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O PADRINHO DO CRISMA DE MEU PAI

Sábado, 19.10.13

Meu pai nasceu em 1902 e crismou em 1925, ou seja, no ano em que visitou a ilha das Flores, o então Bispo de Angra, D. António de Castro Meireles. Na altura era pároco da Fajã Grande o padre Francisco José Gomes, embora nesse ano tivesse sido nomeado um novo pároco, o Padre Manuel de Freitas Pimentel, que assim iniciava o seu longo paroquiar na Fajã, até 1961, altura em que resignou e fixou residência em Angra do Heroísmo. Como o número de crismandos era muito elevado, dado que as visitas episcopais eram raras, o pároco recorreu a alguns seminaristas naturais da freguesia e que ali estavam de férias, a fim de percorrerem todas as casas, registando o nome dos crismandos, bem como o dos seus padrinhos. O registo na Assomada terá sido feito por um seminarista de nome Manuel Luís de Fraga, filho de Tio Manuel Luís e da Senhora Dias, que moravam na Tronqueira, numa casa localizada muito abaixo do caminho, junto ao chafariz que ficava em frente à casa do Roberto Belchior, o qual na altura frequentava o 7º ano do Seminário de Angra.

Ao dirigir-se ao meu progenitor para fazer o respectivo registo, perguntou-lhe pelo nome do padrinho. Pelos vistos meu pai ou porque não tivesse pensado nisso ou porque ninguém quisesse assumir esse cargo, respondeu-lhe simplesmente que não tinha padrinho.

- Mas tens que ter, ninguém pode crismar sem padrinho – informou o seminarista.

- Então só se fores tu. – Retorquiu o meu progenitor.

O Manuel Luís aceitou, pelos vistos de bom grado e até com satisfação e, alguns dias depois, meu pai crismou pelas mãos de D. António de Castro Meireles, sendo seu padrinho Manuel Luís de Fraga, como consta dos livros de registo dos Crismas da paróquia da Fajã Grande.

O padrinho do meu pai nasceu na Fajã Grande, em 1904, sendo, portanto, dois anos mais novo do que meu progenitor. Terá sido das poucas crianças que fez o ensino primário na freguesia, na altura, pois nesses tempos nem havia escola. Fê-lo com um professor que por lá havia e ensinava as crianças na sua própria casa. Meu pai dado a pobreza dos meus avós, teve que começar a trabalhar desde muito novo, tendo apenas aprendido a ler e a escrever. Manuel Luís, no entanto,  revelou-se muitíssimo inteligente e foi das poucas crianças desse tempo a fazer o exame da 3ª classe, o único que se fazia nessa altura, na ilha, masem Santa Cruz. Dotadode uma inteligência extraordinária, aliada a uma enorme vontade de aprender e dando provas de vir a ser um excelente aluno, foi enviado para o Seminário, em 1918, onde cursou Filosofia e Teologia, tendo interrompido os estudos em 1927, altura em que deixou as ilhas com destino ao Continente. Enquanto leccionava num colégio de Sintra ia completando as suas habilitações literárias no liceu, o que fez entre 1927 e 1929, por não lhe darem equivalência dos estudos adquiridos no Seminário. Foi professor também no colégio da Formiga, em Ermesinde e jornalista no “Novidades”. Mais tarde entrou para a Marinha onde foi enfermeiro, distinguindo-se ainda como escritor e poeta. Era uma pessoa íntegra, honesta, fiel aos seus princípios e cumpridor dos seus deveres. Creio que não regressou à Fajã, onde no início dos anos cinquenta ainda viviam os seus pais e os seus irmãos: a Sra Dias, a Sra Águeda, a Sra Bernardete, o Tobias e o José Dias, embora alguns destes tenham emigrado, pouco depois, para os Estados Unidos.

Consta que devido a este facto, se criou uma relação de grande amizade entre afilhado e padrinho, os quais chegaram a trocar correspondência, a qual, lamentavelmente se terá perdido.

