Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



CIDADE DOS CONTRASTES

Quinta-feira, 14.11.13

Cidade em fumos atulhada,

A granito acorrentada,

Mas sublime, pulcra, antojada

De brumas históricas ornada.

 

Cidade parida, distante…

Pérola, safira, diamante

Cidade triste, inconstante

Transfigurada em doce amante.

 

Cidade de torres e castelos,

Jardins verdes, palácios belos,

Cidade atulhada em fumos amarelos

Negra em cometimentos e anelos.

 

Cidade espraiada sobre um rio,

Muda de medo, morta de frio.

Cidade de inconstante desafio,

Precocemente, lançada ao desvario.

 

Cidade desfeita, sem vida,

Sombra dolente, adormecida

Cidade de desejos enriquecida

Cidade confusa, cidade perdida.

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 19:26

A POPULAÇÃO DOS AÇORES SEGUNDO O CENSOS 2011

Quinta-feira, 14.11.13

De acordo com o Censos 2011, realizado, em todo o país, em Março de 2011, a população dos Açores é de 246.102 habitantes, tendo aumentado, relativamente ao Censos anterior, realizado há dez anos, ou seja em 2001. Nessa altura a população dos Açores era de 241.763 habitantes. Assim, nestes dez anos, passaram a residir no arquipélago açoriano mais 4.339 pessoas, o que corresponde a um aumento populacional de 1,79%.

No entanto nem todas as ilhas aumentaram o número de habitantes. Pelo contrário, na maioria das parcelas açorianas, o número de residentes diminuiu, com excepção para o Corvo, Terceira e, sobretudo, para São Miguel, ilha onde se regista o maior aumento populacional. Nas restantes ilhas a população decresceu, sendo as mais atingidas em termos quantitativos, o Pico e S. Jorge e em termos percentuais as Flores e a Graciosa, onde o decréscimo da população foi de 5,11% e 8,10%, respectivamente. As Flores, actualmente, conta apenas com 3.791 habitantes, quando na década de cinquenta tinha 7.850 e no início do século XX, ou seja em 1900, data do primeiro Censo, a população florentina era de 8.127 habitantes, dos quais 3.629 pertenciam ao concelho de Santa Cruz e 4.498 ao das Lajes.

De acordo com o Censos 2011 e tendo em conta o Censos 2001, o que permite verificar os índices de variação, a população actual das ilhas açorianas é a seguinte:

 

A POPULAÇÃO DOS AÇORES EM 2011

 

Variação

Ilha

Actual

2001

Habitantes

Percentagem

S. Miguel

137.699

131.609

+ 6.090

+ 4,63 %

Terceira

56062

55.833

+ 229

+ 0, 41 %

Faial

15.038

15.063

- 25

- 0,17 %

Pico

14.144

14.806

- 662

- 4,4 %

São Jorge

8.998

9.674

- 676

- 6,99 %

Santa Maria

5.578

5.578

- 31

- 0,56 %

Graciosa

4.393

4.780

-387

- 8,10 %

Flores

3.791

3.995

- 204

- 5,11 %

Corvo

430

425

+ 5

+ 1,18%

Totais

246.102

241.763

+ 4.339

+ 1,79 %

 

No que ao alojamento diz respeito, outro item avaliado nos Censos 2011, o número de fogos aumentou substancialmente nos Açores, na última década. Assim, em 2001 existiam no arquipélago 93.308 fogos e, segundo o Censos 2011, actualmente estão registados 110.038 habitações o que significa que houve um aumento percentual de 17,93 %, correspondente a 16.730 alojamentos construídos nos últimos dez anos. A ilha em que se verificou um maior número de novas construções foi São Miguel com 10.387, seguindo-se a Terceira com 2.953, o Faial com 1.653, o Pico com 986, São Jorge com 495, as Flores com 193, Santa Maria com 100, e o Corvo com 46 novos alojamentos. Apenas a Graciosa registou um número menor de alojamentos em 2011 do que em, 2001. Em termos percentuais a situação é bastante significativa e clara, verificando-se que o Corvo, com 31,29 %, muito naturalmente ocupa a primeira posição, relegando São Miguel com 23,05 % para o segundo lugar. Por sua vez, o Faial com 30,30 % excede a Terceira com 13,70 %, enquanto Santa Maria passa a ocupar a penúltima posição, com uma percentagem bastante baixa de novos fogos, apenas 2,94%. A Graciosa, logicamente ocupa o último lugar, registando a única percentagem negativa.

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 19:14

O RAPAZ E OS LOBOS

Quinta-feira, 14.11.13

(Conto Tradicional)

 

Era uma vez um rapaz que namorava uma rapariga bastante longe da sua casa e que uma noite resolveu ir vê-la às escondidas dos pais. Para os ludibriar colocou debaixo dos cobertores várias almofadas dando a impressão de lá estar deitado.

A mãe do rapaz acordou sobressaltada com a sensação de que o filho não estava em casa. Levantou-se, foi ao quarto dele e vendo o vulto voltou para a cama. Mas continuava inquieta. Levantou-se novamente dirigiu-se à cama do filho, destapou os lençóis e viu as almofadas e que este não estava lá. Imediatamente ela, o marido e mais algumas pessoas se puseram à procura dele, pelos montes vizinhos.

Foram encontrá-lo no meio do mato com um pau na mão rodeado de lobos. Quando o viram, gritaram:

- Descansa que já aqui há quem te valha.

