PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CINCO MIL
Conforme texto publicado em 29 de Junho de 2011, o “Pico da Vigia” na sua edição anterior e primeira, hoje emérita, contabilizara na véspera, dia 25 de Setembro, cinco mil entradas ou visitas. Nessa altura, acrescentou-se ao texto divulgado, o seguinte: “Note-se, no entanto, que este número diz respeito apenas a um período de aproximadamente nove meses, uma vez que o actual contador de visitas foi colocado no blogue, apenas no dia 29 de Dezembro de 2010. No entanto, o “Pico da Vigia” teve um anterior contador, colocado no início de Janeiro de 1910 e que, até ao fim de Abril do mesmo ano, contabilizou cerca de três mil visitantes. Acrescente-se que este contador foi anulado quando a “blogs iol.pt” restruturou substancialmente a plataforma dos seus blogs.
Ora como o blogue teve o seu início em 9 de Março de 2009, decorreram 18 meses durante os quais não foi feita nenhuma contagem aos visitantes do Pico da Vigia, a que se contrapõem os 13 meses durante os quais se contaram cerca de 8 mil visitas. Tendo em conta que durante os primeiros meses de vida do “Pico da Vigia”, as visitas terão sido muito mais raras, talvez se possa estimar o número global de visitantes do “Pico da Vigia”, desde do seu início até hoje, em cerca de 18 ou 19 mil. Acrescente-se, no entanto, que uma boa parte destas visitas, talvez umas cerca cinco mil, serão da responsabilidade do autor do blogue, uma vez que nele tem que aceder com alguma frequência, para colocar os textos, emendar um ou outro erro, rectificar alguma incorrecção, corrigir algum gralha, substituir ou alterar alguma palavra ou expressão, consultar os “tags” a fim de verificar os textos já colocados ou até e simplesmente para o visitar o Pico da Vigia.
Ficam assim em cerca de doze mil as visitas ao Pico da Vigia, desde da sua criação até hoje. A existência de diversos sistemas de contagem e de vários tipos de mapas, permite-nos identificar não apenas os países mas até as localidades de cada pais onde se efectuam as visitas. No caso dos países foram vinte e seis, aqueles cujos cidadãos ou residentes visitaram o “Pico da Vigia”, embora muitos nele terão entrado apenas por mera casualidade. Não é crível que alguém da China, da Rússia, da Islândia, ou do Taiwan tenha visitado intencionalmente este blogue, mas o mesmo já não se poderá dizer da Bélgica, do Brasil ou do Canadá, para não falar dos Estados Unidos e de Portugal.
È pois altura de se alterar o formato do “Pico da Vigia”, embora mantendo os objectivos iniciais: “regressar” à Fajã Grande das Flores, recordar pessoas, contar estórias. Lembrar costumes e tradições e, de mistura, abordando um ou outro tema da actualidade, não apenas da ilha das Flores mas das restantes ilhas açorianas, com especial referência para a ilha do Pico.”
Esta nova edição, designada por “Pico da Vigia 2”, neste aspecto ultrapassou a primeira, dado que iniciado no início de Junho, em cinco meses, ultrapassou as cinco mil visitas, quase em metade do tempo da primeira versão. Tem tido, pois um sucesso bem maior e que resulta numa média de mil visitas por mês e cerca de trinta e quatro por dia. Excelente!
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COGUMELOS
Os cogumelos são fungos ou frutificações de fungos que assumem um papel fundamental ao nível do equilíbrio dos ecossistemas. Assim, os cogumelos são úteis e necessários à natureza e até muito importantes para o seu equilibro e a sua sustentabilidade, uma vez que, por um lado, contribuem para a reciclagem da matéria orgânica, eliminando as espécies vegetais menos saudáveis e, por outro, favorecem o estabelecimento das mesmas em condições adversas através de relações que se estabelecem entre os fungos e as raízes das plantas. Os cogumelos têm um papel importante na protecção das espécies vegetais, defendendo-as de alguns agentes patogénicos, ou seja, dos que lhe provocam doenças. Relativamente à sua relação com o ser humano, os cogumelos, no que concerne à sua variedade, são contraditórios, dado que alguns são tóxicos e outros venenosos, chegando alguns a provocar a morte a quem os ingerir, enquanto outros, porém, são comestíveis, estando na base ou no acompanhamento de saborosos pratos de culinária.