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publicado por picodavigia2 às 23:05

MANUEL CABRAL

Sábado, 19.10.13

Manuel da Câmara Velho Melo Cabral nasceu na vila da Lagoa, ilha de S. Miguel, em 4 de Setembro de1869, tendo falecido em Ponta Delgada, em 1939. Manuel Cabral foi jornalista, escritor e político sendo hoje conhecido, sobretudo, como contista.

Deu início à vida literária nos jornais da sua cidade natal, no fim do século XIX mas foi, também, redactor do Jornal de Lisboa. Na Lagoa, onde foi administrador do concelho, fundou o Vigilante e em Ponta Delgada, O Distrito. Parte da sua vida foi passada na cidade da Horta, onde foi nomeado governador civil durante o consulado de Sidónio de Pais.

Na sua obra literária é-lhe reconhecida uma prosa elegante e esmerada que usou nos contos e narrativas de temática regional. As suas principais obras são: Narrativas Açorianas, Uma Mística Açoriana do século XVII, e Antero de Quental e a sua Morte.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 18:25

O MELÃO

Sábado, 19.10.13

Franzino, escanzelado, rosto macilento e olhos esbugalhados, o Aires aparecia nas aulas muito carrancudo e retraído, consubstanciando simultaneamente rusticidade e negligência. Vestia desajeitadamente umas roupas de aspecto decrépito e com um estado de conservação notoriamente deteriorado, a que se juntava uma assumida falta de limpeza. O rosto expressava um alheamento permanente e global a pessoas e ensinamentos. Os olhos, absortos e perplexos, emperravam todo e qualquer conhecimento e obstruíam notoriamente a capacidade de atingir objectivos. A sua mente vagueava por um universo abstruso, incoerente e quase irracional. Devaneava com frequência, distraía-se vezes sem conta e desvairava continuamente. Em suma – o Aires não aprendia rigorosamente nada.

Consequência de tudo isto: na pauta, afixada trimestralmente nos placares da escola, ao nome do Aires seguia-se uma enxurrada de negativas em todas as disciplinas, excepto Religião e Moral onde, mais por benevolência do professor do que por mérito do aluno, aparecia bem escarrapachado um três. Mas não ficavam por aqui os malefícios da presumivelmente assumida não aprendizagem do Aires. Os professores passavam horas e horas a discutir, a analisar e a transcrever para a acta as dificuldades do rapaz e a inventar propostas para as superar, atrasando significativamente as reuniões de avaliação e a Directora de Turma, jovem e pouco experiente, via-se e desejava-se para explicar aos pais o mais-que-evidente insucesso do garoto. A própria psicóloga já fora chamada, vezes sem conta, a intervir em tentativas infrutíferas de analisar e compreender tão grave e sério embargo a todo e qualquer tipo de cerebração.

Certo dia, na aula de Ciências, a professora alheando-se um pouco dos conteúdos programáticos, resolveu falar sobre as cucurbitáceas:

- São plantas dicotiledóneas e gamopétalas como a abóbora, a chila, a melancia e o melão – explicou a professora.

Milagre! Enquanto a restante parte da turma se distraia cuidando que aquilo das cucurbitáceas era mais um dos devaneios científicos da professora e que aquela matéria nunca iria sair nos testes, o Aires, sobretudo ao ouvir a palavra “melão”, vai disto e resolve concentrar todas as forças até então perdidas e dispersas no que a professora explicava. Esta, incrédula perante tamanha reviravolta do molengão, procurando uma linguagem mais simples, continuou:

- Vocês conhecem muito bem o melão e a melancia e de certo quase todos já os comeram e apreciaram as suas propriedades refrescantes.

