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A POÇA DA SEREIA

Segunda-feira, 14.10.13

A zona do baixio, situada entre o Calhau da Barra e o Cais, era um mamarracho negro, pétreo, abrupto mas bastante amplo, entrecortado, na orla marítima, por minúsculas enseadas e pequenas baías, umas e outras a separarem-se por promontórios pejados de caranguejos, carregados de lapas e revestidos de algas alaranjadas e roxas, que as ondas, ora altivas e tempestuosas, ora calmas e tranquilas, umas vezes cobriam com fulgor outras acariciavam com ternura. O interior, deserto de vegetação, delineado a nascente, pelo caminho que, logo acima, desembocava na Via d’Agua e no início do qual e à beira do Cais, se encravava um pequeno e débil farol, era povoado de uma inúmera quantidade de poças, de tamanhos e formatos muito diferentes, separadas umas das outras por torreões de lava negra, muitos deles com formas estranhas, altaneiras, a pavonearem-se num universo deserto, mas a fazerem lembrar figuras fantasmagóricas, estátuas irreconhecíveis, monumentos indecifráveis, que a imaginação do povo, através dos tempos, metamorfoseara em ícones lendários ou em símbolos míticos. Eram estas atalaias magmáticas que separavam e delineavam não só as poças mas também as baías e as enseadas e de quem, na maioria dos casos, umas e outras recebiam os nomes.

 Entre as poças, porém, havia algumas maiores e, por conseguinte, possuidoras de uma identidade e de um nome que as distinguia e diferenciava, naquele estranho e enigmático universo. Eram as poças do Cobre, da Sereia, do Farol, da Barra, da Prata, da Pontinha, dos Pargos e muitas outras. A Poça da Sereia era das mais míticas e lendárias. Apesar de muito próxima do mar, mas porque encravada entre altos rochedos, apenas em momentos de maré cheia lhe entrava a água do oceano, toldando-lhe a quietude, renovando-lhe a frescura, azulando-lhe a cor, abarrotando-a de salinidade. Entre os altivos rochedos que a ladeavam e que lhe conferiam contornos flexuosos e lúbricos, havia um, a norte, mais altivo, mais grandioso e, sobretudo, mais singular. Encravado muna espécie de cordilheira em miniatura, uma imponente excrescência magmática a fazer lembrar uma figura de mulher! A cabeça, o rosto, os cabelos, os seios, tudo perfeitamente identificável, só que o ventre, as pernas e os pés como que desapareciam, confundindo-se e emaranhando-se como o próprio rochedo. Era como se fosse uma sereia que, em tempos idos, se tivesse sentado a olhar o mar e ali permanecesse petrificada para sempre. Era essa a razão por que aquela poça se chamava “Poça da Sereia” e sobre a qual se contava uma curiosa lenda.

 Há muitos anos atrás, um certo dia, um pescador que por ali passava, na sua faina diária, ouviu gemidos muito tristes e dolentes. Seguindo no que lhe pareceu ser a sua direcção encontrou uma mulher ali sentada, a chorar. Um pouco amedrontado, cuidando que era um ser humano, o pescador aproximou-se e perguntou-lhe:

 - O que se passa para estares aqui sozinha, a chorar?

 A sereia explicou que tinha sido empurrada por uma onda até ali e que se sentara sobre os rochedos a apreciar aquela linda terra, as suas rochas e as quedas de água que dela desciam. No entanto, a maré havia vazado sem se aperceber e agora, chorava, porque com a maré baixa não conseguia regressar ao mar, devido à cauda de peixe que lhe substituía os pés. Foi então que o pescador, muito espantado, percebeu que estava frente a frente com uma sereia. Esta pediu que lhe pegasse ao colo e a levasse, novamente, para o mar.

 O pescador ficou sem saber o que fazer, mas acabou por pegar na sereia com cuidado e levá-la para o mar, onde ela logo mergulhou com graça e agilidade.

