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REDE VIÁRIA OU OS CAMINHOS, AS CANADAS E OS ATALHOS DA FAJÃ GRANDE NO INÍCIO DA DÉCADA DE CINQUENTA

Domingo, 29.09.13

Até 1954 ano em que se deu por concluída a construção da estrada entre a Ladeira do Pessegueiro e o Porto, a rede viária da Fajã Grande, se assim se pode chamar aos caminhos, às canadas e aos atalhos que pela freguesia proliferavam, era limitadíssima não tanto no que concerne à quantidade mas sobretudo no que dizia respeito à qualidade dos mesmos. Para além de maus, apertados, sinuosos, íngremes e com pisos deploráveis, os caminhos da Fajã Grande resumiam-se praticamente a meia dúzia de caminhos de carro, quase todos eles com o piso do tipo “calçada romana”, alguns pequenos troços de terra ou pedregulho e a um conjunto enorme de canadas, de passagens e de atalhos. Além disso, exceptuando as sete ruas da parte da localidade onde se situavam as casas, na maioria dos casos, os caminhos eram bastante inclinados, cheios de pedregulhos e pedras soltas e de difíceis andanças, sobretudo para os meios de transportes então utilizados: o corsão e o carro de bois. Para quem andava descalço e era a maioria da população sobretudo a mais jovem, os caminhos de antanho eram um martírio e um tormento, dado que sendo geralmente feitos de pedras umas mais salientes do que outras ou os pedregulhos soltos, provocavam as terríveis e temíveis topadas nos dedos dos pés, para além de serem responsáveis por um ou outro trambolhão.

Os principais caminhos existentes, à altura, para além das ruas onde se situavam as casas, eram os seguintes: caminho da Beira-Mar (Areal, Furnas e Porto), caminho da Ribeira das Casas e das Covas e que seguia para a Ponta; caminho da Fontinha/Lavadouros, passando pelo Alagoeiro, Batel, Silveirinha, Escada Mar, Paus Brancos e Alagoinha; caminho da Bandeja e Queimadas; caminho da Assomada/Lavadouros passando pelo Delgado, Cabaceira, Cancelinha, Espigão, Lombega e Alagoinha; caminho da Cuada, que ligava Santo António à Cuada; caminho da Missa; caminho Cuada/Lavadouros; caminho Espigão/Vale Fundo; outros caminhos mais curtos: Porto, Furnas, Ribeira, Pocestinho, Ladeira do Covão e Curralinho.

Entre as várias canadas destacavam-se as seguintes: Águas, Areal/Canto do Areal, Assomada/Pico, Assomada/Outeiro, Assomada/Pedra d’Água, Assomada/Pico da Vigia, Batel/Bandeja, Cabaceira de Cima, Calhau das Feiticeiras/Pedra d’Água, Calhau Miúdo/Mimoio Fontinha, Canada da Fontecima (Alagoeiro/Batel de Baixo), Cancelinha/Cuada, Cilindro/Furnas/Canto do Areal, Covão/Calhau das Feiticeiras/Outeiro Grande, Curralinho/Portalinho/Poço, Delgado/Cuada, Delgado/Outeiro Grande, Descansadouro, Eira da Quada/Quada, Escada Mar Rocha, Espigão, Figueira, Fontinha/Bandeja, Fontinha/Outeiro, Largo da Cancelinha/Pocestinho, Lavadouros, Lombega, Mimoio/Cruzeiro, Moinhos/Poço do Bacalhau, Pico Agudo, Pocestinho, Ribeira das Casas/Ribeira, Ribeiras das Casas/Mimoio, Rocha, Rocha da Figueira, Rocha dos Paus Brancos, Silveirinha/Queimadas, Silveirinha/ Cabeço da Rocha, Tronqueira Fontinha, Tronqueira/Ladeira/Mimoio/Fontinha, Vale do Linho. Vinhacre, etc

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publicado por picodavigia2 às 15:39

PAISAGEM A OESTE

Domingo, 29.09.13

 

Na encosta soalheira,

um amontoado de casas,

desordenadas,

pobres,

humildes,

simples

mas branquinhas.

