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O CÃO E O MOINHO

Segunda-feira, 28.10.13

“Tantas vezes o cão vai ao moinho,

 Que uma vez lá lhe fica o focinho.”

 

Este é mais um provérbio fajãgrandense, utilizado, antigamente, segundo rezam as crónicas. Confesso que não era muito frequente ouvi-lo, no meu tempo, sendo, no entanto, utilizado, esporadicamente, por pessoas de idade mais avançada.

Trata-se, no entanto de um provérbio muito rico, não apenas quanto ao seu conteúdo, mas também no que à forma literária diz respeito. Por isso mesmo deve ser escrito em verso, nesse caso assume uma forma poética de dois versos com rima perfeita e métrica correcta. Quanto a esta, os versos são constituídos por dez sílabas métricas que são, obviamente, diferentes das gramaticais, neste caso os versos são de um tipo muito próximo dos chamados “heróicos”, com a sílaba tónica na sexta e na décima sílaba. Por sua vez a rima é adequada, rica, embora as palavras que rimam pertençam ambas à classe dos nomes.

Mas o que mais enobrece, engrandece e torna importante e significativo o uso deste provérbio é o seu conteúdo semântico, pois contem um sério aviso, aos ladrões, aos corruptos, aos maliciosos, aos mal formados e aos que praticam, com indiferença, todo o tipo de crimes e barbaridades. Não cuidem esses janízaros e vis meliantes que não serão apanhados. Um dia acontecer-lhes-á o mesmo que acontece aos cães que abusarem da sua ida ao moinho ou a outro lugar qualquer. Tanta insistência irá proporcionar aos cães que lhes cortem o focinho. No caso dos cães ficarão escaldados. No caso dos homens serão apanhados e devidamente castigados. É mais fácil apanhar quem comete várias barbaridades ou roubos do que quem comete apenas um. Deviam cuidar-se, pois, os prevaricadores renitentes.

Por tudo isso este é um dos mais ricos adágios fajãgrandense que faz parte do seu património cultural, oral e que urge perseverar.

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publicado por picodavigia2 às 20:22

MESES

Segunda-feira, 28.10.13

Trinta dias tem Novembro,

Abril, Junho, e Setembro

Com vinte oito só há um,

Os outros mais trinta e um.

 

Janeiro, gear

Fevereiro, chover

Março, encanar

Abril, espigar

Maio, engradecer

Junho, ceifar

Julho, debulhar

Agosto, engavelar

Setembro, vindimar

Outubro, resolver

Novembro, semear

Dezembro, nascer

Nasceu um deus para nos salvar.

 

(Aravias fajãgrandenses)

 

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publicado por picodavigia2 às 18:43

TIBÚRCIO ANTÓNIO CRAVEIRO

Segunda-feira, 28.10.13

Tibúrcio António Craveiro nasceu na cidade açoriana de Angra do Heroísmo, em 1800 e faleceu na vila das Velas, ilha de São Jorge 1844. Poeta, historiador e teórico da literatura, Tibúrcio Craveiro frequentou as aulas de Teologia Moral em Angra, revelando-se um aluno estudioso e aplicado. Foi capelão cantor da Sé e professor régio da instrução primária. Partidário do regime liberal, foi obrigado a refugiar-se em Londres, seguindo depois para o Rio de Janeiro onde permaneceu, até 1842. No Brasil foi professor de Retórica no Colégio D. Pedro II, um dos fundadores e bibliotecário do Gabinete Português de Leitura e foi na cidade do Rio de Janeiro que que produziu a maior parte da sua obra literária que se estende pela área da história, teoria da literatura e pela poesia. Foi tradutor de Voltaire, Racine e Lord Byron. Regressado do Brasil, viveu algum tempo em Lisboa, voltando aos Açores, onde morreu na ilha de S. Jorge, em condições que nunca ficaram esclarecidas. Foi integrado na Antologia de poesia açoriana, de Pedro da Silveira. As suas obras principais foram: Compêndio de História Portuguesa, Apêndice ao Compêndio da História Portuguesa, Discurso acerca da Retórica e Ensaio acerca da Tragédia.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

