vida. Casara com ele por amor e era por amor que tinha deixado os seus pais e tinha saído das Caldas. Além disso estava habituada à vida do campo. Também na Tornada, desde que terminara a quarta classe, sempre se habituara ao trabalho agrícola, ajudando os pais nas lides agrárias e que a mãe lhe estava sempre a dizer que ela não nascera para princesa.

Mas o Libório é que não se conformava e não lhe saía da cabeça a ideia de que um dia havia de mudar de vida. Esse dia não tardou.

Foi na feira de um de Março que o pai de Mariana encontrou um amigalhaço do tempo da tropa que havia emigrado para a França e agora estava em Portugal a passar uns dias. Conversa daqui, conversa dacolá e o sonho de abandonar a vida agrícola tornou-se mais real do que nunca. A vida em Portugal não melhorava, o país não progredia e a agravar a situação o regime de então acabara de iniciar uma guerraem Angola. Dizia-seque também seriam mobilizados os que tinham feito tropa nos últimos anos, mesmo já tendo passado à disponibilidade.

Assim, emigrar para França transformou-se numa decisão irreversível.

A mulher nem queria acreditar e atirava-lhe à cara com inúmeras dificuldades, repetindo constantemente:

- Tu endoideceste por completo, homem de Deus!

Não, não endoidecera. Afinal já estava tudo planeado. É verdade que não tinha quem lhe fizesse carta chamada, mas iria como muitos outros tinham ido – clandestino. A diferença é que ela e os pequenos também iam, apesar dos passadores não quererem levar mulheres, nem muito menos crianças. É que a fuga era muito perigosa.

Foi um tipo de Macedo de Cavaleiros que contactou o pai da Mariana através de um primo de Senande, para acertar tudo. Era preciso que ninguém soubesse ou desconfiasse de nada. E foi lá, em Senande, em casa do primo, que encontrou o homem. Álvaro Ramalho, assim se chamava o contrabandista, no início recusou levar a mulher e as crianças. Aos poucos foi cedendo. Era uma questão de preço. Mas garantiu-lhe que era sério e honrava os compromissos. O que se combinasse ali seria escrupulosamente cumprido. Oitenta contos: trinta por cada um dos adultos e vinte pelas crianças mas estas, sempre que seguissem de carro ou camioneta, seriam levadas ao colo. Claro que tudo o que lhes acontecesse era da responsabilidade dos pais.

O pai de Mariana regressou sem firmar contrato. O preço era altíssimo. Era-lhe de todo impossível arranjar aquele dinheiro. Um segundo encontro e o Ramalho cedeu:

- Vinte mil em notas e quarentaem bens. Aceitamoscasas, terras… Mas temos que ser nós a avaliar os bens – sentenciou o homem, apertando-lhe a mão – e tens emprego garantidoem Clermont-Ferrand. Aochegares lá um tipo chamado Cardoso vai procurar-te, vai arranjar-te trabalho e dizer-te como deves pagar o restante. Não devem levar muita bagagem. Para além de ser comprometedor é impossível transportá-la. Levem apenas o indispensável.

A mãe de Mariana teve muitas dificuldades em aceitar.

- Vais vender a casa e o campo!? E se temos que voltar para trás? O que vai ser de nós e dos pequenos? Nem ao menos posso avisar meus pais? – Perguntava ansiosa.

- De forma nenhuma. Ninguém, absolutamente ninguém pode saber, a não ser o primo de Senande. E não te esqueças que à Mariana e a todas as pessoas deves dizer que vamos às Caldas, a casa dos teus pais.

- E o Lavrado? E a cabra? E as galinhas e o porco?

- O boi já está vendido. A casa e o campo ficam ao cuidado de meu primo. Só depois de receber a notícia de que já estamos seguros e em França ele venderá o que puder e fará a entrega da casa e do campo ao passador.

Foi na véspera dos anos de Mariana que ela, os pais e o irmão partiram Para os vizinhos iam às Caldas, a casa dos avós maternos, passar o aniversário da menina.

