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VOTO DE PESAR PELA MORTE DE PEDRO DA SILVEIRA

Segunda-feira, 21.10.13

(APRESENTADO PELOS DEPUTADOS DO PS NA ALRA - 13 DE MAIO DE 2003)

 

Pedro da Silveira deixou-nos.

Natural da freguesia da Fajã Grande, ilha das Flores, onde nasceu em 5 de Setembro de 1922, Pedro Laureano de Mendonça da Silveira faleceu aos 80 anos, em Lisboa, no passado dia 13 de Abril.

Concluída a instrução primária na escola da terra que lhe serviu de berço, frequentou durante um ano o Seminário de Angra do Heroísmo. Completou os estudos liceais naquela cidade e em Ponta Delgada, onde iniciou a sua participação na vida literária. Fixou-se definitivamente em Lisboa no ano de 1951.

Pedro da Silveira foi agricultor, escriturário, delegado de informação médica, historiador, tradutor e bibliotecário. Foi também jornalista, tendo numerosa colaboração dispersa por jornais e revistas como “O Comércio do Porto”, “O Primeiro de Janeiro”, “Vértice”, “O Diabo”, “Seara Nova”, “Colóquio-Letras” e ainda no “Diário dos Açores”, no Jornal O Monchique” e na “Revista Municipal das Lajes das Flores”, bem como alguns estudos sobre a história e o folclore dos Açores, em publicações da especialidade.

Mas Pedro da Silveira distinguiu-se sobretudo como poeta, dando à estampa uma vasta obra de poesia e de investigação, nomeadamente sobre Cesário Verde e Roberto Mesquita. Em 1952 publicou em Lisboa “A Ilha e o Mundo”, a sua primeira colectânea de poesia, a que se seguiu “Sinais do Oeste”, editado em Coimbra em 1961. “José Leite de Vasconcelos nas Ilhas de Baixo”, “Corografias” e “Antologia da Poesia Açoriana do Século XVIII a 1975”, são outras das mais importantes publicações de Pedro da Silveira.

Apesar do seu cosmopolitismo e abertura aos mundos e às correntes, na lírica de Pedro da Silveira, realista, concisa e anti-retórica, está bem presente a marca da sua condição de ilhéu, da sua mudividência insular e açórica, traduzida de modo exemplar no poema que dá precisamente pelo nome de “Ilha:

”Só isto:..O céu fechado,uma ganhoa

pairando. Mar. E um barco na distância:

olhos de fome a adivinhar-lhe à proa

Califórnias perdidas de abundância.”

Testemunha de um século, vivido entre os presos políticos das Flores (onde conheceu João Soares), os anarquistas da Terceira (onde foi companheiro de Nemésio no núcleo local da Juventude Anarco-Sindicalista) e os escritores de Lisboa, exímio contador de histórias, Pedro da Silveira tinha várias obras em preparação e havia já começado a reunir em livro as suas memórias. E, subitamente, partiu.

A sua partida deixou mais pobres as letras e a cultura de Portugal e dos Açores. A excelência da sua obra constitui garantia da perenidade da sua memória.

Assim, nos termos estatutários e regimentais aplicáveis, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores, reunida na cidade da Horta, emite um Voto de Pesar pelo falecimento do poeta e cidadão Pedro da Silveira.

 

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publicado por picodavigia2 às 23:52

PALAVRAS, DITOS E EXPRESSÕES UTILIZADOS NA FAJÃ GRANDE (III)

Segunda-feira, 21.10.13

Abalar – Caminhar, partir para outro local.

Acacular – Acogular, encher em demasia.

Acomoda-te – Sossega, está quieto.

Aduelas – Costelas.

Ala botes – Vamos embora, vai-te embora.

Alvaroses – Calças de ganga com suspensórios e peito.

Andar derreado – Estar cansado. Estar doente das costas.

Ar encanado – Corrente de ar.

Arreda-te – Afasta-te

Baque – Queda.

Bardamerda – Pessoa sem importância ou insulto.

Cagão – Medroso.

Caldeado – Misturado.

