PICO DA VIGIA 2
Pessoas, costumes, estórias e tradições da Fajã Grande das Flores e outros temas.
DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DA OBRA DE BERNARDO MACIEL
Ex,mo Senhor Presidente da Câmara Municipal das Lajes, Engº Roberto Silva;
Ex,mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de São Roque, Luís Filipe Silva;
Ex.mo Senhor Vice presidente e vereador da Câmara Municipal das Lajes, professor Hildeberto Peixoto:
Ex.ma Senhora vereadora da Câmara de São Roque, Dra Ana Gonçalves;
Ex.ma Senhora doutora Maria de Jesus Maciel:
Minhas Senhoras e meus senhores:
Dar a conhecer a obra literária de Bernardo Maciel foi o objectivo da Doutora Maria de Jesus Maciel, ao elaborar a Edição Crítica d’A Obra Literária de Bernardo Maciel, como ela própria refere no início da introdução. Dar a conhecer, ou se quisermos, apresentar “ A Obra Literária de Bernardo de Maciel” Edição Critica de Maria de Jesus Maciel é o objectivo da minha presença hoje, aqui.
Sempre entendi e entendo que a apresentação de um livro, independentemente do seu conteúdo ou do género literário em que se enquadra, deve ter como objectivo principal, não tanto a sua divulgação ou a sua simples amostra aos leitores, mas antes deverá constituir-se num encontro de comunicação e de partilha, num momento de jactância estimulante e estimuladora, num envolvimento recíproco do autor, apresentador e leitores, que motive os participantes para uma adesão, em termos de leitura, à obra em causa. Por isso mesmo, mais do que dar a conhecer “ A Obra Literária de Bernardo Maciel” Edição Crítica de Maria de Jesus Maciel, pretendo, fundamentalmente, motivar, sensibilizar e talvez até aliciar, diria mesmo provocar ou espicaçar os presentes, se disso ainda necessitarem, para a leitura de uma obra de uma riqueza de conteúdos notável, de um mérito literário indiscutível e de um rigor histórico profundo e genuíno, enriquecida com o, até agora desconhecido, espólio literário de Bernardo Maciel e com a escrita contagiante, apelativa e envolvente da autora.
Acrescente-se, no entanto, que o livro ora apresentado, dado o rigor da sua objectividade, a profundidade da sua investigação e abrangência dos seus conteúdos, se constitui mais do que um livro de simples e comum leitura, uma vez que pode e deve estatuar-se como uma verdadeira obra de consulta e de estudo, dado tratar-se de uma edição filológica, cujo objectivo, por parte da autora, foi a reconstituição do texto, preparando-o criticamente e disponibilizando ao público a obra deste poeta e escritor picoense, até agora, quase toda ela, desconhecida. Assim, o livro que agora se apresenta constitui e impõe-se como um documento base, fundamental e único, até ao momento, para qualquer estudo de cariz literário que possa ser feito, no futuro, sobre a obra do poeta e escritor Bernardo Maciel. Na realidade com a edição da Obra Literária de Bernardo Maciel fica aberta aos estudiosos da literatura e de outras áreas humanísticas a obra literária deste homem que, como refere Pedro da Silveira, na sua Antologia da Poesia Açoriana, foi o primeiro poeta da ilha do Pico que deixou registo escrito. E porque, segundo a autora, há na obra de Bernardo Maciel um constante vaivém entre os momentos da sua existência pessoal, dos homens em geral e dos acontecimentos do seu tempo, revelando o sentir, o pensar e o agir de uma época, o longo e exaustivo trabalho, agora tornado público e que armazena e conserva, depois de milagrosamente salvo, o espólio literário de Bernardo de Maciel, constitui, indubitavelmente, uma parte da nossa memória, da nossa cultura e do nosso património.