Ora na Fajã Grande, outrora, existiam muitos cogumelos, sobretudo nas chamadas terras de mato, como as do Pocestinho, da Cabaceira, do Espigão, do Pico Agudo, da Fajã das Faias e em outros lugares. Uns eram simplesmente esbranquiçados, outros porém tinham um matiz de cores variadíssimas, com tons alaranjados, cinzentos, encarnados, beges, esverdeados, castanhos, etc. Esta variedade de cores fazia com que os cogumelos se tornassem esteticamente muito belos, atraentes, apetecíveis e agradáveis à vista e não só. Porém tocá-los era apenas um sonho ou um desejo, porque nessa altura consideravam-se todos venenosos e maléficos.
De todos os cogumelos, os do Pocestinho eram os mais belos e atraentes. As suas cores eram muito vivas, a sua copa muito frondosa e aveludada e o tronco bastante esguio e altivo. Por isso mesmo eram os mais desejados e apetecidos e, por vezes, esquecia-se a proibição de se lhes tocar e lá se apanhava um ou outro para colocar, com muito cuidado e carinho na palma da mão e sentir o aveludado do seu corpo, o colorido da sua copa e a beleza do seu ser.
Que pena os belos cogumelos de outrora, das terras de mato da Fajã, não existirem hoje, para se poderem saborear aqueles que na realidade seriam comestíveis. E decerto que não eram poucos,
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AS ILHAS
(POEMA DE COELHO DE SOUSA)
As ilhas que tenho e conto
Em minhas mãos pelos dedos
Fazem mais que um arquipélago
Com mistérios e segredos
E os sonhos também são ilhas
Com arabescos e certezas
Mais ainda o grande amo
Que nos traz as almas presas.
Água do mar é espelho
Onde a gente se revê
De me rever estou velho
Sem saber bem por que é
Dorme, dorme ilha do sonho,
Cantam as ondas do mar.
Que as ilhas também se adormem
Com cantigas de embalar
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NOME PAZ
Com a singeleza da aurora no teu rosto,
Com o verde das montanhas nos teus olhos,
Com a murmurar das fontes nos teus lábios
E com o sossego dos vales no teu peito,
Só poderias ter por nome – Paz!
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O PADROEIRO
São José é o padroeiro da paróquia da Fajã Grande.
José é um dos personagens mais célebres do Novo Testamento, marido da mãe de Jesus Cristo. Segundo a tradição cristã, nasceu em Belém da Judeia, no século I a.C., descendia da tribo de Judá e era descendente do rei David. Segundo a tradição, José foi designado por Deus para se casar com a jovem Maria, mãe de Jesus, que era uma das consagradas do Templo de Jerusalém, e passou a morar com ela em Nazaré, uma localidade da Galileia. Segundo a Bíblia, era carpinteiro de profissão, ofício que terá ensinado a Jesus. Por essa razão as imagens de São José representam-no, geralmente, de mão dada com o menino e com uma serra na mão.
A escolha de José, para esposo da Virgem Maria, segundo uma lenda que se contava na Fajã Grande, aconteceu depois de Deus seleccionar um grupo de homens bons, generosos e de grande virtude, entregando a cada um, uma vara retirada de uma bela planta, mas ainda sem flor. Avisou-os Deus que as guardassem, pois uma delas, a do mais virtuoso, do mais santo e do que tivesse melhor coração, mesmo arrancada da planta, havia de florir. Na realidade e passado algum tempo a vara que José guardara foi a única a florir, sendo ele o eleito para esposo de Maria, Mãe de Jesus. Por essa razão em muitas das suas imagens colocadas nos altares, em vez da serra, São José surge, segurando na mão um ramo florido e, neste caso com o Menino Jesus ao colo.