Casinha - Retrete

Cochim – Almofada.

Deitar-se com as galinhas – Deitar-se cedo.

Dia de Fio – Dia em que se ia ao mato juntar e tosquiar as ovelhas.

Estar à mão de semear – Estar prestes a levar uma sova ou uma tareia.

Estarraçar – Partir ou desfazer algo. Destruir.

Focse ou foco – Lâmpada de bolso.

Garrear – Brigar, lutar

Ir num pé e vir no outro – Ir depressa.

Lançar – Vomitar

Linha – Corda de estender a roupa.

Mentes – Enquanto.

Mercar – Comprar.

Meter o bico onde não se é chamado – Falar de mais, ou do que não nos diz respeito.

Meter o nariz em tudo – Bisbilhotar, coscuvilhar.

Não te consumas – Não te preocupes.

Não ver alma viva – Não ver ninguém.

Parto-te as galhetas –Dou-te na cara.

Peleijar – Discutir com zanga, ralhar com alguém.

Pilha – Lâmpada de bolso.

Pinote – Salto.

Pinotes – Amendoins.

Prisão – Gancho do cabelo das mulheres.

Quartos – Nádegas.

Raso – Cheio.

Soleta – Soleira da porta.

Tapona – Bofetada.

Ter bom arcaboiço – Ser forte.

Ter voz de cana rachada – Cantar mal.

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publicado por picodavigia2 às 23:12

OS DESCANSADOUROS

Segunda-feira, 21.10.13

Na Fajã, nos anos cinquenta, tudo o que os campos produziam, assim como os produtos necessários à alimentação não apenas das pessoas mas sobretudo dos animais eram acarretados às costas, no caso dos homens, ou à cabeça, em se tratando das mulheres. Molhos de incensos, de erva, de fetos, de couves, de rama de batata-doce, de cana-roca, de restolho, de lenha, de milheiros, cestos e sacos de inhames, de batata-doce, de batata branca, de milho, de esterco, latas de urina, todos os produtos eram transportados por homens, mulheres e crianças, às costas ou à cabeça. No primeiro caso, depois de colocado aos ombros ou levantado do chão para as costas, era enfiado no molho, sobre o ombro direito, um bordão que, fazendo de alavanca, aliviava a carga ou pelo menos equilibrava-a melhor, sobre o lombo do transportador. Caso se tratasse de um saco ou de um cesto, o bordão era colocado por debaixo do mesmo, sendo pressionado, sob a forma de alavanca, à frente do peito, pelo braço ou mão direita, excepto nos canhotos que acontecia ao contrário. Geralmente o molho e o cesto eram colocados sobre um casaco ou froca, dobrado sobre os ombros, ou por um saco de serapilheira enfiado de capuz, para que não magoasse o corpo e evitasse, quando o produto estava alagado, que a água a escorrer entrasse pelas costas abaixo. No caso das mulheres que traziam a carga à cabeça, não necessitavam de bordão para a equilibrar, mas colocavam sobre o cocuruto, a fazer de amortecedor, uma rodilha de pano.

Era uma vida cansativa, amargurada, dorida e fatigada a dos nossos antepassados! 

Tudo isto porque o número de burros existentes na freguesia, nos anos cinquenta, era muito reduzido. Apenas um ou outro lavrador mais abastado os possuía. Os carros de bois, embora em maior número, também eram raros e destinavam-se apenas a acarretarem o esterco, o sargaço, o milho e um ou outro produto, quando do mesmo se necessitava uma grande quantidade. Era o que acontecia, por exemplo, com a lenha para a matança ou a cana roca para a cerca do porco, os fetos para cama do gado ou os milheiros, após a apanha do milho. Como única alternativa plausível ao carro de bois havia o “corsão”, mas o seu uso consubstanciava algumas dificuldades: desgastava-se muito pois era arrastado sobre a calçada, empeçava frequentemente nas pedras irregulares dos caminhos e, como a base era feita de travessas com grandes ralos, obstaculizava o transporte de muitos produtos. Acrescente-se ainda que a maioria das vias eram canadas e atalhos onde o “corsão” e o carro de bois não cabiam. Além disso sendo as vacas a principal fonte de economia era preciso poupá-las para que dessem mais leite.

