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A SERRA PRADA (DIÁRIO DE TI’ANTONHO)

Sábado, 14.12.13

Quarta Feira, 31 de Julho de1946

 

“Hoje vou falar duma serra da Califórnia que conheço muito bem, mas que poucos conhecem, a Serra Prada. Esta serra pertence ao monte «Vitenei», situado no condado de Inio, na Califórnia, Aos anos que por lá andei… mas ainda me lembro muito bem dos nomes de todos estes lugares, mas sei muito bem que não é assim que se escrevem. Eu não os sei escrever em americano. O tal monte «Witenei» era altíssimo, era uma altura que era uma coisa feia, parecia uma coisa do outro mundo! Diziam que tinha mais de quatro mil metros. Quando lá estive só um homem tinha conseguido subi-lo até lá acima, Ele é um daqueles montes que estão à volta da Serra Nevada, situada no interior da Califórnia. Os americanos dizem que é uma «mountain range» que em português significa cordilheira! Por lá andei muitos anos, da segunda vez que fui à América e conheço muito bem aqueles sítios. Ainda me lembro daquilo como se fosse hoje! Lá chove como Deus a dá e os montes estão cobertos de «senou» quase todo o ano. Lembrei.me desta serra porque hoje eu soube que, há dias, morreu em Ponta Delgada o Bernardo, um grande amigo com quem por lá andei. Muitos dos que são da minha idade já vão morrendo!

Vou pois falar da Serra Prada onde vivi mais de meia dúzia de anos a pastorear gado, juntamente, com o meu amigo Bernardo. A serra fica voltada, para oeste, isto é para o lado mar, por isso lá chove muito e cresce muita vegetação. Deste lado, a serra parece uma enorme manta verde, onde existem muitas espécies de animais e, sobretudo, muitas plantas, algumas que eu nunca vi por aqui. O solo é muito húmido, quente e profundo e nele as árvores de grande porte podem cravar muito bem as suas enormes e espessas raízes e as plantas mais pequeninas encontram, ali, as condições ideais para viver. Nas zonas mais altas e frias, existe uma grande abundância de abetos, pinheiros, e muitas outras árvores que os americanos chamavam «coníferous trees», que são árvores que conseguem sobreviver aos rigores e às tempestades dos Invernos gelados. Mas com o «senou» que cai no Inverno, todos os dias, a serra fica muito branquinha e parece um cobertor branco, que, a pouco e pouco, se vai tornando esverdeado, à medida que os blocos do «senou? vão deslizando pelos caules e pelas folhas das árvores. Nas zonas mais baixas e quentes, hostis às investidas invernais dos nevões, surgem, por todo o lado, freixos, faias, ulmeiros, carvalhos e outras árvores de folhas largas, mas que também não resistem às intempéries dos Invernos mais rigorosos, misturando as suas folhas caídas com as camadas arbustivas de aveleiras e espinheiros e com as ervas e plantas mais pequenas, como fetos, campainhas, prímulas, anémonas e violetas que, na Primavera, tornam a serra muito bonita, dão-lhe um tom colorido de amarelo, lilás, azul e anil. A serra é, assim, um manto de beleza infinita e infindável, encimada por dois montes, em forma de cone, talvez dois grandes vulcões, como temos aqui na ilha do Pico. Mas ninguém se lembra de quando é que aqueles vulcões deitaram fogo, Dizem que foi há milhões de anos! Também existem por ali mutos animais. A fauna daquela serra é rica e diversificada. O chão, repleto de folhas amarelas, alaranjadas, e castanhas, é povoado por uma infinidade de borboletas multicolores, insectos azulados e muitos outros bicharocos muito pequenos, mas activos e laboriosos como as formigas, que se alimentam de flores e dos frutos. As plantas e os animais minúsculos, por sua vez, servem de alimento aos maiores, nomeadamente aos mamíferos e às aves.

A Serra Prada era muito bonita. Já naquela altura como que atraia os que a procuravam, porque era duma beleza rara, radiante, enternecedora e transcendente. A natureza deu-lhe tudo. Regatos e rios correm por ali suavemente, por vezes entremeados por pequenas cascatas que lhe conferem uma graciosidade ainda maior, ou, então, perdem-se, formando pequenos lagos no meio da intensa e variada vida que se orgulha de manifestar.

A sua maior riqueza, no entanto, residia nas suas pastagens de erva tenrinha e fresca É verdade que eram boas pastagens para vacas, mas eram sobretudo rebanhos de ovelhas que ali se criavam e foi a pastorear rebanhos que mais trabalhei. Mas também trabalhei nas terras de fruta que há muita por ali: cerejas, amoras, framboesas, groselhas, morangos, maçãs, alperces, nectarinas, damascos, etc. Nas terras mais baixas cultivam-se muitas outras árvores de frutos e até há frutos selvagens.

