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A TULIPA E O VENTO

Sexta-feira, 15.11.13

No meio do meu jardim,

plantei uma tulipa amarela.

 

Não era minha,

a tulipa.

 

Veio o Vento Norte e levou-a.

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publicado por picodavigia2 às 16:50

O EMBARQUE

Sexta-feira, 15.11.13

Em cima do cais das Lajes, no meio de uma confusa miscelânea de pessoas animais, bagagens e mercadorias, aguardava a minha vez de embarcar no velhinho Carvalho Araújo, ancorado ao largo da ampla baía, mas estava, momentaneamente, impedido, parcialmente de o fazer. É que para além duma mala castanha, levava comigo um pequeno baú, que por rigorosa determinação do senhor Jerónimo, o agente da “Insulana” nas Lajes, tinha que ir no porão. Por isso esperei horas a fio. É que a bagagem de porão para as ilhas só poderia ser carregada depois de toda a mercadoria que se destinava ao continente estar devidamente colocada e arrumada nos fundos dos porões do navio.

Abracei-me a meu pai e comecei a chorar e a esmoncar-me. Olhava para a carga amontoada em cima do cais e concluía que a minha viagem começava ali a complicar-se. Muito provavelmente só seguiria para bordo numa das últimas lanchas e o meu progenitor já não me poderia acompanhar. Assim não chegaria a tempo de arranjar beliche. Foi o senhor Aurélio, aos cuidados de quem eu havia de viajar até à Terceira, que me salvou. O senhor Aurélio há muitos anos que era o porteiro do Seminário de Angra, onde vivia durante todo o ano. Tinha casa na Fajã e ali vinha passar os meses de Verão. Comprava sempre passagem de ida e volta, mas em Angra, onde era mais fácil arranjar acomodação. Já tinha o beliche marcado no seu bilhete e não necessitava de pressas para embarcar, por isso sugeriu a meu pai que seguisse comigo para bordo e que fosse falar com o Senhor Artur, o responsável pela terceira classe, a ver se ainda havia um beliche livre para mim. Ele ficava em terra e comprometia-se a embarcar apenas quando tivesse a certeza de que o meu baú já seguira para bordo.

Por entre apertos e empurrões, entrei no primeiro batel que encostou ao cais, seguido de meu pai que carregava a minha mala às costas. Apertados como sardinha dentro de lata, com o barco a transbordar de gente e de bagagem, com a água quase a dar-lhe pela borda, seguia temeroso, atravessando aquele troço de mar, que à medida que a embarcação se afastava de terra parecia ir tornando-se cada vez mais agitado. Ao fim de algum tempo, por entre solavancos e tropeções, o batel aproximou-se do monstruoso e vetusto paquete, ao redor do qual o mar parecia tornar-se mais calmo e mais tranquilo, transformando o navio numa espécie de rochedo encravado ali, na enorme baía, bem em frente à vila das Lajes. A barcaça encostou-se ao vapor. Esperei pela minha vez e, amedrontado, subi as escadas. Através dos vãos via lá em baixo o mar liso, azulado e escuro e sentia um medo terrível. Não fosse algum pé escorregar-me e eu escapulir-me-ia por ali abaixo, perdendo-me definitivamente no fundo do Oceano. Por isso, à medida que subia as escadas, agarrava-me ao corrimão de lona, dúctil e maleável, com ambas as mãos. Ao portaló o Imediato e outros tripulantes, vestidos de farda branca e boné da mesma cor, davam a mão aos passageiros mais enrascados e temerosos e as boas vindas a todos. Entrei no corredor do velho paquete, a abarrotar de malas e caixotes, como se penetrasse num mundo estrambólico e tenebroso e onde tudo me era desconhecido e estranho. Esperei por meu pai que subia um pouco atrás carregando a minha mala.

Iniciava ali a minha primeira grande aventura.