 

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publicado por picodavigia2 às 16:06

A MALA PERDIDA

Segunda-feira, 28.10.13

O padre Pimentel decidiu-se por umas férias. Uma visita aos Estados Unidos, mais concretamente à Califórnia. É verdade que na Fajã as ovelhas não eram muitas, como noutras paróquias dos Açores. Mas davam trabalhinho, ai se davam, até porque distribuídas por duas localidades, com uma igreja em cada uma delas – Fajã e Ponta. E ainda havia a Cuada. Na Fajã era o serviço religioso diário, com a igreja, ali, pertinho de casa. Mas à Ponta tinha que se deslocar aos domingos, aos dias santos de guarda, aos abolidos e às primeiras sextas-feiras para celebrar missa, ou então sempre que alguém o chamava para administrar o Viático e a Extrema-Unção e para realizar os funerais. Casamentos e baptizados eram os da Ponta que à Fajã deviam vir. Mas todas as idas à Ponta eram realizadas a pé, por caminhos sinuosos, com ladeiras e aclives, atravessando grotas, regatos e ribeiras. Quando chovia só de botas de cano. Um martírio, embora soubesse da vida dura, dolente e sofrida dos seus paroquianos.

Decidiu-se pois o reverendo por partir para os Estados Unidos. Iria visitar familiares, antigos paroquianos e solicitaria a todos o dinheiro necessário para a compra de um órgão, porque o existente no coro da igreja da Fajã já “não dava uma p’ra a caixa”. Estava a desfazer-se de podre e tocava que parecia uma cana rachada. Nada que abonasse a excelência envolvente das celebrações litúrgicas mais solenes.

Pedida autorização ao senhor bispo, concedidos o “celebrate”, o passaporte e o visto, partiu o pároco, sendo substituído nas suas funções pastorais, aos domingos e sempre que alguém estivesse nas últimas, pelo senhor padre da Fajãzinha.

A ausência do pároco foi muito sentida e o seu regresso muito desejado. Talvez trouxesse uns candins, um embrulho de pinotes, uma peça de roupa para este ou para aquele. Sabia-se lá… Por isso quando se teve conhecimento da data do seu regresso, em dia de Carvalho, preparou-se uma grande recepção à Praça. Sinos a repicar, filarmónica a tocar, crianças a oferecerem ramos de flores e o povo a dar uma grande salva de palmas.

Dirigindo-se aos paroquianos, apinhados ao seu redor, em inocente esperança, o pároco não esteve com meias medidas. Em poucas palavras informou de que para além de muito cansado, estava muito triste, tinha um desgosto muito grande:

- Sabem porquê? É que perdi uma mala e, por azar, foi a mala das ofertas.

E recolheu-se de imediato ao passal

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publicado por picodavigia2 às 13:50

O CAMINHO DA MISSA

Segunda-feira, 28.10.13

O caminho que ligava a Fajã Grande à Fajãzinha, na direcção norte-sul, era conhecido por “Caminho da Missa”. O nome advinha-lhe, indubitavelmente, do facto de outrora, por ali transitar a população da Fajã quando se deslocava à Fajãzinha, para aí assistir à missa. Nessa altura a Fajã ainda era um simples lugar pertencente à freguesia das Fajãs, com a sua sede na Fajãzinha, onde havia a igreja paroquial, sendo esta, também, o maior e mais importante lugar das Fajãs à qual pertenciam ainda a Cuada e a Fajã dos Valadões, lugares actualmente desabitados. A Cuada transformou-se numa aldeia turística enquanto a Fajã dos Valadões, como povoado, pura e simplesmente desapareceu, mantendo-se, apenas, como nome de lugar. A Ponta, por sua vez, pertencia à freguesia de Ponta Delgada. Sendo assim, o referido caminho recebeu nome, pelo facto de não havendo igreja na Fajã, ser através dele que o povo se deslocava à Fajãzinha sempre que pretendia assistir à missa e participar noutras celebrações litúrgicas ou até para se casar, baptizar os filhos ou sepultar os seus mortos. Dai o ter recebido este nome que perdurou ao longo dos tempos.