 Contava-se que o pescador tinha ficado encantado com a beleza da sereia e, a partir de então, muitas vezes passava por ali, durante o dia e até de noite. Sentava-se sobre um rochedo e ficava, horas e horas, à espera da sereia, mas esta nunca mais voltou, ou antes, o pescador nunca mais a viu.

 Durante as longas e longas horas de espera, para acalentar a sua mágoa, o pescador com uma pequenina enxada de apanhar cracas, ia batendo ao de leve sobre os rochedos. Tanto, bateu e voltou a bater que, sem disso se aperceber, acabou por esculpir, ali, sobre um dos bordos da poça, a estátua duma sereia.

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publicado por picodavigia2 às 23:34

O ARADO DE PAU

Segunda-feira, 14.10.13

Na Fajã Grande, como aliás em todas as restantes freguesias e até nas duas vilas da Ilha Flores, onde a principal actividade económica era agricultura, naturalmente que o arado tinha um papel de relevo e de grande importância, sendo considerado um utensílio agrícola de extrema e frequente utilidade.

Segundo Alvin Toffler no seu célebre livro “The Third Wave” (A Terceira Vaga) as maiores invenções da humanidade, porquanto mais influenciaram e alteraram o tipo de sociedade, foram três: o computador, a máquina a vapor e o arado. Na realidade foi este último ou a simultânea descoberta por parte do homem de que era capaz de cultivar a terra e fazer nascer dela, mesmo ali ao seu lado, sem ter que efectuar grandes deslocações, as plantas que muito bem quisesse e entendessem e que lhe garantiriam o seu sustento e o da sua família, que permitiu à humanidade transitar do nomadismo para o sedentarismo, originando-se assim os primeiros aglomerados populacionais que, ao longo do tempo, haveriam de evoluir e crescer assustadoramente até se transformarem em grandes civilizações de índole agrícola, sobretudo junto às margens de grandes rios como o Tigre e o Eufrates na Mesopotâmia e o Nilo no Egipto, onde de facto nasceram e cresceram grandes cidades e grandes impérios.

Daí que o arado ao longo dos tempos tenha tido uma excelsa importância na actividade agrícola de todas as comunidades que se dedicaram e sobreviveram da agricultura, existindo assim uma enorme e diversificada variedade daquele útil e histórico utensílio agrícola.

Na Fajã Grande existiam dois tipos de arados: os “de ferro”, mais raros e importados de São Miguel mas não acessíveis a todos os bolsos e os “de pau”, construídos de madeira. Além disso estes arados eram fabricados na própria freguesia com excepção das aivecas e das pontas ou bicos que eram de ferro. Quer as aivecas quer os bicos eram compradosem Santa Cruz, numa peça única, ao Celestino Carvalho sendo ele próprio a fabricá-los. A restante parte do arado, na realidade, era construída na Fajã, dedicando-se a esta arte, entre outros, o Urbano, o José Cardoso, o José Rodrigues e o António Maria.

O arado de Pau, típico da Fajã Grande, era constituído por duas partes principais: o temão e a rabiça, as quais, por sua vez, também se dividiam em várias pequenas peças. O temão era uma espécie de cabeçalho, geralmente feito de incenso ou loureiro, semelhante aos dos corsões, com um ou dois buracos na ponta, a fim de se enfiar uma chavelha que o prendia ao tamoeiro e este à canga. A existência de dois buracos no temão destinava-se a adequar o tamanho deste às reses que “encangadas” puxavam o arado. Vacas grandes ou bois, chavelha no buraco da frente, gueixas ou reses mais pequenas, chavelha no buraco de trás. Por sua vez a rabiça era feita de pau branco e assemelhava-se a um z, com a haste vertical inclinada ao contrário e a parte de baixo ligeiramente oblíqua. A rabiça dividia-se em três partes: a mão que correspondia à parte de cima do z e tinha o formato duma bengala, a ponta onde se encravava o bico de ferro e a que se prendiam as aivecas e o rabo, correspondente à haste vertical do z, que ligava a ponta à mão e onde estava encravado o temão. As aivecas, encravadas na ponta, prendiam-se ao temão com o pascal, mas de tal forma maleável que a ponta se poderia abrir ou fechar mais ou menos, consoante se quisesse fazer um rego mais ou menos fundo. O temão, por sua vez ao encravar-se na rabiça era preso com uma cunha a fim de se segurar melhor.

