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TAMOEIROS, BROCHAS E ATRACAS

Quinta-feira, 26.12.13

Para encangar quer uma junta de bois ou de vacas, quer apenas uma rês - neste caso dizia-se, na Fajã Grande, que se encangava de “canguinha” - para puxar carros, corções ou até para lavrar os campos, para além de outros, eram necessários três utensílios ou apetrechos importantes: o tamoeiro, a brocha e a atraca. Estes utensílios eram feitos de couro e fabricados na Fajã Grande, sendo que cada agricultor praticamente elaborava os que necessitava. Se o não conseguisse fazer, recorria a um amigo ou familiar mais habilidoso que lhos fizesse.

O couro era obtido das peles dos bovinos. Quer por altura da festa do Espírito Santo quer numa ou noutra ocasião mais solene, ou até a quando do cumprimento de um jantar em louvor do Senhor Espírito Santo, geralmente prometido por americanos, abatia-se uma ou outra rês, aproveitando-se a pele, que era curtida por processos artesanais muito antigos. Segundo Gaspar Frutuoso a ilha das Flores, no século XVI, já exportava, entre outros produtos, “couros de toda a sorte”. Ora se havia exportação era porque havia produção e se havia produção era porque havia arte e sabedoria e, pese embora essa exportação tenha decaído e até desaparecido, a arte e a sabedoria de curtir os couros naturalmente que se manteve e chegou, pelo menos às primeiras décadas do século passado. Era destes couros guardados e armazenados que se obtinham as tiras mais grossas para os tamoeiros e as mais finas para as broxas e para as atracas.

O tamoeiro era uma grossa e potente fita de couro com as pontas bem amarradas uma à outra, de forma que em caso algum se soltassem, formando um enorme circunferência e que era dobrada sobre as duas ranhuras centrais da canga, enfiando-se, no espaço que as dobras deixavam por baixo da canga, o cabeçalho do carro ou do corsão ou o temão do arado, onde se prendia com uma chavelha. Como as cangas na Fajã Grande, contrariamente a outras localidades nos Açores, tinham a barriga grossa, os tamoeiros eram realmente grandes e de tal maneira maleáveis que se podiam adaptar a cangas ou cabeçalhos mais ou menos delgados. Os tamoeiros usados nos carros eram necessariamente os maiores e mais fortes porque estes tinham o cabeçalho mais grosso e carregavam mais peso. Depois os dos corções e finalmente os dos arados, que eram, sem sombra de dúvida, os mais pequenos. Havia também tamoeiros para as cangas “de canguinha”, mas neste caso e como a canga era em forma de V invertido, e sem ranhuras mas com furos em ambos os lados, os tamoeiros eram obrigatoriamente dois, muito pequenos e delgados, geralmente feitos de corda e enfiados, permanentemente, nos respectivos orifícios de cada lado da canga.

As brochas também eram feitas de couro e serviam para apertar a parte baixa dos canzis das cangas, a fim de esta não escapulisse do pescoço do animal. Eram praticamente todas iguais, diferenciando-se apenas no tamanho. As tiras de couro eram bem mais finas e muito mais pequenas do que as do tamoeiro, mas também tinham a forma de uma circunferência. Amarradas as extremidades da tira, esta era muito bem enrolada, até obter uma forte consistência, ficando apenas nas extremidades duas alças ovais que se prendiam nas ranhuras dos canzis, mais abaixo ou mais acima, consoante a espessura do pescoço da rês.

Finalmente a atraca, que também era feita com uma tira de couro, servia para prender as duas reses pelos chifres. Na Fajã Grande quase todos bovinos usavam ponteiras de metal nos chifres. A atraca prendia-os pelas ponteiras, ligando o chifre direito do animal que trabalhava pela esquerda, ao esquerdo do que trabalhava pela direita e servia para secundar o efeito da canga, mantendo os animais unidos e a puxar em conjunto, a “puxar para dentro” como se dizia. Para fazer a atraca, abria-se com uma navalha uma fenda numa das extremidades da fita do couro, pela qual entrava a outra e prendia-se num dos chifres, dando, por fim um nó de duas voltas no chifre do outro animal, ou procedendo como na outra extremidade. Como a atraca era um utensílio um pouco mais requintado, embora necessário, muitos lavradores não a usavam simplesmente porque não a tinham. Neste caso prendiam as reses uma à outra, amarrando-lhes as cabeças com uma simples corda que, assim, de forma rudimentar e tosca, substituía a atraca. Situação semelhante se verificava quando os animais eram muito novos e ainda não tinham ponteiras nos chifres. A maioria dos animais estava tão habituada à canga, que presos apenas pela atraca, caminhavam lado a lado como se estivessem encangados.

Resta acrescentar que quando lavravam, se não estivessem habituadas ou ainda não soubessem trabalhar, necessitavam de alguém que fosse à sua frente, ensinando-as. Neste caso, em vez de prender os animais com a brocha, amarrava-se-lhes a cabeça com uma corda grande, com a qual eram conduzidas, como se fossem amarradas. Lavradores mais experientes substituíam essas cordas por uma outra muito grande, chamada “atiradeira” e mesmo agarrados à rabiça do arado iam puxando a corda e conduzindo a rês ou as reses por onde bem queriam e entendiam, obrigando-as inclusivamente a voltar no fim de cada rego, sem estar alguém a conduzi-las ou orientá-las.