 

Casas

cheias de nada,

a abarrotar de desejos,

carentes de destino,

mas iluminadas

com o perfume

do poejo

e da cidreira.

 

Ao longe,

mas muito distante,

… a América.

 

 

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publicado por picodavigia2 às 15:05

A “INCLITA GERAÇÃO” DO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE SESSENTA

Domingo, 29.09.13

É incondicionalmente aceite, não apenas pelos que por lá passaram mas também pelos que a ele directa ou indirectamente estiveram ligados e ainda pelos que tentam fazer a sua história, que o Seminário Episcopal de Angra, única instituição de ensino post-secundário nos Açores até 1976, ano em que foi criada a Universidade, foi um notável e inexaurível alforge de ciência e de cultura onde se formou, para além do clero açoriano de onde emergiram muitas eminentes figuras da igreja católica, grande parte da classe dirigente, da intelectualidade e da cultura açorianas.

No entanto, foi sobretudo na década de sessenta que esta instituição atingiu o apogeu da sua notabilidade e da sua génese formadora. Por um lado o Seminário de Angra possuía, nessa época, um notável lote de professores, homens de letras, de ciência, de grande sabedoria, de profundos conhecimentos, de alta craveira intelectual e defensores dos mais nobres princípios de humanismo, formados na Pontifícia Universidade de Roma, aos quais se juntavam alguns padres que mais se distinguiam na diocese pelo seu conhecimento mais específico numa ou noutra disciplina. Por outro lado demandaram o Seminário, nessa altura, muitos jovens dotados de elevada capacidade intelectual, na maioria dos casos oriundos de famílias pobres e, por conseguinte, impedidos de frequentar as Universidades do Continente, mas referenciados pelos respectivos professores primários como de excelentes capacidades de aprendizagem e que “seria uma pena não continuarem os estudos”. Uns fizeram-no com enorme sacrifício dos pais, outros com algum mecenas protector que lhe surgiu miraculosamente no caminho e alguns, até, agregando-se à diocese de Timor, mas quase todos faziam parte duma como que notável espécie de banco de inteligências armazenadas no arquipélago e que urgia aproveitar.

Assim e durante doze anos, com um currículo exigente, completo, abrangente e rigoroso, complementado com actividades intelectuais e culturais diversíssimas, desde a música ao teatro passando pelo jornalismo, através de academias, congregações, sabatinas, jornais, palestras, reuniões, semanas culturais, os seminaristas foram adquirindo não só uma aprendizagem profunda, segura e diversificada mas também uma sólida formação humana, tornando-se assim como que uma espécie de “ínclita geração” das letras, da ciência e da cultura açorianas, ali gerada.

Uns saíram ao longo do sinuoso percurso de doze anos de estudo, outros porém chegaram ao fim e ordenaram-se atingindo o objectivo primordial pelo qual haviam lutado e que constituía o sonho de qualquer simples e humilde família açoriana. Muitos destes, no entanto, alguns anos mais tarde, por isto e por aquilo ou simplesmente porque quiseram, resolveram alterar o destino da sua vida. E fizeram-no com dignidade, com convicção, com nobreza de carácter e de acordo com os valores humanos e morais que ao longo dos anos da sua formação haviam adquirido. Mas dispersaram-se, uns pela América e pelo Canada, outros pela França, pelo Luxemburgo, alguns por Setúbal, muitos por Lisboa, e um ou outro por Aveiro, pelo Porto e até pela Madeira, enquanto alguns permaneciam nos Açores.