O rapaz distraiu-se e imediatamente os lobos aproveitaram essa distracção para se deitarem a ele e o desfazerem.

Assim acontece aos incautos quando não sabem agir silenciosamente e pedir, antecipadamente, a ajuda de alguém mais sábio e mais experiente, pois querendo mostrar que são fortes e que nada têm a temer.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 19:12

DESFILE DE MEMÓRIAS

Quinta-feira, 14.11.13

O desalinho

Trouxe o doce feitiço das memórias!

Um desfile sublime,

De vivências de outrora,

Que, desfeitas no tempo,

Se refizeram,

Reavivaram

E nos encharcaram,

Num perpétuo e suave encanto,

Numa amizade,

Mais profunda e sentida.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 19:10

QUADRO RÚSTICO MICAELENSE

Quinta-feira, 14.11.13

(Soneto de João Anglin - Dedicado a Armando Cortes-Rodrigues)

 

Trazem ao ombro o sacho prateado

Os camponeses, de regresso aos lares.

As aves voam no espaço aos pares

E o ar tem um aroma perfumado.

 

A enxada é brasão aureolado

De nobreza de feitos singulares,

Do trabalho por campos e pomares

Deste nosso torrão abençoado.

 

Comem o podre caldo alegremente

E agradecendo a Deus a refeição,

Conversam à luz branda da lareira.

 

Rezam depois uma oração fervente

E na serena paz do coração

Dormem a sono solto a noite inteira.

 

João Hickling Anglin

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 19:08

O PRETO

Quinta-feira, 14.11.13

O preto, minha senhora

O preto, minha senhora

Não gasta de bacalhau

Só gosta de arroz doce

E de farinha de pau

Um preto para aqui

Um preto para acolá

Outro preto sorri

Ah, ah, ah!

 

(Aravia ou cantilena fajãgrandense)

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 19:05

ESCALÉRIA

Quinta-feira, 14.11.13

A serra, vista de longe, é um monstro baço, negro e obscuro. Misturada com o horizonte, define-se e clarifica-se pelas suas formas fragosas, abstrusas e opacas. Envolto num enigma edénico e bucólico, o seu perfil austero e gigantesco aparenta um enorme e chavasco cenotáfio.

Quando observada mais de perto, porém, a serra surge como um ténue e esverdeado manto, salpicado aqui e além por pequenas manchas esbranquiçadas, envoltas por um matiz acrisolado de cores, de sons, de melodias e de perfumes. Entrecortada por penhascos e ravinas, sulcada por rios e regatos, crivada de verdura e arvoredos, a serra é, quando nela penetramos, um recanto ubérrimo e sublime, um paraíso empavesado e atraente mas agreste e adverso.

A serra é também uma colmeia de pequenas aldeias. Umas dispersais nas encostas soalheiras, outras debruçadas sobre fragas e pináculos.

Escaléria da Serra ou simplesmente Escaléria é uma delas. A sua história perde-se no tempo e a sua origem remonta aos primórdios da fundação da nacionalidade. Concedeu-lhe foral Sancho I. Teve pelourinho e capela românica, fundada pelos monges Premonstratenses, no séc. XII. Isolamento, penúria e demência cultural contribuíram para a destruição de um e o abandono da outra, substituída esta última por uma construção de blocos de cimento, com portas de alumínio. Talvez tenha herdado o nome do espanhol “escalera” que significa degrau, epíteto que se prende com a sua estratégica situação na serra. Segundo uma opinião mais ousada, porém, terá sido uma ilustre dama, chamada Scaléria, que lhe deu nome. Fugindo às atrocidades e sevícias de um marido, janízaro, sem moral e sem consciência, Scaléria ter-se-á ali refugiado, como que transformando a serra no seu ergástulo. A densa vegetação e o isolamento, terão contribuído para dificultar a procura, por parte do sacripanta. O bardino nunca encontrou Scaléria e esta, acompanhada por um reduzido número de escravos, a quem havia dado alforria, fixou-se por ali, definitivamente, dando nome ao povoado.

Escaléria, hoje, é um resíduo enigmático de uma diminuta população em que predominam os idosos, arrastando-se por vielas esconsas, caminhos sinuosos, por aclives e bamburrais, sobrevivendo graças a uma labuta macerada e férvida. As ruas cheiram a silêncio e solidão. Da maioria das casas emerge abandono e escalavramento. A aldeia, perdida nos barrocais da serra, é um mito desfeito, um paradigma de paixões perdidas, um deserto de desejos e projectos.

Enquanto o fumo anunciador de lares ou lareiras, esquivando-se pelos telhados, se perde por entre o acinzentado das manhãs, os homens e as mulheres que ainda se movimentam procuram, nos campos circunvizinhos, o sustento quotidiano, que lhes garanta a sobrevivência. Depois o almoço frugal. De tarde, a exígua população decide-se pelo repouso. Os homens reúnem-se na baiuca do Ti Jerónimo do Lameiro. As mulheres, se é inverno ou chove, aconchegam-se cada qual no seu cardenho. Pelo contrário, nas tardes solarengas da primavera e do verão, juntam-se em alegre contubérnio, nos degraus da pátio da Maria Constança, local central da aldeia, transformando-o ora em areópago de mexericos e má-língua, ora em santuário de murmúrios e lamentações.

A Joaquina Fardola é a primeira a chegar; depois a Perpétua do Tesoureiro, a Florinda da Benta, a Maria Augusta, a viúva do Justino, a própria anfitriã e algumas outras. O diálogo inicia-se geralmente sobre maleitas e sezões, terminando em sonhos perdidos e desejos desfeitos, passando por crónicas de maldizer e críticas mordazes.