Urge ainda esclarecer que se trata de uma obra constituída por três partes. Na primeira, a autora delineia a biografia de Bernardo Maciel numa narração simples, motivadora, empolgante, geradora de afectos e provocadora de emoções no leitor. Apesar de rigorosamente histórica mas ataviada de um cunho romanesco e edílico, fruto, em parte, de uma espécie de empatia entre a autora e o poeta e escritor, de quem ainda é familiar e que torna, esta parte do livro, incontestavelmente, mais atraente na leitura, mais delirante na apreciação dos conteúdos e mais envolvente no relacionamento que existe sempre entre o livro e o leitor. Por tudo isso, esta primeira parte, poderia, em minha opinião, e perdoe-me a dra Maria de Jesus Maciel o atrevimento e a ousadia, constituir-se numa obra literária autónoma, única, independente, separada, do género das biografias romanceadas, acessível ao mais simples, humilde e comum dos leitores. A segunda parte é constituída pelos manuscritos de Bernardo Maciel, incluindo a sua correspondência particular, arrecadados num CD room e de que o livro contém apenas alguns exemplares. Finalmente a terceira parte engloba e dá a conhecer praticamente a totalidade dos escritos de Bernardo Maciel, precedidos duma introdução e acompanhados de notas críticas. Em Poesia seis livros – Livro da Alma, Visões Sagradas, Envelhecer, Às Crianças, De Longe e Dispersos –, em Teatro, um livro – a Monja –, e em Prosa, dois livros – Coisas Íntimas e Dispersos e, por fim, a própria Correspondência do escritor. O Livro Dispersos inclui um sermão a Nossa Senhora e um excerto de um outro, supostamente ao Bom Jesus. Num e noutro, está bem patente a excelência da oratória de Bernardo Maciel, bem mais próxima dos sermões do Padre António Vieira do que nas homilias da actualidade. Todo este acervo, com excepção do Livro da Alma, publicado, em 1916, um ano antes da morte do autor, na Calheta, ilha de são Jorge, permaneceu desconhecido do público durante todo o século xx.
Confesso que antes de ler a primeira parte deste livro e de descortinar a biografia de Bernardo Maciel, traçada pela autora, concebia dele uma imagem, talhada, delineada, definida e, sobretudo, influenciada pelos arquétipos dos clérigos do final do século XIX e início do século XX, descritos em muitos dos romances de Camilo Castelo Branco e de Eça de Queirós ou em alguns poemas da “Velhice do Padre Esterno “ de Guerra Junqueiro, nomeadamente “A Sesta do Senhor Abade” e “Como se faz um Monstro” ou, no mínimo, que Bernardo Maciel, embora brilhante, erudito e culto durante o seu percurso académico, como aluno do Seminário de Angra, depois de colocado numa paróquia mais isolada dos Açores, se fosse amarfanhando culturalmente, eclipsando intelectualmente até definhar e fenecer por completo. Exemplos destes eram bastante frequentes, entre nós, há cem ou há cinquenta anos.
Nada disto, porém, aconteceu com Bernardo Maciel. Pelo contrário, a vida deste homem, sacerdote, poeta e escritor, é um hino à dignidade, à beleza, à nobreza de carácter e à excelência de atitudes, para além de encastoada num percurso cultural delineado, construído, aperfeiçoado e enriquecido por ele próprio, pelo seu esforço, trabalho, leitura e escrita. Podemos, na verdade e com razão, considerá-lo, sob o ponto de vista cultural, um verdeiro “self made man”. Nascido a 4 de Junho de 1874, na freguesia de S. João do Pico, Manuel Bernardo Maciel distinguiu-se desde criança e enquanto viveu por uma força muito própria e uma forma de vida singular, revelando desde cedo um olhar atento ao mundo que o rodeava, uma curiosidade crescente, pelos seus trabalhos e festas, um interesse acentuado pelos estudos, um gosto muito particular pela música e pelo canto, sendo já em criança convidado a participar como solista nas cerimónias da Semana Santa da sua igreja paroquial. Concluída a instrução primária, fez o exame de admissão ao Liceu Nacional da Horta em 1888, e no mesmo ano a admissão ao Curso de Preparatórios do Seminário Diocesano de Angra do Heroísmo, onde estudou e se revelou sempre um aluno, brilhante, distinto, já amante das letras, da cultura, da arte e da música. Embora a falta de saúde o fizesse sair por algum tempo do Seminário e passar a aluno externo, esse facto não o impediu de continuar a ter sucesso nos estudos, sendo considerado, mesmo nessa altura, o melhor aluno do Seminário terminando o curso em menos anos do que o exigido nos programas e currículos daquela instituição de ensino. O seu destino, “um dos mais altos espíritos que passaram pelo Seminário de Angra em todos os tempos” segundo o colega Pe. Xavier Madruga, Director do jornal O Dever, foi o extremo longínquo de uma ilha isolada, uma terra de lavradores, a paróquia de Santo Antão do Topo, da ilha de S. Jorge a quem acabará por dedicar toda a sua vida.
