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O SENADOR JOÃO JOAQUIM ANDRÉ DE FREITAS

Quarta-feira, 09.10.13

Uma dos mais ilustres e dignos fajãgrandenses de todos os tempos foi, incondicionalmente, o Senador José Joaquim André de Freitas. Nasceu de família pobre, provavelmente na Cuada, e fez os estudos primários na Fajã, partindo ainda jovem para Lisboa, ingressando, como funcionário, no Ministério das Obras Públicas, atingindo, anos mais tarde, o posto de Condutor de Obras Públicas. Nessa qualidade realizou várias comissões nas colónias portuguesas ultramarinas e no estrangeiro, estando ligado ainda a várias obras nos Açores. Em 1889 foi nomeado Subdelegado do Procurador Régio do Julgado Municipal de Avis.

André de Freitas desenvolveu uma importante actividade política, sendo eleito senador pelo círculo uninominal da ilha do Pico, pelo então partido Regenerador, nas eleições gerais de 1900. Durante o seu mandato no parlamento, integrou a Comissão de Obras Públicas, revelando-se um político muito participativo, com intervenções que incidiam sobre os problemas específicos açorianos, com destaque para as questões relacionadas com a ilha do Pico, que representava.

Nas eleições seguintes realizadas em1901, voltou a ser eleito pelo círculo plurinominal da Horta, continuando a exercer este novo mandato com intervenções sobre os mais diversos problemas das ilhas, nomeadamente do Faial. Voltou ainda a ser eleito pelo mesmo círculo nas eleições gerais de 1904. Esta legislatura, no entanto foi dissolvida quase de imediato e André de Freitas não voltou a ser eleito nas eleições realizadas no ano seguinte, dado que o partido Regenerador regressou ao poder. Nessa altura foi, então, nomeado secretário do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, cargo de grande influência e que lhe permitiu realizar muitas das propostas que anteriormente defendera.

Em 1908 foi nomeado Governador Civil do Distrito da Horta, cargo que manteve até ao ano seguinte, destacando-se pela sua energia e pelas múltiplas obras que realizou.

Voltou a ser eleito senador nas eleições gerais de 1910, mas não chegou a tomar posse devido à dissolução do parlamento, resultante da proclamação da República Portuguesa.

Implantado o regime republicano, André de Freitas filiou-se na União Republicana liderada por Brito Camacho, sendo eleito para o, então denominado, Senado da República. Posteriormente, aderiu à União Liberal Republicana.

Após um interregno na vida política institucional, foi eleito, novamente, pelo círculo da Horta, cargo que exerceu entre 1919 e 1921.

Foi autor de vários projectos de obras públicas, entre as quais melhoramentos em estradas, portos, fontanários, caminhos de penetração, criação de algumas escolas, construção do antigo Hospital Walter Bensaúde, da Santa Casa de Misericórdia da Horta, e do Farol dos Capelinhos.

A Fajã Grande prestou-lhe homenagem dando o seu nome a uma das suas principais ruas, a rua Direita, designada actualmente por Rua Senador José Joaquim André de Freita

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publicado por picodavigia2 às 17:18

O LUGAR DA CUADA

Quarta-feira, 09.10.13

Na década de cinquenta a população da Fajã Grande distribuía-se por três lugares, sendo um deles a Cuada, lugar actualmente desprovido de residentes permanentes, tendo sido, desde há alguns anos, transformado num aldeamento turístico rural. Na altura, porém, a Cuada teria vinte e nove habitantes residentes, distribuídos por sete fogos, correspondentes a outros tantos agregados familiares e que eram os seguintes: A viúva do Francisquinho que vivia com os seus cinco filhos (o Luís, o Manuel, o Ângelo, o Antonino, o Jaime e a Maria); o Bygoret que morava com uma irmã: Tia Glória, irmã da minha avó, com casa no centro do aldeamento, onde residia com cinco filhos adultos, (o Luís, o José Maria, o Alberto, a Olívia e a Maria); o José do Francisquinho, casado com a Maria dos Anjos, filha da tia Glória e que tinham uma filha; o Azevedo, viúvo, que vivia com uma menina que adoptara (a Fátima); o Beirada, casado e com cinco crianças; o Fernando Gerabás com mulher e um filho, o José Gervásio. Para além de três palheiros e outras tantas casas velhas, a Cuada ainda tinha mais quatro edifícios não habitados: um onde funcionava a máquina de desnatar o leite, outro a Casa do Espírito Santo e duas casas de habitação onde não vivia ninguém mas ambas com boas condições de habitabilidade, talvez melhores do que a maioria das habitadas. Uma delas era uma grande e bela casa, de dois andares, situada em frente à casa do Espírito Santo, que pertencia à sra Xavier, protectora e doadora de todos os seus bens, incluindo a casa, ao Senhor Arnaldo e uma outra lá mais para baixo, pertencente ao José André e onde se dizia ter nascido o Senador José Joaquim André de Freitas. Possuía pois a Cuada, à altura, um total de cerca de dezassete edifícios.