- Ai estas pernas que já não me ajudam nada! – Lamenta a Benta para a viúva do Justino.

- Com a tua idade, menina, com a tua idade, dava pulos numa estrela. Ó! Se dava! –Contraria a Maria Constança, que, afinal, não aparenta grande diferença de idade da viúva.

A Augusta, de imediato, intervém:

- Estas catraias de agora não sabem o que é a vida, nem o que é sofrerem. Hoje têm tudo! Não fazem nada. Sabem o que ouvi dizer ao meu José, quando esteve cá? Que lá na França em casa dele têm máquinas para tudo. Até têm uma máquina para lavar a loiça! Já viram vocês? Uma máquina para lavar os pratos e as panelas... A mulher e as filhas não fazem nada!... Isto tem que se lhe diga, meninas... Tem que se lhe diga...

- E admiras-te? – Interrompe a Florinda. – Então o meu Joaquim não tem uma caixinha, assim a modos que preta, com umas luzinhas e uns botões. Ele carrega nos botões e zás! Toca a falar para onde quer. Até fala para a França, para o meu Gilberto! Para a França, vejam lá vocês...

- Modernices! Modernices! – Exclama a Evelina das Cavadas acrescentando - Estas gentes modernas não sabem o que é trabalhar. No nosso tempo é que era!...

- Ah! Pois era! Só que depois do 25 de Abril isto mudou tudo. Trabalho? Quanto menos, melhor! Boa vida, vadiagem e, agora estas drogas, que dizem que andam por toda a parte. Antigamente é que era... Nem à escola meu pai me deixava ir... Só à missa... Mas era ir num pé e voltar no outro! Nada de demoras ou paragens – explica com acentuado denodo a Joaquina Fardola.

A Perpétua do Tesoureiro, cujo apelido fora herdado do pai, que acumulara durante anos e anos as funções de sacristão com as de presidente da Junta de Escaléria, entra de imediato em defesa do seu progenitor acerrimamente:

- Escola!? Escola nem havia. Era no palheiro do José do Monte! Nem janelas tinha...Vocês já não se lembram, mas foi o senhor Salazar, a pedido do meu santo pai, que Deus tenha, que mandou construir aquela ali na Fonte Nova. E que bela escola que era! Um primor! Vocês vêem o estado a que chegou? Vidros partidos, portas arrombadas, tudo destruído. Foram os comunistas, credo em cruz - e benzia-se vezes sem conta – foram os comunistas que deram cabo de tudo. E agora, nem professora temos. Vem um carro buscar os do Aníbal para os levar para a escola de Trelhal. O senhor Salazar é que era um governante como deve ser!

- Foi a seguir ao 25 de Abril!... Deram cabo de tudo - confirma a Fardola.

A Perpétua não desarma:

- Não só deram cabo de tudo como favoreceram os vadios, os preguiçosos, os vigaristas, os drogados, os que não fazem nada. Isto é uma vergonha! Sabem o que a minha Ritinha me disse quando cá veio? Que nessas televisões que agora há por aí, disseram que Portugal era o país do mundo onde havia mais bêbados. Ora vejam lá, mais bêbados...

- Credo menina, credo – contraria a Constança - Mas então nessas Rússias e Américas? Dizem que é muito pior do que aqui. É só guerras e mortes. O meu home diz que, quando esteve no hospital de Trelhal, via muitas vezes as notícias numa televisão que lá tinham, que não é igual a essas das cidades, é a modos que só a preto e branco, mas, mesmo assim, diz que aquilo tinha dias que era um horror. Era mortes, mortes, mortes por esses mundos fora...

- E aqui não há guerras, mas há malandragem e vadiagem! – Sentencia a das Cavadas.

- E abandono. Estamos para aqui abandonados, sem ninguém olhar por nós ou por esta terra. – Acrescenta a Florinda.

- E doença... Doença.... Ai estas pernas – lamenta-se, mais uma vez a Benta, acrescentando com ar fingidamente tristonho - É estar aqui à espera da morte!

- Morte!? Há meses que não vem cá um padre - explica a viúva do Justino, que até então permanecera muda – Nem padre temos para nos “asssacramentar” à hora da morte.

- E médico? Há quantos anos não vem cá um? – Interroga a Benta, ajeitando a anágua.

- Foi o 25 de Abril. Ai estes anos a seguir ao 25 de Abril! – Lamentam em coro.

O Agripino que passava por ali parou e, debruçando-se sobre o muro que dava para o pátio em cujos degraus estavam sentadas as mulheres, intervém meio a sério meio a rir:

- Isto é que é má-língua. As mulheres quando se juntam é sempre para dizer mal. Então não vêem os melhoramentos que se fizeram na nossa aldeia, durante estes anos, a seguir ao 25 de Abril.

- Melhoramentos?! Melhoramentos em Escaléria?! Isso é lá nas cidades e na França! – Explica a Augusta, catedrática presumida em questões francesas - Aqui o que é que vês? Miséria, só miséria...

- E malandragem – acrescenta a Perpétua.

- E abandono – proclamam conjuntamente a viúva e a das Cavadas.

- E doença - acrescenta prontamente a Augusta voltando a lamentar-se -  Ai estas pernas... Qualquer dia nem andar posso.