O Aires não pestanejava e, qual abelha a sugar o néctar duma flor, bebia-lhe as palavras uma a uma. A professora insistia:

- O melão é mesmo um fruto bem português, – os olhos do Aires esbugalharam por completo – cultivando-se em grande quantidade aqui, na região do Vale do Sousa. O melão possui propriedades que o tornam, além de saboroso, um excelente auxiliar do funcionamento do corpo humano, pois é uma fonte abundante de fibras e possui grandes quantidades de vitamina A, C e do complexo B. Além disso, é rico em cálcio, fósforo, ferro, potássio, cobre e enxofre e não tem consequências negativas, já que por cada cem gramas de melão ingerimos aproximadamente trinta calorias. O seu alto valor em potássio torna o melão indicado para doentes cardíacos e para pessoas com afecções do fígado. É igualmente recomendado na prevenção e no tratamento da gota, reumatismo e prisão de ventre. Mas, atenção, se ingerido em excesso pode causar cólicas e diarreia.

O Aires estava extenuante e a professora perplexa, por sentir que aquela alma penada pela primeira vez se concentrava e interessava por alguma coisa, sem contudo encontrar uma explicação plausível.

Mas como estava ali para ensinar e o rapaz mostrara grande interesse, no fim do ano não se fartou de partilhar com os colegas o que presenciara naquela aula, manifestando sérias tentativas de o passar. Foram, contudo, improfícuos os seus esforços, esbarrando ingloriamente com a pertinácia dos colegas. Então ia lá passar-se um abantesma daqueles, que afinal dava erros em catadupa, lia mal que se fartava, não dava uma prá caixa em Matemática, não percebia patavina de História e nem sequer sabia distinguir uma colcheia duma semifusa?

E o Aires reprovou mesmo.

Algum tempo depois, ao passar na recta de Sequeiros, na estrada que dá para Lousada, parei para comprar um melão a um dos vendedores que por ali proliferam nos meses de Verão. Qual não foi o meu espanto quando me apercebi que o vendedor, onde casualmente havia parado, era o Aires. Qual Paxá rodeado de donzelas no seu harém, o Aires, sentado em cima de um cesto com a boca para chão e o fundo para cima, tinha à sua volta dezenas e dezenas de melões de todas as espécies, tamanhos e feitios, a que se misturavam algumas melancias. Com invulgar perícia e robusta confiança aconselhava os clientes, escolhia-lhes os melões, convencia-os a comprar, mostrando ainda grande destreza e agilidade nas operações matemáticas inerentes a cada troca comercial. Quando chegou a minha vez, o rosto vermelhou-se ainda mais, revelando um misto de timidez, alegria e confiança. Com acrimónia interrogou-me:

- O setor também quer comprar um melão?

Como acenasse positivamente, acrescentou com enorme empolgamento e invulgar entusiasmo:

- Pó setor vou escolher o melhor. Vai comer um melão como nunca comeu.

Batuca daqui, sacode dali, cheira dacolá, apalpa e volta a apalpar as extremidades do cucurbitáceo. Por fim com os olhos repletos de júbilo e o rosto excessivamente aprazerado, concluíu:

- Este, setor, este! Pode levar! Este é de confiança. Este é mesmo bom!

Conversei um pouco mais, paguei, regressei a casa e deliciei-me com o melão - o melhor melão que comi em toda a minha vida.

Foi então que dei comigo a pensar: se aos professores, nos quais eu obviamente me incluía, que haviam reprovado o parrana do Aires por não saber Português, Matemática, História ou até ler o solfejo, alguém decidisse ensinar como se escolhe um melão, nunca haviam de aprender a fazê-lo com a perícia, a sabedoria e a competência do Aires.

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publicado por picodavigia2 às 17:18

VENDAM-ME A CABRA

Sábado, 19.10.13

Desde há muito que o Júlio andava com a ideia de comprar e criar uma cabra. É que a criação e o trato duma cabra não se comparava, nem de perto nem de longe, com os trabalhos e canseiras de criar uma vaca. Além disso, o tempo que lhe sobrava do cultivo e amanho das terras dos pais era mais que suficiente para apanhar uns gravetos de faia por aqui e por ali ou de a levar a pastar a qualquer belga ou canada. Poupava em canseiras e trabalhos e o resultado era o mesmo: leite fresquinho todos os dias e, ainda por cima, mais saudável.