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publicado por picodavigia2 às 21:35

MÚSICA E RECORDAÇÕES DO NATAL

Quinta-feira, 26.12.13

A RTP Açores, no programa Atlântida, com emissão também na RTP-Internacional e RTP-Madeira, apresentou, a partir da freguesia da Piedade, na ilha do Pico, no passado dia 24 de Dezembro, uma excelente reportagem na qual, por um lado divulgou não apenas o percurso histórico mas sobretudo a música, mais concretamente a que inclui temas natalícios, do Grupo Coral das Lajes do Pico e ainda testemunhos e referências sobre a maneira como era e ainda é celebrado o Natal naquela ilha açoriana.

Embora tendo sido informado, com alguma antecedência, do referido programa, inexplicavelmente, não o pude ver ou ouvir em directo. Primeiro porque a RTP Açores, não entendo bem porquê, não faz parte do conjunto de canais que, no território continental, estão disponíveis na TV Cabo, onde aliás prolifera uma infinidade variadíssima de ofertas de outros canais, uns abertos outros a subscrever, alguns, diga-se em abono de verdade, de reduzido interesse. Por sua vez, a RTP Açores e a RTP Madeira, assim como a RTP Internacional, estão interditas a quantos açorianos e madeirenses, que, residentes no continente e subscritores da TV Cabo, queiram deliciar-se com programas das televisões insulares e actualizar-se com notícias da sua terra. Em segundo lugar, cuidei que podia ver o programa via internet, uma vez que a RTP Açores, no seu site, havia informado de que, a partir daquela data, iria transmitir em directo, via internet, todos os seus programas produzidos nos Açores. Porém, na hora da verdade, esse acesso estava bloqueado, sendo-me, por conseguinte, impossível de todo ver o programa em directo. Felizmente, que o mesmo foi gravado, estando, por isso, actualmente disponível no site da RTP Açores. Assim, só ontem o pude ver, enquanto na véspera de Natal me limitei a ouvir as canções de Natal daquele Grupo, uma vez que o seu maestro me obsequiara com o respectivo CD, recentemente gravado.

Este prolongado atraso, porém, teve as suas vantagens, pois aguçou ainda mais a vontade e o interesse pelo referido programa. É que, entre um e outro espaço de tempo, foi-me possível realizar mais uma das minhas frequentes visitas ao “Alto dos Cedros”, blogue da autoria do Emílio Porto, o maestro do Grupo Coral das Lajes do Pico e principal interveniente no programa Atlântida de 24 de Dezembro, onde pude ler que naquele: “…programa televisivo não houve, nem comédia, nem tragédia. Houve a representação, alusiva ao presépio, pelas crianças da freguesia, houve a poesia de Dias de Melo, dita por quem sabe, houve os testemunhos dos usos e costumes natalícios, e houve a música coral. (…) O programa “Atlântida” do Natal de 2011 deu-nos a lembrança, fugaz embora, da década de 50/60 do Seminário de Angra. Por isso, e sobretudo por isso, o programa, gravado na Ponta da Ilha foi, não só cultural mas também de sabor pastoral. Apesar de ter sido feito pela laicidade de hoje, acabou por ser um reflexo dos movimentos culturais da Angra eclesiástica do século passado.”

Tudo isto açudou-me a vontade e acelerou-me a curiosidade. É com emoção, deslumbramento e muito agrado que se vê, se ouve e se observa o programa que a RTP Açores, em boa hora, apresentou sobre o Grupo Coral das Lajes do Pico, um programa que “(…) abraçou toda a gente. Dos Açores, do Canadá e das Américas. Foi até aos lugares onde há gente das ilhas.” Transmitido a partir da nova sede da Filarmónica da freguesia da Piedade, o Atlântida fez ecoar pelas ilhas açorianas a música natalícia, agora também divulgada num novo CD gravado por aquele grupo e recordar o “Natal de antigamente” nas ilhas açorianas, mais concretamente no Pico.

Na verdade o programa apresentado pela RTP Açores na véspera de Natal constitui um inesquecível momento de beleza, de emoção e de sublimidade, sobretudo para quem aprecia música de qualidade, nomeadamente a referente à época natalícia e para quantos se envolvem, se não no espaço e no tempo, pelo menos na memória das mais belas tradições natalícias das ilhas onde passaram a sua infância ou onde viveram alguns anos da sua vida.

Texto publicado no Pico da Vigia, Dezembro de 2012

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publicado por picodavigia2 às 18:27

RESCALDO

Quinta-feira, 26.12.13

Natal ilhéu…

Último,

Longínquo, distante…

Quase perdido no tempo.

 

Um tecto abrigava-me da chuva,

Mas não havia luzes,

Nem estrela,

Nem cheiro a canela.

 

As portas estavam cerradas,

O brasido do borralho apagado

E as paredes ressequidas.

No ar,

Havia um bafo húmido,

De solidão deserta.

 

Na rua, passavam vultos a cambalear

Deixando um rastro de silêncio arrepiante.

As janelas, das casas, em frente,

Ao redor,

(de todas as casas)

Tinham as cortinas corridas.

 

E até os sinos, na torre da igreja

Há muito que se haviam silenciado.

 

Ao lado,

Altiva, a montanha dormia.

Mas na imaginação das crianças,

Obstruindo veredas de magia,

Nascia um Menino.

 

A lancha

Já estava ancorada,

No cais,

À espera que o Natal acabasse.

 

Lá longe,

 - em destino cruelmente tracejado -

… uma guerra.