Situada entre a Fajãzinha e a Fajã Grande, num pequeno planalto sobranceiro à Ribeira Grande, a Sul e separada do mar, a Oeste, por uma alta e intransponível falésia, o lugar da Cuada era um dos mais belos da Fajã Grande. O acesso à Fajã fazia-se geralmente, pelo caminho que ligava o Cimo da Assomada às hortas e aos Lavadouros e que se bifurcavaem Santo António, sendo a partir daí denominado precisamente por Caminho da Cuada. Mas também se podia demandar a Cuada pelo Caminho da Missa, neste caso, porém, a distância era um pouco maior e, a partir da Eira da Cuada, teria que circular-se por uma vereda estreita, sinuosa e de difícil acesso. Para se deslocarem à Fajãzinha, no entanto, os habitantes da Cuada teriam necessariamente que trilhar esta vereda e, chegando à Eira da Cuada, retomarem o Caminho da Missa, rumando a Sul, na direcção oposta à da Fajã, descerem a Ladeira do Biscoito e atravessarem a ponte da Ribeira Grande ou as enormes passadeiras que ligavam uma margem à outra, quando a ponte era levada pela força e correnteza das águas.

Os habitantes da Cuada dirigiam-se com frequência à Fajã, quer para fazer as suas compras, que não havia lojas de comércio na Cuada, quer para participar nas festas e nas actividades religiosas, quer ainda para visitar algum parente ou amigo. As crianças faziam-no diariamente para frequentarem a escola primária, uma vez que na Cuada não a havia. A própria coroa e a bandeira de Espírito Santo, acompanhadas pelos foliões, chefiados pelo Bygoret, e pela maioria das pessoas lá residentes, deslocavam-se à Fajã, todos os domingos entre a Páscoa e o Pentecostes, para assistir à missa, juntamente com as coroas das Casas de Cima e de Baixo. Todo o percurso Cuada Fajã, quer na vinda quer no regresso, era acompanhado pelo toque do tambor, pelos pratos e ferrinhos e pelo cantar dos foliões. Por sua vez, muitas pessoas da Fajã também se deslocavam à Cuada com alguma frequência, para trabalhar nos campos que lá possuíam, para visitar algum familiar ou para procurar os serviços de um sapateiro e de um latoeiro que lá residiam.

Mas o grande afluxo de gente à Cuada, quer da Fajã quer da Fajãzinha ou até da Caldeira e do Mosteiro, era em Junho, por altura da festa de São Pedro e São João, que lá se realizava. Era uma grande festa, com missa no adro da Casa de Espírito Santo, com arraial e filarmónica vinda da Fajã, com arrematações, jogos e, à noite, uma enorme fogueira de São João. Na Cuada também se fazia uma festa em louvor do Espírito Santo, no domingo de Pentecostes, mas dado que coincidia com a festa da Casa de Cima, era reservada quase exclusivamente aos seus residentes.

Uma vez que a Cuada se situava em terrenos férteis, com muitas terras de cultivo, hortas e prados verdejantes, os seus habitantes viviam fundamentalmente da agricultura, da pecuária e da fruticultura. Para além de um sapateiro e de um latoeiro, ambos em “part-time”, a Cuada possuía um posto de desnatação de leite e, ao lado deste, uma pequena fabriqueta de manteiga. Por sua vez, as mulheres da Cuada, para além das lides domésticas, trabalhavam nos campos, fiavam, cardavam, desembrulhavam as meadas e teciam, havendo na altura ainda um ou outro tear no activo, resíduos históricos de uma forte implementação desta actividade, no sec. XIX, altura em que a sua população terá ultrapassado os cem habitantes.