Se bem o pensou melhor o fez. E certa tarde lá foi a Ponta Delgada, de mãos a abanar e apenas com uns tostões nos bolsos, regressando, todo feliz, com a cabra, à qual, a partir de então, não faltaram cuidados, atenções e sobretudo comida, muita comida. A cabra cresceu, engordou, tornou-se num belo animal, o “Ai Jesus” do Lúcio, que jurava a pés juntos, na Praça, no Alagoeiro, em Cima da Rocha, que nunca havia de a vender, pese embora o animal fosse cada vez mais cobiçado e admirado por todos na freguesia.

Mas lá chegou o dia em que o Lúcio foi às Lajes, às sortes e… ficou apurado. Passados alguns meses nada mais teve que fazer do que preparar as malas, embarcar no Lima e marchar para Angra, onde se aquartelou no velhinho castelo de S. João Baptista, lá para os lados do Monte Brasil.

No quartel, porém, não havia muito que fazer. Viviam-se tempos de paz, após a 2ª guerra mundial. O Lúcio, para além das simples e curtas tarefas quotidianas que se impunham aos soldados, tinha muito tempo livre. Daí que juntamente com os outros militares se deslocasse frequentemente à cidade, passeando por aqui e por além, entrando num café ou tasca, assistindo aos duelos futebolísticos entre o Lusitânia e o Angrense, frequentando esta ou aquela casa de divertimento, benesses de que na Fajã nunca desfrutara. Mas o dinheiro era pouco ou nulo e a vontade de se divertir muita.

Foi então que o Júlio se lembrou da cabra. Esqueceu promessas e juras e, de imediato, escreveu aos pais solicitando-lhes sem hesitação: “Vendam-me a cabra e mandem-me o dinheiro para Angra do Heroísmo, Terceira, Açores. Não há nada que enganar.”

Como, na Fajã, as notícias deste tipo se espalhavam com alguma facilidade, esta não fugiu à regra e, em breve, toda a gente soube que Lúcio escrevera aos pais a pedir-lhes que lhe vendessem a cabra, da qual jurara nunca desvincular-se, granjeando, no seu regresso da tropa, o epíteto de “Vendam-me a cabra” e não se livrando de muito gozo e outra tanta chacota.

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publicado por picodavigia2 às 15:27

EXCERTOS DA CARTA ENVIADA PELO CAPITÃO DIOGO DE SILVES AO SENHOR DOM INFANTE SOBRE O ACHAMENTO DE ALGUMAS ILHAS DOS AÇORES

Sábado, 19.10.13

Documento inédito e “desconhecido” até à presente divulgação, com a grafia actualizada.

 