 

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publicado por picodavigia2 às 17:33

COMO OS BIJAGÓS DA GUINÉ EXPLICAVAM A CRIAÇÃO DO MUNDO

Quinta-feira, 26.12.13

O Arquipélago dos Bijagós faz parte do território da Guiné-Bissau e é constituído por quase cem ilhas, situadas ao largo da costa africana e que foram classificadas pela UNESCO como reserva da biosfera, uma vez que dispõem de uma diversificada fauna, com destaque para várias espécies de macacos, hipopótamos, crocodilos, aves pernaltas, tartarugas marinhas, lontras, etc.

O arquipélago tem uma área total de 2.624km2 e uma população orçada em cerca de 30.000 habitantes (2006), na sua maioria dispersos apenas por 20 das maiores ilhas, sendo a maioria das outras desabitadas ou com uma população muito reduzidas. Os nativos falam sobretudo o Bijagó e outros dialectos pouco conhecidos e professam religiões animistas. Os Bijagós são profundamente crentes e dedicam cerca de cem dias por ano a rituais religiosos. O arquipélago conta com ampla autonomia administrativa.

A ilha de Orango é a mais distante do continente africano e, por isso, desfruta de um clima muito diferente da Guiné-Bissau, continental. Esta ilha tem muitos tipos de clima, desde o mais seco nas zonas de pouco pasto, savana, até um zona muito húmida, quando se entra no meio da vegetação. Tem também muita fauna por explorar, estudar e conhecer. Caracteriza-se, sobretudo, por possuir ainda um tipo de sociedade chamada “matriarcal” onde as mulheres detêm a mordomia de escolhem os maridos. Fazem-no cozinhando-lhes um prato, tradicionalmente, de peixe que, caso seja aceite e comido pelo esposo pretendido, se torna em união ou casamento.

Segundo uma antiga lenda bijagó, a vida começou assim: Deus, o Criador, existiu sempre e, no início da vida, foi criada a primeira ilha – a ilha de Orango – que era o mundo. Mais tarde, chegou um homem e a sua mulher, de nome Akapakama. Eles tiveram quatro filhas a que deram os nomes de Orakuma, Ominka, Ogubane e Oraga.

 Cada uma das filhas de Akapakama teve, por sua vez, vários filhos, os quais receberam por parte do avô direitos especiais.

Os de Orakuma, receberam a terra e a direcção das cerimónias nela realizadas, bem como o direito de fazer as estatuetas do Irã, tendo sido a primeira executada por Orakuma e feita à imagem do Deus. Este direito seria também dado por Orakuma às suas irmãs.

 Os de Ominka receberam o mar e passaram a ocupar-se da pesca. Os de Oraga receberam a natureza com as bolanhas e as palmeiras, o que lhes daria a riqueza.

Os de Ogubane receberam o poder da chuva e do vento podendo desencadeá-los, controlando assim o suceder das épocas, da seca e das chuvas.

 Assim, as quatro irmãs desempenhavam funções diferentes mas que se complementavam.

 Esta é a razão pela qual, segundo a lenda, se explica o papel muito importante que as mulheres desempenham na sociedade bijagó. Elas ainda hoje têm direitos especiais, tais como a construção das casas e a realização de cerimónias próprias. E ainda o das raparigas, segundo os Bijagós, em que reincarnam as pessoas que morrem na família e no clã.

Tal como em outras sociedades, a arte bijagó está estreitamente ligada à religião. A representação dos Irãs encontra especial relevo na escultura em madeira, a qual se alarga à representação de outras cenas da vida quotidiana e à produção de objectos de uso comum.

Hoje, só os homens podem ser escultores, mas nota-se já uma diminuição dos que se dedicam a esta actividade, o que faz com que existam poucos escultores com autoridade para executar as estatuetas dos Irãs.

Em princípio não há condição especial para que um homem se tome escultor. A aprendizagem é feita junto de um outro escultor já famoso e pode-se começar essa aprendizagem com qualquer idade.

Entre as 88 ilhas pertencentes ao arquipélago, salientam-se as de Caravela, Formosa,, Galinhas,  Maio, Orango, Poilão,  Ponta,  Roxa, Bubaque, Rubane, etc.

Fonte: Internet

 

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publicado por picodavigia2 às 15:32

SIMPLESMENTE INVEJÁVEL

Quinta-feira, 26.12.13

Desfrutando de um tempo verdadeiramente primaveril, a ilha do Pico reveste-se, nesta altura do ano, de bonança, de tranquilidade, de graça, de beleza e duma amena solicitude. Simplesmente invejável! A montanha, imponente e altiva, cobre-se, bem lá no cume, de um véu alvíssimo, enternecedor, enovelado pelos raios doirados de um Sol acariciador e compassivo. Depois, pelas encostas abaixo, a escorrer como se fosse lava, um manto verde de pastagens e de florestas, a cobrir os andurriais circundantes, a derramar-se e a estender-se até às terras de cultivo e aos vinhedos, ainda ressequidos, à espera da poda, quase até aos casebres e às habitações das pequenas mas graciosas povoações, plantadas à beira-mar, como que a fazer uma espécie de ponte de alvura e graciosidade, entre a montanha e o oceano, entre a terra e o mar.