Foi nesse obscuro recanto, encastoado entre o mar e as rochas, cravejado de ribeiras e amortalhado de ravinas que ele olhou atenta e criticamente o mundo, que se multiplicou a nível do canto, da oratória e da escrita. O gosto pelo canto que o acompanhava desde a infância, distingue-o ainda enquanto estudante, como professor de cantochão no Seminário, e depois em S. Antão e em toda a ilha de São Jorge. Os jornais locais são disso espelho, dando relevo ao seu talento musical, à sua voz de tenor, chegando o jornal “Ecos Jorgense” a ter a ousadia de afirmar que a sua voz “é tão suave e extensa que não deixaria de ser apreciada no Teatro de S. Carlos”. Bernardo Maciel convidou o músico Francisco Lacerda e foi convidado por ele para participações musicais conjuntas, e o maestro angrense Jácome de Sousa, – violinista da orquestra de São Carlos, em Lisboa, que acompanhava a visita real do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia aos Açores – também foi convidado por Bernardo Maciel para abrilhantar as festas da igreja paroquial de Santo Antão. Mais tarde em Lisboa foi ao S. Carlos, para ouvir música clássica, o mesmo acontecendo noutras cidades europeias. A música popular também o atraiu. Cantou, com o povo, a chamarrita, cantou ao desafio nos bailes de roda, cantou nas fogueiras de S. João e cantou em família canções de embalar e outras que improvisava ao piano acompanhando-se a si próprio.
A oratória foi outra área em que se destacou com competência, excelência e grandiosidade, sendo elogiado por todos, revelando uma intensa actividade como pregador, saltando, permanentemente, de púlpito em púlpito por todas as freguesias de São Jorge. Mas já, nos tempos de estudante, pregou em Angra, em férias fê-lo no Pico e também nos E.U.A granjeando fama de ser um excelente e culto orador, bastante versado em matérias teológicas.
Mas o que mais desponta, enobrece e caracteriza Bernardo Maciel é a escrita. É ele próprio quem confessa no Livro da Alma: “Às vezes escrevia coisas no livro da minha alma. E iam para ali ficando, ficando longamente…” Assim aconteceu até que um dia um colega e amigo, o contista Nunes da Rosa, forçando a oportunidade e o retraimento voluntário do poeta, começou a publicar os seus poemas e artigos em “A Ordem”, o jornal que dirigia, na freguesia das Bandeiros. Mas mesmo sem publicar, Bernardo Maciel escreveu sempre, até que em Março de 1916, como já referi, os amigos jorgenses que sentindo que o seu fim se aproximava, lhe publicaram o seu primeiro livro de versos, o Livro da Alma, nele indicando como concluídas e prontas a imprimir as seguintes obras: Visões Sagradas, Envelhecer, Às Crianças, e De Longe, (Poesia); Monja (Teatro); Coisas Íntimas (Prosa).
Mas Bernardo Maciel, como todos os poetas, era um sonhador. Inúmeros sonhos povoaram a sua vida. Um deles “era ver e viver o Mundo” não só o seu pequeno mundo que povoava o seu quotidiano mas também o grande mundo que ele conhecia através das suas variadíssimas leituras. Eram os grandes centros europeus de cultura e arte que lhe povoavam o imaginário. Na primeira ocasião que se lhe deparou empreendeu a viagem, sempre sonhada, visitando Lisboa, Vigo, Paris, Lurdes, Roma, Florença, Veneza e Nápoles. Daí partiria por mar para a Terra Santa. Mas em Nápoles, enquanto aguardava a partida, foi surpreendido pelo rebentar da I Grande Guerra. Para lhe fugir segue num navio italiano que, sem rota conhecida, o leva a Nova York, sendo forçado a ficar nos E.U.A. cerca de um ano. Viaja e prega em vários lugares e escreve sobre a vida agitada deste Novo Mundo, tão diferente e tão desigual da pacata e humilde freguesia de Santo Antão. Em Julho de 1915, regressa ao Pico, onde os amigos jorgenses o vêm buscar, reconhecendo o que ele sempre fora: um homem bom, sobretudo para com os mais pobres e desfavorecidos e que entre eles ganhara fama de santo. Pouco depois, o seu estado de saúde piorou de tal modo que regressou a São João, onde faleceu, a 21 de Março de 1917. Deixa, segundo Maria de Jesus Maciel, “uma memória viva, uma vida em que procurou o sonho da justiça e da igualdade, em que combateu a ignorância, como fonte do mal, em que chamou a atenção para a educação do povo, pobre e sem instrução. Um homem de cultura, um poeta que deixou no Livro da Alma a indicação de uma obra concluída e pronta a imprimir mas que ficou inédita até hoje”.