Quando chegaram a Bragança um tipo de aspecto esquisito aproximou-se, recebeu-os e ofereceu-se, como taxista, para os levar a Gimonde. Que esperassem um pouco sem dar muito nas vistas. A viagem era curta e só à meia-noite em ponto deviam estar em Talhinhas junto à ponte de Remondes, sobre o rio Sabor. O plano em nada falhou. Ao dar a meia-noite, lá estavam juntando-se a eles outros dois desconhecidos, com quem teriam que efectuar uma longa e perigosa viagem. Finalmente chegou o guia que os acompanhou até à fronteira.

Era Outubro. As noites já eram grandes e frescas. As crianças começaram a sentir fome e frio. O pai prevenira-se com comida em Bragança, mas o Zezito não se calava e, em vão, pedia leite. O choro e a impaciência começavam a importunar. A mãe vezes sem conta arrependia-se de ter partido.

Na manhã seguinte uns a dormir e outros acordados chegaram a Puebla de Sanabria, em Espanha, juntando-se a alguns pequenos grupos que tinham passado a fronteira noutros locais. Alguns dias depois estavam em Dancharie na França, onde o último guia os deixou.

- Agora tomem o comboio e sigam os vossos destinos conforme as instruções que vos deram. Governem-se, como puderem – e virou costas.

O comboio ainda parou em Puyoô e em Agen onde saíram alguns portugueses. Apenas um pequeno grupo seguiu para Clermont-Ferrand.

Na capital de Auvergne o pai de Mariana procurou o Cardoso, que morava na rua deLa Rotundee desde há muito estava radicadoem França. Osconhecimentos que tinha junto dos patrões de algumas fábricas de pneus, metalurgia, produtos farmacêuticos e alimentares proporcionavam-lhe que fosse arranjando alguns empregos para os que o Ramalho lhe recambiava de Portugal. O que tinha disponível de momento era numa fábrica de pneus. Não era nada mau.

O trabalho é pesado, mas vais ganhar bem. És novo e forte. Se com o teu trabalho agradares aos patrões, tens promoção pela certa. Já sabes que para aqui não se vem passar férias.

O alojamento é que estava um pouco complicado. Para já só conseguira um quarto, um pouco distante da fábrica. Era na rua Berlliard. A mulher podia usar a cozinha e o preço era acessível. Em breve lhe arranjaria uma casita. Havia um tipo de Viana que ia tentar melhor sorte em Paris. Quando ele foi embora ficaram de vez com a casa.

 

***

O Peugeot dos Dupont seguia a alta velocidade na A4 em direcção a o Porto O GPS indicava que deviam sairem Paredes Nortee depois virar à esquerda. Mariana sentia uma grande ansiedade. Dentro em breve iria percorrer os caminhos e as vielas dos tempos de infância, recordando assim os lugares onde tinha nascido e fora criada. Em França, sobretudo depois do casamento com Pierre Dupont e da mudança de Clermont-Ferrant para Aurillac, poucas informações recebia de Portugal. Mas duma coisa tinha a certeza – tudo estaria muito diferente. À medida que se aproximava o coração apertava-se-lhe mais. É que a oportunidade de ver e talvez até de entrar na pequena casinha onde tinha nascido podia estar prestes a concretizar-se. Os semáforos à entrada da cidade causavam-lhe alguma confusão, mas configuravam grandes mudanças.