- Olhem que isso não é bem assim. Então não vêem esta estrada que hoje nos leva até lá abaixo, à estrada que dá para Trelhal? Não se lembram como os caminhos eram antigamente? Nem carro de bois passava... E ali, no largo? As árvores e os bancos que lá puseram. Dizem que a luz vem a caminho, a água virá depois. O cemitério foi melhorado.

- Sim, sim... Caminhos para quem tem automóvel. E cemitério para quê? Depois de mortos não precisamos de nada. Em vivos sim, enquanto estamos vivos é que precisamos de cuidados – acrescenta a Fardola considerada a mais letrada do grupo.

O Agripino bem explicava que afinal a seguir ao 25 de Abril muita coisa tinha mudado e para bem de todos. Se ainda lá não tinha chegado a luz e a água era questão de mais uns anos ou talvez meses. E acrescentava:

- Mas, meninas, o que de melhor temos agora, depois do 25 de Abril, é a democracia e a liberdade em que vivemos, no nosso país. Somos um país democrático e um povo livre. Além disso, o governo agora interessa-se muito mais pelos pobres do que no tempo do Salazar, cujo governo só beneficiava os ricos. Este governo até dá um subsídio às famílias mais pobres. Mas o mais importante de tudo é a liberdade. Olhem, se não houvesse liberdade vocês nem podiam falar assim...

 E voltando-se para a Perpétua do Tesoureiro, interrogou-a com acrimónia:

- Já não te lembras como era no tempo de teu pai? Era ele que mandava em tudo eem todos. Eraum fascista como os da Pide. Não se podia falar mal do governo diante dele, ou dos que lhe iam meter tudo no cu, os que eram como ele. Não havia liberdade. E já não te lembras da guerra do Ultramar? E dos filhos da Joaquina Toina, do Bento do Moleiro e meu sobrinho, que morreram na guerra de Angola?!

A Perpétua bem protestava, implorando que moderasse a língua e respeitasse a memória do seu paizinho, que esse sim, muito fizera por Escaléria e o pagamento era ter sido tratado como foi.

- Um santo! Um santo! – Exclamam as outras, em tom reconfortante.

A noite descia apressadamente sobre o povoado. A viúva do Justino foi a primeira a desertar. As outras, umas isoladas, outras em pares, foram-lhe seguindo o exemplo, recolhendo aos seus lares.

Pouco depois os degraus da Constança ficaram desertos. Sobre Escaléria e sobre a serra caía um silêncio profundo e uma noite cada vez mais escura e mais indefinida. Nas poucas casas habitadas, terminado o caldo no escano junto à lareira, esbagoavam-se camândulas e bichanavam-se ave-marias. Depois, um sono profundo e tranquilo dominava todos até que a manhã, por entre os sombreados esconsos da serra começasse timidamente a clarificar e a definir-se.

E na tarde dos dias seguintes, nos degraus do pátio da Maria Constança, lá estavam, ocupando os mesmos lugares, a Joaquina Fardola, a Perpétua do Tesoureiro, a Florinda da Benta, a Maria Augusta, a viúva do Justino e a Evelina das Cavadas sonhando com o passado, condenando o presente e obliterando o futuro, enquanto a serra se ia tornando cada vez, mais escura, sombria e enigmática, porque mais distante e longínqua.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 19:01

O LUGAR DO POCESTINHO

Quinta-feira, 14.11.13

O Pocestinho era um dos maiores, mais úteis, mais belos e mais produtivos lugares de terras de mato da Fajã Grande, na década de cinquenta. Ali existia uma vegetação luxuriante, um arvoredo frondoso, um manancial de verdura, uma espécie de mina de lenha, um tapete terrestre pleno de pequenos arbustos, de inhames e de algumas árvores de fruto. Situado lá bem no interior do território da freguesia, o Pocestinho confrontava a Sul com o Pico Agudo, a Oeste com a Cancelinha e a Cabaceira, a Norte com as Queimadas e a Este com a Escada Mar e a Alagoinha de Baixo. O acesso àquela espécie de éden fazia-se através do caminho que unia a Fontinha aos Lavadouros. Assim depois de subir a Fontinha, o Alagoeiro, a Fontecima, o Batel e a Silveirinha, chegava-se à Escada-Mar, onde havia um enorme largo e um grande descansadouro. Voltando-se à direita encontrava-se precisamente o caminho que dava para o Pocestinho e cuja primeira parte, até à última relva da Escada-Mar, era larga e acessível a carro de bois ou corsão, embora o piso não fosse calcetado. A partir daí seguia-se por uma canada, estreita e sinuosa, que ia ligando, de ambos os lados, umas e outras terras, todas elas de mato e de inhames com algumas árvores de fruto à mistura, separadas do caminho por paredes negras e altíssimas, muitas delas crivadas de “coicelos”, musgo, eras e erva-santa. Desta canada bifurcavam-se outras, mais curtas e mais estreitas e algumas veredas que por sua vez a ligavam às terras mais interiores. Mas, em muitos casos, eram as próprias terras que davam passagem umas às outras, sobretudo às mais distantes do caminho. Este acesso ao Pocestinho na sua parte final ainda se tornava mais estreito, transformando-se numa pequena e apertada vereda que, prolongando-se por entre terras de faias e incensos, de troncos grossíssimos e aparentemente seculares, vinha dar à canada da Cancelinha, ligando assim o caminho da Fontinha/Lavadouros ao da Assomada/Lavadouros. Por isso, tudo aquilo que as terras do Pocestinho produziam, tinha mesmo que ser acarretado às costas, no caso dos homens, ou à cabeça, no caso das mulheres, pelo menos até à Escada-Mar. E as terras do Pocestinho produziam muito, sobretudo faia e incenso misturados com um ou outro pau branco, sanguinho ou loureiro. Eram por isso, sobretudo terras que produziam incensos para alimentação do gado e de lenha para o lume. Entre estas árvores, porém, cresciam fetos e cana roca que eram ceifados todos os anos, por alturas do verão. Os fetos eram secos, “emólhados”, acarretados e guardados nas casas velhas a fim de, no inverno, servirem de cama para o gado e a cana roca utilizada para “enxugar” os lameiros da cerca do porco ou então era simplesmente cortada para limpeza do terreno. Nalgumas belgas mais planas cultivavam-se inhames de mistura com uma ou outra árvore de fruta, nomeadamente com macieiras, pereiras e ameixeiras, dado que as laranjeiras por ali se não davam muito bem. Mais tarde, no final da década de cinquenta, alargou-se a canada do Pocestinho, de modo a que carros de bois e corsões chegassem junto das terras.