São José é um dos santos mais populares da Igreja Católica, tendo sido proclamado "protector da Igreja Católica Romana", pelo seu ofício, "padroeiro dos trabalhadores" e, pela fidelidade à sua esposa, "padroeiro das famílias", sendo também padroeiro de muitas igrejas e lugares do Mundo. Uma delas é a da Fajã Grande das Flores.
A festa em memória do seu padroeiro, realizava-se, na Fajã Grande, no dia dezanove de Março e era a maior festa da freguesia depois da realizada em honra da Senhora da Saúde, no mês de Setembro.
Precedida de um tríduo, em que geralmente era convidado para pregar um “padre de fora”, ou seja, de outra freguesia da ilha, a festa, no seu dia, explodia em três epicentros ou pontos altos. De manhã, tinha lugar a chamada “Missa da Comunhão”, celebrada por um dos sacerdotes de fora, solenizada e com sermão. Demorava uma eternidade porque toda a gente comungava e, nesse tempo a comunhão era recebida, de joelhos, à grade e distribuída apenas pelo celebrante. Mas era um momento de grande emoção, sobretudo nos anos de Comunhão Solene, o que acontecia de três em três anos. Depois e mais tarde a “Missa da Festa”, também demoradíssima, cantada e com sermão, celebrada pelo pároco e acolitada por dois sacerdotes, um a fazer de diácono e outro de subdiácono, estes revestidos de dalmáticas brancas, bordadas a amarelo, as únicas que a igreja possuía, para além de duas pretas. Momentos solenes eram o canto da Epístola pelo subdiácono, o Evangelho e o “Ite missa est” pelo diácono e o Prefácio e o “Pater Noster” pelo presbítero celebrante. Finalmente à tarde, precedida de sermão, realizava-se a procissão.
O pároco aproveitava o facto de esta festa se realizar sempre na Quaresma e antes da Páscoa para também proceder à desobriga pascal. Assim, com um tiro matava dois coelhos. Na véspera da festa, vários sacerdotes deslocavam-se à Fajã e durante a tarde procediam ao confesso. Os sinos anunciavam a hora do perdão, a igreja enchia-se, os sacerdotes colocavam-se nos confessionários e à grade onde estavam encravados dois ralos e desatavam a perdoar pecados e a impor as respectivas penitências. Depois e até ao dia seguinte deveria haver muito cuidadinho para não se pecar, caso contrário “estragava-se” a confissão feita e, pior do que isso, ficava-se incapaz de comungar, não dando cumprimento à desobriga.
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O GIRÃO
Um dos barcos de carga que outrora escalava a ilha das Flores e que intercalava com as escalas mensais do Carvalho Araújo era o Girão, que demandava a ilha em alternância com o Terceirense e por vezes com o Lima, fazendo serviço geralmente o porto das Lajes, deslocando-se raramente à Fajã, apenas quando o mar em Santa Cruz não permitisse fazer a carga e descarga. O Girão era o navio que transportava para as Flores carga das restantes ilhas, nomeadamente de S. Miguel. A sua carga fundamentalmente reduzia-se ao transporte das botijas ou garrafas de gás e o combustível líquido, este em bidões de 200 litros, uma vez que o Carvalho, como navio de passageiros não podia nem devia transportar estas mercadorias, devido ao perigo que representavam para um navio que transportava passageiros. O Girão era bem mais pequeno do que o Carvalho, mas maior do que o Terceirense, outro navio de carga que também demandava a ilha das Flores nos anos cinquenta e que fez serviço, várias vezes, no porto da Fajã. O Girão tinha um comprimento de 47,80 metros, boca 7,80, calado 3,65, um motor de 400 hp e uma velocidade próxima dos 8 nós. Construído em 1931, em Foxhol, na Holanda, pelo construtor J. Smit & Zoon, ainda fez parte da frota da CTM até 1974. Altura em que foi retirado da navegação e vendido para a sucata.