Na realidade, nestes últimos dias de Fevereiro, o Pico tem usufruído de um Sol bonançoso e benfazejo, que se atira em catadupa, abrupto e à esmo, parece mesmo que inconsciente ou quase louco, pela montanha abaixo, iluminando os seus recantos mais recônditos, aquecendo as encostas menos soalheiras, acariciando os andurriais circundantes, cavalgando sobre o dorso negro da ilha. Depois, numa louca correria, avança até cá a baixo, na direcção de campos e pastagens, de hortas e quintais, borrifando-os de verde, transformando-os em vida, conferindo-lhes uma frescura mágica, um dinamismo sobrenatural, um capacidade produtiva senão única, pelo menos rara e pouco vulgar. Nas encostas do Pico, com este Sol tonificante e com a chuva, sempre atrevida, sempre atiradiça e sempre à espreita duma oportunidade, por mais pequena que seja, para substituir o Astro-Rei, tudo nasce, tudo floreste, tudo renasce e tudo se torna vida. No ar paira um perfume a trevo e erva da casta, das encostas chovem sabores de incensos e de faias, nas hortas e pomares vertem-se sumos adocicados e até nos maroiços reina o sabor apetitoso, do funcho, da hortelã, da salsa e do rosmaninho. Os campos a abarrotar de forrageiras povoam-se de bovinos, é verdade que amarrados à estaca, sem a liberdade dos que proliferam nas pastagens do mato, porque limitados e condicionados pelas exigências de uma boa estrumação dos terrenos com vista às colheitas que aí vêm. Mas até aí a vida nasce, cresce, se firma e estabelece. Aa vacas dão à luz os vitelos rechonchudos e vivaços, as cabras seguem-lhe o exemplo, os pássaros povoam os ares em alegres danças e enigmáticos cantares e até o Oceano, bem plantado aqui em frente, como que se torna mais calmo, mais azul, mais tranquilo. Lá ao longe uma embarcação, um veleiro, um navio de que se adivinha o destino.

Tudo é vida, tudo é graça, tudo é luz, neste Pico pré-primaveril! O tempo é de Sol, de visibilidade, de calma, tranquilidade e de bonança. Os dias são de luz, de brilho, de paz, de trabalho e de alegria. Transformam-se em vida, são a própria vida. A vida dos que aqui vivem, trabalham, labutam e erguem uma enorme montanha coberta com um manto de sonhos retalhados, de esperanças desfiadas, de tranquilidade e de quietude perenes.

Mas o Pico, com este tempo admirável, também é simplesmente invejável, para os que o demandam nesta época. Na realidade quem visita os Açores, nomeadamente a ilha do Pico, durante estes últimos dias de Fevereiro, para além de desfruir de um tempo maravilhoso, pode ufanar-se de ter o privilégio de apreciar paisagens de uma beleza rara, de uma expressividade inconcebível e duma graciosidade invejável. Assim como o Pico, as restantes ilhas açorianas, são na realidade espaços raros, desconhecidos, privilegiados, como que encerrados numa espécie de redoma de cristal, que urge quebrar

Anacronicamente, durantes estes dias de rara beleza e de sublime graciosidade, a abarrotar de calmaria e bonança, aureolados por um Sol encantador, alguns média sediados na capital, na sua habitual informação sobre o estado do tempo, anunciavam, para as ilhas açorianas:“…céu muito nublado e alguns aguaceiros”.

Texto publicado, no Pico da Vigia, em 28/02/12

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publicado por picodavigia2 às 14:55

INCONGRUENTE

Quinta-feira, 26.12.13

MENU 20 – “INCONGRUENTE”

 

ENTRADA

Mousse de batata-doce e maçã reineta com creme de queijo fresco e natas,

Ladeado com nozes e mel

Bolacha cream-caker coberta co, queijo fresco.

 

PRATO

 

Pescada cozida, acamada sobre couve branca, regada com doce de melão.

Nozes com queijo de creme e ervas aromáticas.

Batata e cenoura cozidas, cobertas com molho de azeite e alho.

 

SOBREMESA

 

Formigos com nozes e rabanada.

 

******

 

Preparação da Entrada: - Cozer a batata-doce e a maçã depois de descascadas e reduzir a puré. Misturar as natas e o creme de queijo ou só este e formar a mousse. Colocar no prato, juntamente com a bolacha e a fatia de queijo fresco. Ladear com um fio de mel, sobre o qual se colocam as nozes.

Preparação do Prato: - Cozer as batatas, as cenouras, as couves e a pescada. Colocar em prato, cobrindo os legumes com o doce e sobrepor a pescada. Colocar ao lado as batatas e s cenouras cobertas com o molho de alho, azeite e salsa, colocar as nozes e pequenas colheradas do creme de queijo ao redor.

Preparação das Sobremesas – Confecção tradicional.

 

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publicado por picodavigia2 às 11:51

BEATRIZ E O PLÁTANO

Quinta-feira, 26.12.13

(PEQUENA PEÇA TEATRAL, INSPIRADA NO LIVRO DE ILSE LOSA, COM O MESMO NOME)

 

I PARTE

Personagens:

Beatriz

Pai de Beatriz

Mãe de Beatriz

Rui, irmão de Beatriz

Alicinha, amiga de Beatriz e filha do Presidente da Câmara

Joana, amiga de Beatriz

Presidente da Câmara

Drª Olga, Vice-Presidente da Câmara

Drª Marta, Vereadora da Câmara

Dr Henrique, Vereador da Câmara

Dr Rui Seabra, Vereador da Câmara (Oposição)

Secretário da Câmara

Sr Nunes, chefe de obras da Câmara

Emanuel, trabalhador da Câmara

Pinheiro, trabalhador da Câmara

Quirino, trabalhador da Câmara

Director de Turma, professor de Matemática e de EA

Professora de Português

Professor de História

Professor de Inglês e EA

Professor de Ciências e AP

Professores de EVT e EA

Professor de Música e AP

Professor de Educação Física

Professora de EMRC

Sra Rita, empregada da Escola

Carteiro

 

CENA I

 

(Rua do PlátanoEsquina de uma rua, com uma placa com o nome - “Rua do Plátano”. Na rua há uma grande árvore – um plátano. Várias pessoas passam na rua, junto ao plátano.)

