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A AURORA BOREAL

Sexta-feira, 27.09.13

Um dos fenómenos mais estranho e, ao mesmo tempo, terrivelmente assustador que aconteceu na Fajã Grande, aterrorizou toda a população e que durante anos e anos persistiu na memória de quantos a ele assistiram foi a Aurora Boreal. Segundo algumas memórias mais antigas, a Aurora Boreal terá aparecido nos finais dos anos trinta ou início dos anos quarenta e assustou de maneira assombrosa toda a população da freguesia que, à boa maneira dos povos primitivos, não sabendo explicar racionalmente tão estranho fenómeno atmosférico, considerou-o como um fenómeno sobrenatural, um sinal divino, mais concretamente como um anúncio claro e inflexível do fim do Mundo e do Juízo Final.

Segundo relatos de pessoas mais antigas que presenciaram tão invulgar fenómeno atmosférico, ao fim da tarde de um dia de Outono e antes do Sol se pôr o céu cobriu-se totalmente de um vermelho muito intenso, que se reflectia nas águas do oceano e se projectava sobre os montes e vales, sobre os campos, as casas e as rochas. Tudo se cobriu de um vermelho terrivelmente vermelho e parecia que do céu caíam postas de sangue sobre o mar e sobre a terra. O povo mergulhou num medo aterrador e num sobressalto medonho, as pessoas aos gritos, como loucas saíam das suas casas, ajoelhavam no caminho a implorar a misericórdia divina ou corriam para a igreja a fim de pedir perdão pelos seus pecados e morreremem graça. Ossinos tocaram a rebate como nunca, quem andava pelos campos fugiu para o povoado, chorava-se, gritava-se, berrava-se, implorava-se com impertinência o perdão dos pecados e a misericórdia divina.

Neste caos de terror e de temor apenas uma voz, uma única voz em que, pelos vistos, ninguém acreditou, se insurgiu contra a sobrenaturalidade de um fenómeno do qual tinha a certeza e sabia que era perfeitamente natural embora pouco vulgar naquelas paragens do globo terrestre e que não traria rigorosamente nenhum mal a quem quer que fosse, nem muito menos seria o fim do mundo ou o fim ou princípio de outra coisa qualquer, pois era simplesmente uma Aurora Boreal. Esse homem era Ti Malvina, irmão mais novo de meu avô Batelameiro. Embora não tendo estudado, Ti Malvina era, no entanto, um homem de muitos conhecimentos e grande sabedoria. Para além de uma inteligência invulgar, Francisco Malvina da Silveira havia nascido e crescido no Norte da Califórnia, em 1892, no condado de Siskiyou e lá viveu muitos anos onde comprara e lera muitos livros, tendo trazido alguns consigo e através dos quais obtinha muitos e variados conhecimentos. Apesar de tudo, a maioria das pessoas não acreditou nele e decidiu-se por continuar a atribuir, entre grande tribulação, à Aurora Boreal um carácter de fenómeno sobrenatural e anunciador do fim do Mundo e do Juízo Final. O povo rejeitou radicalmente as informações e os conhecimentos de Ti’Malvina que considerava a Aurora Boreal como um fenómeno natural, óptico que acontecia geralmente no Pólo Norte mas que podia acontecer esporadicamente noutras latitudes. São luzes coloridas – dizia ele - que aparecem no céu, durante a noite. O nome Aurora vem da deusa romana e Boreal do deus grego do vento forte Bóreas, nomes dados pelo astrónomo italiano Galileu Galilei a este tão antigo fenómeno.

 

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publicado por picodavigia2 às 19:53

