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A ANTIGA ERMIDA DE SÃO JOSÉ DA FAJÃ GRANDE

Sábado, 30.11.13

Benzida em quatro de Maio de 1757, a primitiva ermida de São José da Fajã Grande, terá muito provavelmente sido construída no início da década de cinquenta do século XVIII, ou seja, cerca de duzentos anos depois dos primeiros povoadores terem ocupado e iniciado o povoamento do actual território da Fajã Grande e um século depois de ser estruturado como povoado, tornando-se, provavelmente, num dos lugares mais prósperos da zona oeste da ilha das Flores. Essa foi talvez a razão porque em 1676, por provisão do bispo de Angra D. Frei Lourenço de Castro, o lugar da Fajã Grande foi desanexado da paróquia das Lajes, à qual pertencia, apesar da grande distância e maus caminhos, sendo, então, integrado na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios das Fajãs, criada nessa altura, com sede na igreja daquela localidade, mas com jurisdição que abrangia toda a costa oeste da ilha, desde a Ponta da Fajã até ao Mosteiro, englobando assim os lugares de Ponta, Fajã Grande, Caldeira e Mosteiro.

A hipótese de ter havido uma outra ermida antes desta é bastante improvável, pois sabe-se que antes da construção desta capela, era costume os fiéis da Fajã irem à missa à Fajãzinha e quando o não podiam fazer, impedidos de passar o torrentoso caudal da Ribeira Grande, ficavam no alto da Eira da Cuada, donde viam a igreja Fajãzinha e ouviam os sinos, durante toda a missa, como que se estivessem presentes em espírito no próprio templo. Ainda hoje existe nesse local um enorme calhau, conhecido como a “Pedra da Missa”, precisamente no local onde os fiéis se reuniam e rezavam. Por outro lado, o caminho que liga a Assomada à ladeira do Biscoito, sempre se chamou ”Caminho da Missa”, por nele transitarem os fiéis quando iam à missa à Fajazinha, por não a haver na Fajã. Acredita-se inclusivamente, que no regresso viriam carregados com pedras para a construção da sua futura ermida.

Assim a primeira capela ou ermida existente na Fajã Grande terá sido esta, naturalmente construída em pedra e coberta de colmo como eram as casas da Fajã, nessa altura. Nas Courelas existe uma casa velha, ao lado do antigo palheiro de António Joaquim, que tem inscrições religiosas, abreviadas e em latim, nas vergas de duas portas e a data de 1757. Acredita-se que estas vergas teriam pertencido às portas desta ermida. Numa das inscrições pode ler-se “INRI”, e que são as letras iniciais das seguintes palavras latinas “Iesus Nazarenus, Rex Iudeorum”, que quer dizer “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus” e na outra “IHS” símbolo de Jesus Cristo presente na hóstia consagrada. A terem pertencido à ermida, fica demonstrado que esta era inevitavelmente construída em pedra.

O primeiro padre nomeado como administrador desta ermida, sem no entanto ser pároco pois a Fajã Grande ainda não era paróquia, foi o padre Francisco de Freitas Henriques, natural da Fajã, filho do capitão Gaspar Henriques e sua mulher Francisca Rodrigues e irmão do capitão Freitas Henriques, que, mais tarde, se tornou uma espécie de “senhor feudal” da Fajã Grande. Crê-se que este casal e os próprios filhos viveriam numa casa apalaçada, que ainda hoje existe, do lado norte da igreja e que estaria inclusivamente ligada à ermida através de uma ponte.

Também é provável que a imagem de São José exposta aos fiéis na igreja da Fajã, até aos anos cinquenta do século passado, fosse a mesma que existiu nesta primitiva ermida. Essa imagem, bastante antiga e com notável interesse histórico, apesar de muito cobiçada por coleccionadores de arte religiosa, resistiu a todas as tentativas de retirá-la da Fajã e, ainda hoje se encontra guardada na sacristia da actual igreja. A outra imagem existente na capela primitiva era a de São Miguel Arcanjo. Porém, esta, nos anos cinquenta e anteriores, não estava exposta aos fiéis, mas sim escondida numas arrecadações que existiam atrás do altar-mor, a que se relacionavam alguns medos e temores, pois o arcanjo tinha na mão uma balança com que havia de pesar o bem e o mal dos que iam morrendo, condenando-os ou salvando-os. Esta mítica imagem inspirou o poeta fajãgrandense Pedro da Silveira a dedicar-lhe um poema. No entanto, nunca se percebeu a razão por que o São Miguel, assim como a Senhora da Soledade não estavam na igreja à veneração dos fiéis.

