PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
CASAMENTOS REALIZADOS NA PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ DA FAJÃ GRANDE NO INÍCIO DO SÉCULO XX (NO ANO DE 1900)
No início do século XX, mais concretamente no longínquo ano de 1900, realizaram-se, na paróquia de São José da Fajã Grande, os seguintes casamentos:
1900
A 20 de Janeiro – João Furtado Fagundes, de 35 anos, filho de Raulino José Furtado e de Ana Isabel do Coração de Jesus, casou com Maria Fagundes Furtado, de 18 anos, filha de José Joaquim Fagundes e de Ana Laureano de Freitas.
A 21 de Maio – Francisco Rodrigues do Nascimento, de 25 anos, filho de João Rodrigues Coelho e de Maria de Jesus, casou com Ana de Morais Rodrigues, de 21 anos, natural da ilha de Santa Maria, filha de José António Morais e de Ana Jacinta de Braga.
A 25 de Maio – José Francisco Serpa, de 22 anos, filho de Manuel Caetano Serpa e de Maria de Freitas Serpa, casou com Maria Inácia de Freitas, de 22 anos, filha de Manuel Inácio de Freitas e de Isabel Perpétua de Jesus.
A 21 de Junho – Francisco Alves Mendonça, de 39 anos, filho de Jacinto Alves de Mendonça e de Policena Georgina de Mendonça, casou com Maria Morais de Mendonça, de 23 anos, natural da ilha de Santa Maria, filha de José António de Morais e de Ana Jacinta de Braga.
A 28 de Junho – José Lourenço do Nascimento, de 28 anos, filho de Francisco Lourenço do Nascimento e de Ana Laureana da Silveira, casou com Maria da Glória de Freitas, filha de José Cardoso de Freitas e de Maria Leopoldina.
A 2 de Setembro – Manuel José Dowling, de 25 anos de idade, natural de São Vicente, ilha da Madeira, filho de Alexandre Pestana e de Maria Justina de Jesus, casou com Maria da Glória Dowling, de 18 anos, filha natural de Maria Júlia Amorim.
A 16 de Setembro – José Maria de Sousa de 50 anos, viúvo de Maria de Jesus Teodósio, filho natural de Maria de Jesus, casou com Ana Margarida de Sousa, de 29 anos, filha de Francisco de Freitas Branco e de Iria Margarida.
A 19 de Outubro – António José Pedro, de 18 anos, natural de Santa Cruz, filho de Pedro José da Câmara e de Rosália Maria de Andrade, casou com Maria Pereira da Silva, de 20 anos, natural dos Altares, ilha Terceira, filha de Manuel Pereira da Silva e Maria Gertrudes.
A 5 de Novembro – José Mateus Avelar, de 21 anos, filho de Manuel Dias Avelar e de Ana de Jesus da Assunção, casou com Maria José Avelar, de 18 anos, filha de Manuel Luís de Fraga e de Mariana Luisa da Assunção.
A 17 de Novembro – José Inácio Jorge, de 29 anos, filho de José Inácio Jorge e de Maria José da Glória, casou com Maria da Glória Fagundes Jorge, de 18 anos, filha de Francisco Lourenço Fagundes da Silveira e de Maria Luisa da Silveira.
A 29 de Novembro – José Inácio Cardoso de 21 anos, filho de João Inácio Cardoso e de Maria de Jesus, casou com Leopoldina de Freitas Cardoso, de 17 anos, filha de José Fernandes de Freitas e de Maria José Fernandes.
Fonte: - Gomes, Francisco António Nunes Pimentel, Casais das Flores e do Corvo, 2006.
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MIGUEL ALVIM
Miguel Alvim nasceu em Ponta Delgada, ilha de São Miguel a 20 de Junho de1882, falecendo na mesma cidade em 1915. Poeta e jornalista, fez os estudos secundários no Liceu de Ponta Delgada, passou pelo exército como oficial subalterno e acabou por se dedicar ao jornalismo. Fundou e redigiu com Francisco do Carvalhal os jornais Interesse Público e O Arauto. Dirigiu o jornal O Distrito, auto-suspenso após a queda da monarquia e, mais tarde, A República. Também chefiou a redacção do Diário dos Açores.