“Eu, Dom Diogo de Silb, capitão (...) tendo-se levantado grande procela, navegámos aterrorizados, sem destino (...) Passados alguns dias chegámos a uma ilha, com uma enorme baía, junto à qual se levantava uma rocha muito alta, repleta de árvores diversas, algumas nossas desconhecidas que as não há em nenhuma parte do reino de Portugal, encimada por uma enorme e negra montanha, que devido aos nevoeiros que cobriam a parte mais alta da dita ilha, muito dificilmente se via. Aportámos à dita baía e alguns dos nossos marinheiros mais destemidos entraram por terra dentro. Ao regressar informaram de que aquela ilha era mui grande e mui alta e que não tinham encontrado pessoa humana nenhuma. Apenas trouxeram consigo frutos diversos, que os há muitos na dita ilha e algumas aves, que mataram e assaram em fogueiras que fizeram à beira do mar, juntamente com o peixe que pescámos e que é abundante naqueles mares. Passados alguns dias, o tempo amainou e largámos dali, navegando para Oeste, percorrendo grande parte da costa sul da dita ilha. Logo adiante avistámos a bombordo uma outra ilha, muito mais baixa e arredondada e, logo dali depois, a estibordo, uma outra ilha muito comprida e escura. Consultando o portulano dos Medici pudemos verificar e saber que a dita primeira ilha a que aportámos era a Li Colombi, mas à qual os nossos marinheiros já tinham posto o nome de ilha de S. Diniz, por mandato do nosso padre capelão. A outra ilha que encontrámos a Oeste era Insule Ventura, à qual pusemos o nome de S. Luís. E não havendo outro nome de santo adequado, para aquela outra dita ilha que se chamava de  San Zorso, houvemos por bem chamar a dita ilha pelo nome de ilha de  S. Jorge (…) Depois de aportarmos a estas ditas ilhas, verificámos que eram, em tudo, mui semelhantes à primeira, isto é, desabitadas e sem vestígios de o terem sido anteriormente, desprovidas de animais, tendo, como a primeira, apenas algumas aves, mas cobertas de densa e mui desconhecida vegetação.  Navegámos, de seguida, para oriente, para os lados do Reino de Portugal, e avistámos mais uma ilha, esbranquiçada, algumas léguas a norte. Como se levantasse de novo grande procela, fomos dar a uma outra ilha que é chamada de Insule Brazi. Como a ela chegámos no primeiro dia de Janeiro, dia do Santíssimo nome de Nosso Senhor Jesus Christo, entrámos em terra onde foi logo celebrada missa e os nossos marinheiros chamaram-lhe ilha de Jesus Christo. Nela permanecemos alguns dias porque é mui fértil em frutos de diversas qualidades e aves mui grandes e abundantes. Ali ficámos porque dela não se viam outras ilhas, para além das já achadas. Passados alguns dias afoitámo-nos, de novo, ao mar e navegamos  para oriente e, guiados por muitas aves que voavam por ali, sendo tais aves terrestres, fomos por elas guiados até encontrarmos as duas ilhas de Cabrera. Foi assim que decidimos enviar a Vossa Alteza e meu Senhor, um batel com alguns dos nossos homens, dando notícia do achamento das ditas ilhas, pois sabemos quanta vontade e desejo Vossa Alteza e meu Senhor tem no dito achamento. Agora, que Vossa Alteza tem e haja as ditas ilhas, como era vosso real desejo desde há muito, podeis enviar, com auxílio do piloto que mandámos para o reino, o vosso nobre e esforçado cavaleiro Dom Frei Gonçalo Velho Cabral, Comendador do Castelo de Almourol, que está sobre o rio Tejo, a estas paragens, para vos tornardes o verdadeiro senhor destas ilhas e aproveitardes os produtos em que são férteis. Como também são mui ricas de plantas diversas e mui verdejantes podereis mandar lançar em todas elas grande quantidade de cabras e ovelhas que nellas pastarão mui bem. Mais assegurámos que poderá Vossa Alteza enviar colonos para as habitar e cultivar, pois todas ellas são de mui bom terreno para cultivo de cereais e de frutos e para criação de animais e tem junto ao mar grandes baías e terrenos planos para se construírem povoados... Deveis solicitar ao senhor vosso pai e el-rei de Portugal, licença para as povoar, o qual mande que vedores da fazenda, corregedores, juizes, justiças e outros quaisquer que isto houverem de ver, que lhas deixem mandar povoar e não lhes ponham sobre ello embargo (…) feito em 3 dias de Março, Anno do senhor de mil iiijc xxviii”.

 

NB - Este suposto “documento” é pura ficção. Qualquer semelhança com o histórico é mera coincidência.