Assim restava uma única alternativa, dura, pesada e demolidora mas absolutamente necessária e obrigatória: acarretar os produtos agrícolas e todos os outros, por mais pesados que fossem e por mais encharcados que estivessem, às costas ou à cabeça.

Foi deste imperativo que nasceu a necessidade de criar, na Fajã Grande, os “Descansadouros” ou seja locais situados nos espaços dos caminhos, geralmente mais amplos, com paredes circundantes onde se podiam colocar os molhos e os cestos, geralmente com bancadas naturais ou rusticamente construídas e onde as pessoas paravam para falar, conversar, conviver, beber água e, sobretudo, para descansar, aliviando-se, por uns minutos, dos pesados carregamentos que transportavam sobre o lombo.

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publicado por picodavigia2 às 20:48

ARMANDO CÂNDIDO

Segunda-feira, 21.10.13

Armando Cândido de Medeiros nasceu em Vila Franca do Campo, ilha de S. Miguel, em Outubro de 1904, falecendo em Lisboa, em 1973. Concluídos os estudos no Liceu de Ponta Delgada, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, iniciando a sua carreira profissional como delegado do Procurador da República, na Graciosa. Com o cargo de juiz exerceu funções na Povoação, Ponta Delgada e Funchal. Foi delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência. Na carreira política, exerceu o cargo de presidente da Junta Geral de Ponta Delgada e de Deputado, tendo revelado grande dinamismo, não só na abordagem e defesa de questões regionais mas também de assuntos de carácter nacional. Residindo em Lisboa, foi vogal e vice-presidente da Comissão Executiva da União Nacional e director do respectivo Centro de Estudos Políticos e Sociais. Foi Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas e director do Banco de Angola. Foi um grande defensor do regime salazarista escrevendo vários artigos de carácter doutrinário na revista Sulco.

As suas principais obras literárias são: Coimbra no Meu Tempo, Lanças Quebradas, Corporativismo. Comunismo. Frente a Frente, Porque Sou Legionário, O Problema dos Excedentes Demográficos, Intervenção do Estado na Administração Local, Em Defesa do Movimento Corporativo e Exaltação de Bento de Góis.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 18:09

A MINHA VIDA (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Segunda-feira, 21.10.13

Quinta-feira, 2 de Maio de 1946

Há muita gente que anda a querer saber quem eu sou, quando nasci e como foi a minha vida até hoje. Pois a minha vida contada dava um romance, Eu nasci no dia vinte três de Setembro de 1868, já lá vão 78 anos. Acho que era uma quarta-feira. Nasci aqui na Fajã Grande, numa canada da Assomada, numa casa que ficava em frente ao actual poço do gado beber e que hoje é um palheiro e uma casa de arrumos. Ainda muito novo pirei-me para a América, onde fui duas vezes, uma em solteiro e outra depois de casado. Quando vim da América, da primeira vez, e casei é que fiz esta casinha onde sempre morei com a minha Maria e onde nasceram os meus filhos, também aqui na Assomada. Os meus padrinhos de baptismo foram o senhor José Laureano da Silveira e a sua mulher Maria Claudina e quem me baptizou foi o pároco da altura, o padre António José de Freitas. Era um homem já de idade avançada, mas boa pessoa e gostava muito da sua terra, pois ele nasceu mesmo aqui na Fajã, em 1808. Era filho de um alferes de Santa Cruz, chamado José Inácio de Freitas e de sua mulher Maria de Jesus. Ordenou-se sacerdote em 1841 e foi colocado de reitor na Lomba. Alguns anos depois veio para a Fajã onde esteve apenas três anos. Em 1851 foi colocado no Mosteiro e em 1958 voltou para a Fajã Grande, onde esteve de pároco até 1981, ano em que faleceu. Era um bom homem e foi ele que casou meu pai e minha mãe. A mim quem me casou foi o padre Francisco José Constantino Flores. Este sim era um rapaz novo. Era natural das Lajes e ordenou-se apenas com 25 anos, em 1886 e foi colocado logo na Fajã mas como cura. Em 1887 foi colocado a paroquiar no Lajedo, mas no ano seguinte voltou para a Fajã, agora como pároco. Eu casei um ano antes, ou seja em 1886, logo que voltei da Califórnia. Nesse ano houve mais onze casamentos, aqui na Fajã: o Francisco Lourenço Fagundes, o João António Valadão, o João Cândido de Freitas, o João Fragueiro Cardoso, o João Furtado Luís, o João Joaquim da Silveira, o José António de Freitas, o José Caetano de Freitas Júnior, o José Joaquim Cardoso, o Luciano de Freitas Fragueiro e o Luís Pereira Lopes. Mas o padre Constantino Flores já nem os casou todos, pois a meio do ano fez o que eu também fiz outra vez, algum tempo depois de me casar: pirou-se para a América e por lá se ficou.