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publicado por picodavigia2 às 16:40

A POPULAÇÃO DO ALAGOEIRO

Sexta-feira, 15.11.13

O lugar do Alagoeiro ficava para além da Fontinha, bastante longe do povoado e já quase debaixo da Rocha. Era, no entanto, uma espécie de lugar mítico, pois era lá que os homens, quando regressavam dos campos se sentavam, ao redor de um enorme largo que ali havia, a descansar, a fumar, a falquejar, a conversar, a discutir, a negociar trocas, a partilhar sonhos e a esperar uns pelos outros em amena cavaqueira. Vinham em bandos do Pocestinho, do Pico Agudo, da Lagoinha, dos Paus Brancos, das Águas, da Silveirinha e até do Mato, enchendo as paredes e marouços circundantes ao Largo, com molhos de erva santa, de fetos, de incensos, de lenha ou com cestos a abarrotar de batatas ou de inhames. Era também o sítio onde o gado, no seu cirandar quotidiano palheiro/relvas/palheiro, parava para saciar a sua sede, pois havia ali um enorme poço com uma bica, por onde jorrava dia e noite água muito fresquinha. O Alagoeiro era pois um lugar de encontros, de cruzamento de caminhos, de conciliar de destinos, de debates e de discussões, uma espécie de “Mileto” da Fajã.

No Alagoeiro, mesmo no Largo, havia apenas uma casa e pertencia ao Luís Fraga que a herdara do pai, Ti’Antonho do Alagoeiro, homem que, no dizer duma sua neta “…trabalhava as terras, fazia as grades, as aivecas e os arados, caiava a casa e acendia o lume à forja, batia o ferro em brasa e à noite, conduzia as orações familiares…”. O Luís Fraga vivia ali com a esposa, oriunda de Santa Maria e cinco filhos. Embora ouvisse mal, era segundo se dizia um homem bastante inteligente e irmão de dois notáveis poetas e etnógrafos fajãgrandenses, o padre José Luís de Fraga e o professor António Fraga, que à altura já não residiam na Fajã, embora, por vezes a visitassem. O Luís Fraga e os filhos deixaram cedo a ilha com destino à América e ao Brasil.

 

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publicado por picodavigia2 às 16:34

A GALINHA E O MILHO

Sexta-feira, 15.11.13

(CONTO POPULAR) 

 

Era uma vez uma galinha que morava sozinha com seus pintainhos no meio do monte. Era pobre e não tinha como sustentar os filhotes.

Certo dia ela encontrou uma espiga de milho e ficou muito contente. É que tanto ela como os filhos gostavam muito de milho. Ela ficou contente porque tinha encontrado alimento para si e para os filhos. Preparam-se todos para comer a espiga. Mas depois a galinha pensou melhor e concluiu:

- Afinal se comermos o milho agora matamos a fome hoje. E amanhã o que comeremos?

Então ela pensou, pensou e chegou à conclusão de que se o semeasse seria melhor, pois quando estivesse crescido, maduro, pronto para colher, ela teria muito mais milho e assim podia ter, não apenas num dia mas todos os dias boa comidinha boa e fresquinha para si e para os seus filhos. Além disso e para além de comerem os grãos do milho, podia fazer um delicioso pão de milho. Todos iam gostar!

Mas era muito difícil e cansativo trabalhar o milho. Ela sabia muito bem que para fazer o pão ela tinha muito, muito trabalho. Tinha que:

 - adubar e lavrar a terra e preparando-o muito bem;

 - semear o milho;

 - sacha-lo e arrancar as ervas daninhas;

 - colher as espigas;

 - descascá-las e debulhá-las;

 - levar o milho ao moinho para o moer e transformar em farinha;

 - cozer o pão.

Era muito trabalho! Além disso ela precisava de bastante milho para o pão. Sozinha não conseguiria e então foi procurar alguém que a ajudasse.

Quem a podia ajudar a preparar a terra, adubar, lavrar gradar e alisar? Quem podia ajudar a semear o milho? Quem a podia ajudar a sachar e arrancar as ervas daninhas? Quem podia ajudar a colher a espiga de milho no pé? Quem podia ajudar a debulhar todo aquele milho? Quem podia ajudar a moer o milho para fazer a farinha de milho. Quem me podia ajudar a cozer o pão?