No Pico, contava-se que certa vez que o Girão escalou o porto do Cais, enquanto se carregavam uns bidões vazios, alguns terão caído do guindaste que os içava e rolado sobre o convés do navio provocando um ruidoso estrondo. Muita gente ficou alarmada, incluindo o comandante, que veio à ponte e, depois de se inteirar do que se passava, advertiu o homem do guindaste: "Por favor, não me rebente com as costuras do navio!"
Este navio de carga, de saudosa memória para os florentinos e fajãgrandenses, chamava-se, inicialmente, "Oceaan", passando a chamar-se Gorgulho, na altura em que chegou a Portugal e foi registado na Capitania de Lisboa, no ano de 1948. Posteriormente e porque foi adquirido pela mesma companhia um outro barco com o mesmo nome, o “Oceaan” holandês passou a chamar-se Girão, nome que permaneceu até ao fim dos seus dias, quando foi vendido para a sucata.
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CASAMENTOS REALIZADOS NA PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DA FAJÃ GRANDE NO INÍCIO DO SÉCULO XX (NO ANO DE 1901)
No início do século XX, mais concretamente no longínquo ano de 1901, realizaram-se, na paróquia de São José da Fajã Grande, os seguintes casamentos:
1901
A 10 de Janeiro – João Furtado Gonçalves, de 34 anos, filho de Francisco Furtado Gonçalves e Ana Joaquina da Silveira, casou com Maria do Céu Gonçalves, de 24 anos, filha de Manuel Inácio Furtado e de Maria Joaquina da Silveira.
A 14 de Janeiro – Fernando Pimentel Brás, de 24 anos de idade, filho de António Pereira Brás e de Maria da Assunção, casou com Filomena Pimentel da Glória, de 14 anos de idade, filha natural de Maria Júlia de Amorim.
A 17 de Janeiro – Inácio José Jorge, de 45 anos de idade, filho de José Inácio Jorge e Maria Luísa, casou com Ana Inácia Furtado, de 28 anos de idade, filha de Manuel Inácio Furtado e Maria Joaquina.
A 21 de Janeiro – José Inácio Mateus, de 22 anos, filho de José Inácio Mateus e de Maria Lucinda, casou com Conceição Filipe Mateus, de 29 anos, filha de Manuel Rodrigues Filipe e de Maria Joaquina do Coração de Jesus.
A 24 de Janeiro – José Luís de Freitas, de 27 anos, filho de Manuel de Freitas Silveira e de Isabel Luísa, casou com Josefina Luísa de Freitas, de 19 anos, filha de José Fernandes de Freitas e de Maria José Policena.
A 9 de Fevereiro – José da Câmara de Sousa, de 27 anos, natural da Matriz de Ponta Delgada, S. Miguel e já viúvo de Ana Isabel, casou com Luísa Pereira de Sousa, de 20 anos de idade, filha de António Caetano Pereira e de Maria de Jesus.
A 16 de Fevereiro – José Jacinto Fraga, de 20 anos, filho de Manuel de Fraga e de Maria de Freitas do Coração de Jesus, casou com Ana Luísa de Fraga de 26 anos, filha de João de Freitas Botelho, natural de S. Miguel e de Isabel Luísa, natural da Fajã Grande.
A 9 de Maio – António Bernardo Fagundes, de 34 anos, filho de Bernardo José Caetano e de Maria Cabral, casou com Mariana Pimentel da Silveira, de 18 anos, filha de José Cardoso de Freitas e de Maria Leopoldina da Silveira.
A 18 de Maio – António Vitorino da Silveira, de 25 anos, filho de José António Lourenço da Silveira e de Mariana Claudina da Silveira, casou com Maria da Luz de Freitas da Silveira, de 19 anos, filha de João de Freitas Henriques e de Policena Luisa de Freitas.