Aquela serra era um autêntico Paraíso Terreal, tal qual aquele onde viveram os nossos primeiros pais, Adão e Eva. Como me lembro daquela serra e dos anos que lá passei a trabalhar mais o meu amigo Bernardo Que Deus o tenha na Sua Santa Glória.”

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publicado por picodavigia2 às 22:11

FRANCISCO DE AZEVEDO CABRAL

Sábado, 14.12.13

Francisco de Azevedo Cabral nasceu em Angra do Heroísmo, a 21 de Julho.1828 e faleceu na mesma cidade em 1917. Para além de poeta foi funcionário da Junta Geral de Angra do Heroísmo, vereador camarário, administrador do concelho de Angra do Heroísmo, sócio fundador e presidente do Montepio Terceirense. As suas poesias estão dispersas por vários periódicos – o Athleta, A Semana e Almanaque dos Açores – e nunca foram reunidas em volume. Revela sensibilidade e temperamento românticos e algumas das suas poesias estão impregnadas de espírito satírico. Foi incluído nas antologias de poesia açoriana, de Ruy Galvão de Carvalho e de Pedro da Silveira.

 

Dados retirados do CCA – Cultura Açores

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publicado por picodavigia2 às 19:36

O PADRE CARDOSO

Sábado, 14.12.13

António Augusto Cardoso, o padre Cardoso, como era carinhosamente conhecido e tratado, pelos seus conterrâneos, na Fajã Grande e no pelos seus paroquianos na ilha do Faial, era filho de António Augusto Cardoso e de Maria Augusta Fagundes Cardoso, e nasceu na Fajã Grande, numa das últimas casas da Rua da Via d’Água, no dia 7 de Maio de 1921. Cresceu e fez os seus estudos primários na Fajã Grande, tendo-se revelado, desde cedo, uma criança com uma inteligência e uma memória notáveis. Assim e apesar das dificuldades económicas dos pais, semelhantes às da maioria dos casais da Fajã Grande, na altura, foi enviado para o Seminário de Angra, com apenas dez anos de idade. Naquela prestigiosa instituição de ensino açoriana, fez os estudos primários durante cinco anos, estudou Filosofia e cursou Teologia durante mais sete, terminando a sua formação académica e eclesiástica em Junho de 1943. Aguardando algum tempo, por falta de idade, ordenou-se sacerdote em 8 de Dezembro de 1943, dia da Imaculada Conceição, celebrando a “missa nova”, na igreja paroquial da Fajã Grande, em 18 de Fevereiro do ano seguinte.

O jovem padre António Cardoso, um dos mais ilustres filhos da Fajã Grande, iniciou a sua actividade sacerdotal como vigário coadjutor na paróquia das Angústias, na cidade da Horta, ilha do Faial, sendo algum tempo depois nomeado, agora como pároco, para a freguesia da Paria do Norte e transferido, alguns anos mais tarde, para a freguesia do Capelo, ambas também na ilha do Faial. Em 1955, substituindo o velhinho padre Moniz Madruga, foi nomeado pároco da Feteira, na mesma ilha açoriana, freguesia que paroquiou e onde viveu até à sua morte, onde ainda hoje muito recordado, tendo-lhe sido prestada uma homenagem no jornal “O Feteirense”, propriedade da Junta de Freguesia, na sua edição de 25 de Agosto de 2008.

Considerado como um distinto orador e um sacerdote extremamente dedicado aos seus paroquianos, o padre Cardoso acompanhou e empenhou-se sempre no desenvolvimento das paróquias que lhe foram confiadas, muito especialmente da Feteira, onde paroquiou durante quase toda a sua vida, não apenas no aspecto religioso, mas também na componente humana e social. Apesar de visitar muito raramente a sua terra natal, sobretudo depois da morte dos pais, na Fajã Grande era muito estimado e respeitado por todos, convivendo com os seus conterrâneos, sempre com um espírito muito cordial, alegre e folgazão.

Era irmão do Padre Luís Cardoso, recentemente falecido nos Estados Unidos tendo mais alguns irmãos residentes, na década de cinquenta, na Fajã Grande: o Francisco, o Antonino, o José, o João e a Maria.

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publicado por picodavigia2 às 19:21

VELHAS ÀS ESCONDIDAS

Sábado, 14.12.13

Depois do pião e da caça à baleia, o “Velhas às Escondidas” era um dos jogos de diversão mais praticados pela ganapada da Fajã Grande, na década de cinquenta. Tratava-se de um jogo extremamente simples e a sua realização não exigia nenhum tipo de material que, eventualmente, tivesse que ser adquirido ou construído antecipadamente. Para jogar ao “Velhas às Escondidas” não era rigorosamente necessário nada, a não ser um bom local para esconderijo, por isso mesmo, este jogo ou brincadeira era praticada quase diariamente.