DESCOBERTO NOVO PLANETA HABITÁVEL FORA DO SISTEMA SOLAR

Sexta-feira, 27.09.13

Foi divulgada, recentemente, uma surpreendente e extraordinária notícia, a da descoberta de um novo planeta com características de habitabilidade de seres com vida, semelhantes às que possui o planeta Terra e, consequentemente capaz de abrigar vida extraterrestre. Este planeta foi detectado pela primeira vez por uma equipe de astrónomos norte americanos e está situado num sistema planetário exta-solar.  Segundo os cientistas que fizeram esta importante descoberta, este exoplaneta, que gira em torno da estrela Gliese 581 (Gl 581), já há muito descoberta e que está localizada a 20,5 anos-luz do nosso planeta, é o primeiro dos cerca de 200 conhecidos até hoje, fora do Sistema Solar,  a "possuir ao mesmo tempo uma superfície sólida e líquida e uma temperatura próxima da encontrada na Terra". Segundo os mesmos cientistas, este planeta reúne as características necessárias e "que permitem imaginar a existência de uma eventual vida extraterrestre". A temperatura média desta "super Terra”, situa-se entre 0 e 40 graus Celsius, o que permite que haja a presença de água líquida na sua superfície”. Além disso, aqueles cientistas afirmam que o "seu raio seria 1,5 vezes o da Terra", o que indicaria "ou uma constituição rochosa (como na Terra), ou uma superfície coberta de oceanos". A gravidade na sua superfície é 2,2 vezes maior do que a da superfície da Terra, e sua massa muito fraca (5 vezes a da Terra), o que significa que um ser humano que na terra pesasse 50 quilos, pesaria 80 em Gliese 581. O movimento de rotação do novo planeta dura aproximadamente 37 dias e metade da sua superfície nunca recebe luz da estrela à volta da qual se movimenta, pelo que, nesta parte mantêm-se a noite permanente, o que provoca também uma acentuada diferença de temperaturas entre ambas as partes. O interesse e entusiasmo pela descoberta deste planeta advém do facto de ser o primeiro mundo encontrado num universo infinito, na zona habitável de uma estrela e que possui as características necessárias a um desenvolvimento da vida semelhantes ao do planeta Terra.

 

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publicado por picodavigia2 às 11:45

DA MIGRAÇÃO AO EXÍLIO NA POESIA DE PEDRO DA SILVEIRA

Sexta-feira, 27.09.13

(TEXTO DE FRANCISCO COTA FAGUNDES)

 

 

Convenhamos que os momentos dramáticos de que se reveste a experiência migratória

e exílica que aqui (na poesia de Pedro da Silveira) nos ocupou – começando com a(s) partida(s), repetidas veridicamente e poeticamente obsessivamente reiteradas – adquirem um grau de pungente drama que poderão surpreender, ou até atingir como pose meramente literária, quem alguma vez emigrou, como emigrante assalariado, para longes terras estrangeiras de língua e cultura diferentes da nossa, com poucas probabilidades de regresso senão a longuíssima distância, se de todo, e isto não só por consabidas razões económicas mas também para evitar o serviço militar. Pensemos nos

casos de muitos jovens emigrantes açorianos que partiram das Ilhas (por exemplo, para os Estados Unidos e Canadá, quer na vaga emigratória de 1871 a 1920 (EUA), quer na mais modesta onda de 1951 a 1960, quer ainda na maior vaga de todas de emigração açoriana para a América do Norte (EUA e Canadá) que foi iniciada em 1961 e se prolongou até 1990. Claro que ninguém, incluindo esses mesmos emigrantes, tem direito a questionar o facto de alguém poder sentir uma experiência migrante – ali para o Continente português, que fica a menos de mil milhas da mais distante das ilhas do Açores, onde se fala a mesma língua e se vive a mesma cultura, embora uma e outra com leves modulações – como se fosse uma emigração para longínquas terras estrangeiras; ou, inclusive, como constituindo um exílio equiparável ao de dezenas ou centenas de portugueses de todo o país que, mais ou menos voluntária, ou mais ao menos involuntariamente, por razões de consciência, ou por perseguição ou medo de perseguição política, se ausentaram do seu torrão natal.

É de todos sabido como o grau  de identificação com a freguesia, com a ilha se sobrepõe, no caso do açoriano comum (e Pedro da Silveira está longe de ser um açoriano comum), ao grau de associação e identificação com o país como todo colectivo. Para esse açoriano comum, migrar para o Continente constituiria uma experiência sósia da emigração para um país estrangeiro. E embora a sua experiência continental de Pedro da Silveira – iniciada em 1951, como já se indicou, e prolongada até à sua morte, em 2003, e profissionalmente adscrita às responsabilidades de funcionário da Biblioteca Nacional de Lisboa e a várias outras actividades relacionadas com a cultura, desde consultor literário a colaborador assíduo em revistas e jornais prestigiados – não pareça, à primeira vista, justificar, humana e existencialmente, o drama migratório e exílico representado na sua poesia, quem tem o direito de questionar, ou de pretender saber, o que terá sido, no mais íntimo da vida do homem e do poeta, essa experiência de açoriano ausente (Poemas Ausentes é, como vimos, precisamente o título de um dos seus livros de poesias)? E conquanto a poesia (ou qualquer outra documentação, por quanto eu sei) de Pedro da Silveira não patenteie uma perseguição política que o identifique como um exilado político interno – como o foi, por exemplo, um Torga – quem tem direito a questionar a sua sensação de exilado na sua própria terra – seja o Continente, sejam os Açores – numa época politicamente castrante, sobretudo no caso de um homem ideologicamente de esquerdas como Pedro da Silveira? E quem tem o direito de exigir que um homem tenha forçosamente de viver empiricamente as experiências e os sentimentos que poetiza ou a que dá vida numa obra literária, embora essa obra seja poesia e o “eu” da poesia lírica, como é sobejamente do conhecimento geral, e o “eu” empírico estejam (ou pareçam estar) mais próximos um do outro do que em outros géneros literários? Finalmente, quem poderá contestar que migrações, emigrações, imigrações, e exílios (externos ou internos) haverá de tantos tipos quantos indivíduos haja que os concebam, desfrutem, sofram

– ou poetizem?