A 29 de Julho – António José Jorge, de 36 anos de idade, filho de António José Jorge e de Ana de Jesus, casou com Maria José Jorge, de 17 anos de idade, filha de António Augusto da Silva, natural da freguesia da Conceição da cidade da Horta e de Mariana Pimentel da Silveira, natural da Fajã Grande.
A 29 de Setembro – José de Freitas Mateus, de 50 anos de idade, Manuel de Freitas Estevão e de Maria de Jesus Mateus, já viúvo de Ana Luísa do Coração de Jesus, casou com Maria da Conceição de Freitas, de 34 anos, filha de António Francisco Furtado e de Maria de Jesus da Assunção.
A 16 de Outubro – José António Laranjo, viúvo de Maria José Lourenço, de 62 anos de idade, filho de José António Laranjo e Rita Maria, casou com Ana José de 41 anos, filha de António José Inácio e de Maria de Jesus.
Fonte: - Gomes, Francisco António Nunes Pimentel, Casais das Flores e do Corvo, 2006.
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TERRÍVEL
MENU 15 – “TERRÍVEL”
ENTRADA
Pimentos salteados em azeite, hortelã e alho, acamados sobre bolacha cream-caker
e barrados creme de marmelo
Alface picada com cebola, orvalhado azeite e vinagre balsâmico.
PRATO
Tagliatele à Carbonara – Com mortadela e fiambre de peito de peru, queijo ralado e creme queijo orvalhada com ervas aromáticas, salsa e ervas aromáticas.
SOBREMESA
Pera e Gelatina de Morango.
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Preparação da Entrada: Perfumar seis colheres de chá de azeite, em lume brando com rodelas de alho e folhas de hortelã. Retirar o alho, alourar a bolacha no azeite e, de seguida, partir tirinhas ou pedacinhos de pimentos (verde, vermelho e amarelo) e salteá-los com cebola picada, no azeite que sobrou. Picar a alface miudinha e colocá-la no prato em que vai ser servida, borrifando-a, levemente, com azeite e vinagre balsâmico. Ao lado, colocar a bolacha e cobri-la com os pedacinhos de pimento, salteados. Finalmente espalhar uma colher de sopa de creme de marmelo sobre os pimentos, ainda quentes e servir.
Preparação do Prato – Cozer a massa em água com umas gotas de óleo Becel e um dente de alho. Triturar, ligeiramente, a mortadela e o fiambre com um pouco de salsa. Refogar em azeite, uma cebola pequena e juntar pequenos pedacinhos de pimentos e raspa de cenoura, misturar a mortadela e o fiambre. Envolver com a massa e o creme de queijo e um pouco de queijo ralado. Misturar bem e juntar ervas aromáticas.
Preparação das Sobremesas – Confecção tradicional.
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OS PÁROCOS DA ILHA DAS FLORES NA DÉCADA DE CINQUENTA
Na década de cinquenta a ilha das Flores, nas suas onze paróquias, tinha nove párocos, uma vez que a Caveira estava anexada a Santa Cruz e o Mosteiro ao Lajedo. Acrescente-se que Ponta e Fazenda de Santa Cruz, apesar de terem as suas igrejas, não eram paróquias mas sim curatos. A Ponta era um curato anexado à Fajã, enquanto o da Fazenda de Santa Cruz pertencia à vila com o mesmo nome. Por ser a paróquia mais populosa e ter anexa a Caveira e a Fazenda, normalmente existia um cura ou vigário cooperador em Santa Cruz, cargo normalmente exercido, por tempo limitado, por padres mais novos, logo após concluírem a sua formação no Seminário de Angra. A ilha estava dividida em duas ouvidorias, as quais abrangiam as paróquias dos respectivos concelhos: Santa Cruz e Lajes
Os nove párocos, porém, eram, quase todos, de idade avançada e, consequentemente, já todos partiram.