Sabe-se também que o primeiro enterro realizado na Fajã e no interior da ermida, como era costume na altura, se realizou um ano após a sua inauguração, sendo a primeira pessoa ali sepultada Isabel de Freitas, de 22 anos, casada com Gervásio Rodrigues, naturais e residentes no lugar da Ponta e que haviam casado na igreja da Fajãzinha em dez de Julho de 1752.

Ainda hoje por decifrar é o facto de se chamar ao local onde se construiu esta ermida e, mais tarde, a igreja actual, o “serrado do Lincate”. Não parece que “Lincate” fosse nome de um lugar, pelo que seria sim nome ou antes o apelido do dono do terreno onde se construiu a ermida, embora fosse mais lógico citar-se o seu nome completo de um benemérito do que o seu apelido. Daí que continue a ser um pormenor ainda hoje indecifrável.

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publicado por picodavigia2 às 22:53

CARTAS E PATAS

Sábado, 30.11.13

“Quem joga cartas não apostora patas.”

Este adágio inclui uma palavra da “gíria” fajãgrandense, uma vez que usa “apostora” em vez da forma verbal “pastoreia”. Com ele pretendia-se alertar, sobretudo as crianças, de que não se pode realizar com competência duas actividades diferentes ao mesmo tempo. Assim quem realiza um trabalho, para o fazer com perfeição deve dedicar-lhe toda a atenção e nele concentrar todas as suas forças. De realçar, para que a mensagem seja mais forte, a referência ao jogo das cartas, o qual para ser bem jogado requer muita atenção, sendo que o jogador dele não pode afastar a sua concentração. Daí que o jogar cartas seja incompatível com o pastorear as patas, actividade durante a qual quem a executa também não se pode distrair com o que quer que seja.

 

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publicado por picodavigia2 às 21:05

EDIFÍCIOS RELIGIOSOS AÇORIANOS NECESSITAM DE RESTAURO

Sábado, 30.11.13

Segundo o jornal Público e alguns meios de comunicação social açorianos, cerca de 50 edifícios religiosos, dos quais 29 são igrejas paroquiais e 21 ermidas, pertencentes à Diocese de Angra, registam problemas graves de manutenção, ao nível da sua estrutura construtiva, sendo que dez dos mesmos necessitam de uma intervenção profunda nos altares e retábulos.

Nos Açores ou, mais concretamente, na Diocese de Angra, existem 172 paróquias, muitas delas com curatos anexos, possuindo tanto aquelas como estes, a sua própria igreja, num total de 217 edifícios. Por sua vez, em todas as paróquias existem pequenas ermidas, num total de 290, a que se acrescentam 32 conventos e 10 capelas, perfazendo o total de 549 imóveis religiosos inventariados, embora a Diocese, pelos vistos e actualmente, só disponha de informação sistematizada sobre 58 igrejas e 30 ermidas. Deste registo não constam, obviamente as centenas de capelas do Espírito Santo que, por pertencerem a cada Irmandade, não fazem parte do património diocesano.

Em Abril do ano em curso foi iniciado um levantamento da situação em que se encontram estes imóveis, inserido no programa nacional de actualização da base de dados sobre o património móvel e imóvel da Igreja Católica.

O Sistema de Informação para o Património Arquitectónico já inventariou 542 imóveis no arquipélago dos Açores, na sua maioria igrejas e capelas. Este levantamento do património arquitectónico religioso dos Açores, iniciado em Abril, segundo João Paulo Constância, membro da Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja “tem procurado completar o acervo que já estava sinalizado ou que se inventariou de novo, quer em termos de informação histórica quer em termos de informação fotográfica”.

A Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja pretende desenvolver todos os esforços necessários para inventariar, salvaguardar e valorizar todo o património diocesano e proceder à elaboração de futuros roteiros que sirvam de guias turísticos a quem visita o arquipélago.

Estes parecem ser os primeiros dados obtidos a partir dos inquéritos enviados às paróquias do arquipélago dos Açores pela Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja, cujo objectivo é avaliar, embora de de forma genérica o estado de conservação do património cultural das igrejas da Diocese de Angra e identificar casos com necessidade de intervenção urgente.

Recorde-se que no que respeita ao património móvel, também já devidamente inventariado, existem na diocese 185 esculturas, 28 pinturas, 110 peças de ourivesaria e 177 de paramentaria e têxteis a necessitarem de um rápido restauro. Há também nove arquivos e cinco bibliotecas, pertencentes à Diocese, cujos acervos necessitam de restauro, registando-se igualmente 21 igrejas sem condições para acondicionamento quer do arquivo quer de biblioteca. Impõe-se pois à Diocese e aos poderes políticos locais o oneroso desafio de se encontrarem soluções para resolver os problemas mais prementes e ajudar na concertação de posições que possam reunir os apoios necessários, quer a nível governamental quer do mecenato, para a recuperação deste valiosíssimo património. Recorde-se que muitos destes edifícios são classificados como “monumentos nacionais”.

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publicado por picodavigia2 às 20:20

SONHOS

Sábado, 30.11.13

Os sonhos não são eternos.

Desfazem-se com o esvaziar das marés,

Descolorizam-se com o por do sol,

Escurecem com o negrume das nuvens,

Rompem-se com o silêncio da noite

E,

Por vezes,

Até fenecem,

Com o travo amargo da solidão.

 

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publicado por picodavigia2 às 19:21

QUATRO MOTIVOS DA FAJÃ GRANDE - II

Sábado, 30.11.13

(POEMA DE PEDRO DA SILVEIRA)

 

Na praça os velhos olham quem vem

E lembram histórias de tempos passados.                        

 

            “D’ua vez em Fresno…”

            “No Chinatão de S. Francisco…”

 

Ti Antonho Cristove encosta-se à bengala

E conta casos das suas idas

Nas barcas-de-baleias que vinham à ilha.

 

Um passarouco passa

Planando

No céu.

 

O vento rodou para oeste.

 

 

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publicado por picodavigia2 às 18:27

SERRA COMPADRE

Sábado, 30.11.13

Uma das mais habituais e simbólicas brincadeiras com que os adultos, muitas vezes e nos seus momentos de descanso, nos brindavam quando eram forçados a tomar conta de nós, inocentes criancinhas, ou simplesmente quando estavam connosco por estar, para nos apaziguar de birras e choradeiras, ou simplesmente para nos divertir, era o “Serra Compadre”. Tratava-se de uma divertimento muito simples e ingénuo mas ternurento e carinhoso e que consistia apenas no seguinte: o adulto sentado numa cadeira ou deitado de costas, sentava a criancinha no seu colo, pegava-lhe nos bracitos ou dava-lhe as mãos e balanceando o seu corpo em movimentos sincrónicos com a criança, declamava:

 

“Serra compadre, serra comadre,

Eu com uma serra e tu com uma agulha

Ganhamos dinheiro como uma faúlha.”

 

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publicado por picodavigia2 às 18:22