 

CENA II

 

Beatriz – (Da janela da sua casa, observa o Plátano.) – Ai! Meu Deus! Tanto que eu gosto daquele plátano! Ele, para mim, é como um amigo, faz parte da minha vida. Sem ele a minha vida não teria sentido. Ele até fala comigo. Há dias, quando regressei de férias, ele ficou muito contente ao ver-me e disse-me baixinho “Ainda bem que voltaste. Tinha tantas saudades tuas”.

(Ouve-se a voz da mãe a chamar de dentro.)

Mãe - Beatriz, ó Beatriz!

Rui – (Aparecendo à janela, puxa a irmã para dentro de casa.) - Beatriz, não ouves a mamã a chamar por ti? Anda para dentro, já!

Beatriz - Deixa-me, deixa-me e vai jogar computador.

(Aparecem o pai e a mãe.)

Mãe – Beatriz, ó Beatriz, o jantar está pronto, vem para a mesa.

Beatriz – Mãe, deixe-me ficar só mais um minuto a olhar para o meu amigo plátano.

Mãe – Ai! Que rapariga! Passa a vida a olhar para o plátano.

Pai – Parece que deitou raízes naquela árvore.

Beatriz – Adeus, amigo plátano, adeus. Agora vou jantar, mas logo, à noitinha, venho ter contigo outra vez. Adeus!

CENA III

 

(Reunião de Câmara. Sentados a uma mesa, o Presidente, o Vice-Presidente e os 3 vereadores. Ao lado, o secretário, faz a acta.).

Presidente – Meus senhores, como é do conhecimento de V. Ex.cias, o edifício dos Correios da nossa cidade está bastante velho e, além disso, é pequeno de mais para os serviços que lá estão instalados. O que acham, os senhores, que se deva fazer?

Dr Henrique – Sr Presidente, é por demais evidente que só há uma solução: demoli-lo e construir, no mesmo sítio, um outro mais moderno e mais espaçoso.

Drª Olga e Drª Marta – Muito bem, muito bem.

Drª Olga – Sr Presidente, o Gabinete Técnico da Câmara já elaborou o projecto para o novo edifício. Vai ser muito moderno, com a fachada pintada a duas cores, caixilhos de alumínio e vai ter um painel de azulejos por cima da entrada.

Drª Marta – E sendo assim, aquela velha árvore que está em frente deve ser cortada.

Drª Olga - Claro! Estou plenamente de acordo! Uma velharia daquelas fica muito mal diante dum edifício tão moderno.

Presidente, Dr Henrique e Drª Olga – Muito bem! Muito bem!

Dr Rui Seabra – Eh! Eh! Calma aí! Não estou de acordo com nada disto. Primeiro não concordo que se destrua aquele antigo edifício. A Câmara podia construir o novo noutro local e restaurar aquele, aproveitando-o, por exemplo, para criar um museu ou uma casa da cultura. Em segundo lugar sou totalmente contra o corte de árvores na nossa cidade. Cortar uma árvore é um crime, um crime meus senhores e, além disso, aquele plátano é uma árvore muito especial – foi ele que deu o nome àquela rua.

Dr Henrique - Desculpe, Dr Seabra, mas o senhor está totalmente errado. A rua onde eu moro chama-se rua Afonso Henriques e, no entanto, o nosso primeiro rei já morreu há muitos anos.

Drª Olga e Drª Marta – (Riem) – Muito bem! Muito bem, Dr Henrique.

Dr Rui Seabra – O senhor não sabe o que diz, Dr Henrique. O senhor é um insensível, não sabe o que é respeitar e amar a Natureza. O senhor é um ignorante. Um insensível e um ignorante!

Dr Henrique – Não me insulte, Dr Seabra, não me insulte.

Presidente – Meus senhores, esta discussão é inútil. Vamos por à votação, a proposta apresentada pela da Drª Marta: Quem vota a favor da demolição do velho edifício e da construção de um novo no seu lugar?

(Presidente, Drª Marta, Drª Olga e Dr Henrique levantam o braço.)

Presidente – E quem vota contra.

(Dr Seabra levanta o braço.)

Presidente – Quem vota a favor do corte do plátano.

(Presidente, Drª Marta, Drª Olga e Dr Henrique levantam o braço.)

Presidente – E quem vota contra.

Dr Seabra – (Levantando o braço.) – Senhor presidente, quero fazer declaração de voto e peço ao senhor secretário que a registo na acta.

Presidente – Dr Seabra, o senhor não tem mais nada a dizer. Ambas as propostas foram aprovadas com 4 votos a favor e apenas um contra. A reunião está encerrada. Vamos construir um novo edifício dos correios e cortar o plátano. As obras começam amanhã. Muito boa tarde. Podem sair.