É tudo isto e muito mais que, através duma escrita erudita e tonificante, baseada em documentos e testemunhos diversos e nos próprios textos do autor, sobretudo nas muitas cartas escritas aos seus familiares, Maria de Jesus Maciel nos apresenta, nesta obra, onde, delineia a figura simpatiquíssima, deste brilhante e ilustre escritor e poeta picoense, a que junta todo o seu espólio literário.
Não posso, deixar de referir o louvável e meritório, trabalho da dra Maria de Jesus Maciel em “salvar” este espólio literário de Bernardo Maciel, agora divulgado nesta obra, bem como o esforço que despendeu na reconstituição e construção de toda sua obra literária incluindo a correspondência mais íntima, embora, como ela própria o confessa na introdução com o “valioso contributo de diversas pessoas, investigadores, familiares, conterrâneos e paroquianos do Autor”. Trata-se de um esforço gigantesco, duma recuperação notável e valiosa, trazendo para as gerações vindouras, um herança que se desconhecia ou cuidava perdida. Sabemos hoje que muitos espólios literários, supostamente, de grande mérito e valia, quer de autores conhecidos, de que, por exemplo, Nunes da Rosa, acima citado e grande amigo e divulgador da obra de Bernardo Maciel é um protótipo, ou até de outros desconhecidos e que, muito provavelmente se perderam para sempre. Cuida-se hoje, é verdade que em termos mais lendários do que históricos, que o próprio Luís de Camões, no naufrágio de que foi vítima no seu regresso das Índias, salvou a nado os Lusíadas, mas terá perdido para sempre o “Parnasso”, uma outra obra supostamente de igual ou maior grandeza e amplitude. No caso de Bernardo Maciel, o precioso espólio que nos deixou foi miraculosamente recuperado, uma vez que fora parar à Casa Museu Armando Côrtes‑Rodrigues, em Ponta Delgada. Este escritor e poeta açoriano, em 1936, solicitara-o à irmã do poeta, para o editar. Não o conseguiu mas os manuscritos ficaram em seu poder. Mais tarde, o Governo Regional dos Açores, adquiriu o espólio de Amando Cortes-Rodrigues, contendo os papéis de Bernardo Maciel que passaram a integrar a colecção de manuscritos da referida Casa Museu, onde a dra Maria de Jesus Maciel pode, finalmente, encontrar “este precioso acervo documental, que agora torna público. Não se cuide, no entanto, que o trabalho de investigação e pesquisa da autora foi tão simples quanto isto: tratava‑se de um acervo textual totalmente desorganizado e incompleto, que só ao fim de muito tempo e de uma pesquisa intensa e cuidada junto de diversas pessoas e instituições, em Lisboa, nos Açores e até nos E.U.A, conseguiu encontrar, juntando todos os documentos que agora divulga e que foram “protagonistas de histórias várias, envolvendo empréstimos, tentativas de publicação, perdas e achamentos, que tinham começado já em vida do Autor”. Daí a tarefa complexa, árdua, cuidadosa e demorada a de Maria de Jesus Maciel para reunir um acervo textual de poesia, teatro, prosa de carácter religioso e intimista, e ainda a correspondência e que lhe chegou disperso e espaçado no tempo, em forma de manuscrito autógrafo, de cópia apócrifa, ou de impresso. Daí o mérito inquestionável, o contributo imprescindível e o esforço gigantesco de Maria de Jesus Maciel, a fim de que a obra deste grande escritor e homem de letras picoense seja, a partir de hoje, conhecida.