Afinal pouco falei de mim, mas hoje não tenho tempo para mais. Eu depois de me casar também tive que partir outra vez para a América. O dinheiro que trouxera da primeira vez gastei-o todo na casa. Precisava de dinheiro para comprar uns bocados de terra e, além disso, a minha Maria era muito doente e de um momento para o outro podia ter que sair da ilha para se tratar. Eu tinha que ir trabalhar para ganhar dinheiro. Só na América… e lá fui outra vez. Ainda hei-de contar tudo o que penei nestas minhas viagens. Mas uma coisa é certa: se não tivesse ido aos States, hoje não tinha nada de meu.

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publicado por picodavigia2 às 15:43

CIRCE

Segunda-feira, 21.10.13

Ulisses era filho de Laertes, rei de Ítaca, de quem herdou uma enorme astúcia e uma nobre valentia, e de sua mulher Anticleia. Cresceu e sucedeu ao seu pai no trono de Ítaca. Mais tarde, embora apaixonando-se por Helena de Esparta, casou com Penélope, de quem teve um filho, Telémaco.

Terminada a guerra de Tróia, na qual teve um papel de relevo, Ulisses regressou a Ítaca, sendo vítima duma atribuladíssima viagem. No decurso da mesma, juntamente com a sua tripulação, depois de passar por muitos tormentos, foi levado, pelo acaso, até uma praia, na ilha de Eana, aparentemente deserta. Ulisses desembarcou na ilha, subiu a um morro e, olhando ao redor, nada mais viu do que um grande e belo palácio, rodeado de árvores frondosas, situado no interior da ilha. Na tentativa de saber quem o habitava e se haveria ali alguém que o pudesse auxiliar e dar-lhe as informações julgadas necessárias para prosseguir viagem, Ulisses enviou a terra, com destino ao palácio, um grupo de homens, chefiados por Euríloco, para verificar com que hospitalidade poderia contar. Ao aproximarem-se do palácio, os homens viram-se rodeados por leões, tigres, lobos e outros animais ferozes mas que, estranhamente, não os atacavam. Eram domados pelas artimanhas duma bela mulher que habitava o palácio, chamada Circe, uma espécie de deusa com um misto de feiticeira, muito bela, poderosa e deslumbrante que ali vivia, rodeada de luxo e sumptuosidade. Circe era filha de Hélio, deus-sol e da ninfa Pérsia. Por ter envenenado o seu marido, o rei dos sármatas que habitavam o Cáucaso, foi obrigada a exilar-se naquela ilha, cujo nome significava "pranto". Da sua beleza e grandiosidade emanava uma luz ténue e fúnebre, que a identificava como a deusa da Lua Nova, da morte, do amor físico, da feitiçaria, dos encantamentos e dos sonhos precognitivos. Junto ao palácio viviam muitos animais que outrora tinham sido homens e que a bela Circe, com as suas artimanhas e encantamentos, havia transformado em feras.