A Ouvidoria de Santa Cruz incluía três padres. O pároco de Santa Cruz, que também exercia as funções de Ouvidor, era o padre Maurício António de Freitas, natural das Lajes, ordenado sacerdote em 1937 e nomeado vigário e ouvidor de Santa Cruz em 1954. A ele se deve em grande parte a criação do ensino básico do 2º e 3º ciclo na Ilha das Flores, através da fundação do Externato da Imaculada Conceição. Na década de sessenta emigrou para os Estados Unidos, falecendo, naquele pais, em 1983. O padre José Maria Alvares paroquiava a freguesia dos Cedros. Era natural da Fazenda de Santa Cruz, tendo sido ordenado em 1937 e terá sido um dos melhores alunos do Seminário, no seu tempo. Exerceu toda a sua actividade sacerdotal nos Cedros, durante largos anos e a ele se deve a construção da nova igreja inaugurada em 1953. Por sua vez a freguesia de Ponta Delgada era paroquiada pelo padre Francisco de Freitas Tomás, natural das Lajes das Flores, ordenado em 1936 e transferido para a Lomba, no início da década de sessenta.
A Ouvidoria das Lajes era bem maior em número de paróquias e clérigos, num total de seis. O ouvidor e pároco das Lajes era o padre Luís Pimentel Gomes, natural da Fazenda das Lajes, ordenado em 1939. Paroquiou em São Jorge, na Fazenda das Lajes e a partir de 1949, foi pároco das Lajes, exercendo simultaneamente as funções de Ouvidor, até 1986, ano em que faleceu. Na Lomba o pároco era o padre João de Fraga Vieira, natural das Lajes e ordenado em 1939, o qual mais tarde e por razões de saúde foi transferido para a paróquia de São Bartolomeu, na ilha Terceira. O pároco da Fazenda das Lajes era o padre José Vieira Gomes, natural da mesma freguesia e ordenado em 1939. Antes de paroquiar a Fazenda, foi pároco do Corvo e, após a sua actividade naquela paróquia, foi colocado em Santa Clara, na ilha de São Miguel, tendo falecido em 1989. O Lajedo e o Mosteiro eram paroquiados pelo padre José Furtado Mota, natural de Santa Cruz e ordenado em 1907. Foi cura da Ponta durante três anos, após os quais foi transferido para o Lajedo, onde exerceu a sua actividade até 1963, ano em que faleceu. A ele se deve a fundação dos Sindicatos Agrícolas da Ilha das Flores. Era o sacerdote mais velho que paroquiava a ilha das Flores. Na Fajãzinha o pároco era o padre António Joaquim Inácio de Freitas, freguesia de onde era natural. Ordenou-se em 1936, paroquiou nos Cedros e em Santa Cruz, tendo sido transferido para a Fajãzinha em 1942, onde se manteve até ao seu falecimento. Interessado pelos costumes, história e tradições da ilha das Flores, deixou um legado de recolhas importante nesta área, tendo-se distinguido, também, pelo seu apoio às populações das freguesias da Fajã, Fajãzinha e Mosteiro, na área da saúde. Finalmente a Fajã era paroquiada pelo padre Manuel de Freitas Pimentel, natural da Fajãzinha e ordenado em 1917. Depois de exercer a sua actividade em Santa Cruz e no Corvo foi transferido para a Fajã Grande em 1925, tendo-se aí mantido durante 36 anos, após os quais fixou residência, como manente, em Angra do Heroísmo
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IRMÃ LUÍSA FAGUNDES
Luísa Fagundes de Sousa, religiosa pertencente à Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família, nasceu na rua da Fontinha, na Fajã Grande das Flores, no dia 18 de Maio de 1920 e faleceu a 28 de Maio de 1911, na Unidade de Cuidados Familiares da Mealhada, perto de Anadia e de Sangalhos, onde viveu uma boa parte da sua vida religiosa.