A CANADA DA LADEIRA DO CALHAU MIÚDO

Sábado, 30.11.13

A meio da ladeira do Calhau Miúdo, do lado direito de quem vinha da Ponta e subia na direcção da Tronqueira, existia uma canada que ligava aquela ladeira e o caminho que a integrava a alguns serrados do Porto e a outros da Cambada. Esta canada, que propriamente mais se poderia designar por vereda, apesar de este nome ser pouco usado na linguagem fajãgrandense nos anos cinquenta, no entanto, não era a única nem sequer a principal via de acesso quer às terras do Porto, quer às da Cambada. Um e outro destes lugares. onde se localizavam algumas das maiores e das melhores terras de cultivo da Fajã, tinham outras canadas e ambos possuíam o seu caminho ou acesso principal e acessível a carro de bois ou “corsão”, dado que muito era o que produziam e bastante estrume para lá era necessário acarretar. O caminho de acesso à Cambada iniciava-se frente à antiga casa do João do Porto, na altura barracão de arrumos e armazém da “Firma” das Lajes, precisamente ao lado da Eira, enquanto o principal acesso às terras do Porto se fazia por um outro caminho, um pouco mais a norte e que se situava no local onde actualmente se inicia o ramal da Ponta. Assim, pode concluir-se que a canada da ladeira do Calhau Miúdo era apenas uma via cujo objectivo era facilitar um acesso mais rápido àquelas terras, interdito a animais e destinado apenas a pessoas, nomeadamente, aos habitantes da Tronqueira que viam a distância entre aqueles locais encurtada, uma vez que para irem à Cambada ou ao Porto, não tinham necessariamente que fazer um longínquo, distante e cansativo giro pela Via d’Água.

Esta canada, no entanto, era muito especial porque na realidade, contrariando a maioria das canadas da Fajã, o seu piso não era ladeado por duas paredes, mas apenas por uma. Na realidade, ela havia sido construída como se de uma espécie de bancada, sendo como que encastoada nas paredes a sul, das terras por onde passava. No entanto, como as paredes a norte dos terrenos do outro lado, ou seja de algumas terras da Tronqueira e da Cambada, eram muito altas, a respectiva vereda parecia ter sido pregada ou colada nessas próprias paredes, como se fosse uma prancha. No entanto, a sua altura e o excessivo tamanho das pedras que formavam a borda exterior do seu piso e que seguravam os pedregulhos soltos no interior do mesmo, transformavam-na numa interessante e curiosa obra de engenharia arquitectónica. Daí poder-se-ia concluir da sua importância, em tempos idos, como via de acesso, talvez única, aos férteis campos do Porto e da Cambada.

A entrada da ladeira para a canada era feita através de uns degraus de pedra muito bem lapidados e encastoados. Depois seguia rectilínea sobre o primeiro serrado ainda pertencente ao lugar do Calhau Miúdo. A seguir atravessava uma outra terra já situada no Porto e finalmente ombreava com um outro serrado do Tomé, bifurcando-se aí, junto a um “maroiço” que pertencia ao meu pai e que encimava o serrado que ele possuía no Porto. Na direcção norte seguia, curta e desabrida, com destino a outras terras do Porto e para o sul, embora mais estreita e sinuosa, a dar acesso a alguns serrados da Cambada.

A canada da ladeira do Calhau Miúdo, como tantas outras e muitos caminhos antigos da Fajã, hoje atrofiados, desfeitos e bloqueados por pedregulhos, arvoredos e silvados, permanece como um mito emblemático de um saudosismo, aparentemente supérfluo, mas coerente e perene para os que por ali passaram tantas e tantas vezes, durante muitos anos, carregando cestos de milho ou de batatas, molhos de couves ou de milheiros ou simplesmente transportando uma cestinha de figos e uva apanhados num insignificante “maroiço” do Porto.

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publicado por picodavigia2 às 17:19

À PROCURA DE UM GUEIXO PERDIDO NO MATO (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Sábado, 30.11.13