Os homens enviados por Ulisses não sabiam disso e deixaram-se encantar por uma música suave e, sobretudo, pelo som de uma maviosa voz de mulher, vinda do interior do palácio. Era a misteriosa deusa e feiticeira Circe. Euríloco chamou-a em voz alta, e a deusa apareceu e convidou os recém-chegados a entrarem, o que fizeram de boa vontade, excepto Euríloco, que desconfiou de embuste. A deusa recebeu muito bem os visitantes, cada vez mais encantados com a sua beleza e os seus encantos e convidou-os a se sentarem ao seu redor, servindo-lhes vinho e guloseimas diversas. Os homens divertiram-se à farta, beberam em demasia, embriagando-se por completo. Foi então que Circe lhes deu um licor especial e, tocando-os com uma varinha de condão, fez com que se transformassem, imediatamente, em porcos, com cabeça, corpo e voz de porco, mas conservando a inteligência e os sentimentos de homens.

Euríloco, espreitando por uma janela, viu tudo e apressou-se a voltar ao navio e a contar, a Ulisses, o que se tinha passado. Ulisses, então, resolveu ir ele próprio, tentar a libertação dos seus companheiros. Enquanto se encaminhava para o palácio, atravessando a ilha, encontrou-se com a deusa Minerva que o ajudou, informando-o sobre o triste destino de seus companheiros, transformados em animais pelo poder de Circe, e instruiu-o sobre a maneira como se devia proteger dos seus feitiços. Para tal deu-lhe uma erva mágica, dotada de um poder enorme, capaz de resistir às bruxarias de feiticeira e ensinou-lhe o que deveria fazer, para lhe não acontecer destino idêntico ao dos seus companheiros. Ulisses prosseguiu e, ao chegar ao palácio, foi recebido cortesmente por Circe, que o obsequiou como fizera com os outros. Depois de ele comer e beber, deu-lhe o licor mágico e tocou-o com sua varinha de condão. Mas Ulisses, apenas, simulou beber o licor e, desembainhando a espada, investiu contra Circe, que caiu de joelhos, diante dele, implorando-lhe clemência. Ulisses ditou-lhe uma fórmula de juramento solene que ela havia de proferir e que a obrigava a libertar os seus companheiros e a não cometer novas atrocidades contra eles ou contra o próprio Ulisses. Circe repetiu o juramento e prometeu deixá-lo partir são e salvo, assim como os seus marinheiros. Depois recebeu-os a todos de bons modos e hospitaleiramente.

Circe cumpriu o que prometera - os homens readquiriram as suas formas humanas, o resto da tripulação foi chamado da praia e todos foram tratados magnificamente bem durante vários dias, a tal ponto que Ulisses, parecendo ter-se esquecido de Penélope e de Ítaca, decidiu ficar ali, resignando-se àquela vida de ócio, de prazer e de paixão intensa. Ulisses passou algum tempo na companhia de Circe, da qual teve um filho a que deram o nome de Telégono.

Passado algum tempo, a pedido dos seus companheiros, Ulisses decidiu partir. Circe, inicialmente, solicitou-lhe que o não fizesse, mas depois anuiu e até o ajudou nos preparativos para a viagem, ensinando-lhe como devia proceder para passar são e salvo, ele e os seus companheiros, ao atravessar o mar das Sereias. As Sereias eram ninfas marinhas que tinham o poder de enfeitiçar com seu canto todos os que o ouvissem, de modo que os infortunados marinheiros, na ânsia de a elas se juntarem, sentiam-se irresistivelmente impelidos a se atirarem ao mar, onde encontravam a morte.

Circe aconselhou Ulisses a tapar com cera os ouvidos dos seus marinheiros, de modo que não pudessem ouvir o canto e a amarrar-se ele próprio no mastro dando instruções a seus homens para não libertá-lo, mesmo que, desesperadamente, lho pedisse.        

Apesar de Circe o impedir de ser engolido no mar das Sereias, Ulisses abandonou-a para sempre, deixando-a só e triste, no seu palácio da ilha de Eana.