Voltaram à esquerda, tornaram a voltar à direita e seguiram em frente na direcção do sítio onde presumivelmente estaria a velha casita. Mais umas voltas e chegaram ao pequeno largo em frente à velha igreja, cuja fachada exterior semelhante a um castelo medieval, ainda tinha bem presente na memória. Não estaria muito longe, pois lembrava-se que, muitas vezes, à noitinha, da janela do seu quarto via, por cima dos telhados das casas circundantes, a torre da igreja. Vinha então debruçar-se à janela para ouvir o toque das Trindades. A avó havia-lhe ensinado as orações que devia rezar entre as lentas e demoradas badaladas do sino. Mais adiante estendia-se uma área enorme de terreno plano onde se misturavam prédios já construídos e outrosem construção. Algumasescavadoras reviravam a terra e removiam enormes calhaus que eram retirados dali por camiões. Muito isolada, num dos cantos do grande eirado, com paredes e muros parcialmente destruídos, apenas uma casa, em tudo muito semelhante à sua. Era de uma amiga de escola, a Joaninha, lembrava-se bem. Passava por ali todos os dias, parava e chamava por ela. Depois lá iam, de malas a tiracolo, saltando e cantando pelos campos para encurtar caminho, apanhando flores com que faziam um ramo para oferecer à Dona Ermelinda. Grande parte das casas ao redor já tinham sido derrubadas e era nos seus lugares que edificavam aqueles prédios modernos e abriam novas ruas. Mais além as outras aldeias e o rio. È verdade que também as suas águas já não eram tão limpas, transparentes e cristalinas como as de outrora, muitos moinhos e azenhas haviam desaparecido e ao seu redor os campos já não se enchiam de milho e de couves repolhudas, já não havia matança de porcos, desfolhadas e as vindimas já não eram como outrora. Os homens já não se agarravam, de manhã à noite, à rabiça do arado e as mulheres já não sachavam e mondavam sob o calor tórrido do estio. Mas, em contra partida, nascera ali ao lado uma cidade, uma cidade grande e moderna que crescera graças à força, coragem e determinação de um povo.

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publicado por picodavigia2 às 16:29

A GAROUPINHA ENCANTADA

Terça-feira, 24.09.13

Conta-se que há muitos, muitos anos, ainda Angra não era cidade nem vila, mas sim um minúsculo lugarejo, povoado por lavradores e pescadores, os primeiros entregues às árduas tarefas de arroteamento das encostas ou ao cultivo dos campos já arados, os segundos a sulcarem, dia após dia, o mar, na busca do sustento que, por vezes, a terra não lhes dava.

Ora certo dia um grupo de pescadores juntou-se, como muitas vezes o fazia, e partiu para o mar. O engodo era bom, o isco ainda melhor, sendo que, além disso, naqueles tempos recuados, nos mares ao redor da ilha, abundavam muitas e boas espécies de peixes, com destaque para as garoupas. Arrearam o barco, apetrecharam-se com isca e engodo apanhados nos subúrbios da costa, remaram na direcção desejada, encodaram e começaram a pesca. Um excelente montão de peixe, onde predominavam garoupas, começou a acumular-se no fundo do pequeno e frágil batel.

Terminada a safra e satisfeitos com a pescaria, rumaram a terra, cuidando que, assim, teriam alimento para as suas famílias ou para trocar por outros alimentos, durante alguns dias. Vararam o barco no pequeno porto, arrumaram-no numa tosca ramada e amontoaram as garoupas em cima de um rochedo alcantilado de lava basáltica, a fim de formar os quinhões que seriam atribuídos a cada um.

Qual não foi o seu espanto quando verificaram que, entre o amontoado das garoupas, havia uma que, para além de muito pequenina e bastante diferente das outras, na cor e no aspecto, era a única que permanecia com vida.

Ao princípio não deram importância, cuidando que se estava viva é porque tinha sido a última a ser pescada. Mas quando o pescador mais velho e dono do barco lhe tentou pegar, a garoupa deu um salto enorme, escapulindo-lhe das mãos. O velho pescador vendo a enorme quantidade de peixe que ali tinha, cuidou que aquela garoupa de tão pequenina que era nem sequer serviria para assar e, pegando nela, novamente e com desdenho, atirou-a para bem longe dali. Inexplicavelmente, na altura em que o fez começaram a brilhar, lá ao longe, no horizonte uma revoada de relâmpagos, como nunca se vira por ali. Cuidando que era um temporal que se anunciava, os pescadores apressaram-se a regressar a casa, carregando cada um a parte que lhe coubera do peixe que haviam pescado.