Cultivou a poesia e a música e esporadicamente o teatro e o conto. A poesia, que constitui a parte mais vultosa da sua obra, encontrava-se dispersa ou inédita à data da sua morte e assim se conserva actualmente. Trata-se duma poesia epigonal do parnasianismo, formalmente cuidada e em que o autor deixou algumas reflexões filosóficas sob a influência de Antero. Para o teatro escreveu a comédia Conselho de Ministro e um entreacto dramático, que a crítica local considerou «um grande exemplo de boa doutrina social», intitulado Duas Dores.
Dados retirados do CCA – Cultura Açores
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O GALEÃO DE GARCIA GONÇALVES
Chegaram os genoveses,
os flamengos
os bretões
e os florentinos!
Traziam barcos,
- pequenos batéis -
- frágeis caravelas -
navegando à bolina,
norteados pelo vento
guiados pela aventura,
sulcando o destino,
carregados de esperança,
almejando a sorte.
Sem o prever,
aportaram a uma ilha,
alta e esguia
onde, a sul,
havia uma enorme baía,
- uma encantadora enseada
E por trás da baía,
uma encosta,
com chão de lava,
mas soalheira e viçosa.
E os genoveses,
os flamengos
os bretões
e os florentinos,
fixaram-se ali,
na encosta verdejante,
voltada para o mar,
- debruçada sobre a baía -
arroteando,
produzindo,
edificando,
construindo maroiços.
atalhos e veredas,
transformando a lava
em chão doirado.
Também havia um português
- Garcia Gonçalves –
evadido do reino,
a exilar-se na ilha
por dívida
a El-Rei D. João III.
Uniram-se os genoveses,
os flamengos
os bretões
e os florentinos,
e, juntamente,
com o português,
(o tal que tinha uma enorme dívida para com El-Rei D. João III)
e com outros portugueses
(uns que antes, outros que depois)
também haviam demandado a ilha,
com as madeiras da encosta
e com a arte dos genoveses,
construíram uma enorme nau:
- um galeão -
que enviaram de presente a El-Rei D. João III
que, assim,
se apiedou
e perdoou a dívida
ao tal português,
evadido do reino
- Garcia Gonçalves –
E aquele lugar,
encastoado entre a baía e a encosta,
com o chão atapetado de lava florida
e com o mar a espraiar-se como eira,
houve por nome:
- Prainha do Galeão.
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O DESCANSADOURO DA LAJE DA SILVEIRINHA
Ao cimo da Ladeira da Silveirinha, na Fajã Grande, havia um grande largo e nele, do lado esquerdo de quem subia a ladeira, estava cravada uma enorme laje conhecida por “A Laje da Silveirinha”. Era uma pedra monumental, achatada, de forma circular e com a parte superior muito lisa, uma espécie de mesa redonda, embora sem pés e muito baixa, a fazer lembrar um verdadeiro monumento megalítico. A ladeira que começava numa curva do caminho, no sítio em que ele mais se aproximava da Rocha e de onde se desfrutava de uma bela vista da Figueira e de muitas das suas lagoas e levadas, subia íngreme e pedregosa, latejante e desoladora, ao mesmo tempo que se ia alargando até chegar ao cimo e desembocar num amplo e tosco largo, onde pontificava aquela espécie de tampa aparentemente retirada de um dos menires do Cromeleque de Almendres – a Laje da Silveirinha.