Aproveito esta oportunidade para apresentar à doutora Maria de Jesus Maciel os meus sinceros parabéns pelo trabalho realizado, agora estampado neste livro de excelente qualidade e magnífica apresentação, ao mesmo tempo que lhe agradeço a confiança que depositou em mim para hoje e aqui fazer a apresentação desta sua Edição Crítica da Obra Literária de Bernardo Maciel, editada pelo Instituto Açoriano de Cultura, apoiada pela Governo dos Açores e pela Direcção Regional da Cultura, com o patrocínio da Câmara Municipal das Lajes do Pico, da Câmara Municipal de São Roque do Pico e Culturpico, resultado do seu trabalho e pesquisa de mais de vinte anos e que constituiu a sua tese de Doutoramento, apresentada na Universidade Nova de Lisboa, no dia 17 de Janeiro de 2008 e que o Júri avaliou com o resultado de “Muito Bom, com Distinção e Louvor. Por unanimidade.”
Antes de terminar não posso nem consigo deixar de referir alguém que, infelizmente, já não está presente aqui, hoje e que durante uma boa parte destes longos anos em que a dra Maria de Jesus Maciel realizou este trabalho e efectuou esta pesquisa, sempre a acompanhou de perto, incentivando-a e apoiando-a. Trata-se do maestro Emílio Porto, seu companheiro de vida. Com ela traçou este percurso de esforço, de recuperação e conservação de um espólio literário que não podia perder-se. Ele que também marcou a sua presença nesta ilha onde nasceu, pelo grande contributo que deu às letras, à cultura, à sociedade e, sobretudo, à música.
E termino com uma frase do escritor brasileiro Monteiro Lobato: “Um país constrói-se com homens e com livros.” Eu diria: Uma ilha também se constrói com homens e com livros. A ilha do Pico foi-se construindo, desde os primórdios do seu povoamento, com homens agarrados ao foicinho, ao alvião, à rabiça do arado e, como diria Vitorino Nemésio, à cana do leme ou ao báculo, no padroado português do oriente, mas também se construiu com os livros que muitos desses homens foram escrevendo. Hoje, a ilha do Pico, fica duplamente mais rica com a apresentação e a divulgação do livro “A Obra Literária de Bernardo Maciel” Edição Crítica de Maria de Jesus Maciel.
Obrigado pela vossa atenção.
Texto publicado no Pico da Vigia, em 26/08/12
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AS PALAVRAS
(PEDRO DA SILVEIRA)
Que ninguém lhes toque
se as não sabe amar
como os vivos amam,
VIOLENTAMENTE.
Pedro da Silveia, Poemas Ausentes
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NOVO ENCONTRO NO MUCIFAL
Mucifal é um lugar da freguesia de Colares, pertencente ao concelho de Sintra. Protegido a Sul pela Serra de Sintra, encimada pelo seu emblemático palácio, aqui e além ainda se fazem sentir os perfumes, as cores e os sons descritos por Eça e Ramalho. Bafejado a Oeste pelas Praias Grande e das Maçãs e a Leste por Nafarros, Mucifal é um local repleto de simbolismo e de serenidade, onde ainda parece reflectir-se os tons do verde colorido da Serra, onde ainda se se sente projectar-se os respingos da espuma azulada do oceano, onde o cantar dos pássaros ainda atulha as madrugadas e até o Sol, ao pôr-se, se tinge de um azul amarelado. Um local onde os ventos ainda chegam carregadinhos de perfume duma abrupta e descarada maresia.
Graças à disponibilidade, ao acolhimento e à hospitalidade do Agostinho Simas – um picoense, ex-aluno do Seminário de Angra da década de cinquenta - aqui se têm realizado, desde há mais de vinte anos, variadíssimos e sistemáticos encontros que congregam e reúnem antigos mestres e alunos daquela instituição de ensino, muitos deles fazendo-se acompanhar por familiares.