Acredita-se que este topónimo terá tido a sua origem em dois nomes “Poço do Justino” os quais terão evoluído para “Poçojustino” e, mais tarde “Pocestinho”. A prova de tal facto é sobretudo a de se terem encontrado registos muito antigos de algumas propriedades deste local que se diziam localizadas no lugar do “Poço do Justino”. Parece-me, no entanto que este poderá ter sido um erro do funcionário que terá percebido mal o nome e o terá escrito desta forma, situação nada invulgar nos tempos idos. Neste caso a origem do nome deste lugar poder-se-á encontrar noutras palavras e talvez tenha a ver com o diminutivo de “cesto”, ou seja “cestinho”. Talvez de “Posso cestinho”, significando que neste caso que, em termos de produtos agrícolas, aquelas terras seriam pouco férteis, isto é produziriam uma quantidade tão pequena de frutos que uma pessoa sozinha podia facilmente trazê-los num pequeno cesto ou cestinho, dado que, fundamentalmente eram terras de mato. Assim até eu “posso num cestinho” trazer o pouco que elas produzem, sob o ponto de vista agrícola. Daí o topónimo actual “Pocestinho”.

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 12:21

A POPULAçÂO DA RUA DIREITA

Quinta-feira, 14.11.13

A Rua Direita iniciava-se à Praça e prolongava-se até à Via d’Água. Entre a Praça e o Chafariz ficavam as seguintes casas moradias: a do José André e aquelas onde moravam duas das mais importantes e emblemáticas personalidades existentes na Fajã, na altura: o Padre Pimentel e o Mancebo.

O José André vivia com a mulher e dois filhos numa casa térrea, mesmo ali bem no perímetro da Praça e cuja empena Sul servia de lugar de descanso e abrigo, quando o vento soprava do Norte. Logo a seguir e frente a frente, em duas das melhores casas da freguesia moravam, numa o P.e Pimentel e noutra o José Mancebo. O padre Pimentel era o pároco da freguesia, sendo natural da Fajãzinha e tendo-se ordenado em 1917. No início foi cura no Corvo e em Santa Cruz, sendo transferido para a Fajã Grande em 1925. Vivia numa casa solarenga, com uma irmã, uma sobrinha, duas meninas que adoptara como “pupilas” e ainda uma velhota, chamada Ana Neta. Por sua vez o Mancebo, que vivia com a mulher e dois filhos, era um acérrimo defensor do regime político vigente, até porque era o presidente da Junta de Freguesia, cargo que exerceu durante longos anos, dado que granjeara a amizade e simpatia do Presidente da Câmara das Lajes, que por sua vez era sobrinho do Governador Civil da Horta, distrito a que a ilha das Flores, na altura, pertencia. Foi também presidente da Cooperativa, cabeça de festas e do Fio e um dos fundadores da Filarmónica Senhora da Saúde, da qual foi regente durante muitos anos.

Continuando este périplo imaginário pelas ruas da Fajã Grande, no início dos anos cinquenta, deambularemos ainda pela Rua Direita, onde se situavam as casas maiores e simuladamente mais luxuosas da freguesia, quase todas de dois andares e muitas delas com os pisos inferiores a servirem também de habitação e afins ou utilizados para estabelecimentos comerciais. De facto era na rua Direita que se localizavam todos os estes estabelecimentos, num total de seis: quatro mercearias e dois botequins e ainda os correios, a escola e as duas casas do Espírito Santo. Ao redor da igreja, na realidade, as habitações eram todas de dois andares, excepto duas. Uma era do David que, no entanto, ficava um pouco mais afastada da rua, numa pequena travessa ou canada, situada entre as casas da Senhora Alvina e da Senhora Dias. O David era um pequeno agricultor e criador de gado que, no entanto, guardava num palheiro bem longe da rua Direita. Anos mais tarde havia de dedicar-se ao comércio, acabando também por emigrar. Vivia com a mulher, filha do Raulino Fragueiro e uma filha, a Anina.

A senhora Alvina era viúva e morava, juntamente com os filhos, num enorme e apalaçado edifício, que ficava entre a entrada das Courelas e a canada do David. Em breve partiram para a América, sendo a casa vendida e actualmente transformado numa das mais interessantes residenciais da ilha das Flores. Ao lado a senhora Dias, também viúva e que vivia com uma filha, casada com o Caetano, filho de Tio José Teodósio, numa casa de construção recente, paredes-meias com o adro da igreja. Moravam no piso superior, tendo no primeiro andar um dos maiores estabelecimentos da freguesia onde vendia de tudo: sapatos de pele de cabra, botas de cano, “mantinhos” de seda, lenços de merino, tecidos vários, algumas peças de roupa, petróleo e mexas, produtos de mercearia, bebidas, enfim todos os produtos que a população necessitava e de que era abastecida geralmente por barcos vindos das Lajes ou de Santa Cruz.