Ao chegar a casa, porém, um dos pescadores, o mais novo de todos, apercebendo-se de que afinal os relâmpagos continuavam, mas não havia nenhum sinal de intempérie, decidiu regressar ao porto onde haviam varado o barco. Qual não foi o seu espanto quando viu que a pequenina garoupa abandonada e desprezada, se encontrava ali, aos saltos e com vida, como se tivesse acabado de sair da água. Admirado com aquele estranho fenómeno e condoendo-se do pobre peixinho, agarrou num balde de madeira, encheu-o com água do mar e, colocando dentro dele a garoupinha abandonada, trouxe-a para sua casa. Como a garoupa ainda permanecesse viva no dia seguinte, começou a alimentá-la com pedacinhos de peixe, lapas e búzios que ia apanhar nas rochas, à beira-mar, ao mesmo tempo que trazia baldes de água para ir renovando aquela em que, feita prisioneira, nadava, dia e noite, a garoupa. Assim, com os esmerados cuidados do pescador, aquele pequenino peixe ali viveu durante, dias, meses e anos.

Tão exagerados desvelos provocaram a curiosidade de amigos e vizinhos, que demandavam o casebre do pescador, para ver, apreciar e admirar aquele estranho fenómeno da natureza – a garoupinha.

Certo dia, entre os visitantes curiosos que a casa do pescador se dirigiam para ver e apreciar a garoupinha, apareceu uma velha. O seu aspecto era estranho, mas tinha um sorriso que atraía e cativava. Quando todos os outros visitantes já se tinham ido embora, a velha, no lusco-fusco da noite, de repente, começou a brilhar como se tivesse possuída por uma luz tão brilhante como a do Sol, que se reflectia e projectava dentro da água. Nesse instante, a pequena garoupa desapareceu e, acreditem ou não, no lugar dela, apareceu uma jovem e bela donzela. O pescador ao vê-la, não cabia em si de contente e mais se extravasou de alegria quando a jovem lhe pediu que a deixasse ficar na sua casa, pois não tinha para onde ir. Conta ainda a história que, passado algum tempo, se apaixonaram, casaram e viveram felizes para sempre. Há quem cuide que é por esta razão que ainda hoje existe, na cidade de Angra, uma rua chamada “Rua da Garoupinha”.

 

 

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NUNES DA ROSA E AS “PASTORAES DO MOSTEIRO”

Terça-feira, 24.09.13

Francisco Nunes da Rosa, filho de emigrantes naturais da ilha do Pico, nasceu na Califórnia, em 22 de Março de 1871, estudou no Liceu da Horta e no Seminário de Angra, ordenando-se sacerdote em 1893, altura em que foi nomeado pároco da freguesia do Mosteiro das Flores, cargo que exerceu até 1896, tendo sido, nesse ano, transferido para a paróquia das Bandeiras do Pico. Nunes da Rosa distinguiu-se também como escritor e jornalista, pese embora a sua obra literária nunca tenha obtido o reconhecimento público que talvez lhe fosse devido.

Durante os anos que viveu e paroquiou no Mosteiro, Nunes da Rosa, escreveu um dos seus mais interessantes livros, “Pastoraes do Mosteiro”, um conjunto de contos naturalistas e idílicos, de uma simplicidade e singeleza ímpares e onde revela os traços físicos e humanos da ruralidade não só da freguesia do Mosteiro mas também da ilha das Flores, nos finais do século XIX, bem como costumes, vivências e tradições de um quotidiano laborioso mas alegre, pobre mas pleno de simplicidade, isolado mas repleto de ternura, de amor, de carinho e de troca de afectos.

O livro é constituído por dezoito interessantíssimos contos, destacando-se entre os mesmos um, intitulado “A Cruz da Caldeira”, escrito em 1894, que, pelo seu conteúdo e por se enquadrar entre algumas lendas ou “estórias” que nos eram contadas pelos nossos avoengos, tem, em minha opinião, um interesse desmesurado e uma singularidade específica. Nele, Nunes da Rosa traz-nos ao vivo os antigos serões em que as pessoas se juntavam nas casas umas das outras para conversar e jogar às cartas mas também para se ajudarem reciprocamente nas tarefas agrícolas e domésticas, como era o caso do “encambulhar” e descascar o milho. Durante estes serões contavam “estórias” ou casos passados antigamente, geralmente caldeados com lendas, tradições e algo de estranho, misterioso ou até sobrenatural que, supostamente, tivesse acontecido. É o caso narrado pelo autor, neste conto, em que durante um serão numa casa do Mosteiro, o Tio José de Freitas, para espanto de todos os presentes, conta a “estória” da Cruz da Caldeira que também ouvi contar muitas vezes na Fajã Grande.