Para o próximo sábado, dia 3 de Novembro está agendado mais um destes encontros os quais, geralmente, unem e reúnem não apenas os antigos alunos residentes no continente, mas também muitos outros vindos, expressamente, dos Açores, da América e de outras paragens. Em cada encontro aguarda-se a chegada de mais um debutante, que é sempre recebido com uma enorme alegria e uma grande satisfação. Todos os que ali afluem, de modo muito especial os que frequentaram o Seminário de Angra - aquele “astro a sorrir de bonança” – sentem o perfume, a fragrância e o carinho, a amizade, a boa disposição e disfrutam não só de uma excelente organização mas também degustam os sabores mágicos e deliciosos da pantagruélica cozinha da responsabilidade da esposa do Manuel Agostinho. Mas mais importante é o convívio, o irmanarmo-nos, o desfilar de histórias e aventuras de outros tempos, o a relembrar os que ali não estão mas trazidos pela memória e amizade dos presentes, o recordar de acontecimentos, de vivências e memórias e, sobretudo, o cantarmos, porque era isso talvez o que de mais belo fazíamos, recordando momentos mágicos de amizade recíproca, de companheirismo, de ternura partilhada e de esperanças renascidas. É tudo isto que se desfruta no Mucifal, recordando-se também, com mágoa e saudade, os que já partiram.
Texto publicado no Pico da Vigia, em 28 de Outubro de 2012
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NÃO PERCA A PERCA
Em viagem do Porto para o Pico, fiz uma escala, deliberadamente programada, no aeroporto de Ponta Delgada, onde cheguei, já noite escura. No dia seguinte, fui, inevitavelmente, apanhado nas teias da greve geral, o que obviamente, me trouxe alguns transtornos. No entanto, a SATA não se poupou em cuidados e atenções, disponibilizando, como mandam as normas europeias, alimentação, dormida e táxi. Assim dei comigo, inadvertidamente, hospedado num dos (em número de estrelas) melhores hotéis de Ponta Delgada, onde havia de pernoitar e fazer as refeições.
No entanto, de manhã, enquanto aguardava decisões e esclarecia procedimentos, dei umas voltas pela cidade. Como gosto de apreciar os produtos da “ilha verde”, sempre tão fresquinhos e viçosos, entrei no Mercado da cidade. Para além dos belíssimos produtos agrícolas que a ilha produz, encontrei a peixaria a abarrotar de uma enorme diversidade de espécies de peixe em que as águas açorianas são abundantes. Além disso todo ele muito fresquinho e com um preço acessível: abróteas, garoupas, meros, chernes, vejas, moreias, chicharro, cavalas, sargos, pargos, etc., etc. Uma maravilha!
Regressei ao hotel, para o almoço, com “o olho cheio”. A SATA, logicamente, condicionara a escolha do menu, “obrigando-me” a comer peixe. Nada me custou a determinação, antes me alegrou, vindo-me logo à ideia, a excelência daquela variedade de peixe açoriano que havia observado no Mercado, sonhando que, decerto, me havia de deliciar, com algum dele, mesmo que fosse um chicharro frito, um carapau grelhado ou um filete de cavala assada.
Qual não foi o meu espanto, quando me puseram na frente um prato de peixe, sim senhor, conforme o anunciado, mas perca do Nilo. É evidente que comi, até porque vinha muito bem apresentado – gourmet – com batata e legumes, mas ficou-me, ao longo da tarde, um sabor perdido, aliado a uma interrogação permanente: Por que motivo numa terra com tanto peixe nas suas águas, se serve, nos melhores restaurantes, perca do Nilo? Por isso, agora, ainda “aportado” à Terceira, entre chuva e vento, à espera de voo para o Pico, apetece-me gritar aos quatro ventos um interessante “slogan” que talvez possa incentivar o turismo nas ilhas:
- “Se visitar São Miguel não perca a perca”.
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APRESENTAÇÃO DA OBRA LITERÁRIA DE BERNARDO MACIEL” EDIÇÃO CRÍTICA DE MARIA DE JESUS MACIEL
No passado dia 22 de Agosto, integrando o programa da Semana dos Baleeiros, foi apresentado no Auditório Municipal das Lajes do Pico, o livro a “Obra Literária de Bernardo de Maciel Edição Critica de Maria de Jesus Maciel”. Trata-se de uma obra que, dado o rigor da sua objectividade, a profundidade da sua investigação e abrangência dos seus conteúdos, se constitui mais do que um livro de simples e comum leitura, uma vez que pode e deve estatuar-se como uma verdadeira obra de consulta e de estudo, dado tratar-se de uma edição filológica, cujo objectivo, por parte da autora, foi a reconstituição do texto, preparando-o criticamente e disponibilizando ao público a obra deste poeta e escritor picoense Bernardo Maciel, natural da freguesia de São João do Pico, até agora, quase toda ela, desconhecida.