Do outro lado da rua morava também uma viúva, numa casa muito interessante sob o ponto de vista arquitectónico e artístico e em cujo frontispício se realçavam os belos gradeamentos de ferro das varandas. Esta senhora, já de avançada idade, era a viúva de José Cardoso e ali vivia com 5 filhos, que trabalhavam nos campos, destacando-se alguns deles como músicos pioneiros na filarmónica Senhora da Saúde, nomeadamente o António que tocava bombardino e o Manuel, cornetim. Um outro filho, o José, granjeou o epíteto de “Trancão”. É que o seu sonho, ser arpoador de baleias, não era fácil de concretizar-se. Para tal era preciso e certa vez terá sido encontrado a treinar, substituindo, no entanto, as baleias por abóboras.

Mesmo em frente à igreja morava o Mateus Felizardo que, no dizer de Pierluigi Bragaglia, (1997) “era uma das mais lúcidas memórias da Fajã Grande”. Vivia com a esposa Natália e alguns filhos, entre os quais a Clara que faleceu bastante jovem e o José que foi o primeiro tocador de bombo e pratos, em simultâneo, na Filarmónica Senhora da Saúde.

Na casa ao lado, esta a outra das duas térreas junto da igreja, morava a Elisinha Abraão, catequista e pessoa muito religiosa, juntamente com os sobrinhos que ela própria criara desde crianças, dado que eram órfãos, pois os pais haviam falecido no trágico acidente do Corvo, em 14 de Agosto de 1942, no qual o gasolina “Senhora das Vitórias”, também conhecido por “A Francesa” naufragou no sítio dos Laredos, junto à ilha do Corvo e onde morreram mais de quatro dezenas de pessoas, sendo a maioria naturais e residentes na Fajã Grande.

Finalmente e numa travessa da Rua Direita, mesmo ali ao lado da igreja e do cemitério morava o Gil, com a esposa, três filhos e uma irmã, a Ricardina. O Gil também era lavrador e criador de gado, sendo que as suas vacas usavam as mais bonitas e mais deliciosamente sonantes campainhas de todas as usadas na Fajã. A seguir à casa de Tio José Luís e junto à Casa de Baixo, onde funcionava a escola, a moradia do Gil tinha um pátio de entrada, onde havia algumas árvores entre as quais uma enorme tamareira. Na altura em que esta se carregava de tâmaras, apesar de ainda verdes mas já com um cheirinho delicioso, nós os garotos da escola, na hora do recreio, aproveitando a ausência do Gil e familiares lá subíamos a tamareira… Óh tâmaras! Para que vos quero! Os que ficavam cá em baixo, roídos de inveja por não poderem subir a árvore, bem gritavam: Gil! Ó Gil! Olha os monços nas tâmaras!” Não adiantava! Eram bolsos e bolsos cheios, a abarrotar e à tarde o Gil ou a fazer queixa à senhora professora ou a correr atrás dos que supostamente lhe haviam gamado as ditas cujas.

Logo a seguir à igreja, do lado mar, situava-se um edifício de grande imponência, com referências históricas e lendárias muito curiosas e com traços arquitectónicos invulgares. Citando o “Inventário do Património Imóvel dos Açores” a sua “…fachada principal é emoldurada por um soco alto e saliente, por dois cunhais e por uma cimalha com faixa, friso e cornija onde se apoiava o beiral. Apresenta três portas alternadas, sobre as quais havia janelas de peito, cujos aventais aparentes se ligam às cornijas das respectivas portas…. Na empena direita, com sótão, havia uma porta ao nível do piso térreo encimada por uma antiga janla de sacada, vendo-se a consola em pedra ligada ao lintel da porta e do lado direito da janela havia uma porta a que se tem acesso por uma escada com balcão. A cimalha da fachada principal prolonga-se pela empena direita formando a base de um frontão cujo remate superior é feito por uma faixa e uma cornija…”. Este belo, histórico e monumental edifício era, no entanto, como todos os da Rua Direita, “construído em alvenaria de pedra rebocada e caiada, excepto o soco, os cunhais, as cimalhas, a consola das varandas e as molduras dos vãos que eram em cantaria pintada de cinzento”, como as barras e portadas das restantes casas. Duma análise pormenorizada, poder-se-ia concluir que este edifício, tal qual se encontrava nos anos 50, já teria sofrido grandes alterações, algumas pouco conseguidas, relativamente ao que teria sido a sua arquitectura primitiva, pois havia testemunhos de que provavelmente seria um dos mais antigos da freguesia, tendo sido propriedade e residência do capitão Freitas Henriques, estando, nessa altura, ligado por uma ponte à primitiva ermida da Fajã Grande, benzida em 1757 e que antecedeu o edifício da actual igreja paroquial, edificada no ano de 1849.