Um outro conto do mesmo livro e que desperta a atenção é o último com o título de “Nota Única”, onde narra a “estória da Asiladinha da Assomada” e que dedica ao seu “amigo e irmão (no sacerdócio) Francisco Vieira Bizarra”, nessa altura pároco na Fajã Grande. Atendendo que Nunes da Rosa dedica cada um dos seus contos a uma personagem, como ao Visconde Borges da Silva, a Marcelino de Lima, a Osório Goulart, a Cónego Amaral, etc, apenas ao Padre Bizarra o faz nestes termos, o que significa que terão convivido bastante e que Nunes da Rosa terá visitado a Fajã Grande com muita frequência, pelo que costumes, vivências e tradições descritas nos seus textos terão também muito a ver com costumes, vivências e tradições da mesma, bem como de toda a ilha das Flores.

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SEIS FAMÍLIAS VIVEM NA PONTA DA FAJÃ GRANDE, UM DOS LOCAIS DE MAIOR RISCO DO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES

Terça-feira, 24.09.13

Da autoria do jornalista Carlos Tavares, com a agência Lusa, aqui se divulga um artigo publicado hoje (25 de Setembro) no site “Açores” (RTP e Antena 1):

Um dos locais de maior risco de derrocada dos Açores é a Ponta da Fajã, na ilha das Flores, uma zona onde residem seis famílias a poucos metros daquele que é o ponto mais ocidental da Europa

O Governo regional já reafirmou hoje a proibição da edificação de qualquer tipo de construção e a habitação nos imóveis existentes no local, mas a Câmara das Lajes das Flores, considera que as seis famílias se encontram a distância suficiente da zona de maior perigo.
Em declarações à agência Lusa, o vereador José Lourenço, da Câmara das Lajes das Flores, confirmou que residem no local seis famílias, mas minimizou o risco já que as casas que se encontram "a mais de500 metros de distância" da zona onde aconteceu uma derrocada em 1987.

Nos últimos anos, a Ponta da Fajã já registou duas derrocadas, a primeira das quais em Dezembro de 1987, tendo sido declarada como zona de alto risco, o que levou à proibição de qualquer tipo de construção naquela área.

A mais recente ocorreu a 21 de Outubro de 2009, ocasião em que se registou um movimento de massa na arriba da Ponta da Fajã Grande.

Um relatório do Laboratório Regional de Engenharia Civil (LREC) apresentado esta semana no Parlamento regional confirmou que a situação de perigo se mantém, um alerta que foi agora confirmado pela tutela regional.

"O Governo aceita as conclusões do relatório, considerando que a legislação não deve ser alterada", afirmou o secretário açoriano do Ambiente e do Mar, Álamo Meneses.
Nesse sentido, o governante frisou que deve ser mantida a proibição de construir novas casas no local, que é considerado pelos especialistas como um dos que apresenta maior risco no arquipélago.

A Comissão parlamentar classifica a Ponta da Fajã Grande como "um dos locais de maior risco no arquipélago", mas conclui que as "hipóteses de soluções de intervenção directa sobre a falésia para minimizar os riscos são totalmente inviáveis atendendo à altura da escarpa".

Os deputados salientam ainda que o local "é - e continuará a ser - uma área de elevado perigo e ocorrência de movimentos de massa, por corresponder a um escarpado imponente onde existem indícios de evolução acelerada".

A situação de risco na Ponta da Fajã Grande não é a única, pelo que o Governo já mandou elaborar a Carta de Risco da Região, documento que permitirá ter "uma visão mais clara da totalidade do problema no arquipélago".

Carlos Tavares com Agência Lusa

 

Texto publicado  no “Pico da Vigia” em 25/09/10

 

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