Foi pensando nisso que a galinha se encontrou com os seus amigos que viviam ali por perto.

Quem me pode ajudar a lavrar e a preparar o terreno para poder semear o milho para fazer um delicioso pão?

- Eu não, disse o gato. Estou com muito sono.

- Eu não, disse o cão. Estou muito ocupado.

- Eu não, disse o porco. Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não disse a vaca. Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha, coitadita, lá foi sozinha preparar a terra, adubar, lavrar gradar e alisar.

A seguir tinha que semear. Mas estava tão cansada de lavrar, adubar e preparar a terra que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para que a ajudassem a semear o milho.

- Quem me pode ajudar a semear o milho para fazer um delicioso pão?

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. - Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha, coitadinha, lá foi sozinha semear o milho para que ele crescesse depressa e ela pudesse fazer um saboroso pão.

A seguir tinha que sachar e arrancar as ervas daninhas para que o milho crescesse. Mas estava cansada de o semear que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para a ajudarem a sachar e a mondar.

- Quem me pode ajudar a sachar o milho e arrancar as ervas daninhas para eu fazer um delicioso pão?

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha coitadinha lá foi sozinha sachar e arrancar as ervas de entre o milho para que ele crescesse depressa e ela pudesse fazer um saboroso pão.

A seguir tinha que colher as espigas. Mas estava tão cansada de o sachar e arrancar as ervas que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para a ajudar a colher as espigas.

- Quem pode me ajudar a colher as espigas para eu fazer um delicioso pão?

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. - Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha coitadinha lá foi sozinha colher as espigas do milho para que pudesse fazer um saboroso pão.

A seguir tinha que descascar e debulhar o milho. Mas a galinha estava tão cansada de o apanhar que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para a ajudar a descascar e debulhar.

- Quem pode me ajudar a descascar e debulhar o milho e arrancar as ervas daninhas para eu fazer um delicioso pão?

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. - Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha coitadinha lá foi sozinha descascar e debulhar as espigas do milho para que pudesse fazer um saboroso pão.

A seguir tinha que moer o milho crescesse. Mas estava tão cansada de o descascar e debulhar que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para a ajudar a moer.

- Quem me pode ajudar a sachar o milho e arrancar as ervas daninhas para eu fazer um delicioso pão?

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. - Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha coitadinha lá foi sozinha moer o milho para que pudesse fazer um saboroso pão.

A seguir a galinha tinha que cozer o pão. Mas estava tão cansada de o moer que resolveu novamente ir pedir ajuda aos amigos para a ajudarem a amassar e a cozer o pão

- Quem pode ajudar-me a sachar o milho e arrancar as ervas daninhas para eu fazer um delicioso pão? Mais uma vez todos os amigos disseram que não.

- Eu não, - disse o gato. - Estou com muito sono.

- Eu não, - disse o cão. - Estou muito ocupado.

- Eu não, - disse o porco. - Acabei de almoçar, tenho que dormir.

- Eu não - disse a vaca. - Está na hora de ir para os campos tratar dos meus filhotes.

E a galinha coitadinha lá foi sozinha amassar e cozer um saboroso pão.

A galinha preparou a terra, lavrou, semeou, sachou, mondou, colheu, debulhou, moeu, amassou e cozeu o pão, sozinha.

Mas ao cozê-lo os amigos sentiram um cheirinho muito bom, Começaram todos a correr, a sentir água na boca, pois todos queriam comer o pão que a galinha cozeu. com água na boca.

Então a galinha disse:

- Quem foi que me ajudou a adubar os campos, a lavrar, a sachar, a mondar, a colher as espigas, a debulhar, a moer a amassar e a cozer o pão?

Todos ficaram bem caladinhos. È que ninguém tinha ajudado nada.

- Então – disse a galinha - quem vai comer este delicioso pão de milho sou eu e meus pintainhos. Vocês podem voltar para as vossas casas ou ficar aí a olhar.

E assim foi: a galinha e seus pintainhos fizeram uma grande festa, comeram o delicioso pão e nenhum dos preguiçosos foi convidado.

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publicado por picodavigia2 às 16:25





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