Emanados de nobres sentimentos de convívio, camaradagem e saudade, muitos deles, sentiram que era bom e salutar reunirem-se. Se bem o sentiram, melhor o fizeram graças ao esforço, boa vontade e hospitalidade do Agostinho Simas e da esposa. Inicialmente reuniam-se uma vez, depois duas e agora muitas. Ontem, mais uma vez, estiveram no Mucifal em mais um desses notáveis e inesquecíveis encontros, onde há sempre, pelo menos um, que vem pela primeira vez, Convive-se, canta-se, evoca-se o Seminário e os Açores, contam-se estórias e peripécias, narram-se partidas e pirraças, recordam-se brincadeiras e costumes, vivem-se momentos de ternura e de saudade e apreciam-se os excelentes dotes pantacruélicos da Aldina,. Infelizmente alguns já partiram e há outros que ainda não vieram. Mas muitos vêm sempre, por vezes até de muito longe, outros vêm quando podem e alguns até mandam mensagens ou telefonam, porque na realidade todos estão ali imbuídos de transcendentes e quase inexplicáveis sentimentos de afeição, carinho, estima e amizade.

 

Texto publicado, no “Pico da Vigia” em 25/10/10

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publicado por picodavigia2 às 14:44

O CASTANHEIRO DA CABACEIRA DO MEIO

Domingo, 29.09.13

Meu pai tinha uma terra de mato na Cabaceira, mais concretamente na Cabaceira do Meio. É que sendo a Cabaceira um lugar de notável e considerada extensão (começava no Delgado e estendia-se até à Cancelinha) havia sido dividida, em termos de nomenclatura e por comodidade identificativa e situacional, em três sub lugares: a Cabaceira de Baixo, a Cabaceira do Meio e a Cabaceira de Cima. Antes da construção da estrada que ligava o Porto da Fajã à Ribeira Grande, o acesso a esta terra fazia-se pelo antigo caminho entre a Assomada e os Lavadouros e o portal de entrada ficava logo acima da ladeira com o mesmo nome, um pouco antes do largo da Cancelinha, mesmo em frente à canada que dava para a Cabaceira de Cima.

A terra de meu pai da Cabaceira do Meio era na realidade uma terra de mato. No entanto, a pouco e pouco, meu pai, dando continuidade ao que já fizera meu avô e muito provavelmente o meu bisavô, foi desbravando algumas das belgas onde proliferavam os incensos, as faias, a cana roca, os fetos e um ou outro pau branco e substituindo toda esta floresta natural e espontânea mas de menor e pouco rentável utilidade, pelo cultivo programado e acompanhado de inhames e de algumas árvores de fruto, nomeadamente araçaleiros, macieiras, pereiras e uma ameixeira. Pois era precisamente nessa terra da Cabaceira do Meio, por entre os inhames e misturado com alguns incensos, que havia também, numa das belgas maiores, um enorme, curiosíssimo, vetusto e descomunal castanheiro, talvez o maior e mais antigo castanheiro da Fajã Grande e que bem podia ombrear com os notáveis e invulgares castanheiros da Guarda, considerados os maiores de Portugal e que são autênticos exemplares da espécie no nosso país, com idades e dimensões inacreditáveis, como o de Guilhafonso, com mais de 400 anos e uma altura de19 metrose o da Arrifana, que se julga ter cerca de dois mil anos. O meu castanheiro também era muito velho e altíssimo. Quanto à idade, sabia-se apenas… que era do tempo dos afonsinos. Mas o mais importante ainda era que o castanheiro da minha Cabaceira dava uma enorme quantidade de castanhas, saborosas, carnudas e adocicadas que nós íamos retirando de dento dos ouriços caídos no chão, depois de lhe abanarmos os ramos sem dó nem piedade ou de lhe darmos umas fortes varejadas com um pau de incenso. E depois de cozidas eram tão boas as castanhas que dava o meu velho castanheiro da terra que meu pai tinha na Cabaceira do Meio.