Imediatamente a seguir ao pascal, o temão tinha um furo lateral, no qual se encaixava um trambolho, caso se pretendesse lavrar de canguinha ou seja com um só animal. Era a este trambolho que se amarrava um “atiradeira” ou corda que, paralela ao temão, se ia prender à canga que o animal levava ao pescoço, enquanto do outro lado era o temão que a ela se apresava com a chavelha habitual e com um tamoeiro pequenino, enfiado nuns furos da canga.

O arado de pau era utilizado para atalhar os campos e para semear o milho, sendo que no primeiro caso se usava quase sempre duas reses, enquanto no semear era muito frequente usar-se o arado de canguinha.

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publicado por picodavigia2 às 20:21

ENTRE A ORIGEM E A OPÇÃO

Segunda-feira, 14.10.13

A cidade assemelhara-se-lhe sempre como um mundo indefinido, confuso e enigmático. É verdade que nela nascera, crescera, estudara e, desde há alguns anos, se iniciara no mundo do trabalho. Não a odiava, talvez até a amasse, mas sentia, cada vez mais, que ela sobrepujava o seu quotidiano, ultrapassando os seus sonhos e desejos. Aqueles prédios altíssimos das Avenidas de Roma e dos Estados Unidos, onde, todos os dias, tomava o transporte para o trabalho, a confusão reinante de veículos e transeuntes, os autocarros apinhados de gente, as filas infinitas e as esperas prolongadas, o barulho ensurdecedor da própria rua onde morava, enfim, o congestionamento, a insegurança e a intranquilidade que cada vez mais devoravam a cidade, afligiam-no e atormentavam-no, de dia para dia.

Lisboa, apesar de ser a sua cidade de origem, aos poucos, ia-se tornando como que um enorme pesadelo de que era urgente libertar-se. Como? Não sabia.

Inicialmente segredara-o apenas à Elvira, a companheira com quem, de há muito, partilhava os momentos de alegria, de prazer e as horas de cansaço e de tristeza. Agora, porém e à medida que o tédio aumentava, sentindo-se incapaz de libertar-se, começava a abrir-se com colegas de trabalho e amigos de ocasião.

O Alves, que se sentava todos os dias, na mesa em frente, no escritório, perante as suas lamúrias, ripostava:

- Ó Guedes, sinceramente que não te entendo! Há lá vida melhor que esta, da cidade?! Trabalho pouco e leve. Divertimentos muitos e variados. Lisboa é um mundo, homem! Para além disto não há mais nada. Vais encafuar-te numa aldeola qualquer como um anacoreta da Idade Média? Estás maluco? Tira essas idiotices da cabeça. Isto aqui é que é vida.... Então não vês que os da província emigram para a capital em catadupa?

Mas para demover o Guedes, não havia argumentos, nem do Alves, nem de quem quer que fosse.

Numa tarde de Domingo em que, com a Elvira engripada, havia optado por ficar em casa, a seu lado, folheando, sem grande convicção, o último número da “Reportagem” deparou com um artigo sobre o Alentejo que de imediato lhe chamou a atenção. Leu-o e releu-o com desmesurada curiosidade.

No fim, o autor da reportagem, ilustrada com algumas fotografias, referia que muitos dos actuais proprietários dos montes alentejanos que os haviam adquirido por herança, estavam a vendê-los, dado que muitas pessoas que vivem nas grandes cidades começam a interessar-se por eles e a comprá-los...

E a ideia de adquirir um monte alentejano não saiu mais da cabeça do Guedes, pese embora a oposição manifestada pela Elvira e as dificuldades que tal aquisição acarretaria.