Luísa Fagundes de Sousa era filha de José Fagundes da Silveira e de Joaquina Fagundes de Sousa. Cedo manifestou grande apetência para a vida espiritual e consagrada, dedicando-se, durante a sua juventude, na Fajã, a colaborar nas diversas actividades da paróquia, nomeadamente na catequese e ainda no asseio e limpeza da igreja paroquial onde se baptizara. No início da década de cinquenta, após a morte do pai, abandonou a terra natal e partiu para o continente, entrando para a Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família, uma ordem religiosa fundada em 1942, pela irmã Purificação dos Anjos, tendo como carisma e missão “O serviço dos mais pobres num ambiente de família; libertação espiritual e humana Familiar, com a casa-mãe no Lar de São José, em Lisboa, onde a irmã Luisa permaneceu durante alguns meses, seguindo mais tarde para uma casa pertencente a esta congregação, existente em Anadia, onde fez o noviciado e professou. Circulou por algumas casas da congregação, em Benfica, nos Olivais, em Évora e no próprio Lar de São José, partindo mais tarde para Timor, onde permaneceu, como missionária, até à altura da Revolução de Abril, tendo então regressado novamente ao Lar de São José. Alguns anos depois foi colocado no Centro de Bem-Estar Infantil de Sangalhos, instituição pertencente à Misericórdia local e gerida em parceria com a Congregação das Irmãs Servas da Sagrada Família, onde exerceu a actividade de Superiora, simultaneamente com a de educadora, durante largos anos.
Com o cessar da parceria administrativa com a Misericórdia de Sangalhos e, já com idade avançada, a irmã Luisa recolheu-se novamente na Casa da Imaculada Conceição de Anadia, onde viveu os últimos dias da sua vida e onde ainda trabalhou, na educação e formação de crianças, enquanto as suas forças o permitiram. Acamada desde há alguns meses e padecendo de algumas graves enfermidades, a irmã Luisa, uma das sete irmãs da minha mãe e minha madrinha de baptismo, foi suportando sempre o sofrimento e a doença com paciência e resignação, repousando agora, para sempre, na paz de Deus
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MANUEL BARBOSA
Manuel Barbosa, advogado, professor e escritor, nasceu em Ponta Delgada, São Miguel, em 1905, tendo falecido em S. Brás de Alportel, em 1991. Concluiu os estudos secundários em Ponta Delgada e licenciou-se em Direito, na Universidade de Lisboa e em Ciências Históricas e Filosóficas, na de Coimbra. Regressou a S. Miguel, em 1948, onde exerceu advocacia na Ribeira Grande. Paralelamente, foi professor e dirigiu o Externato Ribeiragrandense. Desde jovem, revelou preocupações político-sociais e tornou-se um opositor tenaz ao Estado Novo. Foi candidato a deputado pela Oposição Democrática, em 1969, pelo círculo de Ponta Delgada, e participante no III Congresso Democrático de Aveiro. Depois do 25 de Abril, foi membro da Comissão Democrática de Ponta Delgada e deportado para o continente em Agosto de 1975, por elementos separatistas da Frente de Libertação dos Açores (FLA). Publicou poesia, alguns contos e traduziu obras de autores ingleses consagrados. A sua poesia, para além da sensibilidade romântica e idealista, revela também preocupações político-sociais.
As suas principais obras são: Poesia - Incerta Via, e 5 English Poems. Prosa - Fructuoso (Vida e Obra), Virgílio de Oliveira - o Homem, o Poeta e o Ideólogo, Luta pela Democracia nos Açores, Memórias das Ilhas Desafortunadas, Figuras e Perfis Literários, Enquanto o Galo Canta e Memórias da Cidade Futura.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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DIA DOS DEFUNTOS
Na ilha das Flores, como em todo o orbe católico, celebrava-se com um misto de saudade, tradição e religiosidade o dia dois de Novembro, vulgarmente, denominado “Dia dos Defuntos”.
Mas, na Fajã Grande, o culto e devoção das almas, com verdade, envolvia, em desmedida dedicação, toda a freguesia. Nem os mais descrentes se esquivavam de evocar a memória dos falecidos e sufragar as almas dos familiares que já haviam partido deste mundo. Daí que, não apenas o dia dois, mas também todos os outros dias de Novembro tivessem uma forma de celebração religiosa específica e muito peculiar.