Juntas as crianças interessadas em participar no jogo, formavam-se dois grupos, cuja constituição era normalmente feita pela escolha dos dois líderes, geralmente dois rapazes mais velhos, mais valentes, com maior capacidade de se impor e que chamavam a si esse estatuto. Tiradas as sortes, através de um pauzinho escondido numa mão bem fechadinha, o líder que acertasse na escolha do pau era o primeiro a escolher a sua equipa, continuando a fazê-lo alternadamente com o outro líder, até todos os interessados se integrarem num dos grupos, que deviam ter número igual de participantes. No entanto esse número era variável e dependia da quantidade de interessados que inicialmente se apresentassem para participar no jogo. Excepcionalmente aceitava-se que um dos grupos pudesse ter mais um participante do que o outro.

Formados os grupos, procedia-se a novo sorteio, para se decidir qual seria o primeiro grupo a esconder-se. O grupo favorecido pelo sorteio partia, então, na demanda de um bom esconderijo, fazendo-o de maneira que o outro grupo do mesmo não se apercebesse. Uma vez bem escondidos todos os elementos do grupo, o líder gritava o mais alto que podia: “Agoooooooooooooora”. Logo o outro grupo se punham em acção, procurando desalmadamente, uns por aqui, outros por ali, todos os possíveis esconderijos ao redor, até descobrir onde se encontrava o grupo, operação que às vezes demorava bastante tempo. Uma vez encontrado o grupo escondido, terminava a primeira parte do jogo, iniciando-se a segunda, com o outro grupo agora a esconder-se, a fim de ser procurado pelo primeiro. No “Velhas às Escondidas”, sobretudo porque se tratava mais duma brincadeira do que de um jogo, nunca havia propriamente um grupo vencedor, dado que o objectivo do jogo era precisamente o de ocupar o tempo com alegria, boa disposição e com o divertimento que a tarefa de descobrir os escondidos causava.

Resta acrescentar que este jogo, por vezes, provocava incómodos, sobretudo aos donos dos palheiros e casas velhas situadas nos arredores onde o jogo se realizava, por serem os locais mais procurados e usados para esconderijos. Na ânsia de arranjar local seguro a ganapada não tinha escrúpulos em entrar pelos palheiros dentro, forçar e arrombar portas, saltar por janelas semiabertas e esconder-se entre o gado, sobre as traves, entre os fetos e a rama seca ou até dentro das manjedouras das vacas, atitudes que pouco agradavam aos proprietários.

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publicado por picodavigia2 às 17:26

A NAU CATRINETA

Sábado, 14.12.13

A Nau Catrineta é um poema romanceado da tradição popular portuguesa, recolhido por Almeida Garret e que relata, de forma lendária, as vicissitudes, as tormentas, os medos e as angústias das viagens dos portugueses para a África, para o Brasil e para a Índia. Trata-se de um texto muito divulgado e conhecido em todo o país. A Fajã Grande que sempre se revelou, talvez devido ao seu isolamento, como um excelente e amplo viveiro de desenvolvimento de rimances e textos orais, não podia alhear-se deste, assim como da Bela Infanta, muito conhecido também a nível de todo o país. Tal como os outros rimances, a Nau Catrineta contava-se aos serões das longas noites de Inverno, mas com algumas pequenas diferenças do texto recolhido por Almeida Garret, sobretudo por utilizar algumas palavras ou expressões que eram comuns na linguagem típica e corrente na freguesia e até na ilha das Flores. Rezava mais ou menos assim:

 “Lá vem a Nau Catrineta

Que tem muite que contar!

Ouvide agora, senhores,

Uma história de pasmar.

 

Passava mais de ano e meio

Que iam na volta do mar,

Já nã tinhim que comer,

Já nã tinhim que manjar.

Deitarim as solas de molho

Pra o oitro dia jantar;

Mas a sola era tã rija,

Qu’a nã puderim tragar.

 

Deitarim sortes à ventura

Qual se’avia de matar;

Logo foi cair a sorte

No capitão genaral.

 

- "Sobe, sobe, marujinhe,

  Àquele mastre real,

  Vê se vês terras d’Ispanha,

  As praias de Portugal!"

 

- "Nã veje terras de Espanha,

  Nim praias de Portugal;

  Veje sete espadas nuas

  Prontas pra te matar."

 

- "Acima, acima, gageire,

  Acima ao mastre real!

  Olha s‘enxergas Ispanha,

  Areias de Portugal!"

 

- "Alvíssas, mei capitão,

  Mei capitão genaral!

  Já veje terras d’Ispanha,

  Areias de Portugal!"

  Mas inxergo três meninas,

  Debaixe d’ um laranjal:

  Uma sentada a coser,

  Outra na roca a fiar,

  A mas fermosa de todas

  Está no meie a chorar."

 

- "Todas três sã minhas filhas,

  Oh! quem mas dera abraçar!

  A mais fermosa de todas

  Contigue s’ade casar."

 

- "A vossa filha nã quere,

  Que vos custou a criar."

- "Dar-te-ei tanto dinheiro

  Qu’u nã possas contar."

 

- "Nã quero o vosse dinheire

  Pois vos custou a ganhar."