Acrescente-se, no entanto, que o “Caminho da Missa” é apenas o nome do caminho que liga o Cimo da Assomada à Eira da Cuada. A partir daí inicia-se a Ladeira do Biscoito que termina na Ribeira Grande, fronteira natural entre as duas localidades. A seguir à Ribeira Grande, logo a assomava a Fajãzinha, com as suas tortuosa ruas e vielas a desembocar no mítico Rossio e, por fim, na igreja paroquial.

No Cimo da Assomada, o Caminho da Missa tinha, do lado direito de quem o subia, duas casas, ambas ainda habitadas na década de cinquenta. Uma pertencia ao Garcia e a outra, a última da Assomada, à Senhora Estulana. Hoje é um restaurante denominado “Casa da Vigia”, gerido por um casal italiano, que também se dedica ao cultivo de produtos biológicos. O Caminho da Missa seguia, depois, rectilíneo, enquanto se prolongava quase paralelo ao Pico e ao Pico da Vigia. O acesso a um e outro fazia-se por uma canada que existia logo a seguir à casa da Estulana, percurso percorrido quotidiana, na época estival, pelo vigia da baleia, mestre Manuel Manquinho. Era da casa da vigia, existente no alto do monte, que observava os bufos das baleias. De resto, este caminho ligava-se apenas a mais uma pequena canada aqui ou a um outro atalho além, seguindo até uma horta que opor ali havia com um enorme portão, formando, aí, uma curva e estendendo-se, logo a seguir, na direcção do mar para, mais adiante, caminhar de novo paralelo ao Oceano até à Eira da Cuada, formando, antes desta, uma pequena ladeira. No alto de Eira da Cuada, havia um largo muito grande, formando um descansadouro. Era aí que as pessoas se sentavam a esperar os passageiros em dia de chegada do Carvalho. A partir daí, iniciava-se, então, a descida da ladeira do Biscoito. No entanto se voltássemos à esquerda entrávamos na sinuosa Canada da Cuada, que ligava esta localidade ao Caminho da Missa e à Fajãzinha.

No Caminho da Missa passava pouco gado, uma vez que as relvas por aqueles lados eram raras. Apenas havia terras de cultivo e, por conseguinte, por ele circulavam somente as pessoas que tinham terras de agricultura para aqueles lados, quem queria uma alternativa para se deslocar à Cuada, quem necessitava de ir para as Lajes, para a Vila ou para outra freguesia da ilha excepto Cedros e Ponta Delgada e para quem ia esperar os passageiros vindos mensalmente no Carvalho Araújo. Era por lá também que entravam os visitantes da Fajã, oriundos de quase toda a ilha, com excepção dos residentes nos Cedros, os quais atravessavam os matos e desciam a rocha e os vindos de Ponta Delgada que desciam a rocha da Ponta.

Assim o Caminho da Missa era uma espécie de caminho mítico, na altura, pois, para além de tudo, era o único caminho por onde circulavam cavalos que traziam o clero para celebrar as festas e fazer confissões na desobriga pascal, as autoridades para fiscalizar, governar e explorar a população e, uma vez ou outra, o médico para curar os doente

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publicado por picodavigia2 às 09:20

A SALVAÇÃO DO FORTE

Segunda-feira, 28.10.13

“Eis como em tudo o forte e culpado se salva à custa do fraco e inocente.”

Jean-Jacques Rousseau

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publicado por picodavigia2 às 00:30





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