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publicado por picodavigia2 às 15:36

CAÇOILA DE PORCO EM DIA DE MATANÇA

Segunda-feira, 21.10.13

A “Caçoila de Porco” era o prato típico e obrigatório em todas as matanças do porco na Fajã Grande. Os ingredientes eram todos adquiridos no próprio dia, dado que eram retirados do porco, após matança, assim que este era aberto e consistiam, para além dos temperos previamente comprados e da banha guardada da matança anterior, em uns bocadinhos de carne da barriga, o fígado e o coração.

Para a confecção da Caçoila começava por cortar-se a carne com o toucinho em pedaços pequeninos, assim como o coração e o fígado e temperavam-se muito bem com sal, alho, cominhos e malagueta. Depois e num velho e robusto caldeirão de ferro, sobre o lume feito com umas achas de faia bem acesas, colocava-se a banha com uma folha ou duas de louro, os dentes de alho e as cebolas picadas até estas alourarem, mexendo-se sempre que necessário com uma enorme colher de pau. Quando a cebola já estava bem lourinha acrescentavam-se os pedacinhos da carne e os do coração, mexendo-se de quandoem vez. Passado algum tempo, quando a carne e o coração já estavam bem rosadinhos, juntavam-se os pedacinhos de fígado, alguma água se necessário e, por fim, provava-se para rectificar os temperos. O caldeirão ficava tapado, abrindo-se de vez em quando para mexer e controlar a quantidade de líquido ou até os temperos, enquanto se ia afogueando o lume até este, por fim, ficar apenasem brasido. Servia-se com inhame, escaldadas, pão de milho ou de trigo, neste caso ensopavam-se as fatias do pão de trigo no saboroso molho da caçoila.

Nalgumas casas ou naquelas onde ou quando não havia inhames, juntava-se no final, quando as carnes já estavam quase cozidas, pedacinhos de batata branca que cozinhados naquele molhinho, adquiriam um sabor muito bom. Neste caso aumentava-se a quantidade do pão, quer de trigo quer de milho, e as escaldadas que, por vezes, eram substituídas por bolo do tijolo.

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publicado por picodavigia2 às 15:18

CASAMENTOS REALIZADOS NA PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DA FAJÃ GRANDE NO INÍCIO DO SÉCULO XX (ANOS DE 1908 a1910)

Segunda-feira, 21.10.13

No início do século XX, entre os anos de 1908 e 1910, realizaram-se, na Fajã Grande os seguintes casamentos:

1908:  

A 27 de Fevereiro - João de Sousa Bettencourt, de 33 anos, filho de Manuel de Sousa Bettencourt e de Filomena dos Prazeres, naturais de São Mateus da Praia, Graciosa, já viúvo de Senhorinha Vitória Bettencourt, casou com Ana de Freitas Bettencourt, de 20 anos, filha de José Fernandes de Freitas e de Maria José Policena.

A 7 de Novembro - José Valadão Furtado, de 21 anos, natural da Ponta, filho de João António Valadão e de Isabel da Conceição do Coração de Jesus, legitimado quando estes casaram, casou com Isabel Furtado da Silveira, de 20 anos, filha de João Inácio Mateus e de Isabel Floripes da Silveira.

1909:  

A 11 de Janeiro - José Fagundes da Silveira Júnior, de 25 anos, filho de José Fagundes da Silveira e de Maria Fagundes da Conceição, casou com Joaquina Fagundes de Sousa, de 18 anos, filha de José Maria de Sousa e de Maria José Teodósio.

A 18 de Fevereiro - António Cardoso de Freitas, de 27 anos, filho de José Cardoso de Freitas e de Maria Leopoldina de Freitas, casou com Maria Garcia Cardoso de Freitas, de 17 anos, filha de Laurindo de Freitas Lourenço e de Maria José Garcia de Lourenço.

 

A 22 de Fevereiro - António Lourenço do Nascimento, de 28 anos, filho de Francisco Lourenço do Nascimento e de Ana Laureana do Nascimento, casou com Ana Fagundes de Freitas do Nascimento, de 20 anos, filha de José Joaquim Fagundes e de Ana Laureana de Freitas.

A 21 de Outubro - Manuel Caetano Teodósio, de 28 anos, filho de António Caetano Teodósio e Floripes Inácia do Nascimento, casou com Ana Fagundes Teodósio, de 23 anos, filha de José Fagundes da Silveira e de Maria Fagundes da Conceição.