- Sais de Évora para Reguengos de Monsaraz. Depois de passares o cruzamento para S. Manços e Portel, em S. Vicente do Pigeiro, voltas à esquerda e segues para Montoito. Depois apanhas a estrada para as Falcoeiras, andas meia dúzia de quilómetros e encontras uma placa a indicar “Artesanato do Alentejo”. É aí.

Foi assim que o Guedes explicou ao Alves quando, pelo telefone, o convidou, a ele e à Guida a passarem uns dias no seu monte. 

Já há alguns anos que ali se haviam fixado, ele e a Elvira, concretizando o almejado abandono de Lisboa. Fora um anúncio num jornal. Uma opção difícil, mas consciente e determinada. Numa primeira visita ao local, granjeara a condescendência imediata da Elvira. Era um sítio maravilhoso e paradisíaco, ali, perto de Évora, no coração do Alentejo. Uma planície imensa, onde se vislumbravam searas ondeadas e pintadas a ouro, vinhedos, olivais ramalhudos, montados de sobreiros e azinheiras e terras de pousio onde se apascentavam rebanhos e rebanhos de ovelhas. Além, para Noroeste, a serra de Portel. Para Oeste a planície estendia-se ainda mais, até se perder em Évora. Para o Norte a serra de Ossa e para os lados de Espanha os relevos acidentados de Monsaraz, o castelo de Mourão e as terras espanholas. O seu monte, ali nas Falcoeiras, a20 quilómetrosde Redondo, constituía como que o epicentro daquele paraíso de beleza e de grandiosidade. Era um descampado não muito grande, povoado aqui e além por sobreiros e olivais. Na parte mais alta, o casario, cumprindo a tradição alentejana, pintado de branco, debruado com barras amarelas, com um telhado escurecido e uma enorme chaminé. À frente três janelas de vidros axadrezados e duas portas de madeira alaranjada.

Agora, estava ali, à espera do Alves e da Guida, com o seu monte reconstruído, tendo transformado o celeiro e as arrecadações em loja de artesanato, onde abundavam trabalhos em barro, em cortiça, em chifre e pele de Évora, cestaria e objectos de mármore e madeira de Borba, olaria, tecidos, mantas, chocalhos, buinhos de Reguengos,  cerâmica de S. Pedro do Corval, tapetes de Arraiolos e loiças pintadas de Redondo. De Estremoz recolhera olaria decorativa e utilitária, bonecos típicos, peles, cabedais, trapologia, rendaria, bordados, trabalhos em cana, em vidro e cabaças. No início fora difícil a adaptação e o investimento excessivo mas agora tudo lhe corria de feição.

A chegada do Alves e da Guida foi festejada com grande alacridade. Há muito que se não viam. Era a hora de demonstrar a fascinação do Alentejo, de que o Alves sempre duvidara:

- E tu que quase me forçaste a abandonar os meus planos! – Insinuava, orgulhosamente o Guedes e acrescentava – Isto é uma maravilha! Mas ainda não viste tudo. Hoje vamos descansar e saborear uns petiscos. Amanhã daremos um passeio pelos arredores onde poderás ver uma região onde as marcas aberrantes da industrialização ainda se não fizeram sentir e onde a qualidade ambiental se espelha por toda a parte. Uma região plena de recantos insuspeitos onde, para além da beleza paisagística, proliferam monumentos históricos de grande variedade e riqueza.

Na manhã seguinte o périplo prometido e imprescindível. Redondo com a sua Cerca Medieval e as ruínas do Castelo, a Torre de Menagem, o Pelourinho, a igreja Matriz, a Misericórdia e os Paços do Concelho. A seguir Estremoz: o castelo, a Torre de Menagem, o Paço de Audiência de D. Dinis, as capela da Rainha Santa Isabel e do Anjo da Guarda, a Torre das Couraças, o Pelourinho e a porta dos Currais. Depois Borba com as ruínas do Castelo, as igrejas Matriz, de S. Bartolomeu e da Senhora do Sobral, os Paços do Concelho, os Passos da Via-Sacra e a Fonte das Bicas. Vila Viçosa, outrora sede do ducado de Bragança, com o Palácio Ducal, a Igreja Matriz, o Convento das Chagas, a Porta dos Nós e o jantar: gaspacho, carne de porco à alentejana e bolo do fundo do alguidar. No regresso, já noite escura: Alhandroal, Redondo, Montoito e Falcoeiras.