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publicado por picodavigia2 às 11:03

A PAZ E O SILÊNCIO

Domingo, 29.09.13

A Serra era um desterro inebriante de memórias e recordações. Recoberta de um verde desmazelado, sombrio e indigente, aureolada de um cinzento enevoado e constrangedor, consubstanciava na secura das encostas a ânsia de se encharcar no desassossego aguado das lagoas que povoavam o seu interior. Dominada por um marasmo instigador compelida por uma atonia provocante, a Serra, se não deserta, emaranhava-se num ermo povoado de nevoeiros, perplexidades e desencantos.

Certo dia, demandou a Serra uma donzela trazida pelo vento norte. Conduzia um rebanho, mas o que mais a notabilizava era o facto de empunhar a bandeira da paz. Desenvolta e bela, a moça transpôs precipícios e grotões, saltou penhascos e ravinas, emaranhou-se por caminhos desertos e chegou à Serra deixando-se ali ficar, com o seu rebanho e a sua bandeira, imersa naquela letargia contagiante, envolta naquela aridez desértica, comungando uma imperturbabilidade inconsequente, partilhando uma pulcritude, que aos poucos se ia diluindo na infecundidade perturbadora da Serra.

Passaram-se dias, meses e anos, durante os quais, a pastora viveu só, pastoreando o seu rebanho e empunhando, contra a aridez da Serra, a bandeira da paz. Finalmente, numa manhã de Sol e de intransigente quietude, chegou à serra um anjo – o anjo do silêncio. Trazia gravado no peito o estigma da taciturnidade, acolhia-se em enigmas misantropos e desfilava um triste rosário de memórias perdidas. Caminhava na senda de um destino atrofiado.

Maravilhou-se, o anjo do silêncio, ao ver a jovem pastora, mensageira da paz e cumprimentou-a ternamente:

- Quem sois, linda pastora? Apenas sei que carregas a bandeira da paz, desfraldada pela luz das estrelas, cujo brilho se reflecte na simbologia do teu olhar. Conjugas a aridez inebriante desta Serra com os aromas dos teus sonhos e desejos.

A jovem sorriu, envergonhada e respondeu com voz trémula:

- Sou uma simples e humilde pastora, a mensageira da paz. Vejo que tu também carregas um estigma - o silêncio de um desespero amortalhado, conjugado com a tristeza de esperanças perdidas.

Então, o anjo do silêncio aproximou-se e, dando-lhe a mão, conduziu a transportadora da bandeira da paz, ao cume da Serra, onde o silêncio era mais suave e menos perturbante. O anjo solicitou-lhe que cravasse para sempre, ali, bem no alto a bandeira de que ela intransigente nunca se havia separado. E a jovem pastora colocou, para sempre, sobre a montanha ornada de silêncio, a bandeira inebriante da paz

O anjo e a pastora, em silêncio e à sombra da bandeira da paz trocaram as suas juras, como se apenas aquela Serra fosse o mundo e eles, os dois únicos seres a povoá-lo.

Sabe-se que, algum tempo depois o anjo teve que partir e a pastora ficou só. Mas ficou muito triste e chorou tanto, tanto, que o caudal das suas lágrimas se transformou num rio que, descendo as encostas da Serra, as transformou, ornando-as com as mais belas quedas de água.

E, a partir daquele dia, a Serra da aridez e do silêncio perturbante transformou-se num oásis de sublimidade inebriante, de memórias e recordações e vestiu-se de um verde jubiloso, alegre e cativante, aureolou-se de uma claridade inebriante e sonhadora, consubstanciando-se na frescura das encostas, na ânsia de se encharcar na paz aguada das suas lagoas. Dominada por uma alegria entusiasta, compelida por uma serenidade provocante, a Serra transformou-se, para sempre, numa atractiva e atraente sublimidade.

 

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publicado por picodavigia2 às 10:22

MONCHIQUE

Domingo, 29.09.13

 

Lá longe…

O Monchique!

Negro, abrupto e a pique.

 

Um rochedo

Que arrepia,

Encravado na maresia.

 

Ao redor,

Rolos de espuma,

Fantasiam-no de bruma.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:48





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