1910:  

A 9 de Junho - José Caetano de Fraga, de 45 anos, filho de José Caetano de Fraga e de Rosa Luísa de Jesus, viúvo de Maria de Freitas Fraga, casou com Maria do Carmo Fraga, de 18 anos, filha de José Inácio Mateus e de Maria Lucinda Mateus.

A 5 de Outubro - José Jacinto Rafael, de 50 anos, filho de pai incógnito e de Mariana de Jesus, viúvo de Maria Trindade do Coração de Jesus, casou com Maria do Céu Rafael, de 20 anos, filha de Manuel José Mancebo (natural de Santa Cruz) e de Ana de Freitas Dias.

A 18 de Novembro - José Joaquim André, de 23 anos, filho natural de João da Costa (natural de Santo António, Funchal) e de Maria Joaquina André, casou com Maria do Céu da Silveira, de 20 anos, filha de João Furtado Luís e de Ana Luísa de Mendonça.

A 22 de Novembro - José de Freitas Branco, de 53 anos, filho de Manuel de Freitas Branco e de Maria de Jesus, casou com Maria de Jesus de Freitas, de 40 anos, filha de José Caetano de Fraga e de Rosa Luísa.

Fonte: - Gomes, Francisco António Nunes Pimentel, Casais das Flores e do Corvo, 2006.

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publicado por picodavigia2 às 11:02

A LENDA DOS SETE SÁBIOS DA GRÉCIA

Segunda-feira, 21.10.13

Paralelamente, ao desenvolvimento inicial do conhecimento racional, o ser humano, mais concretamente a civilização grega, foi adquirindo, embora muito lentamente e através de um processo moroso e progressivo, gerador de um afastamento, embora parcial, das explicações mitológicas quer acerca do cosmos quer sobre a sua própria origem e natureza, uma espécie de reflexão moral, como que estampada na chamada “lenda” dos Sete Sábios, alguns deles simultaneamente considerados como primeiros filósofos ou homens amigos do saber (filósofo = amigo da sabedoria)). A estes sábios se atribuem máximas, ou seja, breves sentenças morais de grande importância para a sociedade grega, algumas das quais se tornaram tão famosas que foram inscritas no templo de Apolo, no Santuário de Delfos e outras perpetuaram-se ao longo dos séculos e ainda hoje se usam como princípios morais e éticos das sociedades e civilizações, embora os seus utilizadores, muito provavelmente desconheçam a sua origem. São os seguintes os sete sábios que a lenda consagrou e aos quais se devem, entre várias outras, estas máximas morais:

“Conhece-te a ti mesmo.” – Tales.

“A maioria é perversa.” – Bias.

“Sabe aproveitar a oportunidade.” – Pítaco.

“Nada em excesso.” – Sólon.

“A medida é coisa óptima.” – Cleóbulo.

“Cuida de ti mesmo.” – Quílon.

“Indaga as palavras a partir das coisas e não as coisas a partir das palavras.” – Míson.

Trata-se de frases de natureza prática ou moral, que preludiam uma verdadeira e peculiar reflexão sobre a conduta do homem no mundo. Na “República” Cícero, referindo-se aos sete sábios da Grécia escreveu: "Os sete homens a quem os gregos chamaram de sábios foram todos versados na administração pública e, realmente, em nada se aproxima tanto a virtude humana da divina como a fundação de novas nações ou a conservação daquelas já fundadas".

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publicado por picodavigia2 às 08:55

CHÃO DE LAVA

Segunda-feira, 21.10.13

Por entre um silêncio vazio,

do seio da terra,

brotou uma fonte.

 

No início,

era um fiozinho,

ténue,

frágil,

mas malevolente

e sinistro.

 

Depois

transformou-se

em rio,

- enxurrada de lava -

persistente,

ufano,

mas agressivo

e destruidor.

 

Hoje,

esta lava

é um enorme manto verde:

- o chão benfazejo que pisamos.

 

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publicado por picodavigia2 às 00:08





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