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publicado por picodavigia2 às 15:05

FUTEBOL NA ILHA DAS FLORES

Quarta-feira, 09.10.13

Um seguidor deste blogue, (antigo Pico da Vigia) a propósito de um texto aqui publicado em 30/01/09, com o título “O Atlético Clube da Fajã Grande”, onde me refiro ao livro “Futebol na Ilha das Flores – (Subsídios para a sua história)” da autoria de José Arlindo Armas Trigueiro, questionou-me, através de email, da maneira de encontrar o referido livro.

Lamentavelmente, creio que não será fácil fazê-lo. Eu próprio tive acesso ao livro apenas porque me foi emprestado por um amigo. O livro foi editado pela Câmara Municipal das Lajes das Flores e não se encontra à venda ao público. O exemplar que me chegou às mãos é uma 2ª edição, mas de apenas 500 exemplares, supondo, portanto, que a primeira já esteja esgotada e a segunda pelos vistos está prestes a esgotar-se ou até já se esgotou. Assim, a única hipótese de adquirir o livro será apenas através do contacto com a Câmara Municipal das Lajes das Flores, o que pode ser feito consultando o seu site em

http://www.cmlajesflores.com/ 

ou do email –

geral@cmlajesflores.com <geral@cmlajesflores.com>

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publicado por picodavigia2 às 10:16

O NAUFRAGO

Quarta-feira, 09.10.13

O Semedo chegou à porta de casa, levantando o “pica-porte” numa hesitação terrível e num sufoco denunciador. Na cozinha, alumiadas por um candeeiro a petróleo, a mulher e a filha seroavam entre cardas, fusos e resmas de lã, admiradas, mais pelo tardio da chegada do que pela apreensão que se lhe estampava no rosto, ofuscada pela frouxa luz que emanava do candeeiro. É que o pavio havia sido tão excessivamente alevantado, que lhe tisnara o vidro quase por completo. A Deolinda foi a primeira a insinuar com suaves laivos de ironia:

- Só agora?! A estas horas, meu pai há muito que havia de estar na cama.

E como o Semedo embatucasse por completo, a mulher, lá do fundo, sem levantar olho das cardas:

- Boa coisa não andaste a urdir! - E levantando o rosto, sem, no entanto, esmorecer a cardação, prosseguiu, – Entra home… Credo! Que cara é essa?! Parece que viste bicho-do-mato!...

O Semedo a crescer numa hesitação que acicatava, cada vez mais, o pasmo das duas mulheres. A medo, lá foi desembuchando: Fora ali, para os lados do Rolinho das Ovelhas… Ele, o Domingos Mantas, o Bosseca, o Zé de Mateus e o Caboz, na mira dos caranguejos que a noite estava escura, o mar manso e a maré vaza. Desde o Canto do Areal ao Redondo. Eis senão quando avistaram uma barcaça – um bergantim ou um brigue - nem deu tempo de ver, - num instante, a aproximar-se de terra, pela calada da noite, mesmo ali junto ao Rolinho das Ovelhas. Eles a correr que até parecia que deitavam os bofes pela boca fora… mas qual o quê?… Quando lá chegaram, a maldita tinha zarpado. Apenas uma pequena chata, abandonada, a balancear no vaivém da maré. Ao voltarem, deparam-se com gemidos angustiantes. Um vulto de homem, estranho, esquisito, sabia-se lá de onde, que nem americano falava, enfiado na aba de uma pedra, a chorar e a gemer… Pelos vistos tinha sido ali abandonado. Trouxeram-no e, ao chegar ali, bonito serviço! Os outros a pisgarem-se, cada um para seu lado e ele a ficar só, com o homem… ali… fora da porta… Haviam de lhe dar guarida, lá e  m casa.

A mulher e a filha nem queriam acreditar!... Um homem, sabia-se lá de onde e de que religião, pela porta dentro… A estas horas da noite!... Nem pensar!

Mas no dia seguinte toda a freguesia louvava o Semedo! Fosse da Cochinchina, fosse do Japão, fosse de onde fosse, aquilo era um ser humano. A caridade é para com todos. Um gesto muito bonito, o do Semedo.