CENA IV

 

(No recreio duma escola brincam várias crianças, entre as quais Beatriz, Alicinha -  filha do Presidente da Câmara - Joana e outras. Ao lado, a Senhora Rita, funcionária da Escola.)

Alicinha – Beatriz, ó Beatriz, tenho uma notícia para te dar.

Beatriz – Boa ou má?

Alicinha – Isso não sei! Mas acho que é muito boa para a nossa cidade. Agora para ti… não sei…

Beatriz – Então conta! Vá lá, conta.

Joana – Conta Alicinha, conta depressa.

Alicinha – O meu pai, que como vocês sabem é o Presidente da Câmara, chegou ontem à noite a casa muito contente. Sabem porquê?

Joana – Não, não! Conta, depressa!

Beatriz – Vá! Desembucha!

Alicinha – A Câmara vai deitar abaixo o velho edifício dos Correios e construir um novo e também vai cortar o plátano que está em frente.

Beatriz – (Muito alarmada e em alta voz) – O quê?! Cortar o plátano?! Cortar o meu amigo Plátano?! Nem pensar! Isso é que nunca!

Joana – Calma, Beatriz! Calma.

Beatriz – Calma?! Como posso ter calma sabendo que vão destruir o meu melhor amigo?! Mas não o vão cortar nunca. Nunca! Nunca!

Sr Rita – Menina Beatriz! Fale mais baixo! Não incomode os meninos que estão nas aulas.

Beatriz – Ai sim! Não posso falar alto aqui!? Vou-me embora, mas o meu amigo plátano nunca vai ser cortado! Nunca!

Joana e Alicinha – Beatriz, ó Beatriz, não te vás embora, brinca connosco mais um pouquinho.

Joana – (Para a Alicinha) - Não lhe devias ter contado.

Alicinha – Deixa lá! Ela tinha que saber.

 

CENA V

 

(Em casa, preocupada, Beatriz fala com os pais sobre a notícia que ouviu na escola.)

Mãe – O que se passa filha? Andas tão preocupada…

Beatriz – Estou preocupada, sim, mamã. Estou muito preocupada. Vão destruir o meu velho amigo. Vão cortar o mais belo plátano da cidade, do país, do mundo.

Pai – Calma, filha, calma.

Mãe – Eu compreendo-te, filha. Sei que gostas muito dele. Mas não podemos fazer nada.

Pai – Quem manda na cidade, são as autoridades.

Rui – Ah! Ah! Ah! Olha que pena! Vais chorar porque vão cortar uma árvore!

Beatriz – Não, não o vão cortar, não. Juro que não vou deixar que alguém o corte.

 

CENA VI

 

(Sala duma escola. Os professores estão em reunião de conselho de turma. Batem à porta.)

Sra Rita – (À porta) - Setor, está aqui uma menina. Pode atendê-la?

Beatriz – (Entrando muito alvoraçada) - Setor, posso entrar?

Director de Turma – Desculpa, Beatriz! Espera um pouco. Estamos mesmo a acabar a reunião.

(Saem Beatriz e a Senhora Rita.)

Director de Turma – Colegas, vamos continuar. Falta avaliar um aluno – Vítor José Teixeira da Silva, número 28. Português?

Prof.ª de Português – 3, mas tem que está mais atento nas aulas.

Director de Turma – História?

Prof. de História – 3. Gostava de lhe dar 4, mas tirou satisfaz nas duas fichas.

Director de Turma – Inglês?

Prof. de Inglês – 3. Nunca faz os trabalhos de casa e chega muitas vezes atrasado.

Director de Turma – Matemática 2. Tenho que lhe dar aulas de apoio. Ciências?

Prof.ª de Ciências – Ciências 5.

Todos – Eh lá! “Gande” nota!

Prof.ª de Ciências – Ele adora a minha disciplina e gosta muito de animais. Diz que quer ser veterinário. Área Projecto, Satisfaz Bastante.

Director de Turma – À frente. EVT?

Prof. de EVT – 4. Sem comentários.

Director de Turma – Educação Musical?

Prof. de Educação Musical – 3. Concordo com a professora de Português, tem que está mais atento nas aulas.

Director de Turma – Educação Física?

Prof. de Ed. Física – 3. Está sempre a brincar nas aulas.

Director de Turma – Área Projecto?

Prof.s de Área Projecto – Satisfaz Bastante.

Director de Turma – Estudo Acompanhado?

Prof. s de Estudo Acompanhado – Satisfaz.

Director de Turma – Formação Cívica também Satisfaz. Agora vamos ouvir a Beatriz.

(Levanta-se e vem à porta chamar a Beatriz que entra de imediato.)

Beatriz – Senhores professores! Ainda bem que os encontro todos. Sabem o que decidiram as autoridades da nossa cidade? Cortar o plátano, aquele plátano grande que está em frente dos Correios. Acham que fica mal diante do novo edifício e… zás. Decidiram cortá-lo. Acham isto bem, acham?

Prof. de Ciências – Beatriz, compreendo-te muito bem e sei quanto nas minhas aulas temos falado sobre como devemos proteger as árvores. Mas tens que compreender… Quem manda na cidade são as autoridades.

Prof. de História – É verdade Beatriz! Quem manda na cidade são as autoridades. Nada podemos fazer…

Todos – Quem manda na cidade são as autoridades.

Beatriz – Ai, é assim! Os professores também não me ajudam! Vão ver, vão ver. (Sai)

 

CENA VII

 

(Beatriz sentada a uma mesa a escrever uma carta, que mete num envelope. Depois sai de casa e chama o carteiro para lhe levar a carta à Câmara.)