- "Dou-te o meu cavale branque,

  Que nunca houve oitro igual."

 

- "Guardai o vosso cavalo,

  Que vos custou a ensinar."

- "Dou-t’a Nau Catrineta,

  P’ra nela navegares."

 

- "Nã quero a Nau Catrineta,

  Qu’a nã sei guevernar."

- "Que queres tu, mei gageiro,

  Qu’alvíssaras te hei-de dar?"

 

- "Capitão, quere tua alma,

  P’ra comigue a levar!"

- "Ranego de ti, demónio,

  Que me estavas a tentar!

  A minha alma é só de Deus;

  O corpo dou-o ao mar."

 

Tomou-o um anjo nos braços,

Nã no deixou s’afogar.

Deu um estouro o demónio,

Acalmaram vento e mar;

E à noite a Nau Catrineta

Estava in terra a varar.”

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publicado por picodavigia2 às 17:18

OS PENDURICALHOS DAS MOSCAS

Sábado, 14.12.13

A chamada mosca doméstica comum constituía um dos maiores flagelos das pessoas e das habitações na Fajã Grande, nos anos cinquenta. Terra de muito calor, onde se criava grande quantidade de gado bovino, com a agravante de este ser guardado no rés-do-chão ou loja das moradias, todas as casas da Fajã eram, sobretudo no Verão, continua e permanentemente invadidas massivamente por aquele, sujo, nojento, irritável, hediondo e incomodativo insecto. Este ataque contínuo e permanente a casas e pessoas era ainda agravado com a presença das retretes e dos currais do porco, autênticos e naturais viveiros de larvas, muito propícios ao desenvolvimento das ditas cujas, sempre atentas e sempres dispostas a que, quando abríssemos uma nesga que fosse da porta da cozinha, se enfiassem casa dentro a partilhar os nossos alimentos, a pousar-nos no rosto e a encher tudo com caganitas. Mesmo as casas que não possuíam ou não tinham anexs palheiros de vacas, retretes ou currais de porco, o gado passava pelas ruas, em frente das portas e, por isso, nem sequer essas ficavam imunes a tais invasões, porquanto as malditas para ali se deslocavam procurando habitat mais adequado e menos concorrido.

Embora existissem outros insectos acomodados confortavelmente nas nossas casas, também a incomodarem-nos, a sujarem-nos os alimentos, a meterem-se em tudo e a importunarem-nos continuamente, as moscas eram as rainhas do incómodo, da sujidade, do nojo e da porcaria. Simplesmente um horror! Além disso era opinião unânime entre o povo de que, para além do mal-estar que causavam, as moscas eram portadoras de inúmeros micróbios e difundiam diversas doenças potencialmente mortíferas, entre as quais a febre tifóide, a salmonela, a tuberculose, a conjuntivite e até a lepra e a cólera. O contacto daquele hediondo insecto com as pessoas também lhes poderia transmitir vermes intestinais e a bactéria responsável pela disenteria, uma vez que se alimentavam com fezes e excrementos e se reproduzem entre lixo e resíduos de animais apodrecidos. Ora acontecia que, depois de estarem poisadas em toda esta e muita outra porcaria, as moscas voavam para dentro das nossas casas e pousavam na loiça, na comida, nas crianças, no nosso corpo e nos nossos objectos pessoais.

Por tudo isso uma das tarefas quotidianas a que ninguém se podia esquivar era a de livrar-se daquelas malditas. Redes nas portas, cortinados nas janelas, pazinhas para as matar, pauladas para as afugentar, panos para as enxotar pela porta fora, uma vez que o “Dum Dum”, a bomba atómica do insecticida, apenas, chegou à Fajã alguns anos mais tarde. Mas tudo isto era pouco e, por vezes, ineficaz. Além disso exigia uma permanente atenção das pessoas que, enquanto se dedicavam à matança das ditas cujas, não podiam fazer mais nada. Por isso surgiram os célebres penduricalhos feitos de papel, que eram pendurados no meio do tecto de cada divisão da casa. Eram artefactos, construídos pelas mulheres com uma arte e sabedoria muito interessantes. Os penduricalhos eram espécies de rectângulos de papel colorido, resultantes da dobragem das folhas que eram recortadas ou picotadas com uma tesoura de formas e com cortes diversificados. Depois de aberta, cada folha adquiria a forma de um rectângulo, ficando os cortes feitos com a tesoura de tal maneira abertos que as moscas, ao serem atraídas pelas cores vivas dos papéis, poisavam nos cortes e caíam lá para dentro, onde presas acabavam por morrer. Se tal não acontecesse, ao menos ficavam ali feitas reféns ou entretidas sem incomodar as pessoas. Estes penduricalhos eram pendurados perpendicularmente no tecto e, para além de serem muito eficientes na caça ao incomodativo insecto, eram também um bonito enfeite, sobretudo para as salas, onde se recebiam as visitas.