Domingo, 30 de Junho de 1946

“Estou cansadíssimo. Ainda bem que hoje é domingo para eu descansar um bocado. Ontem, passei o dia inteiro a calcorrear os matos da Fajã, à procura do gueixo do meu compadre Joaquim. O meu compadre Joaquim tem uma relva no Queiroal, que fica muito longe do Cimo da Rocha, lá quase para o meio da ilha, já pertence ao concelho de Santa Cruz. Só para lá chegar foi o cabo dos trabalhos. Mas pior do que isso, foi a caminhada que tivemos que fazer, durante todo o dia, por outras relvas e pelo concelho até encontrar o maldito do gueixo. O meu compadre, naquela relva, apenas cria gado alfeiro, uma vez que, ficando tão distante e com caminhos tão maus para lá chegar, é impossível colocar e manter lá vacas leiteiras, obrigando-o a ir à ordenha todos os dias. Como só vai lá de vez em quando, a última vez que lá foi é que deu pela falta do gueixo. Não o encontrou na relva, procurou ali à volta, mas nada. Muito aflito, no dia seguinte, voltou à relva sozinho, vasculhou tudo à volta… mas nada. Ficou tristíssimo o meu compadre. Era um prejuízo muito grande, pois é um touro que já vale um bom dinheiro. Eu mais um grupo de homens aqui da Fajã oferecemo-nos, de imediato, para o ir ajudar a procurar o animal. Morto ou vivo, havíamos de encontrá-lo. Nós aqui, na Fajã Grande, somos assim. Sempre que alguém tem um problema grave, todos se oferecem para ajudar. Os nossos antepassados ensinaram-nos a ajudarmo-nos uns aos outros, sobretudo nos momentos de grande dificuldade.

E lá partimos. Éramos prá i uma dúzia de homens. Saímos de casa muito cedo, a noite estava escura como breu e os galos ainda não cantavam, por isso, quando amanheceu já estávamos para lá do Caldeirão da Ribeira das Casas. Daí a pouco estávamos a vasculhar o mato todo. Uns foram pelo Curral das Ovelhas até à Burrinha, Eu e os restantes fomos precisamente pelo Queiroal. Mas dispersámo-nos depressa, primeiro porque alguns eram monços novos e muito valentes e outros velhos e trôpegos como eu e, em segundo lugar, porque se fôssemos todos juntos procurávamos todos no mesmo sítio e isso pouco adiantava. Andámos toda a manhã a procurar por tudo o que era sítio, desde da Caldeirinha até à Água Branca, mas nada de encontrar o maldito. A nossa sorte foi que alguns, adivinhando o pior, levaram bolo, queijo e fruta que fomos repartindo uns com os outros e bebendo água fresquinha das nascentes. Voltamos a procurar por toda a santa tarde. Corremos o concelho inteiro como se fosse dia de fio, pois sabíamos que nas relvas que tem dono ele não estava. Só à noitinha, quando já tínhamos perdido as esperanças, o maldito apareceu, lá para os lados das Pontas Brancas, escondido nuns montes, por trás de uns cedros e de umas moitas de junça brava. Os que o encontraram começaram a gritar pelos outros e, com a ajuda dos cães, lá nos juntámos todos. Mas para o amarrar foi muito difícil. Criado no mato, o bezerro estava levado dos diabos, muito bravo e a arremeter contra todos. Foram uns monços mais triqueiros que lhe lançaram uma corda enlaçada pela cabeça e prenderam-no pelo pescoço. Mas foi difícil amarrá-lo e segurá-lo, por que ele é muito forte. Mas por fim, todos juntos lá o conseguimos parar e amansar. Depois meteram-lhe uma argola com uma corda no nariz, passaram-lhe a corda à cabeça e lá o trouxemos até ao Cimo da Rocha. Meu compadre achou que era melhor ele ficar ali amarrado durante a noite. Era muito perigoso o animal descer a Rocha de noite, ainda por cima, estava muito escuro. Hoje de manhã lá o foram buscar e meu compadre já o tem amarrado à manjedoura, no palheiro.

É um bonito gueixo! Meu compadre está muito contente, pois o animal anafado e gordo como está, com mais dois ou três meses a dar-lhe erva e maçarocas, há-de dar perto de um conto de reis.

Esqueci-me de dizer que a minha comadre Inácia prometeu um gueixo de massa sovada de cinco quilos, ao Senhor Santo Amaro e como o gueixo apareceu são e salvo vai cumprir a sua promessa, no dia da festa, em Janeiro, por isso, já hoje andava preocupada com a maneira como havia de guardar tantos ovos para a massa, sem eles se estragarem de tanto tempo guardados.”

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publicado por picodavigia2 às 17:06





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