Ora foi precisamente este emblemático e desmedido local, donde também se vislumbrava uma boa parte da freguesia, que os nossos antepassados adaptaram a descansadouro, um dos vários construídos ao longo do caminho que ligava a Fontinha aos Lavadouros. Este era de facto um local que possuía quase todas as condições ideais para um bom descansadouro. Havia uma única excepção: a falta de água, carência, aliás, comum à maioria dos descansadouros, pese embora a Fajã Grande fosse terra de muita água. No entanto, a água bebível mais próxima da Silveirinha, ficava longe dali, mais concretamente nos regos das lagoas da Figueira, situados a uma boa distância, com difícil acesso e dispondo apenas de folhas de inhame como recipiente adaptado para o transporte do precioso líquido. De resto, a Laje da Silveirinha era um local quase perfeito para animais e homens descansarem, aliviando-se durante alguns minutos das pesadas cargas que traziam aos ombros, pois era um espaço bastante largo, com paredes altas e seguras, de um e outro lado do caminho, para colocar molhos, cestos e outros carregos ou para amarrar o gado ou encostar o carro de bois ou o corsão. Para além disso, o Descansadouro da Laje da Silveirinha ainda possuía uma excelente bancada natural. É que a própria laje servia, na perfeição, de assento, pese embora, do lado das Queimadas, tivesse sido construída uma bancada tosca e rústica, feita com pedregulhos grosseiros e achavascados. Neste descansadouro confluíam três canadas. Uma, mesmo ali, junto da Laje e que ligava este caminho ao das Queimadas, outra, um pouco mais acima e do lado oposto do caminho, proveniente do Cabeço da Rocha e, finalmente, ainda mais acima e já quase na Escada Mar, uma terceira canada que servia de acesso às hortas e terras de mato da Silveirinha.
Sendo assim, este descansadouro servia, em primeiro lugar, de descanso sobretudo para quem vinha carregado destas três canadas, uma vez que a maioria dos homens oriundos dos lugares que ficavam a sul da Escada Mar, aproveitava o descansadouro, que ficava um pouco mais acima e era bastante maior e mais largo – o Descansadouro da Escada Mar.
Contava-me minha avó, que este descansadouro foi palco de um dos mais comoventes actos heróicos praticados, outrora, na Fajã Grande. Por ali terá passado Ti’Antonho do Alagoeiro, a arder em febre e com uma hérnia a sair-lhe pela barriga, quando foi, numa correria louca, desde o seu cerrado das Queimadas até ao Cabeço da Rocha, socorrer Pai Cristiano que ali, junto à rocha, agonizava sozinho, lançando angustiantes estertores que, ecoando na Rocha, se transmitiam desalmada e pungentemente pelos vales e outeiros dos arredores. A sangrar e com as tripas de fora Ti Antonho do Alagoeiro ainda carregou às costas o velho, já cadáver, transportando-o até a sua casa, na Fontinha e entregando-o à sua família, que nem sabia o que se havia passado.
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PELO SÃO MARTINHO
“Pelo São Martinho, mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.”
Na Fajã Grande não havia vinho, ou melhor, não se produzia vinho. É verdade que havia algumas videiras, geralmente sobre os maroiços e misturadas com figueiras, mas sem serem trabalhadas e podadas. As uvas que produziam eram utilizadas apenas como alimento. Por isso provérbios relacionados com o vinho e com São Martinho não existiam, nem sequer se dava grande importância a este Santo, à solenidade do dia ou à festividade. Isto não significa que o mesmo não fosse lembrado e dele não houvesse memória, personificada num ou noutro adágio relacionado com o santo bispo.
Um provérbio muito referido, por esta altura, era o que se transcreve em epígrafe: “Pelo São Martinho, mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho.” com o qual se pretendia fazer lembrar que em Novembro, se o tempo o permitisse, já se poderiam e deviam realizar alguns trabalhos nos campos e fazer-se algumas sementeiras, como a do trigo, das favas e de que era por esta altura que se podiam plantar as couves, os alhos, as cebolas e o cebolinho. Além disso, o provérbio ainda lembrava que era realmente neste mês que se começava a preparar tudo para a matança do porco que em breve chegaria. Na realidade, muitas pessoas matavam o porco no final de Novembro, talvez porque, como o adágio refere, esta fosse a época do ano mais apropriada às matanças.