Durante o ano eram feitas, na freguesia, duas recolhas ordinárias de ofertas a favor das Almas do Purgatório: em Janeiro, a das línguas do porco e em Novembro, a do milho. No que concerne à oferta das línguas dos porcos, fenómeno estranho e de esconsa clarificação, cada agregado familiar, se assim o entendesse, salgava a língua do seu porco e, algum tempo depois da matança, levava-a para a missa dominical, finda a qual, era arrematada, no adro da igreja, sendo o dinheiro resultante de cada leilão entregue ao mordomo das almas, que o guardava. A recolha do milho, por sua vez, era feita no dia de Todos os Santos. Grupos de homens munidos de cestos ou sacos de serapilheira percorriam as ruas da freguesia e, batendo à porta cada casa, gritavam: “Milho pr’ás almas”. Era, também, um costume ancestral e que tinha como objectivo recolher as ofertas de milho, cujo dinheiro resultante da venda, também era destinado às benditas almas. Esta actividade era devidamente planificada e programada pelo mordomo das almas, que, dias antes, requisitava os homens necessários para fazer o peditório. Convidava também uma grande quantidade de mulheres para, durante e após o peditório, recolher o milho, debulhá-lo e enchê-lo em sacos. O milho, posteriormente, era vendido e esse dinheiro, juntamente com o do leilão das línguas e o de outras ofertas, era entregue, ao pároco. Destinava-se a celebrar missas e rezar os responsos, todos os dias, durante o mês de Novembro, por alma dos defuntos de todas as famílias da freguesia. Além disso, ainda eram feitas, ao longo do ano e por iniciativas individuais, sempre resultantes de promessas, outros peditórios e recolhas extraordinárias de produtos agrícolas que também eram vendidos ou leiloados.
Assim e tendo em conta o dinheiro obtido através de todas estas derramas e ofertas, o pároco calculava o número de missas a celebrar. Depois dividia o número de casas da paróquia por esse número e estabelecia uma espécie de calendário, sendo que, em cada dia do mês, excepto ao domingo, a missa era celebrada por alma dos defuntos de um conjunto de famílias. Este conjunto era determinado, grosso modo, pelo quociente do número de casas a dividir pelo número de missas. Nenhuma casa era excluída, mesmo que tivesse contribuído com pouco ou nem sequer tivesse colaborado na oferta de géneros ou na recolha de donativos.
Na tarde do dia de Todos os Santos, procedia-se à ornamentação e limpeza do cemitério, enfeitando cada família as sepulturas dos seus antepassados. No dia dois, de manhã cedo era celebrada a primeira missa, “Missa in die obito” com paramentos pretos, sendo inicialmente montada a essa no centro do cruzeiro, com seis castiçais ao redor e um tapete negro a cobri-la, como se de um funeral se tratasse. Finda a missa, o pároco trocava a casula preta pela capa de asperges da mesma cor e rezava os responsos dos defuntos. Seguia-se a procissão ao cemitério, durante a qual os sinos “dobravam a finados” e onde, novamente, eram rezados responsos e benzidas as sepulturas. De regresso à igreja eram celebradas mais duas missas, de acordo com as normas litúrgicas então vigentes. As Trindades da noite do dia um e da manhã e noite do dia dois eram acompanhadas do “dobrar a finados”.
Quando nós crianças, ainda indiferentes a tais celebrações, perguntávamos de quem era o enterro ou quem tinha morrido, diziam-nos, os adultos, que era o enterro do “Velho Laranjinho”, figura mítica que representava todos os finados da freguesia. Também era costume, no dia 2 de Novembro, cozer pão e assar abóboras no forno, em louvor das almas do purgatório, mas o forno deveria ser apagado sempre antes do toque das Trindades, caso contrário, dizia-se, as almas dos nossos antepassados continuariam a ser queimadas pelo “santo fogo” do Purgatório.