O excelente e amplo trabalho da Dra Maria de Jesus Maciel, constitui, indubitavelmente, um documento base, fundamental e único, até ao momento, para qualquer estudo de cariz literário que possa ser feito, no futuro, sobre a obra do poeta e escritor Bernardo Maciel. Na realidade com a edição desta obra fica aberta aos estudiosos da literatura e de outras áreas humanísticas a obra literária deste homem que, como refere Pedro da Silveira, na sua Antologia da Poesia Açoriana, foi o primeiro poeta da ilha do Pico que deixou registo escrito. E porque, segundo a autora, há na obra de Bernardo Maciel “…um constante vaivém entre os momentos da sua existência pessoal, dos homens em geral e dos acontecimentos do seu tempo, revelando o sentir, o pensar e o agir de uma época, o longo e exaustivo trabalho, agora tornado público e que armazena e conserva, depois de milagrosamente salvo”, o espólio literário de Bernardo de Maciel, constitui, indubitavelmente, uma parte da nossa memória, da nossa cultura e do nosso património.
Trata-se de uma obra constituída dividida em três partes. Na primeira, a autora delineia a biografia de Bernardo Maciel numa narração simples, motivadora, empolgante, geradora de afectos e provocadora de emoções no leitor. Apesar de rigorosamente histórica mas ataviada de um cunho romanesco e edílico, fruto, em parte, de uma espécie de empatia entre a autora e o poeta e escritor, de quem ainda é familiar e que torna, esta parte do livro, incontestavelmente, mais atraente na leitura, mais delirante na apreciação dos conteúdos e mais envolvente no relacionamento que existe sempre entre o livro e o leitor. Por tudo isso, esta primeira parte podia constituir-se numa obra literária autónoma, única, independente, separada, do género das biografias romanceadas, acessível ao mais simples, humilde e comum dos leitores. A segunda parte é constituída pelos manuscritos de Bernardo Maciel, incluindo a sua correspondência particular, arrecadados num CD room e de que o livro contém apenas alguns exemplares. O CD room contém ainda, dada a dificuldade da sua apresentação em texto, devido à sua extensão, as introduções a cada uma das obras de Bernado Maciel, bem como as notas críticas. Finalmente a terceira parte engloba e dá a conhecer praticamente a totalidade dos escritos de Bernardo Maciel, precedidos duma introdução e acompanhados de notas críticas. Em Poesia seis livros – Livro da Alma, Visões Sagradas, Envelhecer, Às Crianças, De Longe e Dispersos –, em Teatro, um livro – a Monja –, e em Prosa, dois livros – Coisas Íntimas, Dispersos e, por fim, a própria Correspondência do escritor. O Livro Dispersos inclui um sermão a Nossa Senhora e um excerto de um outro, supostamente ao Bom Jesus. Num e noutro, está bem patente a excelência da oratória de Bernardo Maciel, bem mais próxima dos sermões do Padre António Vieira do que nas homilias da actualidade. Todo este acervo, com excepção do Livro da Alma, publicado, em 1916, um ano antes da morte do autor, na Calheta, ilha de são Jorge, permaneceu desconhecido do público durante todo o século xx.
A Edição Crítica da Obra Literária de Bernardo Maciel, editada pelo Instituto Açoriano de Cultura, apoiada pela Governo dos Açores e pela Direcção Regional da Cultura, com o patrocínio da Câmara Municipal das Lajes do Pico, da Câmara Municipal de São Roque do Pico e Culturpico, é uma obra notável, resultado de um árduo trabalho de investigação e pesquisa de mais de vinte anos e que constituiu a tese de Doutoramento da autora, apresentada na Universidade Nova de Lisboa, no dia 17 de Janeiro de 2008 e que o Júri avaliou com o resultado de “Muito Bom, com Distinção e Louvor. Por unanimidade.”
Estiveram presentes na apresentação da obra, para além de muito público, os senhores presidente da Câmara Municipal das Lajes, Engº Roberto Silva, presidente da Câmara Municipal de São Roaque, Luís Filipe Silva, o vice-preidente e vereador da Câmara Municipal das Lajes, professor Hildeberto Peixoto e a vereadora da Câmara de São Roque, Dra Ana Gonçalves.