Beatriz – Senhor carteiro, faça-me um favor. Leve-me esta carta à Câmara. É urgente, muito urgente.

Carteiro – É p’ra já, menina Beatriz.

 

CENA VIII

 

(Secretaria da Câmara Municipal. Sentado à secretário o funcionário dormita. Entra o carteiro com uma carta.)

Carteiro – Sô Neves, ó Sô Neves.

Secretário da CM – Não me faltava mais nada. O que é homem?

Carteiro – É uma carta! Uma carta da menina Beatriz, para o Senhor Presidente!

Secretário da CM – Da menina Beatriz?! E tens a lata de interromper o meu serviço por causa duma carta, duma garota qualquer?

Carteiro – Desculpe senhor Neves, desculpe. Passe bem e muito boa tarde.

Secretário da CM – Com que então uma criança a escrever ao senhor presidente e a incomodá-lo. Era só o que faltava! (Rasga a carta) – Lá vai mais uma! As pessoas desta cidade pensam que o Senhor Presidente não tem mais nada que fazer do que ler cartas…

 

CENA IX

 

(Chegam junto do plátano quatro trabalhadores da Câmara, preparados para o cortar. Quando começam, aparece à frente deles a Beatriz, opondo-se ao corte. Por fim chega um magote de povo.)

Sr Nunes – Vamos lá! Comecem a cortar!

Beatriz – Alto aí! Nesta árvore não se toca. Ninguém tem o direito de cortar esta árvore.

Trabalhadores – (Riem).

Emanuel – Ó menina, vá brincar com as bonecas e deixe-nos trabalhar!

Quirinio – Era o que faltava! Receber ordens duma criança! Saia daí menina

Pinheiro – Então isto agora é assim?  A menina é que manda aqui?

Sr Nunes – (Para os trabalhadores.) Parem com isso. (Para Beatriz) - Menina, tenha calma e por favor sai-a daí. Os homens têm que fazer o que lhes mandam.

Beatriz – Os senhores não querem ouvir o que lhes digo?

Sr Nunes – Já ouvimos, menina, até ouvimos muito bem. Agora, por favor, saia. Vamos começar o nosso trabalho.

Beatriz – (Abraçando-se ao Plátano) - Ai vão! Pois bem. Se cortarem o plátano têm que me cortar a mim primeiro.

Pinheiro – Ó sô Nunes! Já chega de brincadeira.

Emanuel e Quirino – (Puxando a Beatriz) - Sai daí para fora!

Povo – (Aproximando-se e protegendo Beatriz) - Não toquem na menina! Não toquem na menina!

Trabalhadores – Com a breca!

Sr Nunes - Com isto é que não contava! (Pega no telemóvel e marca uma chamada. Em voz alta) – Tou! É o senhor Presidente? Não estou a ouvir nada. Fale mais alto, senhor presidente. (Afasta-se para ouvir melhor.)

 

CENA X

 

(O Presidente da Câmara, o dr Henrique e as dr.as Olga e Marta, acompanhadas do sr Cunha, chefe de obras da Câmara, chegam junto da árvore.)

Sr Presidente – Olá! Tu é que és a Beatriz, a amiga da minha filha?! Muito bem! Muito bem! Mas olha, Beatriz, esta árvore tem de se cortar, porque não ficaria bem em frente dum edifício moderno. Tu és muito nova para compreender estas coisas.

Beatriz – E o senhor é velho de mais para perceber que não se deve cortar uma árvore que é muito mais bonita do que um edifício.

Drª Olga e Drª Marta – Ai! Credo! Que menina mal-educada!

Dr Henrique – Isso é maneira de falar com o senhor presidente! Ponha-se a andar daqui para fora, sua atrevida!

Todos incluindo o Dr Seabra – Bravo, Beatriz! Bravo!

 

CENA XI

 

(O Sr Presidente conversa, em voz baixa, com os vereadores. Depois fala com o sr Cunha.)

Sr Presidente – Sr Nunes, diga aos seus homens que podem voltar para a Câmara. O Plátano não vai ser cortado, hoje.

Sr Nunes – Sim senhor, senhor presidente.

Sr Presidente – Minhas senhoras e meus senhores. Podem voltar para as suas casas. Acabei de dar ordens para que o Plátano não seja cortado, hoje.

 

CENA XII

 

(Beatriz decide passar a noite junto da árvore. O irmão tenta convencê-la a ir para casa.)

Rui – Beatriz, já é muito tarde. Vamos para casa.

Beatriz – Deixa-me ficar aqui mais um pouquinho.

Rui – Não! Vamos! Os nossos pais já devem estar preocupados!

Beatriz – Vai tu e avisa a mamã que eu vou passar aqui a noite. Sei lá se me estão a enganar? Podem vir de noite e cortar o meu amigo plátano.

Rui – Esta rapariga não está boa da cabeça.

 

CENA XIII

 

(Beatriz passa a noite junto da árvore. Os pais, as amigas e outras pessoas vêm trazer-lhe comida e cobertores.)

 

CENA XIV   

 

(Na manhã seguinte voltam os homens para cortar o Plátano. Ao verem Beatriz ficam espantados e regressam à Câmara.)

Trabalhadores – Espantoso! Espantoso! Espantoso!

Sr Nunes – Esperem aqui por mim. Não comecem a cortar a árvore. Vou à Câmara avisar o Senhor Presidente. Espantoso! Espantoso!