Na altura que estamos a referenciar, ou seja o início dos anos 50, o edifício destinava-se, na parte superior a duas moradias e na inferior a uma loja de comércio, pertencente à Bernadete Dias e uma outra a servir de correios. Um dos inquilinos do piso superior era o José Natal, que vivia sozinho e administrava os correios. Era na loja e no enorme saguão de pedra que dava para o piso superior, onde morava, que nos dias a seguir ao Carvalho, lia, um por um, em alta voz e por vezes no meio de grande algazarra, confusão e comentários pouco abonatórios, o nome de todos os destinatários das cartas, avisos e pequenos embrulhos que a “maleira” trazia das Lajes, a fim de aqueles a quem se destinavam deles se apropriassem. Na outra metade do edifício morava a viúva de Tio José Luís, com alguns dos filhos que ainda não haviam casado e que, para além do trabalho agrícola, também tinham um moinho na Ribeira das Casas – o moinho do Engenho.

Em frente havia uma outra casa solarenga, em estado bastante degradado, mas também habitada por duas famílias: numa o José Mariano, que viera da Quada, bastante pobre, doente e carregado de filhos e na outra três irmãos já de avançada idade, conhecidos pelos “de  José de Joãozinho”, havendo uma das duas irmãs que já nem de casa saía.

Ao lado do posto de recepção do leite da Sociedade, que se situava em frente à Casa do Espírito Santo de Baixo, vivia o João Fragueiro, agricultor mas também baleeiro e, segundo se dizia, um dos homens mais fortes da Fajã. Era casado com uma filha de Tio José Teodósio e tinham um filho. Cedo emigraram para o Canadá. Do mesmo lado da rua, junto à Máquina e um pouco mais afastada do caminho ficava a casa do Senhor Nunes, que, apesar de idade avançada, ainda trabalhava nos campos e criava gado com ajuda da filha, apesar desta ter uma deficiência no andar. A esposa, bastante doente já pouco saía de casa.

Encerrava este grupo de mais sete agregados cujas almas dos defuntos seriam sufragadas a meados do mês de Novembro, a família de Josezinho Fragueiro, que vivia com a mulher e dois filhos solteiros, a Lucinda e o José, um pouco mais abaixo, em frente à entrada para a Rua Nova. O José era considerado como um dos homens mais trabalhadores da Fajã, dado que, como se dizia, “não parava em ramo verde” pois estava sempre ou a trabalhar nos campos ou acarretar molhos e molhos de erva e de incensos para o gado.

Na esquina do cruzamento da Rua Direita com a Rua Nova ficava a casa que pertencia José do Nascimento, geminada com uma outra, voltada para o lado da empena da Casa do Espírito Santo de Baixo, geralmente desabitada. O José do Nascimento era um homem bondoso, sorridente e que emanava, continuamente, uma simpatia contagiante. Além disso manifestava uma calma e uma tranquilidade pouco usuais e uma espécie de sábia capacidade de resolver conflitos e contendas. Lamentavelmente algumas doenças graves de que padecia dificultavam-lhe os trabalhos agrícolas e, provavelmente por essa razão, abriu um botequim na loja da casa dos de José de Joãozinho. Era ali praticamente o único sítio, onde nas longas noites Inverno os homens se podiam reunir para conversar, discutir e descansar das pesadas e cansativas tarefas diárias, perante a complacência e boa vontade do Nascimento que ali ficava toda a noite a ouvir lamúrias, discussões e vivências, apenas a vender um ou dois copos de anis e a ver, no final da noite, uns míseros centavos na gaveta. Vivia juntamente com a esposa, que o substituía em muitos dos trabalhos do campo, a mãe, duas irmãs e o filho António. Na outra esquina morava o Afonso das Tomásias com a mulher e um dos filhos que havia casado com uma filha de Mateus Felizardo. O Afonso das Tomásias, apesar de avançada idade, ainda era um excelente músico. Era ele que juntamente com o Mancebo cantava antífonas, salmos e impropérios em latim e em canto gregoriano, na Festa do senhor dos Passos. Alem disso era um assíduo colaborador em todas as festas e actividades religiosas, assim como em muitas outras que, na altura, se realizavam na freguesia.

Em frente, numa casa bastante alta, com varandas de ferro e uma loja enorme vivia o Francisco Tomé, casado com uma filha de Tio Manuel Luís, de nome Águeda e com duas filhas: a Maria e a Teresa. Era um homem forte, rude e de modos grosseiros. Era um agricultor abastado, tinha muitas terras, entre as quais um cerrado no Porto ao lado do de meu pai. Como o terreno não tivesse acesso à entrada de carros de bois, pois ficava encurralado entre marouços e atalhos, era meu pai que lhe dava passagem, autorizando-o sempre a transitar com o carro de bois cheio de estrume ou de produtos agrícolas, pese embora os prejuízos que isso causava às couves, batatas doces e abóboras que o meu progenitor ali cultivava. Quando, algum tempo depois, comprou ao Roberto Belchior uma terra no Espigão que sempre “dera caminho” a uma de meu pai, proibiu-nos a passagem.

Do outro lado do caminho e no termo da Rua Direita, paredes-meias com o Afonso das Tomásias morava o João Lourenço, com a mulher, a filha e a mãe. O João Lourenço era um homem fortíssimo, falava muito alto mas tinha uma coração excelente, amigo de todos, sendo-lhe também confiadas responsabilidades na direcção da Sociedade e em outras actividades.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 12:15

PARTIDA

Quinta-feira, 14.11.13

Lenços de memórias

abanam sobre o cais.

 

Há velhos absortos,

encostados a bordões,

e crianças, inibidas,

com os olhos encharcados.

Mães, aflitas,

agarram-se a pedaços de esperança

dispersos no ar

e fazem promessas.