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publicado por picodavigia2 às 16:19

SILENTE

Sábado, 14.12.13

MENU 19 – “SILENTE”

 

ENTRADA

Bolinhos de pão, salsa, fiambre de peru e creme de queijo fresco

Rodelas de ananás gratinadas e barradas com doce de banana.

 

 

PRATO

 

Filetes de solha grelhados, com batata cozida coberta de cebola, alho e sala e polvilhada com azeite e vinagre balsâmico

Esparregado de nabiças guarnecido com tiras de pimento amarelo, laranja, vermelho e verde

 

 

 

SOBREMESA

 

Suspiros e Gelatina de Pêssego.

 

******

 

Preparação da Entrada: - Triturar miolo de pão, a salsa e o fiambre, juntar o creme de queijo. Misturar e formar bolinhos que se dispõem em prato. Grelhar o ananás, barrá-lo com doce de banana e servir.

Preparação do Prato: - Cozer as batatas com a casca e, na mesma água, as nabiças, reduzindo estas a puré. Misturar duas colheres de maizena numa mistura de leite e água e levar ao lume brando, mexendo sempre. Temperar e depois de formar papa misturar as nabiças e uma colher de queijo creme com ervas. Misturar bem. Cozer levemente os filetes, depois de os temperar, na água das nabiças. Retirá-los e passa-los molhados por pão ralado, de seguida grelhá-los numa fritadeira, mas sem qualquer gordura. Temperá-los com sumo de limão. Retirar a pele às batatas e cobri-las com cebola, alho e salsa picados e cobrir com azeite e vinagre balsâmico. Dispor em prato, guarnecendo os esparregado com as tiras de pimento, alterando as cores.  

Preparação das Sobremesas – Confecção tradicional.

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publicado por picodavigia2 às 16:17

VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

Sábado, 14.12.13

(DADOS RETIRADOS DO SECRETARIADO GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS

A violência contra as mulheres assume muitas formas – física, sexual, psicológica e económica. Essas formas de violência inter-relacionam-se e afectam as mulheres desde antes do nascimento até a velhice.

Alguns tipos de violência, como o tráfico de mulheres, cruzam as fronteiras nacionais.

As mulheres que experimentam a violência sofrem uma série de problemas de saúde, e sua capacidade de participar da vida púbica diminui. A violência contra as mulheres prejudica as famílias e comunidades de todas as gerações e reforça outros tipos de violência predominantes na sociedade. A violência contra as mulheres também empobrece as mulheres, suas famílias, suas comunidades e seus países. A violência contra as mulheres não está confinada a uma cultura, uma região ou um país específicos, nem a grupos de mulheres em particular dentro de uma sociedade. As raízes da violência contra as mulheres decorrem da discriminação persistente contra as mulheres.

Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com dados do Banco Mundial.

A forma mais comum de violência experimentada pelas mulheres em todo o mundo é a violência física praticada por um parceiro íntimo, em que as mulheres são surradas, forçadas a manter relações sexuais ou abusadas de outro modo.

Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em 11 países constatou que a percentagem de mulheres submetidas à violência sexual por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia.

Diversas pesquisas mundiais apontam para que metade das mulheres vítimas de homicídio, são mortas pelos maridos ou parceiros, actuais ou anteriores. Na Austrália, no Canadá, em Israel, na África do Sul e nos Estados Unidos, 40% a 70% das mulheres vítimas de homicídio foram mortas pelos parceiros, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Por sua vez, na Colômbia, a cada seis dias uma mulher é morta pelo parceiro ou ex-parceiro.

A violência psicológica ou emocional praticada pelos parceiros íntimos também
está disseminada. Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida.

A prática do matrimónio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o mundo, especialmente, na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde, inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Nestes e em muitos outros casos, um dos efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e indesejável socialmente.

A violência sexual em conflitos é uma grave atrocidade actual que afecta milhões de pessoas, principalmente mulheres e meninas. Trata-se, com frequência, de uma estratégia deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de humilhar os oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas também podem ser submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação de protegê-las.

Ao longo dos séculos, as mulheres, sejam elas avós, mulheres casadas, jovens, crianças ou, até, bebés, têm, rotineiramente, sofrido violento abuso sexual nas mãos de forças militares e rebeldes.

O estupro e a violação há muito são usados como tácticas de guerra, com relatos de violência contra as mulheres durante ou após conflitos armados em todas as zonas de guerra internacionais ou não internacionais. Na República Democrática do Congo, cerca de 1.100 estupros são relatados todos meses, com uma média de 36 mulheres e meninas violentamente violadas todos os dias. Acredita-se que mais de 200 mil mulheres tenham sofrido violência sexual nesse país, desde o início do conflito armado. O estupro e a violação sexual de mulheres e meninas, também, permeiam o conflito na região de Darfur, no Sudão. Sabe-se também que entre 250 mil e 500 mil mulheres foram violadas durante o genocídio de 1994, no Ruanda. A violência sexual foi um traço característico da guerra civil que durou 14 anos na Libéria e durante o conflito na Bósnia, no início dos anos 1990, entre 20 mil e 50 mil mulheres foram estupradas.