Recorde-se que durante a referida semana foram apresentados, para além do Roteiro cultural dos Açores – Personalidadees; Dias de Melo, mais quatro livros: “A Freguesia de São João Baptista da Ilha do Pico na Tradição Oral dos seus Habitantes” de :. Alexandre Madruga, “Homens de Olhos Encovados e Outras Estórias de Homens do Mar” de Francisco Andrade de Medeiros, “Silveira Sintra Picoense” de João de Brum e e “Daniel e os Caçadores de Baleias”.
Texto publicado no Pico da Vigia, em Agosto de 2012
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ENCONTRO DE ANTIGOS ALINOS DO SEA
Nos primeiros dias de Julho reencontraram-se, em Angra, mais concretamente no Seminário Diocesano, cerca de meia centena de antigos alunos que, nos anos 50 e 60, do século passado, frequentaram e fizeram, se não toda, pelo menos uma boa parte da sua formação académica e humana naquela prestigiosa instituição de ensino. Com um programa recheadíssimo, onde houve tempo para reapresentar, para reflectir, para recordar e, de modo muito especial, para prestar homenagem, os antigos seminaristas que se formaram nas duas primeiras décadas da segunda metade do século passado tiveram uma oportunidade única e inequívoca de reencontrar antigos colegas e professores, bem como de percorrer os espaços onde, ao longo de doze anos, viveram o seu dia-a-dia e fizeram a sua formação. Do programa elaborado pela equipa coordenadora, ressaltaram momentos importantes e inesquecíveis, como a recepção e o acolhimento no Hotel Angra, para os que não se reencontravam há quase meio século, a visita ao Seminário, situado na rua do Palácio, a apresentação de fotografias antigas, textos e testemunhos e o jantar, precisamente no refeitório do Seminário.
O segundo dia foi dedicado à recriação e à reflexão, iniciando-se com um passeio pelas ruas de Angra, por onde outrora, nas tardes de quintas e domingos, transitavam os seminaristas, vulgarmente alcunhados por estorninhos, com destino ao Monte Brasil, ao Relvão, Pátio da Alfandega e Jardim da Cidade. Seguiu-se um jogo de futebol, no velhinho campo onde outrora, diariamente, se disputavam renhidas partidas. De tarde realizaram-se dois fóruns, o primeiro com as palavras do Dr. Álvaro Monjardino –“ A influência da Instituição (SEA) na cidade de Angra e na Região Açores, nas décadas de 50 e 60” e um segundo, com a intervenção do Dr. Artur Cunha de Oliveira, sobre o tema – “O Concílio Vaticano II e a reacção da Igreja Açoriana na década de 60.” Seguiu-se um animado e interessante debate. À noite, realizou-se uma espécie de réplica dos Saraus Musico-Literários, que tiveram, na altura grande impacto no meio cultural e artístico angrense, sendo todos os poemas declamados da autoria de antigos alunos do Seminário.
Na manhã do último dia, foi prestada homenagem à Instituição, aos professores e alunos, através do descerramento de uma placa evocativa do momento. No próximo número, o Dever divulgará o texto, proferido, na altura, por um antigo aluno. Após esta efeméride foi celebrada, na própria capela do Seminário, uma missa em memória dos professores e alunos falecidos. No momento da homilia foi lido o testemunho de Manuel Emílio Porto, falecido em 12 de Abril, mas que havia programado a sua presença naquele encontro.
O encerramento, na tarde de domingo, culminou num passeio de autocarro pela ilha Terceira, com passagem pelo Monte Brasil, Silveira, São Mateus, Cinco Ribeiras, Serreta e Praia da Vitória, com regresso a Angra. À noite houve um jantar de encerramento no Hotel Angra.
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INVERNO E NATAL
“Três semanas antes do Natal, inverno geral.”
Lógico adágio fajãgrandense. Na realidade, celebrando-se o Natal, no Inverno e numa ilha frequentemente assolada pelo temporal, este adágio vem alertar para os cuidados a ter, a fim de se precaver do péssimo estado do tempo que antecede a festa do Nascimento de Jesus. Assim todos se poderiam preparar a tempo, sobretudo recolhendo dos campos o que necessitavam para a Ceia de Natal.