Foi no dia seguinte que o Alves, despedindo-se do Guedes, lhe segredou:

- Meu amigo! Agora sou obrigado a reconhecer que tinhas razão: a trocar por Lisboa, só o Alentejo.

E partiu, com destino à capital, prometendo regressar em breve.

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publicado por picodavigia2 às 19:21

OS APELIDOS DOS NOSSOS AVÓS E BISAVÓS

Segunda-feira, 14.10.13

Da autoria de Francisco António Nunes Pimentel Gomes, o livro “Casais das Flores e do Corvo” publicado em 2006, revela os extractos dos assentos de casamento realizados nas doze paróquias daquelas duas ilhas, entre os anos de 1675 e 1911. No que à paróquia de São José da Fajã Grande diz respeito, os extractos referenciados no livro mencionam apenas os matrimónios realizados a partir da data da criação da paróquia, ou seja a partir de 1861 pelo que enumeram tão só os cerca de trezentos casamentos realizados entre os anos de 1861 e 1911, na paróquia de São José da Fajã Grande. Sendo assim os nubentes que figuram nestes registos foram os avós e os bisavós da geração nada e criada, na Fajã Grande ou a ela ligada, nas décadas de quarenta, cinquenta e sessenta. Interessante pois, é verificar quais os apelidos de todos os nubentes do sexo masculino e que afinal foram os nossos avós e bisavós ou até nossos parentes.

São os seguintes esses apelidos, sendo que os números à frente de cada nome indicam a quantidade de noivos, do sexo masculino, que usavam esse mesmo apelido: Freitas (35), Silveira (23), Fraga (20), Furtado (13), Fagundes (12), Freitas Henriques (8), Ramos (8), Freitas Fragueiro (7), Cardoso (6), Freitas Dias, (6), Mateus (6), Jorge (5), Nascimento (5), Pimentel (5), Teodósio (5), Branco (4), Freitas Branco (4), Freitas Silveira (4), Gervásio (4), Henriques (4), Serpa (4), Rosa (4), Facha (3), Fagundes da Silveira (3), Freitas Lourenço (3), Furtado Gonçalves (3), Furtado Luís (3), Furtado Sousa (3), Greves (3), Rodrigues (3), Sousa (3), Valadão (3), Agostinho (2), Almeida (2), André (2), Avelar (2), Coelho (2), Conde (2), Cristóvão (2), Freitas Dionísio (2), Mendonça (2), Morais (2), Pacheco (2), Paiva (2), Pedro (2), Silva (2), Amaral (1), Arruda (1), Ataíde (1), Belchior (1), Belo (1), Bettencourt Vasconcelos (1), Botelho (1), Braga (1), Brás (1), Cabral (1), Caetano (1), Coelho (1), Dias Avelar (1), Dowling (1), Felizardo (1), Fernandes Freitas (1), Ferreira (1), Fragueiro Cardoso (1), Francisco (1), Freitas Cabral (1), Freitas Cardoso (1), Freitas Estêvão (1), Freitas Fernandes (1), Freitas Jacob (1), Freitas Lagos (1), Freitas Mateus (1), Freitas Mendonça (1), Freitas Pimentel (1), Freitas Tomé (1), Freitas Valadão (1), Furtado Fagundes (1), Furtado Freitas (1), Gabriel (1), Garcia da Rosa (1), Gomes (1), Gonçalves Fialho (1),  Gustavo (1),  Joaquim (1), Laranjo (1),  Lemos Avelino (1), Lopes (1), Mancebo Fagundes (1), Manuel (1), Marcelo (1), Margarido (1), Maria (1), Medeiros (1), Mendonça (1),  Jacinto (1), Moreira Alves (1), Oliveira (1), Pimentel Facha (1), Ponte (1), Rafael (1), Rita (1), Rodrigues do Nascimento (1), Rodrigues de Freitas (1), Rodrigues Felizardo (1), Rodrigues Machado (1), Santos (1), Silveira Flores (1), Sousa Bettencourt (1),  Sousa Resende (1), Teixeira de Bettencourt (1), Tomás da Silva (1) e Vieira (1).