Em muitas sociedades, vítimas de estupro, mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas de adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade da mulher é considerada uma afronta à honra da família.

Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de discriminação e um risco cada vez maior de violência. No Canadá, mulheres indígenas são cinco vezes mais propensas a morrer como resultado da violência do que as outras mulheres da mesma idade. Na Europa, América do Norte e Austrália, mais da metade das mulheres portadoras de deficiência sofreram abuso físico, em comparação a um terço das mulheres sem deficiência.

Finalmente, sabe-se que a violência contra as mulheres, até atinge, em muitos caos, as que são detidas pela polícia. Muitas detenções de mulheres incluem violência sexual, vigilância inadequada, revistas com desnudamento realizadas por homens e exigência de actos sexuais em troca de privilégios ou necessidades básicas.

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publicado por picodavigia2 às 10:13

A RIBEIRA GRANDE - ILHA DAS FLORES

Sábado, 14.12.13

A Ribeira Grande, fronteira natural entre as freguesias da Fajãzinha e Fajã Grande, deslizando serena e pausadamente pela zona de mais elevada pluviosidade das Flores, constitui o maior e mais caudaloso curso de água da ilha. Tem a sua nascente no Pico do Touro, situado lá bem no interior da ilha, a uma altitude de 670 metros e desagua no Rolo da Fajãzinha, muito próximo da rocha da Eira da Quada, pelo que possui uma bacia hidrográfica, muito vasta, possivelmente, a mais extensa das Flores e uma das maiores do arquipélago açoriano, procedendo à drenagem não apenas do Pico do Touro, mas também do Morro dos Frades, da Lomba da Vaca, da Cova da Pedra e de toda a zona envolvente das Lagoas, incluindo a Água Branca e a Ladeira da Burrinha. Além disso, o seu leito, serpenteado e sempre a abarrotar de água límpida e fresca, ladeia a Lagoa da Lomba, a Comprida, a Funda e envolve-se em várias zonas pantanosas que abundam nas proximidades das mesmas. Ao cessar este longo e sinuoso percurso no Mato, a Ribeira Grande atira-se em catadupa, pela Rocha do Velho, transformando-se numa bela e monumental cascata, vindo cair cá em baixo já em terreno quase plano, deslizando por entre arvoredos e prados, ladeada de rochedos e pedregulhos, formando lagos e açudes e espalhando-se por veias e regatos, a alimentar moinhos e lagoas de erva, até desaguar no Oceano Atlântico.

Formando, nos meses de Inverno e nos dias de chuvas torrenciais, um gigantesco e quase intransponível caudal, a Ribeira Grande assume-se como fronteira natural entre a Fajã Grande e a Fajãzinha que, apesar de vizinhas, ficavam, por vezes e por culpa dela, tão distantes e separadas que vir da Fajã à Fajãzinha ou vive versa, era quase um acto heróico, uma aventura e um risco, sobretudo para os mais pequenos, que ao vir esperar os americanos e outros passageiros vindos no Carvalho ficavam pela Eira da Cuada, junto ao Calhau de Nossa Senhora, lá no cimo da ladeira do Biscoito. Mas apesar do seu temível e perigoso caudal constituir uma ameaça permanente para as duas freguesias, a Ribeira Grande sempre constituiu uma benesse para as mesmas, na medida em que as suas águas se transformavam em força motriz para os moinhos, alimentavam as lagoas de erva para o gado, enriqueciam as relvas, fertilizavam os campos e até serviam para branquear as roupas e lavar as tripas dos porcos. Foi também a Ribeira Grande, assim como quase todas as outras da costa oeste das Flores, que abasteceu de aguadas a tripulação de numerosíssimas embarcações que por ali passavam na demanda da América, da África e da Europa.

Ao longo do seu percurso a Ribeira Grande recebe inúmeros afluentes, uns regos minúsculos e outros autênticos regatos, sendo o maior e principal a Ribeira do Ferreira que nela desagua, num lugar pertencente à Fajã Grande, sobranceiro à Fajãzinha chamado “Fajã das Faias”, ali muito perto do Tufo da Cuada.