 

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publicado por picodavigia2 às 09:32

ONDE NASCEU O SENADOR ANDRÉ DE FREITAS

Sábado, 19.10.13

No passado dia nove coloquei, neste blogue, um texto, sobre um dos mais ilustres e dignos fajãgrandenses de todos os tempos, o Senador José Joaquim André de Freitas. Nesse texto, afirmava, de acordo com a informação que possuía que o referido Senador “Nasceu de família pobre, provavelmente na Cuada, e fez os estudos primários na Fajã” Pelos vistos, terei cometido um lapso ou as informações que recolhi não eram fidedignas. Ainda bem que há leitores atentos a estes lapsos. Neste caso foi meu primo Daniel Sousa, não apenas detentor de uma memória lúcida, mas também possuidor de muitos conhecimentos de costumes, pessoas e tradições sobre a Fajã Grande, que elucidou, enviando-me o seguinte texto:

Há dias li no Pico da Vigia um texto sobre a vida de João Joaquim André de Freitas, onde se afirmava que não havia certeza sobre o local onde ele teria nascido, e que talvez tivesse sido na Cuada. Afinal João Joaquim André de Freitas nasceu na Fajã. Tinha, sim, parentes na Cuada, que lá viviam quando ele nasceu, em 1860. Mas ele nasceu na rua da Via-de-Agua, na zona que era habitada por gente pobre, onde viviam cerca de meia dúzia de famílias. A casa onde ele nasceu já não existe, era onde hoje esta situada a casa de Teresa Fagundes, viúva de Francisco Faicha Pimentel. O José Joaquim André, sobrinho do Senador e filho de um Madeirense, vendeu essa casa à  Mariana Felizarda, em 1944, embora já bastante descaída e sem tecto. A Mariana concertou-a e lá guardava três vacas e um bezerro. Foi la que nasceu o Senador, e, talvez dois irmãos e três irmãs. Eram pobres, mas alguns deles muito inteligentes, mas não se consta que algum fosse santo. A irmã Margarida era professora, a minha mãe e minhas tias da Assomada, (entre as quais a mãe do Pedro da Silveira) foram alunas dela, mas a escola era paga por meu avo Mendonça. Na Fajã, apenas para os rapazes a escola era paga pelo governo, a partir de 1855. A professora Margarida André foi  viver para a Cuada quando um tio ou talvez um irmão, voltou da América, com muito dinheiro para aquela época, e, gostou de ir viver para a Cuada e, a Margarida conseguiu convencer uma viúva que la vivia sozinha e, já muito idosa, a lhe fazer Escritura  dos seus bens: uma casa e vários terrenos. Mas não se davam bem a viver em conjunto e, a pobre viúva, apesar de já idosa, foi obrigada a ir viver para a Fajã, de esmolas. Na Fajã ainda vive uma parenta da pobre mulher e que é a Manuela Fraga, esposa do Ramiro. Isto terá acontecido por volta de 1920. Pior procedimento teve na Fajã, por volta de 1887, a professora Margarida, pois prometeu casar com António Joaquim da Silveira, que era parente dos Silveiras. O homem vinha da América, mas não a trouxe com ele. Era dono da casa do Francisco Nunes e tinha pouco mais. Ela dizia que casava com ele, para ele lhe fazer Escritura dos bens que tinha. Ele, fiado nas promessas, fez a Escritura, mas ela, depois, negou-se a casar. Ele nervoso deu-lhe um corte na garganta, e, pensando que ela ia morrer, foi sentar-se nas escadas do Cantinho esperando que lhe desse uns ataques de doença que tinha. Assim morreu o homem que tanto viajou pela América. Era conhecido por O Mata Ratos.

A Cuada em 1814 tinha 22 casas moradias, e 122 habitantes. Só duas dessas casas cobertas de telha as outras eram cobertas de palha e ninguém andava calcado. Na época a ilha das Flores tinha uma população de cerca de 10.500 habitantes ou mais. A Fajazinha em 1861 como tinha tudo junto a Fajã, Cuada e a Ponta, tinha cerca de 2.163 habitantes. A Fajã quando se separou com a Ponta e Cuada, tinha 1.343 habitantes. B

Afinal na família do Senador João Joaquim André, o apelido “Freitas” não era de família, usavam-no porque pertencia às famílias mais importantes da Fajã Grande, que eram os senhores Alferes, Capitães, Sargentes, (Freitas Henriques) e que constituíam a fidalguia e que moravam na casa grande da rua Direita, construída em,1674.”

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publicado por picodavigia2 às 00:34





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