Mas os rumores não tardaram. Aquele homem devia ser um ateu, um malvado, um facínora, semelhante ao que, há muitos anos, também ali desembarcara e, de tão mau, após a morte, fora atirado para o Poço do Bacalhau, por castigo, em vez de ter uma sepultura condigna. Que o tivesse deixado, o Semedo, onde o encontrou. Havia de morrer à fome, que é o destino dos criminosos e dos sacripantas! E depois… com uma filha solteira lá em casa… Hum! Não havia de sair coisa boa, dali.

Porém, em casa do Semedo e após os medos e as hesitações iniciais, todos, incluindo a filha, se afeiçoaram, depressa, ao suposto náufrago. O homem era delicado, correcto, submisso, decoroso e de trato afável. Apenas um senão: ninguém o entendia e ele não percebia patavina do que lhe diziam e tinha a estranha mania de, todos os dias, tracejar um risco no muro da cerca do porco. Sabia-se apenas que se chamava Dimitri e que muito provavelmente, devia ser russo e, pelos vistos, não acreditava em Deus.

Os dias passaram e o Semedo já via em Dimitri, o filho que nunca tivera. Os meses passaram e Deolinda apaixonara-se, como nunca. Pior. Dimitri, agora já a balbuciar as primeiras palavras em linguagem que se entendesse, também se declarava em juras de amor, enquanto pela freguesia cada vez mais se comentava, à socapa, que ali havia “marosca” da grossa. Oh!... Se havia!

O Semedo, antes que o inevitável acontecesse, foi bater à porta do Vigário. Havia que casá-los, quanto antes. Mas, na opinião do prebendado, o casamento não servia para encobrir poucas vergonhas, além disso, aquele homem era um ateu, vindo de um pais onde a religião católica, não era apenas esquecida, mas sobretudo odiado e não tinha nenhuns papéis que demonstrassem, quer a sua identidade, quer o seu baptismo. Que tirasse o cavalinho da chuva o amigo Semedo que casamento é que não havia de haver.

E não houve, o que no entanto não foi obstáculo a que Dimitri e Deolinda se envolvessem de amores, cada vez mais escaldantes e, às escondidas dos progenitores, se enrolassem em desvelos e fascinações.

E quando Deolinda não mais pode ocultar a gravidez que lhe transbordava do seio, o falatório, de comentários maliciosos transformou-se em aleivosias insultuosas. A mãe definhou de vergonha e o pai, frio, empedernido, assumido carrasco, pô-los pela porta fora, injuriando-os, ameaçando-os, deserdando-os. Poucos dias demorou a ira do Semedo e a debilidade da sua consorte. Foram os primeiros a acudir aos vagidos de um pequerrucho que, numa tarde solarenga de Setembro, lhes quebrava o veneno do desgosto e lhes despertava o bálsamo da ternura.

E o pequeno Gervásio crescia entre o enlevo refrescante dos pais e a ternura sedenta dos avós. O vigário recusou o casamento dos pais mas não lhe pode negar o baptismo. A alegria, o encanto e a felicidade reinavam em casa do Semedo e na freguesia já ninguém se lembrava que o pai do pequeno Gervásio era, afinal, um náufrago abandonado na ilha, talvez um criminoso, com quem a Deolinda do Semedo vivia amancebada porque não recebera o Santo Sacramento do Matrimónio.

Numa noite, porém, o inesperado aconteceu. Dimitri saiu de casa e nunca mais regressou. De manhã, durante as buscas, o Cardoso da Eira, afirmava a pés juntos, que um bergantim se havia aproximado, durante a noite, da enseada do Rolinho das Ovelhas e nele, tinha visto, embarcar um homem.

… E a parir do dia seguinte, todas as tardes, depois do pôr-do-sol, a Deolinda do Semedo, lavada em lágrimas, sentava-se sobre um rochedo, à beira mar, com o filho ao colo, apontando-lhe um horizonte indefinido.

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publicado por picodavigia2 às 00:59

A SAFRA DO REMENDO

Quarta-feira, 09.10.13

Um manto escuro

caiu sobre a tarde,

atordoando-a.

 

Um vento forte,

mesmo destemido,

ameaça confundir a noite.

 

Há gaivotas perdidas

sobrevoando o cais abandonado:

- Anúncio, flagrante, de procela.

 

Pescadores,

com o rosto tisnado de caligens,

refugiados nas abas das rochas,

sentados sobre pedaços de ossos de baleia,

com mãos tremulosas e olhos ondulados,

remendam redes.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:44





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