Foi sempre difícil construir pontes capazes de resistir às enormes enxurradas e às monumentais enchentes e caudalosas torrentes da Ribeira Grande. Uma das muitas tentativas ocorreu em 1789, sob a orientação do juiz de fora José Gonçalves da Silva, sendo, nessa altura, construída uma ponte de pedra sobre a Ribeira Grande. Tratava-se, segundo rezam as crónicas, de uma construção técnica e arquitectonicamente muito avançada para a época, mas que ficou totalmente destruída com uma monumental enchente ocorrida cinco anos depois, que a derrubou por completo. Iguais destinos tiveram várias outras pontes, quase todas construídas no enfiamento da Ladeira do Biscoito, mas todas elas destruídas, mais cedo ou mais tarde, pelas caudalosas e destruidoras e tão frequentes enxurradas. Os últimos desses incidentes aconteceram em 1964, com a destruição da ponte de madeira ali colocada alguns anos antes, e em Novembro de 1996, quando mais uma vez o revoltoso caudal da Ribeira Grande destruiu a ponte da estrada que liga a Fajãzinha à Fajã Grande, no sítio do Pessegueiro. Nessa altura foi construída, a jusante da antiga, uma grande e moderna ponte em betão, com um vão dezenas de vezes superior ao anterior, a fim de que resista àqueles temíveis e violentos caudais.

O padre José António Camões descreveu assim a Ribeira Grande: “Passado aquela povoação (Fajanzinha) encontra-se logo a Ribeira Grande, que divide a freguesia, (…) Cai a dicta ribeira de uma formidavel cachola, eminente à freguesia da Fajanzinha, a que dão de altura 200 braças: e caida; vem successivamente encorporar-se e ajuntar-se a ella todas as agoas da rocha, que serve de demarcação à freguesia, desde leste a sueste, e vem a ser a Ribeira dos Ferreiros, 4 grotas, sem nome na rocha chamada – a Rocha do Velho, a grota do Enchente, cujas águas engrossão e infurecem tanto que de inverno, e ainda mesmo havendo chuvas, de verão a fazem invadeável”.

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publicado por picodavigia2 às 09:38

A PROCISSÂO DO SENHOR AOS ENFERMOS

Sábado, 14.12.13

Tempos idos, costumes e tradições muito diversas mas que se perderam no tempo e evaporaram nas memórias. A Visita do Senhor aos Enfermos, na Fajã Grande e em muitas outras freguesias açorianas, por alturas da Páscoa!

No dia da Festa de Corpo de Deus, nalgumas terras, noutras no domingo seguinte ao dia de Páscoa, chamado, vulgarmente, “Domingo da Pascoela” ou “Domingo Quasímodo” fazia-se a “Procissão do Senhor aos Enfermos”. A Fajã Grande não fugia à regra, sendo feita, geralmente, no domingo da Pascoela. A denominação de Pascoela advinha-lhe de ser uma espécie de segunda Páscoa ou Páscoa menor, dado que nestes dias se realizavam algumas actividades de índole pascal e que transitavam do domingo anterior, como era o caso da visita do Senhor aos Enfermos. Por sua vez a designação de “Domingo Quasímodo” advinha do simples facto de a primeira palavra do intróito da missa nesse dia, na altura celebrada em latim, ser precisamente a palavra “Quasimodo…”. Curiosamente e pela mesma razão foi este o nome dado também pelo escritor francês Vítor Hugo a um personagem, por sinal feio, medonho e corcunda mas de uma simpatia contagiante, de um dos seus romances que tem como cenário principal nada mais nada menos do que a Catedral de Notre Dame de Paris, exactamente por ter nascido ou sido encontrado neste domingo.

Regressando à Fajã Grande e ao domingo da Pascoela ou Quasímodo, era precisamente neste dia que se fazia a célebre procissão da Visita do Senhor aos Enfermos. Após a missa o celebrante revestido de capa de asperges e debaixo do pálio, segurado por seis homens, saía da igreja e percorria todas as ruas da freguesia onde havia doentes acamados, levando-lhe o “Sagrado Viático”. O cortejo seguia em procissão pelas ruas atapetadas com flores e plantas de variadíssimas cores e com as janelas e varandas ornamentadas com colchas e flores. À frente as crianças da Cruzada e os homens com as opas vermelhas segurando velas e lanternas, depois o pálio e finalmente o povo, cantando e rezando.

No ano em que meu avô materno faleceu, precisamente no mês de Maio, a casa da minha avó, na Fontinha foi uma das visitadas pelo Senhor aos Enfermos, no mês de Abril, altura em que ele já se encontrava bastante doente.

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publicado por picodavigia2 às 09:24

OS ESTALEIROS DA FAJÃ GRANDE

Sábado, 14.12.13

Nos anos cinquenta, a Fajã Grande era terra de produção de muito milho, uma vez que este era praticamente o único cereal cultivado em todos os campos da freguesia e estava na base da alimentação de pessoas e animais. Semeava-se milho em todas as terras de cultivo que rodeavam as casas, quer nas que ficavam junto ao mar quer nas do interior e ainda em muitas outras, junto das relvas ou encravadas entre as terras de mato, algumas já bastante distantes das casas. Houve inclusivamente, em anos anteriores, quem semeasse milho no Mato, substituindo a erva das pastagens pela cultura deste cereal. Era pois enorme a quantidade de milho produzido em toda a freguesia. A sua guarda e arrumo, de maneira que se conservasse e mantivesse em excelente qualidade, ao longo do ano, afastado dos ratos e protegido do gorgulho, era um problema que urgia solucionar da forma mais prática e eficiente.