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publicado por picodavigia2 às 15:28

O CAMINHO DO CIMO DA ASSOMADA/LAVADOUROS (ATÉ SANTO ANTÓNIO)

Segunda-feira, 14.10.13

De todos os caminhos da Fajã, aquele por onde circulavam mais pessoas e animais era, inequivocamente, o que ligava o Cimo da Assomada ao Largo de Santo António. Chegando aí, onde havia um largo e um descansadouro, o caminho bifurcava-se. Se virássemos à direita seguíamos para a Cuada, voltando para a esquerda o destino era a Cabaceira, a Cancelinha, o Espigão e os Lavadouros.

O Caminho iniciava-se nas últimas casas da Assomada, a seguir às quais havia uma pequena ladeira e, no cimo desta, a subida para o Outeiro Grande e para a Pedra d‘Agua, através da íngreme e escabrosa ladeira do Covão, que vinha desembocar no próprio caminho. Este seguia para Sul, em linha recta, até ao Descandouro. Era um caminho largo e plano, de fácil deslocação, sendo ladeado, à direita de quem o subia, por terras e serrados de milho, misturado com trevo, erva da casta, favas e outros produtos agrícolas. Do lado esquerdo empinavam-se sobre as paredes circundantes pequenas belgas onde se cultivava, sobretudo. a batata-doce. Mais a cima e já pelas encostas do Outeiro que se prolongavam até à volta de Delgado, havia algumas terras de mato, de difícil acesso e pouca produtividade, onde fundamentalmente floresciam canas, fetos e árvores de pequeno porte. A seguir ao Descansadouro o caminho formava uma curva e depois uma recta que se prolongava até à volta do Delgado, sendo este o único troço do caminho que, mais tarde, desapareceu com a construção da nova estrada, uma vez que o traçado desta, coincidiu exactamente com o trajecto do antigo caminho. Aqui também havia terras de cultivo à direita e belgas à esquerda, seguidas de terras de mato, as quais notoriamente já eram mais produtivas. Acrescente-se que as próprias terras de cultivo adjacentes ao caminho, sobretudo no percurso entre o Descansadouro e a Volta de Delgado, eram muito produtivas, uma vez que nelas havia bueiros por onde se escoavam as enxurradas, as lamas e as sujidades do caminho, que as fertilizavam.

Essa recta terminava na célebre Volta do Delgado, desaparecida também com a construção da estrada que, a partir daí, seguiu a direito cortando a meio o enorme cerrado do Lucindo Cardoso, com a vantagem de, no entanto passar ao lado de um palheiro que havia no meio dele e que a partir de então passou a servir de abrigo aos transeuntes e que, a pouco e pouco, se foi tornando numa espécie de novo e moderno descansadouro.

A seguir à Volta do Delgado o caminho seguia, menos plano e menos rectilíneo, ladeado pelas altas paredes do cerrado do Lucindo Cardoso e outros, à direita e por enormes belgas entrelaçadas já com algumas hortas e terras de mato, do lado esquerdo. Estávamos praticamente em pleno Delgado, desde sempre o autêntico coração da fruticultura fajãgrandense. Na realidade, a partir dali iniciava-se uma zona de hortas muito férteis e produtivas, cheias de árvores de fruto, de inhames e até de batata-doce, muito bem protegias dos ventos e temporais com bardos de faia do norte e que se prolongavam pela Cabaceira, até à Cancelinha e à Cuada. Finalmente o Largo de Santo António, um dos mais míticos descansadouros dos vários que havia na Fajã.