 

FAGUNDES, FRANCISCO COTA. “DA MIGRAÇÃO E DO EXÍLIO NA POESIA DE PEDRO DA SILVEIRA”. – CONCLUSÃO - BOLETIM DO NÚCLEO CULTURAL DA HORTA 15 (2006)

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publicado por picodavigia2 às 11:43

O PÁSSARO DAS FLORES LILASES

Sexta-feira, 27.09.13

Era uma criança loira, de olhos azuis, cabelos ao vento, sorriso radiante e olhar sublime. Tinha um porte leve, digno e suave. Caminhava, como se voasse, sobre o aveludado das nuvens, sonhava com o brilho cativante das estrelas e sorria por entre o vidrado das madrugadas primaveris. A vida, o tempo e, talvez, até o destino, porém, haviam-na cravejado de terríveis e lúgubres dissabores. Vivia acorrentada entre os solavancos da inconstância, trilhava as mágoas das privações e caminhava por entre os estilhaços dos estigmas. Abria as janelas ao florir das madrugadas nuas, acomodava-se no sibilar incauto do vento e envolvia-se, ao relento, na obscuridade das tardes desertas. Colhia espigas em trigais putrificados, enfrentava o rigor de invernias tormentosas e atravessava, solitária, caminhos e veredas exsicados. Iluminava as noites com candeias trémulas e vacilantes, deitava-se, ao luar, sobre as lajes frias dos eirados e dormia embalada pelo cantar sussurrante de fontes estéreis. E quando o Sol se inquinava de luminosidade, trepava às árvores despejadas de frutos, subia as fragas irrigadas de regatos, saltava os barrancos apinhados de silvados mas sorria para as flores, mesmo que estivessem murchas. Alimentava-se de pão rijo, ressequido e o leite sabia-lhe a mel. Mas, apesar de todas as limitações e dissabores, surgia, em cada dia, em cada hora e em cada momento, radiante como a aurora, doce como a alegria, terna como a saudade, meiga como o perfume das flores e jovial como o canto das cotovias.

 De manhã, ao acordar, assomava às janelas e os raios volúveis da alvorada pareciam esboçar-lhe, no horizonte, um caminho sem luz e sem rumo. Mas levantava-se, vestia-se, penteava os seus cabelos de oiro e caminhava na procura do destino, transportando os encantos da infância, sulcando, à porfia, as intempéries da escuridão, demandando o rastro das aves sem ninhos. E quando, à tarde, o Sol desfazia a estranha fantasmagoria das nuvens, ela não mais regressava a casa. Corria sozinha, alegre e desinibida, carregando, por entre o encanto desregrado da beleza, a fascinação idílica do seu olhar azul, o brilho doirado dos seus cabelos loiros e a limpidez suave da sua virtude angélica. Mas encaminhava-se, fatal e impreterivelmente, para uma lúgubre e sinistra Floresta Oculta. Abria, com premeditado estrondo, o enorme e pesado portão daquele antro hierático, onde se aninhava, camuflada, a audácia heróica e valorosa da virtude. Depois, entrava, caminhava, seguia e penetrava, segura, destemida, serena e radiosa, deslizando sobre a candura infantil da sua beleza, rasteando a elegância do seu corpo humilde e pequenino mas nobre, esbelto, gracioso e atraente. Tudo lhe dava o ar soberbo, nobre e altivo duma deusa romana, em miniatura.

 

Um dia, a criança de cabelos loiros e olhos azuis, ao entrar na Floresta Oculta, olhou para o alto e viu, por entre o eirado aterrador dos abutres, empoleirado numa árvore de flores lilases, um pássaro, pequenino, inocente e encantador. Parou, estagnou e cantou-lhe uma canção. O pássaro das flores lilases ouviu-a e adornou-a da mais serena e emotiva fascinação. E, no dia seguinte, os raios da alvorada, doces e perfumados, pareciam vislumbrar, no horizonte, para aquela criança pura, inocente e bela, um caminho repleto de luz e com a esperança a assinalar-lhe o destino.

 Mas a esperança estava morta e o destino povoado de fantasmas porque os raios da alvorada, desenhados no horizonte, eram apenas sombras frias, incoerentes e enigmáticas de uma estagnada e inverosímil perplexidade.

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publicado por picodavigia2 às 09:18





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