Na Fajã nunca foi costume secar o milho no forno, depois de o apanhar para de seguida o debulhar e, então, guardá-lo em recipiente adequado, dentro de casa. Este costume, vulgar em muitas outras localidades açorianas, na Fajã era praticado muito raramente e apenas quando faltava o milho armazenado do ano anterior e o do ano em curso ainda estava verde e, consequentemente, incapaz de ser moído. Assim a maior parte do milho produzido em toda a freguesia era guardado ao ar livre e com a casca, para o que se construíam os estaleiros, onde se penduravam as maçarocas, presas e amarradas em “cambulhões” de forma organizada. Os “cambulhões” eram conjuntos de maçarocas revestidas com a casca, presas umas às outras por uma fita retirada de uma das folhas, devidamente torcidas e amarradas conjuntamente nas extremidades com um fio de espadana.

Na Fajã Grande construíam-se três tipos de estaleiros, cada qual deles, no entanto com mais do que uma variante.

Os estaleiros mais pequenos e mais fáceis de construir eram uma espécie de grade, feita com dois, três ou quatro paus de lenha com várias tiras de madeira pregadas. A sua construção era simples. Os paus eram colocados paralelos uns aos outros e equidistantes e de seguida neles se pregavam as ripas ou tiras de madeira - às vezes até eram utilizadas canas, porque eram mais baratas - formando uma espécie de grade, deixando, no entanto, numa das extremidades um espaço de cerca de um metro livre de tiras, sendo esta a parte que assentaria no chão e serviria de pés. Estes estaleiros eram encostados às empenas das casas e neles se iam pendurando os “cambulhões”. Para que os ratos não subissem pelos paus até às maçarocas, em cada um deles, logo abaixo das tiras, era enfiada um pedaço de lata velha, devidamente furada e presa de modo a não cair. Se fosse necessário, podia aumentar-se a capacidade destes estaleiros, juntando-se-lhes conjuntos de dois três ou mais paus e que eram encostados ao lado dos primeiros.

Uma segunda modalidade era o estaleiro chamado de “pé de cabra”. A sua construção também era simples, mas com maior grau de dificuldade do que os anteriores. Para a sua construção eram precisos quatro paus do mesmo tamanho e taliscas de madeira. Os paus eram amarrados conjuntamente na extremidade mais delgada, sendo depois abertos de forma a afastar as extremidades opostas, simulando uma espécie de pirâmide, em que estas partes serviriam de pés e que seriam enterrados profundamente na terra, de forma ao estaleiro resistir a ventos e temporais. Depois eram pregadas as taliscas de madeira nas diversas faces da pirâmide, a fim de nelas se pendurarem os “cambulhões”. Para proteger o milho dos ratos utilizava-se uma estratégia igual às dos estaleiros anteriores. Uma variante deste estaleiro era a construção de um igual em tudo, mas apenas com três pés, o que reduzia, significativamente, a capacidade de armazenar o milho

Finalmente havia um terceiro tipo de estaleiro mais utilizado, com maior capacidade e de mais difícil construção. Era o estaleiro tradicional, constituído por uma estrutura de madeira assente sobre quatro ou seis pegões de cimento, muito lisos e cimentados, para evitar a subida dos ratos. Por sua vez a estrutura de madeira que se encastoava em cima dos pegões tinha a forma do telhado duma casa, mas muito mais inclinada. Um conjunto de barrotes eram ligados a uma trolha pela parte superior e pregadas numa base rectangular. Apenas nas faces laterais eram pregadas as tiras onde se penduravam os “cambulhões”, sendo que as fazes das extremidades ficavam livres para a circulação do ar. No interior do estaleiro e paralelas à trolha superior, geralmente eram pregados barrotes com tiras ou taliscas onde eram pendurados os “cambulhões” com as maçarocas descascadas, que eram em pequena quantidade, uma vez que resultavam apenas das maçarocas cuja casca era menos resistente ou que menos protegia os grãos. Uma segunda variante deste estaleiro, embora menos utilizada, era diferenciada apenas na estrutura de madeira e na disposição dos pés que eram apenas quatro e dispondo-se sempre em forma de quadrado. A estrutura de madeira que assentava sobre eles tinha a forma de um cubo, aberto na base e na face superior, sendo as ripas pregadas nas quatro faces restantes. Esta variante de estaleiros era de mais simples e fácil construção e julgando-se, por isso mesmo, que representariam um modelo mais ancestral e primitivo do verdadeiro e tradicional estaleiro fajãgrandense.

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publicado por picodavigia2 às 08:09

VENTO

Sábado, 14.12.13

O vento sopra

A Menina chora

A mãe implora.

 

O vento amansa

A menina dorme

A mãe descansa.

 

O vento passa

A Menina sorri

E a mãe,

(no escuro da noite),

enche-se de graça.

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publicado por picodavigia2 às 00:38





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