No início, logo no Cimo da Assomada, este caminho era ladeado por alguns palheiros, casas velhas e por quatro casas de habitação. Do lado esquerdo ou do Outeiro, localizava-se as casas da Maria da Saúde, a do José Jorge e a da Mariquinhas José Fragueiro. A última casa da Assomada ficava do outro lado do caminho, já quase junto à Ladeira do Covão, e pertencia ao João Fagundes. Também ao longo deste caminho desembocavam algumas canadas e atalhos. Para além da Ladeira do Covão e antes desta havia uma canada com degraus, inacessível a bovinos, que dava para a encosta do Vale e para Pedra d’Água. Logo a seguir à casa do João Fagundes, havia um atalho para as terras do Vale da Vaca e que, mais tarde, foi truncado pela estrada. Por sua vez, na Volta do Delgado, do lado direito, havia uma canada que dava para algumas terras e que ia desembocar no caminho da Cuada. Mais acima e já perto de Santo António e do lado esquerdo havia uma outra canada para as terras e hortas que aí existiam.

Acrescente-se que aqui como em muitos outros lugares da Fajã, quer caminhos quer canadas não davam para todas as terras. Nestes casos o acesso às propriedades que ficavam mais afastadas fazia por “trilhos” ou passagens, através de outras terras. Assim e por lei consuetudinária, algumas terras eram obrigadas a dar caminho a outras. Eram terras que “deviam caminho”.

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publicado por picodavigia2 às 11:09

JÚLIO DE ANDRADE

Segunda-feira, 14.10.13

Júlio Dutra de Andrade nasceu na cidade Horta, em 30 de Janeiro de 1896, tendo falecido em Lisboa, em 1978. Fez a sua formação académica na Escola do Ensino Normal da Horta e leccionou, como professor do Ensino Primário, em diversas freguesias da ilha do Faial. Muito cedo enveredou pelas letras, dedicando-se ao jornalismo, à poesia, ao teatro e à música.

Em 1917, publicou o seu primeiro livro de versos. Publicou. Mais tarde, Contos e Historietas, Esboços, a peça de teatro Campestres e os livros de poesias Fumos e Açores. Publicou outras obras de teatro, entre as quais O Moleiro e Reviver. Em 1943 fixou residência em Lisboa onde publicou Cartas do Meu Sentir, livro de cantares para o povo, fábulas e sonatinas, contos e crónicas em Calhaus Rolados, considera, pela crítica a sua melhor obra. Em 1960, editou em Lisboa a obra de maior fôlego de carácter folclórico, ou seja uma recolha de Bailhos, Rodas e Cantorias nas ilhas do Faial, Pico, Flores e Corvo, que a Câmara Municipal da Horta reeditou em 1997. Publicou ainda o romance O Último Carrasco Açoriano e o livro de poesias Limite.

No jornalismo de feição literária, Júlio de Andrade dirigiu O Eco, e, em conjunto com Manuel Silos, o boletim quinzenal O Álbum, votado ao culto das letras. Dirigiu ainda, na cidade da Horta, A Horta Desportiva, simultaneamente com produções literárias e com o teatro, compondo e encenando a revista Má Língua. Muita outra produção ficou dispersa pela imprensa local. Na música, além de investigador do folclore, sobraçou a regência da capela da matriz da Horta.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 00:16

O RESTOLHO DOS TRIGAIS

Segunda-feira, 14.10.13

o vento trouxe a tempestade

do norte

e   com ela   amorteceu

o brilho dos trigais

 

- rebentos entumecidos

fulvos

a abrirem-se em cachão

e o Sol a amadurecer-lhes o despertar

 

- espigas amarelecidas

suculentas

a refulgirem em aromas

à espera da safra.

 

os trigais enchiam campos

recobriam vales

ornavam encostas

como se fossem tapetes

bordados com tulipas

 

floresciam   sem medo

e ostentavam-se   com destreza.

 

vendaval fatídico!

 

… e dos trigais

suculentos

e floridos

havia de ficar   apenas   o restolho!

 

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publicado por picodavigia2 às 00:04





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