Namoradas soluçam,

em prolongada agoni,

escondidas entre sacos e caixotes.

 

Tantos são

os que partem…

 

Alguns partem

porque estão doentes,

dois ou três vão estudar

outros para tropa,

muitos,

a maioria, vai para a América…

 

Tantos

os que partem…

 

Muitos

já mais regressarão.

 

E

o navio,

ancorado, lá fora,

aguarda,

balança,

fumega

e tem ar

de quem se ufana.

Autoria e outros dados (tags, etc)

tags:

publicado por picodavigia2 às 00:09

O CASAL POBRE

Quinta-feira, 14.11.13

(Conto Tradicional)

Era uma vez um casal muito pobre. Não tinham terras nem gado e como eram um pouco adoentados, ninguém lhes dava trabalho. Apenas um ou outro vizinho ou alguma pessoa mais generosa da terra lhes dava, de vez em quando, um pedaço de pão e um pingo de leite, com que iam sobrevivendo.

Certo dia a mulher disse para o marido:

“Homem. Já há alguns dias que ninguém nos dá uma esmola. Hoje não temos nada para comer.”

O marido, para espanto da mulher, retorquiu com calma:

“Não te preocupes! Vai ser o dia mais feliz da nossa vida!”

Como tinha uns centavos amealhados, o homem foi à loja mais próxima e comprou uma garrafa de vinho e beberam metade, cada um. Tomaram uma bebedeira e acordaram no dia seguinte, à noite.

Então, a mulher, ao acordar, disse ao marido:

“Já viste? Passámos um dia sem comer e sem beber.”

O marido, concluiu:

“Eu não te disse, mulher, que ia ser o dia mais feliz da nossa vida.”

E no dia seguinte, um vizinho veio trazer-lhes pão e leite

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:07

A CASA DO ESPÍRITO SANTO DE MARIA DE JESUS MACIEL

Quinta-feira, 14.11.13

Foi  publicado e apresentado na ilha do Pico, no passado mês de Junho e por alturas das festividades em louvor do Paráclito, o livro “A Casa do Espírito Santo”.  Da autoria de Maria de Jesus Maciel, esta obra contém.  não apenas sobre o ponto de vista textual mas também a nível fotográfico, uma importante,  excelente, interessante  e variada  documentação histórica sobre o tema.. Para quem lê este novo livro de Maria de Jesus Maciel e, sobretudo para aqueles que,  de uma forma ou de outra,  se identificam com a vida, com a idiossincrasia  e com os costumes insulares ou para os que se fazem acompanhar no seu quotidiano  de  vivências e de memórias de uma perene e jamais inseparável açorianidade, este livro, de leitura extremamente agradável, apresenta-se como um magnífico encontro com o passado e com o presente açoriano, com os costumes e as tradições das ilhas, com o encanto das suas festividades, com a sublimidade das suas vivências e celebrações. Inigualáveis nos seus formatos e transcendentes na sua essência, as festas do Espírito Santo sentem-se e vivem-se, hoje nos Açores, com a mesma intensidade e devoção de outrora e são repletas de sentimentos intensos,  de vivências solidárias, de recordações míticas, de extravagâncias deliciosas e de promessas que o tempo nunca apagou nem, de certo, apagará jamais. Além disso, os açorianos, que nelas emergem, quer responsabilizando-se pela sua concretização, quer ajudando nos seus arranjos e preparativos, bem como aos que a elas se ligam apenas como espectadores, fazem-no com uma dedicação inexaurível, com um empenhamento notável, com um espírito de doação e de partilha transcendentes e com uma abnegação infinita. As festas do Espírito Santo fazem parte íntegra do quotidiano dos habitantes dos Açores, que com elas como que se identificam e se consubstanciam. Tudo isso e muito mais nos revela Maria de Jesus Maciel nesta sua obra recentemente divulgada e que aborda temas como: o significado e o simbolismo destas festas, as suas raízes históricas e culturais, a sua identidade e as suas diversidades nas várias ilhas, os impérios como forma de culto e muito particularmente o Império da Companhia de Cima, na freguesia de São João do Pico, donde a autora é natural e onde passou a sua infância, da qual guarda as melhores e mais belas recordações e que agora partilha com os leitores. Para além de uma enorme quantidade de fotografias que o livro contém, algumas delas de um passado já distante, a autora ainda recolheu um bom número de testemunhos e de vivências de várias pessoas sobre as festividades do Espírito Santo, acrescentando um notável elenco de obras de variadíssimos autores sobre o tema. Há ainda, em anexo, um importante registo da letra de alguns cânticos que fazem parte íntegra das referidas festas, nomeadamente dos que são cantados nas  novenas que ainda hoje se efectuam em muitas freguesias da ilha do Pico.

Maria de Jesus Maciel, natural de São João do Pico, é licenciada em História pela Faculdade de Letras de Lisboa, mestreem Estudos Portugueses– Literatura e Cultura Portuguesas e Doutoradaem Cultura Portuguesapela Universidade Nova de Lisboa. Exerceu o seu percurso profissional, primeiro como professora do Ensino Secundário e, mais tarde, com professora de Cultura Portuguesa no ensino Superior, dedicando-se actualmente à investigação, tendo já publicado outras obras sobre vários temas da história e cultura açorianas, nomeadamente referentes à ilha do Pico e à freguesia de S. João.

Texto publicado no “Pico da Vigia”  em 04/07/11

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por picodavigia2 às 00:04





mais sobre mim

foto do autor


pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Novembro 2013

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930