Beatriz – (Acordando, espreguiçando-se esfregando os olhos) - Bom dia, amigo plátano. Podes estar descansadinho que não deixarei que te cortem!

Trabalhadores - Espantoso! Espantoso! Espantoso!

 

CENA XV

 

(Chegam o Sr Presidente, os srs vereadores e o Sr Cunha, que falam entre si. Começa também a chegar muito povo.)

Presidente – Minhas senhoras e meus senhores: a atitude desta menina foi muito bonita e levou-nos a tomar uma decisão contrária à que havíamos tomado na reunião da Câmara: O plátano fica em pé. Não será cortado. Ficará para sempre em frente do edifício dos Correios. A Beatriz deu a todos nós uma grande lição: Uma árvore, mesmo velha, mas cheia de seiva e de vida, é um monumento, tal como uma estátua.

Todos – Bravo! Bravo Beatriz! Bem-haja, a Beatriz.

 

Fim

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publicado por picodavigia2 às 10:51

MONTANHA RUSSA

Quinta-feira, 26.12.13

Elevações,

Quedas,

Precipícios…

A gerar

Um circuito de aventuras,

Num mar de emoções!

Carros, que andam

Parados,

Colados às pistas.

 

La Marcus Adna Thompson!

- o génio das emoções

e dos conflitos precipitados -

Gritos contidos,

Aventuras deslumbrantes,

Encastoadas

Numa pérfida estrutura de aço,

Em pista,

Entre elevações montanhosas,

E quedas abruptas.

 

(E até NASA inspirada – a criar uma plataforma similar, para auxiliar o escape dos astronautas da almofada de lançamento, em situações de emergência.)

 

A energia primitiva,

Potencial,

Robusta

E vigorosa

Transforma-se em simples energias cinéticas,

Dando a carros

E pessoas que vagueiam,

Emoções

E o prazer:

 - do percurso percorrido,

 - da força adquirida,

 - da derrota do medo.

Anulação do fracasso!

 

E uma enorme força telúrica a derramar-se, em jorros!

 

A montanha russa desceu da Rússia,

Veio da Rússia.

(Os passeios de trenó, ao redor de São Petersburgo, no inverno, prendiam os pés dos viajantes em montes de gelo e afundavam-nos em buracos de neve!)

 

Montanha Russa:

 - amontoado de solavancos perdidos,

que se projectam

e perduram…

 

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publicado por picodavigia2 às 08:17

A FONTE DE NOSSA SENHORA

Quinta-feira, 26.12.13

Antigamente, na Fajã Grande, contavam-se, por estas alturas do Natal, muitas estórias e lendas relacionadas com os dias que se sucederam ao nascimento de Jesus. Entre outras contava-se que, depois de Jesus nascer, em Belém, os pais do Menino Jesus tiveram que fugir com ele para o Egipto, para o proteger da maldade de Herodes que o queria matar. Ora durante a fuga, Herodes, que cuidava que o Menino havia de ser Rei e retirar-lhe o trono, mandou os seus soldados perseguir São José, Nossa Senhora e o próprio Menino Jesus. Mas como iam a andar muito depressa, durante a caminhada, Nossa Senhora quis descansar porque estava muito cansada e tinha muita sede mas não se via nenhuma nascente de água por ali perto. S. José, preocupado em arranjar água para a esposa, vendo uma pedra ao pé deles, virou-se para o burro e ordenou-lhe:

- Dá um coice naquela pedra, para que dela brote água!

O burro obedeceu, mas a pedra não gemeu nem muito menos dela brotou água. São José ordenou, novamente:

- Dá um coice na pedra, para que dela brote água!

O burro obedeceu e desta vez a pedra gemeu. São José ordenou pela terceira vez:

- Dá um coice na pedra, para que dela brote água!

O burro obedeceu e a pedra chorou, brotou água e, assim, pode Nossa Senhora matar a sede. A partir daí, aquela nascente nunca mais secou e na pedra ficaram as três marcas dos coices do burro.

Ainda enquanto descansavam, Nossa Senhora resolveu estender a toalha sobre uma pedra para comerem algo, que a fome apertava. Assim o fizeram e desde esse dia nunca mais o musgo cresceu naquela pedra. Porém, quando chegou a hora de continuarem a viagem e arrumaram tudo, Nossa Senhora, sem se aperceber, prendeu o seu manto no mato que crescia na zona e rasgou-o. Como castigo de tal atitude, naquele local nunca o mato cresceu, ficando sempre pequeno.

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publicado por picodavigia2 às 07:42

NATAL - MANUEL ALEGRE

Quinta-feira, 26.12.13

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

 Era gente a correr pela música acima.

 Uma onda, uma festa. Palavras a saltar.

 

 Eram carpas ou mãos. Um soluço, uma rima.

 Guitarras, guitarras. Ou talvez mar.

 E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

 

 Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.

 No teu ritmo nos teus ritos.

 No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).

 Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.

 E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.

 No teu sol acontecia.

 

 Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).

 Todo o tempo num só tempo: andamento

 de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.

 Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva

 acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva

 na cidade agitada pelo vento.

 

 Natal Natal (diziam). E acontecia.

 Como se fosse na palavra a rosa brava

 acontecia. E era Dezembro que floria.

 Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.

 E era na lava a rosa e a palavra.

 Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

 

Manuel Alegre

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publicado por picodavigia2 às 00:34





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